‘Nortada' do Miguel Sousa Tavares
«é possível enganar muitos durante algum tempo; é possível enganar alguns durante muito tempo; mas não é possível enganar todos durante todos o tempo», John F. Kennedy
1. Se ontem à tarde (quando escrevi este texto) ainda era presidente do Benfica, e se o sentido do rídiculo não o levou a rever a agenda marcada, Luis Filipe Vieira terá estado na sede da Liga de Clubes a apresentar «provas» dos resultados «viciados» que, em sua opinião, são a única coisa que impede o Benfica de estar agora no segundo lugar ou mesmo no primeiro, de estar na final da Taça, de ser campeão europeu ou de escalar o Evereste a pé coxinho. Porque a equipa é «a melhor da década», ele é um gestor de primeira água, o clube é o «maior do mundo», atestado pelo Guiness, a «Instituição» é um modelo de excelência e de virtudes. A concorrência é que é feia e batoteira e disfarça a sua incompetência com «resultados viciados» — conforme a Dr.ª Maria José Morgado se encarregará de provar a seu tempo.
Vieira tem azar: de cada vez que solta a sua ladaínha em defesa da «verdade no futebol», a equipa do clube encarrega-se de espelhar a verdade em campo. Em dez dias, foi a derrota caseira com a Académica por números escandalosos, os cinco golos sofridos do Sporting em vinte minutos e uma banalíssima derrota no Dragão, que só não se transformou em humilhação porque os jogadores do FC Porto tiveram uma atitude generosa de piedade para com os colegas de ofício.
Há duas semanas atrás, inchado da quase única boa exibição do Benfica em toda a época, no Bessa, mas incapaz de perceber que a sorte e o azar também fazem parte do futebol, Viera gritou «chamem a polícia!» — para investigar dois pretensos «penalties» que só os benfiquistas estão certos de terem visto e o árbitro não. E, mais uma vez, os acontecimentos deram-lhe razão, mas sob a forma de tragicomédia: a polícia foi chamada ao Estádio da Luz para investigar o arrombamento e saque das instalações de uma das claques benfiquistas, levada a cabo… por outra claque benfiquista; foi chamada ao centro de treinos do Seixal para pôr termo ao apedrejamento do autocarro do clube, com a equipa lá dentro, levada a cabo…por adeptos do Benfica; e foi chamada a guardar o «vermelhão» nas suas instalações de Gaia para que os adeptos do Benfica no Porto (como se sabe, os mais numerosos da cidade…) não tivessem a ideia de completar a obra dos seus congéneres de Lisboa. No meio disso, o próprio presidente do clube é alvo de sondagens televisivas a mandá-lo para casa e tem que se esconder dos adeptos para apanhar o «vermelhão» a meio do percurso.
«Os adeptos são ingratos», pensará Luis Filipe Vieira a esta hora. Talvez, mas também é verdade que Deus não dorme: de cada vez que um presidente do Benfica faz ponto central da sua gestão o incitamento ao ódio anti-Porto e se desculpa dos maus resultados desportivos com as maquinações ocultas, o FC Porto avança mais ainda e o Benfica recua. Os benfiquistas poderiam já ter aprendido a dolorosa lição com Vale e Azevedo, mas, pelos vistos, não. Custa-lhes a acreditar que o sucesso exija esforço, trabalho, humildade, planeamento e tempo.
Tomem o exemplo do Chalana. Salvo erro, pegou na equipa há oito jogos e ganhou um. Começou por perder a UEFA com um jogo miserável em Getafe, que ele considerou excelente; perdeu a Taça, cilindrado pelo Sporting, na única vez em que o Benfica teve de sair da Luz para disputar uma eliminatória; foi o desastre que foi com a Académica e a tristeza pungente com o FC Porto (em todo o jogo, teve uma única ocasião de golo, graças à anatomia do Luisão, cujo 1,98 metros lhe permitiu naturalmente chegar mais alto a um canto do Rui Costa do que toda a defesa do FC Porto). Mas, enfim, compreende-se que não houvesse mais ninguém para pegar na equipa neste penoso final de época. O que já não se compreende é que deixem o Chalana falar depois dos jogos e afirmar coisas tão patéticas como «não ganhámos no Bessa por outras razões e tem sido assim todo o campeonato» ou «o Benfica entrou atrevido no Dragão, jogámos para ganhar e podíamos ter empatado, mas não tivémos sorte». Fernando Chalana representa bem o «espírito Vieira», das «razões ocultas» e das eternas desculpas de mau pagador. Já ninguém lhes dá crédito, nem sequer os adeptos. Só eles é que não perceberam ou fingem não perceber.
Nesta vertiginosa descida do Benfica aos infernos, há alguém de quem tenho pena e que acho que o não merece de forma alguma: Rui Costa. Não apenas porque é o melhor jogador da equipa, um dos melhores em acção neste campeonato, o melhor dos benfiquistas dentro e fora de campo, mas também porque não paga tributo à estupidez, à cegueira ou à hipocrisia. Eu sei que isto, dito por um portista, até pode pôr os mais fanáticos benfiquistas a desconfiar do Rui Costa. Mas eu, se mandasse ali, mandava-os calar a todos e só o Rui Costa é que falava em nome do Benfica. Podem crer que muito do respeito e crédito perdido começava logo a ser recuperado.
2 - Entretanto, o mundo pula e avança. Ou melhor, o FC Porto pula e o Vitória de Guimarães avança. O Vitória avança, com passos medidos e cautelosos, em direcção a um inimaginável segundo lugar e presença na Champions — enquanto o seu voleibol conquistou para o clube o primeiro título de campeão nacional absoluto da sua história, e o andebol conquistou a Taça de Portugal. Mas desiludam-se: o FC Porto não vai facilitar em Guimarães. Se não ganhar, terá sido por mérito do Vitória.
Porque este FC Porto está insaciável. Quer curar, e à custa de vitórias, a ferida ainda aberta da injustíssima eliminação contra o Schalke, nos oitavos-de-final da Champions. Com uma perna às costas, ganhou o seu lugar no Jamor, dia 18 de Maio, e, com a frieza e eficácia de um «serial killer», prossegue no campeonato pulverizando todas as marcas e recordes, seus e alheios. E, para os detractores que diziam que os portistas ganhavam sem jogar bem, vale a pena pensar quem mais, em Portugal, consegue jogar àquele ritmo, com aquela fantástica geometria em movimento que destroça e paralisa de terror os adversários. Se aquilo não é jogar bem, ah, mostrem-me o vosso caixote do lixo! E expliquem-me porque andam já tantos jornalistas tão agitados a tentarem livrar-nos do Bosingwa, do Bruno Alves, do Quaresma, do Lucho e do Lisandro para a próxima época!
3 - O episódio da passagem do cometa Silva pelo Bessa mostra a que ponto o Boavista bateu no fundo. Bastava olhar para senhor! Mas o desespero já é tanto que se acredita que um clube sem público e sem horizontes pode sobreviver com «investidores» da banha-da-cobra em busca de cinco minutos de telejornal. O tema merece uma reflexão muito séria, para outras núpcias.
«é possível enganar muitos durante algum tempo; é possível enganar alguns durante muito tempo; mas não é possível enganar todos durante todos o tempo», John F. Kennedy
1. Se ontem à tarde (quando escrevi este texto) ainda era presidente do Benfica, e se o sentido do rídiculo não o levou a rever a agenda marcada, Luis Filipe Vieira terá estado na sede da Liga de Clubes a apresentar «provas» dos resultados «viciados» que, em sua opinião, são a única coisa que impede o Benfica de estar agora no segundo lugar ou mesmo no primeiro, de estar na final da Taça, de ser campeão europeu ou de escalar o Evereste a pé coxinho. Porque a equipa é «a melhor da década», ele é um gestor de primeira água, o clube é o «maior do mundo», atestado pelo Guiness, a «Instituição» é um modelo de excelência e de virtudes. A concorrência é que é feia e batoteira e disfarça a sua incompetência com «resultados viciados» — conforme a Dr.ª Maria José Morgado se encarregará de provar a seu tempo.
Vieira tem azar: de cada vez que solta a sua ladaínha em defesa da «verdade no futebol», a equipa do clube encarrega-se de espelhar a verdade em campo. Em dez dias, foi a derrota caseira com a Académica por números escandalosos, os cinco golos sofridos do Sporting em vinte minutos e uma banalíssima derrota no Dragão, que só não se transformou em humilhação porque os jogadores do FC Porto tiveram uma atitude generosa de piedade para com os colegas de ofício.
Há duas semanas atrás, inchado da quase única boa exibição do Benfica em toda a época, no Bessa, mas incapaz de perceber que a sorte e o azar também fazem parte do futebol, Viera gritou «chamem a polícia!» — para investigar dois pretensos «penalties» que só os benfiquistas estão certos de terem visto e o árbitro não. E, mais uma vez, os acontecimentos deram-lhe razão, mas sob a forma de tragicomédia: a polícia foi chamada ao Estádio da Luz para investigar o arrombamento e saque das instalações de uma das claques benfiquistas, levada a cabo… por outra claque benfiquista; foi chamada ao centro de treinos do Seixal para pôr termo ao apedrejamento do autocarro do clube, com a equipa lá dentro, levada a cabo…por adeptos do Benfica; e foi chamada a guardar o «vermelhão» nas suas instalações de Gaia para que os adeptos do Benfica no Porto (como se sabe, os mais numerosos da cidade…) não tivessem a ideia de completar a obra dos seus congéneres de Lisboa. No meio disso, o próprio presidente do clube é alvo de sondagens televisivas a mandá-lo para casa e tem que se esconder dos adeptos para apanhar o «vermelhão» a meio do percurso.
«Os adeptos são ingratos», pensará Luis Filipe Vieira a esta hora. Talvez, mas também é verdade que Deus não dorme: de cada vez que um presidente do Benfica faz ponto central da sua gestão o incitamento ao ódio anti-Porto e se desculpa dos maus resultados desportivos com as maquinações ocultas, o FC Porto avança mais ainda e o Benfica recua. Os benfiquistas poderiam já ter aprendido a dolorosa lição com Vale e Azevedo, mas, pelos vistos, não. Custa-lhes a acreditar que o sucesso exija esforço, trabalho, humildade, planeamento e tempo.
Tomem o exemplo do Chalana. Salvo erro, pegou na equipa há oito jogos e ganhou um. Começou por perder a UEFA com um jogo miserável em Getafe, que ele considerou excelente; perdeu a Taça, cilindrado pelo Sporting, na única vez em que o Benfica teve de sair da Luz para disputar uma eliminatória; foi o desastre que foi com a Académica e a tristeza pungente com o FC Porto (em todo o jogo, teve uma única ocasião de golo, graças à anatomia do Luisão, cujo 1,98 metros lhe permitiu naturalmente chegar mais alto a um canto do Rui Costa do que toda a defesa do FC Porto). Mas, enfim, compreende-se que não houvesse mais ninguém para pegar na equipa neste penoso final de época. O que já não se compreende é que deixem o Chalana falar depois dos jogos e afirmar coisas tão patéticas como «não ganhámos no Bessa por outras razões e tem sido assim todo o campeonato» ou «o Benfica entrou atrevido no Dragão, jogámos para ganhar e podíamos ter empatado, mas não tivémos sorte». Fernando Chalana representa bem o «espírito Vieira», das «razões ocultas» e das eternas desculpas de mau pagador. Já ninguém lhes dá crédito, nem sequer os adeptos. Só eles é que não perceberam ou fingem não perceber.
Nesta vertiginosa descida do Benfica aos infernos, há alguém de quem tenho pena e que acho que o não merece de forma alguma: Rui Costa. Não apenas porque é o melhor jogador da equipa, um dos melhores em acção neste campeonato, o melhor dos benfiquistas dentro e fora de campo, mas também porque não paga tributo à estupidez, à cegueira ou à hipocrisia. Eu sei que isto, dito por um portista, até pode pôr os mais fanáticos benfiquistas a desconfiar do Rui Costa. Mas eu, se mandasse ali, mandava-os calar a todos e só o Rui Costa é que falava em nome do Benfica. Podem crer que muito do respeito e crédito perdido começava logo a ser recuperado.
2 - Entretanto, o mundo pula e avança. Ou melhor, o FC Porto pula e o Vitória de Guimarães avança. O Vitória avança, com passos medidos e cautelosos, em direcção a um inimaginável segundo lugar e presença na Champions — enquanto o seu voleibol conquistou para o clube o primeiro título de campeão nacional absoluto da sua história, e o andebol conquistou a Taça de Portugal. Mas desiludam-se: o FC Porto não vai facilitar em Guimarães. Se não ganhar, terá sido por mérito do Vitória.
Porque este FC Porto está insaciável. Quer curar, e à custa de vitórias, a ferida ainda aberta da injustíssima eliminação contra o Schalke, nos oitavos-de-final da Champions. Com uma perna às costas, ganhou o seu lugar no Jamor, dia 18 de Maio, e, com a frieza e eficácia de um «serial killer», prossegue no campeonato pulverizando todas as marcas e recordes, seus e alheios. E, para os detractores que diziam que os portistas ganhavam sem jogar bem, vale a pena pensar quem mais, em Portugal, consegue jogar àquele ritmo, com aquela fantástica geometria em movimento que destroça e paralisa de terror os adversários. Se aquilo não é jogar bem, ah, mostrem-me o vosso caixote do lixo! E expliquem-me porque andam já tantos jornalistas tão agitados a tentarem livrar-nos do Bosingwa, do Bruno Alves, do Quaresma, do Lucho e do Lisandro para a próxima época!
3 - O episódio da passagem do cometa Silva pelo Bessa mostra a que ponto o Boavista bateu no fundo. Bastava olhar para senhor! Mas o desespero já é tanto que se acredita que um clube sem público e sem horizontes pode sobreviver com «investidores» da banha-da-cobra em busca de cinco minutos de telejornal. O tema merece uma reflexão muito séria, para outras núpcias.
EXCELENTE é a palavra desta crónica. E mais não digo =P
ResponderEliminarBeijinhos azuis e brancos da Ta_8
« enquanto o seu voleibol conquistou para o clube o primeiro título de campeão nacional absoluto da sua história, e o andebol conquistou a Taça de Portugal»
ResponderEliminarera escusada esta calinada!! Quem ganhou a taça foi o basquetebol do Guimarães e nãoo andebol (q nem sequer tem equipa).
De resto está, como diz a nossa querida TA_8, fenomenal.
Caros tricampeões, o "nosso" MST é como o Vinho do Porto quanto mais velho melhor, eheheh...
ResponderEliminarRealmente já não existem adjectivos suficientes para classificar a sua escrita. É "simplesmente" um enorme Portista e Escritor.
Nunca me cansarei de ter tudo o que ele escreve, sejam crónicas, livros, comentários, etc, etc...
P.S. Nestes tempos em que vivemos a ser atacados por tudo e todos gostava mesmo muito de ver o MST como director de comunicação do nosso mágico FCP. Era ouro sobre azul... bLuE bOy olha a petição, lolol...
Muito bom o artigo do Miguel que tocou em todos os pontos.
ResponderEliminarEu não entendo o porquê das palavras ao Rui Costa... eu até que "simpatizava" com o homem, porque independentemente da côr, ele ama o clube dele como poucos profissionais da bola.
ResponderEliminarE isso para mim, conta muito... eu estava na luz quando ele chorou após ter marcado um golo ao slb ... adiante!
MAS, aliciar os NOSSOS jogadores, na NOSSA casa, e sabendo de antemão, como o Dragão Vila Pouca teve a amabilidade de explicar que o contrato do Paulo Assunção não lhe permite jogar por um ano em Portugal que não no FCP, irritou-me :(
E surpresa das surpresas!!! A Fiorentina está interessada no nosso número SEIS !!!
Aliás, o desepero do Maestro é tanto que ele já implica/insulta e quiçá até agride árbitros...
De resto, o MST está de parabéns :)
Heliantia:
ResponderEliminaresse golo do rui costa ao slb foi o único da sua carreira q eu festejei :P
Eu também!
ResponderEliminarMas não me parece que o tivesses feito no meio dos sócios do slb :P
Quem escreve assim não é maneta, ou quem fala assim não é gago...
ResponderEliminarMuito bem MST