O homem que escrevia poemas com a bola na mão

Quando o Blue Boy me disse ser possível contactar o Rui Rocha para lhe pedirmos que respondesse a um simples questionário confesso que fiquei eufórico. Primeiro porque se trata da minha modalidade preferida, depois por ser um jogador que me habituei a admirar ao longo da sua carreira e finalmente por ser conhecido o seu Portismo exacerbado. Como todos se recordam este brilhante atleta, a quem agradecemos a extrema simpatia, jogou 16 épocas de azul e branco, ganhando 4 campeonatos Nacionais (1999, 2002, 2003 e 2004), 2 Taças de Portugal (1994 e 2006), 2 Taças da Liga (2004 e 2005) e 5 supertaças (1995, 2000, 2001, 2003 e 2004). Ganhou o «Dragão de Ouro» em 2000 como atleta de alta competição do ano.

O Rui Rocha no seu jeito simples e sempre disponível prontificou-se desde logo a responder. Espero que apreciem todas as suas respostas às perguntas que entendi colocar. O ex-capitão do andebol do FC Porto, retirado da modalidade desde 2006, é hoje um distinto Médico e continua a escrever livros de poesia.

Há umas semanas atrás destaquei-o num dos capítulos das glórias do passado. Pode ver aqui. Escrevi na altura que recordarei para sempre os seus golos fantásticos, com penetrações à esquerda ou em contra-ataque, e em que o Rui se virava para nós (sim, estive lá tantas vezes) de punho erguido a festejar...

Toda a sua carreira poderia hoje ser subdividida por diversos versos que compilados adequadamente formariam um bonito poema... Mas eu não sou poeta, como o Rui Rocha... Obrigado por tudo o que fizeste pelo nosso Clube. Serás sempre recordado como um dos grandes nomes do nosso Porto e do andebol Nacional. E volta depressa ao andebol, por favor.

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Rui Rocha, ex-jogador de andebol do FC Porto

Lucho: Rui Rocha qual foi o momento mais emocionante que viveste com a camisola do FC Porto? A quebra do jejum de 31 anos?

Rui Rocha: É sempre difícil apontar um momento mais emocionante quando se joga tantos anos num clube como o FCP, no entanto o meu primeiro título de campeão no Américo de Sá completamente cheio foi provavelmente o mais forte. Tanto os outros campeonatos como a primeira taça de Portugal ganhos também foram momentos marcantes. Não posso deixar de referenciar o meu último jogo em que ganhámos a taça e terminei a carreira com a bola na mão nos últimos segundos como sendo um dos que mais me marcou.

Lucho: Numa entrevista de final de carreira falaste de algum anti-portismo que se vive neste País. Queres aprofundar mais este tema?

Rui Rocha: Desde o primeiro momento que vesti a camisola experimentei esse anti-portismo. É não se pense que acontece só com os adeptos ocasionais de outros clubes; também na imprensa em geral e mesmo em algumas instituições que deveriam estar acima dos clubes se nota esse anti-portismo primário (quem sabe se o maior clube português?). O que não entendem esses fanáticos é que isso nos torna mais fortes e mais unidos e, ao mesmo tempo, colocam assim o nosso clube muito acima do deles (dão mais importância ao FCP do que ao seu próprio clube - é porque este não deve valer a pena).

Lucho: Qual dos 4 campeonatos ganhos foi mais complicado? O de 1999 naquele jogo dramático no Américo de Sá com o ABC? O de 2002 na finalíssima com o ABC na Póvoa? O de 2003 com o ABC em Santo Tirso? Ou o de 2004 na fase final?

Rui Rocha: O de 2003 em St. Tirso, sem dúvida. Pois perdemos o jogo em casa e ficámos logo em desvantagem. Fomos a Braga e eles já tinham a festa preparada, mas vencemos num jogo impressionante de emoção e luta. Depois no último jogo fomos muito superiores, mas aquela semana que antecedeu o jogo em Braga foi muito difícil. Felizmente ultrapassámos mais esse obstáculo para mais um título.

Lucho: Chegaste ao FC Porto em 1990 com o Professor Cunha a treinador e na altura perdemos 2 campeonatos de forma inglória. Ainda te recordas?

Rui Rocha: Claro que recordo; nessa altura o FCP simplesmente não podia ganhar campeonatos. Nem que jogássemos muito bem, havia factores extra que o impediam...

Lucho: Em 1992 o andebol do Porto esteve quase a acabar, os jogadores acreditaram sempre na continuidade?

Rui Rocha: Alguns jogadores acreditaram outros "roeram a corda". Mas nesses momentos é que se vêem os grandes homens e não posso deixar de prestar homenagem ao sr. Júlio Marques que muito lutou para que a nossa modalidade não acabasse (e tantas alegrias deu aos adeptos após esses momentos maus!).

Lucho: Lembro outro jogo memorável, uma final da taça ganha ao Benfica em 1994 com Jorge Rodrigues a treinador. O Porto já não ganhava nada desde 1980. Foi uma tarde inesquecível?

Rui Rocha: Já falei nesse jogo como um dos melhores momentos. Foi espectacular por muitas razões: o FCP já não ganhava nada há muitos anos; ganhámos na final ao Benfica (que é sempre bom); era o último jogo da carreira do nosso querido Abel (Abel Silva - ponta direita) e foi de livre directo no último segundo (convertido pelo Jesper Degn, um dinamarquês que na altura servia as nossas cores).

Lucho: Rui Rocha foi difícil a decisão de terminar a carreira? E agora quando e como se consuma o teu regresso?

Rui Rocha: Foi difícil, mas penso que estava na altura. Precisava de iniciar a minha outra carreira profissional e também já começava a acusar algum desgaste. Foi bom assim pois saí ainda num bom momento e não estraguei nada do que fiz para trás (devemos sempre respeitar a nossa carreira). Ainda me custa ir ver jogos ao pavilhão, mas quem sabe um dia não regresse noutras funções.

Lucho: Peço-te uma opinião sobre os seguintes nomes, António Cunha, Jorge Rodrigues, José Magalhães, Pokrajack e Paulo Pereira.

Rui Rocha: Toda a gente tem aspectos positivos e negativos, no entanto vou só referir os primeiros:

- António Cunha: revolucionou na altura o andebol português, é um homem de luta e tem um discurso empolgante; foi ele que me foi buscar ao Sporting Clube de Espinho e é um bom amigo e uma grande recordação desportiva.

- Jorge Rodrigues: grande exemplo como jogador, um dos meus ídolos de infância e agora um grande amigo; com ele conquistámos aquela Taça ao Benfica e lembro-me com agrado aquelas pré-épocas a treinar na praia.

- José Magalhães: já o conheço há muitos anos (desconfio que tenha sido o principal responsável pela minha contratação pelo FCP); é a alma do andebol do FCP; sem ele a modalidade provavelmente não teria resistido; montou a melhor equipa de sempre do andebol português; grande formador de atletas e um amigo para as ocasiões.

- Pokrajack: o seu currículo fala por si como treinador, no entanto chegou a Portugal e encontrou uma equipa maravilhosa onde podia fazer tudo; estive muitas vezes em desacordo com ele, mas também aprendi muito.

- Paulo Pereira: chegou a ser meu adversário como jogador; é um treinador em formação e uma grande promessa (muito meticuloso e profissional), grande amigo e grande portista, foi com ele que terminei a carreira e que ganhei os meus últimos títulos.

Claro que isto é um pequeno resumo, haveria muito mais a dizer.

Lucho: O FC Porto 2007/08 é candidato a destronar o reinado do ABC. Tens acompanhado a equipa? Quem é favorito? (esta entrevista ocorreu antes do play-off...)

Rui Rocha: Tenho acompanhado à distância (mas falo pelo tlm) e fiquei muito contente com a vitória na Taça da Liga. É claro que o campeão do ano anterior é um dos favoritos mas o FCP é sempre favorito (quem não acreditar nisso não pode jogar neste clube).

Lucho: O que representa para ti o FC Porto e o andebol?

Rui Rocha: Duas escolas de vida. Uma parte grande de mim.

Lucho: Neste blog damos espaço às modalidades e recordamos também as suas glórias do passado. Qual a tua opinião sobre esta iniciativa?

Rui Rocha: Acho espectacular pois o nosso clube não é só futebol e muitas vezes, enquanto jogador, olhei para o passado para me dar força para enfrentar tudo e tentar ser como eles vencendo.

Lucho: Peço-te uma mensagem final para os nossos leitores.

Rui Rocha: Nunca deixem de acreditar neste clube maravilhoso e apoiem todas as modalidades.

Um abraço,

Rui Rocha.

Hóquei: Preparem-se para o inferno de Fânzeres...
2º jogo da final do play-off (à melhor de 5 jogos, ou seja, 3 vitórias); FC Porto, 1 - SL Benfica, 1.

crónica do Benfica/FC Porto (3-2): Quando o Porto marcou o seu 1º golo a RTP passou imagens arrepiantes com adeptos do FC Porto (seriam 2 ou 3 no máximo) a serem perseguidos e expulsos do pavilhão dos encarnados. Essa imagem para mim é a mais importante de um jogo em que o Porto não quis ter Reinaldo Ventura para ficar limpo de cartões para os jogos restantes da final. Neste jogo devem ter-se batido os recordes de faltas ofensivas de jogadores do FC Porto além do 1º golo dos da casa ser antecedido de uma falta não assinalada. Com 2-0 ao intervalo o Porto tinha que reagir e conseguiu igualar com golos de Emanuel Garcia e Caio (este último de penalty que deveria ser livre directo que, aliás, é bem melhor que propriamente um penalty no hóquei). O Porto estava por cima mas num contra-ataque o Benfica fez o 3-2. O Porto reagiu e justificou o golo que levaria ao prolongamento mas Ricardo Figueira acertou no poste e Jorge Silva viu o guardião encarnado defender um seu remate quase sem saber como. Ficou por assinalar um penalty claro sobre Jorge Silva num lance em que faltou coragem aos árbitros muito condicionados, ao que pareceu... Mariano Velasquez foi expulso com vermelho directo e vamos ver quantos jogos leva (o normal nestas expulsões é 2 jogos)... Emanuel e Jorge Silva viram azuis mas pelo que apurei nenhum dos dois está afastado do jogo de sábado. Fânzeres vai assistir então à 3ª partida no próximo sábado (17h-RTP2) em jogo no qual estarei presente. O ambiente vai ser escaldante depois de tudo o que se assistiu na partida da Luz. Esperem pela vingança do Dragão, dentro do ringue, é claro... É imperioso que se ganhe esta partida para levarmos a vantagem de 2-1 para Lisboa no dia 21 e logo aí poder festejar o hepta...

E fiquem agora com esta «prenda»... quem quiser assistir a 5 minutos de verdadeiro festival, pode deliciar-se com um resumo do FC Porto - SL Benfica de hóquei da semana passada quando lhes «espetamos» 6 golos sem resposta! Delicia-te!

Treinador da Semana: Franklim Pais
Jogador da Semana: Caio

Para técnico da semana, escolho Franklim Pais, por quase ter conseguido a 2ª vitória na final do play-off mesmo sem o seu melhor jogador... e para jogador da semana, a escolha recai em Caio, por ter sido dos mais inconformados na tarde de sábado.

Futebol Jovem:

Nas camadas jovens em futebol resta ao FC Porto a possibilidade de ganhar o título Nacional nos Juniores. Este fim de semana o Benfica levou a melhor (2-1) sobre o Porto no Seixal e garantiu o título nos juvenis. Neste jogo quem ganhasse seria campeão e o Porto esteve a vencer (golo de Pipo) até um minuto do fim e a jogar com 10 (expulsão duvidosa) toda a 2ª parte. Dois golos nos instantes finais (o 2º já passavam 5 minutos da hora) tiraram de forma dramática o título ao Porto até porque mesmo o empate era-nos favorável... Por tudo o que vi e que li este Porto era a melhor equipa da prova e os seus miúdos não mereciam tamanha injustiça... Mas a verdade é que a sorte, nos últimos tempos, não tem acompanhado as camisolas do Porto, seja qual for o escalão, seja qual for a modalidade... Nos iniciados no Olival registou-se um 0-0 no Porto-Benfica e na última ronda Benfica ou Sporting vão decidir o título. Nos juniores o Porto ganhou 3-0 no campo do Leixões (golos de Cintra, Josué e Valter) e mantém acesas as esperanças na renovação do título tendo que ganhar ao Benfica esta tarde no Olival e no sábado em Alcochete diante do Sporting...

E pronto, até para a semana.

Saudações azuis e brancas,
Lucho.