26 setembro, 2017

ÓDIO AO DISCURSO.


Pessoa regrada e pouco dada a mediatismos, Fernando Gomes, Presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), surpreendeu na passada sexta-feira, com um artigo institucional apelando, em linhas gerais, à pacificação do clima de crispação, bem como ao fim das críticas à arbitragem, no sentido de proteger e valorizar o produto Futebol Nacional.

De um ponto de vista puramente formal, sociológico e comercial, nada a opor às palavras do máximo dirigente do futebol nacional. Efectivamente, todos nós, adeptos, gostaríamos de um país onde o mérito, o espectáculo, a verdade desportiva, o desportivismo e fair play fossem pilares inexoravéis.

Qual então a celeuma aqui? Na verdade, o timming e a envolvência não poderiam ser os mais inoportunos possíveis para abordar este assunto.

Numa semana em que os ventos para os lados de Carnide não corriam de feição, quer pela crescente onda de insatisfação dos adeptos aos maus resultados da equipa, bem como ao mostrar de garras de uma importante figura do universo encarnado, como o é Rui Gomes da Silva, o Dr. Fernando Gomes achou a altura conveniente para "subscrever" os desesperados apelos benfiquistas ao silenciamento das diversas polémicas em torno do clube, que o caso dos emails tem levantado. Porque não esta tomada de posição numa altura de compromissos das selecções? Ou numa semana banal de resultados positivos para os grandes? Ou seja, porque não estas palavras numa altura neutra?

Ao contrário de muitos agentes desportivos da nossa praça, todos reconhecemos ao Dr. Fernando Gomes o dom da inteligência. Se juntarmos a isso a experiência como atleta e dirigente desportivo (Basquetebol), bem como a de um homem há muito ligado aos meandros do futebol, mesmo que em cargos financeiros e de gestão, qualquer desculpa ou protecção no manto de ingenuidade e da moral, serão demasiado hipócritas para serem levadas a sério. Correndo o risco de injustiça, a que por muitas vezes a especulação nos guia, toda esta situação tem o hediondo aroma de frete encarnado.

Porquê?


Não só as palavras do presidente da FPF reforçam os apelos do slb, dando força à direcção num momento mais conturbado, como também funcionaram como uma pequena cortina de areia para apagar fogachos de contestação crescentes, apenas acalmadas - momentaneamente... - pela vitória de sábado.

Quanto à envolvência, Fernando Gomes faz-me lembrar um Pôncio Pilatos, versão 2017. Deste artigo do Presidente da FPF, um diário desportivo lisboeta destacou em letras garrafais a palavra "Basta!". Ao contrário do que é hábito neste jornal execrável, por uma vez tenho que concordar com a escolha da manchete. Pois na verdade...

Basta! de outorgar a todos os portugueses um claro um atestado de burrice, ao permitir que bandos ilegais possam vandalizar, insultar, maltratar e até assassinar adeptos de outros clubes, fazendo da obrigação de registo e controlo destes "adeptos organizados" um mero fait-divers.

Basta! de permitir o feito inédito a nível mundial, de um clube poder transmitir os seus próprios jogos caseiros, numa altura em que a emissão (ou não) de imagens televisivas pode decidir jogos a favor de quem controla a transmissão.

Basta! o mais alto dirigente do futebol nacional ter conhecimento que mensagens privadas suas foram acedidas indevidamente por elementos afectos a determinado clube, sem proferir um BASTA! de indignação... ou, no mínimo, um mero sussurro.

Basta! vermos todas as semanas serem denunciadas prácticas obscuras e promiscuas entre agentes a soldo de determinado clube, e terceiros em lugares de influência e decisão, sem que haja uma simples reprovação por parte dos organismos que tutelam o desporto em Portugal.

Pior do que tudo isto, BASTA! existirem 17 clubes na I Liga Portuguesa, sujeitos ao cumprimento das regras e leis estipuladas, e constatar-se a existência de um clube específico que, não só beneficia de uma total impunidade perante a violação das leis vigentes, como se necessário, as próprias são moldadas ao interesse dessa agremiação, como se verificou recentemente no inenarrável caso Eliseu.

Caro Dr. Fernando Gomes, verdade que nem todos estes tópicos dependem directamente de si. Mas pela influência e importância do cargo que ocupa, tinha a OBRIGAÇÃO de lutar para que em Portugal existisse Justiça e Igualdade no futebol.

Infelizmente tem preferido fazer o que todos os responsáveis políticos, judiciais ou desportivos melhor sabem... lavar as mãos!

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