Redenção…
Guus Hiddink não venceu dez jogos consecutivos em fases finais do campeonato do Mundo. Mas ganhou cinco e empatou dois sem Ronaldinhos, Rivaldos, Ronaldos, Kakás, Robertos Carlos, Decos, Figos, Cristianos Ronaldos, Maniches ou Ricardos Carvalhos. Na vez deles, dispôs de atletas coreanos e australianos em circunstâncias muito favoráveis: alguns sabiam jogar à bola quando lá chegou. Também não foi campeão do Mundo. Mas jogou duas meias-finais seguidas, primeiro dirigindo a Holanda e depois a Coreia do Sul. Escusam de ranger dentes por causa dos lapsos de arbitragem no Mundial'2002. Não interessa. Transformar a Coreia numa equipa que os árbitros conseguem ajudar é uma proeza e, para além disso, sei de alguns seleccionadores campeões do Mundo que encontraram igual simpatia entre os homens do apito na redentora caminhada de dez jogos consecutivos sempre a vencer.
Na aventura australiana, Hiddink foi menos profissional. Durante a qualificação, ninguém o viu na piscina do condomínio privado todas as tardes reflectindo na melhor combinação de jogadores ou estudando as protuberâncias dos adversários na sauna. Ao invés, treinou a equipa por correspondência e matou o tempo levando o PSV Eindhoven a outro título holandês, o sexto da sua lavra. À federação australiana não concedeu sequer uns minutos extra de anúncios televisivos para ajudar a pagar os selos. Em contrapartida, fez-lhes o pequeno favor de qualificar a selecção para o segundo Mundial da história, multiplicou por quatro os pontos feitos no anterior e está nos oitavos, os terceiros do seu currículo pessoal.
Porém, se me perguntarem o que mais me impressiona em Hiddink, descarto isto tudo e recupero dos arquivos uma conferência de Imprensa em que participei no relvado do estádio de Incheon, em 2002. Durante quarenta minutos, Hiddink deu respostas em holandês, inglês, alemão, francês, espanhol, italiano e até tentou um português abrasileirado de qualidade não muito inferior à de um certo seleccionador tão bom, tão bom que não precisou de saber mais do que metade de um só vocabulário para chegar onde chegou. Hiddink não terá tantos recursos, mas a um fulano como ele perdoa-se tudo. Outros nem ganhando quarenta jogos seguidos no campeonato do Mundo.
in "O JOGO", 2006.06.13
Guus Hiddink não venceu dez jogos consecutivos em fases finais do campeonato do Mundo. Mas ganhou cinco e empatou dois sem Ronaldinhos, Rivaldos, Ronaldos, Kakás, Robertos Carlos, Decos, Figos, Cristianos Ronaldos, Maniches ou Ricardos Carvalhos. Na vez deles, dispôs de atletas coreanos e australianos em circunstâncias muito favoráveis: alguns sabiam jogar à bola quando lá chegou. Também não foi campeão do Mundo. Mas jogou duas meias-finais seguidas, primeiro dirigindo a Holanda e depois a Coreia do Sul. Escusam de ranger dentes por causa dos lapsos de arbitragem no Mundial'2002. Não interessa. Transformar a Coreia numa equipa que os árbitros conseguem ajudar é uma proeza e, para além disso, sei de alguns seleccionadores campeões do Mundo que encontraram igual simpatia entre os homens do apito na redentora caminhada de dez jogos consecutivos sempre a vencer.
Na aventura australiana, Hiddink foi menos profissional. Durante a qualificação, ninguém o viu na piscina do condomínio privado todas as tardes reflectindo na melhor combinação de jogadores ou estudando as protuberâncias dos adversários na sauna. Ao invés, treinou a equipa por correspondência e matou o tempo levando o PSV Eindhoven a outro título holandês, o sexto da sua lavra. À federação australiana não concedeu sequer uns minutos extra de anúncios televisivos para ajudar a pagar os selos. Em contrapartida, fez-lhes o pequeno favor de qualificar a selecção para o segundo Mundial da história, multiplicou por quatro os pontos feitos no anterior e está nos oitavos, os terceiros do seu currículo pessoal.
Porém, se me perguntarem o que mais me impressiona em Hiddink, descarto isto tudo e recupero dos arquivos uma conferência de Imprensa em que participei no relvado do estádio de Incheon, em 2002. Durante quarenta minutos, Hiddink deu respostas em holandês, inglês, alemão, francês, espanhol, italiano e até tentou um português abrasileirado de qualidade não muito inferior à de um certo seleccionador tão bom, tão bom que não precisou de saber mais do que metade de um só vocabulário para chegar onde chegou. Hiddink não terá tantos recursos, mas a um fulano como ele perdoa-se tudo. Outros nem ganhando quarenta jogos seguidos no campeonato do Mundo.
in "O JOGO", 2006.06.13
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