09 março, 2009

Agora é que são elas...

Carolina dá várias versões sobre envelope
Só no último depoimento, a ex-namorada de Pinto da Costa disse ter certeza do montante de alegado suborno


Da dúvida passou à certeza num prazo de poucos meses. É assim o testemunho de Carolina Salgado quanto ao valor (2500 euros) de dinheiro em notas alegadamente entregue por Pinto da Costa ao árbitro Augusto Duarte.

Em Novembro de 2006, a testemunha do Apito Dourado dizia à PJ, em Lisboa, que o seu ex-namorado oferecera entre "2500 a 3000 euros". Em Janeiro de 2007, aludia a "cerca de 2500 euros". Poucos meses depois, já dizia ter a certeza de que num envelope entregue na sua casa, na Madalena, em Gaia, estavam exactamente "2500 euros". E como soube?: "Foi o Jorge Nuno que me disse...".

"Por que não revelou isso logo no primeiro depoimento?", quis saber ontem a juíza Catarina Ribeiro de Almeida, na quarta sessão do julgamento no Tribunal de Gaia. "Vendo as notas, foi o que me pareceu... O problema foi o inspector não ter escrito que o Jorge Nuno me falou desse valor...", justificou Carolina.

Este foi apenas um dos aspectos do testemunho da ex-namorada do presidente do F. C. Porto explorados por Gil Moreira dos Santos, advogado de Pinto da Costa. Outro foi o facto de Carolina referir, tanto no seu livro como em depoimentos às autoridades, que as "visitas" de árbitros à casa do dirigente eram frequentes, quando, afinal, relata apenas encontros com Augusto Duarte e com Martins dos Santos - este último sem pormenores. "São forças de expressão...", justificou.

Num depoimento repleto de correcções face a declarações anteriormente prestadas e de vários momentos de silêncio, Carolina foi ainda confrontada com as diversas versões que apresentou sobre uma suposta entrega de envelope com 2500 euros e um alegado pedido de "favorecimento" do F. C. Porto. No julgamento, disse ter assistido a tudo, à excepção de "quatro, cinco minutos" para fazer cafés na cozinha. Mas, anteriormente, dissera ter saído do local e ouvido a conversa no "corredor". "O corredor faz parte da sala...", justificou ontem.

Por Marcelino Pires, advogado de Augusto Duarte, foi ainda confrontada com o facto de, inicialmente, ter-se referido a uma suposta entrega de dinheiro antes de um "Benfica-FC Porto, na época 2005/06". Respondeu que emendou o seu depoimento logo que detectou o "erro". Negou, ainda, ter tido acesso a peças existentes no processo aquando da redacção do seu livro e prestação de depoimentos.

Quando foi confrontada com referências a outros árbitros na casa de Pinto da Costa, Carolina disse não se recordar de nomes nem do respectivo contexto. Em especial o caso de um outro árbitro, que também terá recebido um envelope com dinheiro.

Ao ouvir o depoimento de Carolina, Pinto da Costa sorriu várias vezes, sem se manifestar.

"Discrepâncias" nos testemunhos de Carolina

As defesas do presidente do F. C. Porto, Pinto da Costa, do empresário António Araújo e do árbitro Augusto Duarte sublinharam várias discrepâncias em declarações prestadas por Carolina Salgado, testemunha do Ministério Público no chamado "caso do envelope".

Na quarta sessão deste julgamento, um apêndice do processo Apito Dourado, o advogado Gil Moreira dos Santos (de Pinto da Costa) começou por apresentar um requerimento solicitando a junção aos autos de um despacho do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Porto no qual se determinava o arquivamento de uma queixa-crime de Carolina Salgado contra Paulo Lemos (amigo) e se participava ao Ministério Público da Comarca de Fronteira (onde agora reside Carolina) para procedimento criminal por falso testemunho da ex-companheira de Pinto da Costa.

Paulo Lemos é testemunha neste processo, arrolada pela defesa de Pinto da Costa.

A juíza aceitou a junção, por entender que "é susceptível de indiciar eventual incompatibilidade entre as referidas testemunhas".

O processo do "caso do envelope" é um apêndice do mega-processo Apito Dourado e tem como génese casos de alegada corrupção e tráfico de influências no futebol profissional e na arbitragem portuguesa.

Pinto da Costa e António Araújo estão pronunciados pelo crime de corrupção desportiva activa e ao árbitro Augusto Duarte é imputado o crime de corrupção desportiva passiva.

Na sessão de hoje, a defesa dos arguidos utilizou como estratégia, bem sucedida, a procura de declarações discrepantes prestadas por Carolina Salgado, em momentos distintos, à Polícia Judiciária (PJ), durante a fase de instrução e na primeira audiência deste julgamento.

O enfoque da acusação foi a localização da casa onde se encontrava a cómoda, na qual, alegadamente, estava o dinheiro para os subornos às equipas de arbitragem.

Carolina Salgado tinha afirmado, inicialmente, a existência de duas cómodas com dinheiro: uma na casa da Madalena (como refere o livro "Eu, Carolina") e outra na habitação da Rua do Clube de Caçadores, em Gaia.

Hoje, na audiência, Carolina Salgado apenas referiu a existência da cómoda da casa da Rua dos Caçadores.

Gil Moreira dos Santos questionou ainda a testemunha sobre o valor alegadamente entregue ao árbitro Augusto Duarte: Carolina Salgado tinha dito em Novembro de 2006 à PJ que o envelope continha entre 2.500 a 3.000 euros, embora relate no livro - que considerou hoje credível, embora com algumas gralhas - apenas o valor de 2.500, tal como lhe tinha dito na altura Pinto da Costa.

Outras questões colocadas por Gil Moreira dos Santos relacionaram-se com os destinos do dinheiro, assim como se no encontro entre Pinto da Costa e o árbitro esteve ou não sempre presente na sala o empresário António Araújo.

O advogado Marcelino Pires, representante de Augusto Duarte - hoje pela primeira vez presente no julgamento -, encontrou igualmente algumas discrepâncias nos testemunhos de Carolina Salgado, entre elas, uma primeira alusão ao encontro para o suborno como sendo na véspera de um Benfica-FC Porto de 2005/06 e não de um Beira-Mar-FC Porto de 2003/04.

Carolina considerou tratar-se de um lapso, que veio a rectificar depois.

O advogado João Machado Vaz, que defende o arguido António Araújo, questionou Carolina Salgado sobre se tinha visto Pinto da Costa a entregar o envelope a Augusto Duarte logo no início do referido encontro ou se durante o mesmo. Mais uma vez, as declarações de Carolina foram contraditórias, embora a testemunha tenha sempre refutado a estratégia da acusação.

Advogado de Pinto da Costa ironiza com depoimento de Carolina Salgado

O advogado de Pinto da Costa no "caso do envelope", Gil Moreira dos Santos, recorreu à ironia para tentar descredibilizar o depoimento de Carolina Salgado, principal testemunha de acusação. Aludiu aos erros ortográficos no Magalhães e aos pássaros que migram para o Alentejo.

Durante o julgamento, Carolina Salgado utilizou várias vezes "força de expressão" ao referir-se a um conjunto de acusações que fez a Pinto da Costa no livro "Eu Carolina", o que foi aproveitado pelo advogado. "(Forças de expressão), isso é uma coisa que nós temos de ter. Não vê que o Magalhães está cheio de forças de expressão?", disse o advogado, fazendo uma analogia entre o depoimento da ex-companheira de Pinto da Costa no Tribunal de Gaia e os erros ortográficos detectados num jogo para crianças instalado nos computadores Magalhães.

Quanto questionado se esta tinha sido uma gralha, um erro tipográfico, de Carolina Salgado, o causídico disse que "gralha é um pássaro que anda por aí e que vai às vezes para o Alentejo", em nova alusão a Carolina Salgado, que agora vive no sul do país.

"Se calhar está a padecer de alguma coisa grave que a fez vir quarta-feira ao IML (Instituto de Medicina Legal) e esqueceu-se de vir ao tribunal", reforçou. Gil Moreira dos Santos referiu-se ao facto de a testemunha ter ido fazer exames médicos de manhã (depois de, alegadamente, ter sido vítima de uma chapada de uma mulher à saída do tribunal) e de à tarde ter ido para o Alentejo por, supostamente, não ter quem cuidasse dos filhos.

Tal como aconteceu na semana passada, Carolina Salgado voltou a ser insultada pela mesma mulher, quando abandonava o parque de estacionamento do tribunal, no final da sessão da manhã do julgamento. Desta vez, a PSP tinha quase uma dezena de elementos no local, impedindo a mulher de se aproximar do carro.

O julgamento prossegue esta tarde, com a audição dos peritos em arbitragem Vítor Pereira, Adelino Antunes e Jorge Coroado. Este processo reporta-se ao encontro Beira-Mar-FC Porto (0-0), da 31ª jornada da Liga de 2003/04, realizado em 18 de Abril.

O processo do "caso do envelope" é um apêndice do mega-processo Apito Dourado e tem como génese casos de alegada corrupção e tráfico de influências no futebol profissional e na arbitragem portuguesa.

Pinto da Costa e António Araújo estão pronunciados pelo crime de corrupção desportiva activa e ao árbitro Augusto Duarte é imputado o crime de corrupção desportiva passiva.
Hoje são ouvidas mais cinco testemunhas no Tribunal de Gaia.

O julgamento prossegue esta tarde, com a audição dos peritos em arbitragem Vítor Pereira, Adelino Antunes e Jorge Coroado.

Este processo reporta-se ao encontro Beira-Mar-FC Porto (0-0), da 31ª jornada da Liga de 2003/04, realizado em 18 de Abril.

# fonte: JN on-line em 10Mar2009

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