15 março, 2009

O que hoje é verdade...

Pressionada para atacar Pinto da Costa
Irmã de Carolina andava há mais de um ano a ser abordada para mudar o seu depoimento


A gémea de Carolina Salgado andava a ser abordada, há mais de um ano, para mudar o depoimento prestado no âmbito do processo Apito Dourado, em que acusou a irmã de conluio com investigadores e o presidente do Benfica.

As relações entre Ana Maria Salgado e os familiares - pai, mãe e irmã - estavam cortadas desde Junho de 2007, quando Ana Maria efectuou, no DIAP do Ministério Público do Porto, um testemunho favorável a Pinto da Costa. Isto porque foram feitas denúncias que atingiam a equipa especial de investigação do processo Apito Dourado, em especial a procuradora Maria José Morgado - a quem acusou de ter uma relação de cumplicidade com Carolina - e o inspector da PJ, Sérgio Bagulho - a quem acusou de ter contribuído para manipular depoimentos.

Sobre estas declarações, Ana Maria veio, no passado dias 4 e 6, a dar o dito por não dito. Afinal, diz agora ter mentido, por ter sido paga por Pinto da Costa com envelopes mensais de cinco mil euros em notas. Disse, ainda, que manteve contactos secretos com o presidente do F. C. Porto.

De acordo com informações recolhidas pelo JN junto de fontes conhecedoras da situação, esta mudança de posição já estava a desenhar-se há mais de um ano. É que, apesar do corte de relações público entre os familiares - e de alusões à sanidade mental de Ana Salgado e necessidade de acompanhamento psiquiátrico -, Carolina manteve sempre contactos com a irmã. Designadamente, em Janeiro do ano passado, a pretexto de serem feitas pazes e de, já nessa altura, ser alterado o depoimento prestado às autoridades. Noutras ocasiões, houve contactos indirectos, com duas amigas comuns.

O episódio mais relevante de pressão para alterar o depoimento aconteceu entre Fevereiro e Março do ano passado. Ana Maria foi visitar a mãe a casa, em Gaia, e, nessa ocasião, o pai, Joaquim Salgado, disse à filha que um procurador em Lisboa estaria disposto a recolher um novo depoimento em que ela poderia desmentir o anteriormente declarado.

De seguida, foi estabelecido um contacto através do telemóvel do pai. Ana Maria falou efectivamente com Agostinho Homem, procurador responsável pela investigação ao "teor e circunstâncias" do depoimento inicial da irmã de Carolina, ordenada pelo procurador-geral da República, Pinto Monteiro.

Em Maio do ano passado, foi novamente ouvida, acompanhada de advogado, mas confirmou o teor das declarações anteriores. Devido ao segredo de justiça decretado ao processo, por apurar está o tipo de diligências efectuadas para averiguar da veracidade das acusações de Ana Maria. Até porque, antes de mudar de posição, Ana Maria acrescentou pormenores sobre depósitos de verbas (20 mil e 50 mil euros, num banco em Gaia, e num banco de Tui, Espanha) alegadamente oferecidas por Luís Filipe Vieira à irmã e contactos com Sérgio Bagulho e Maria José Morgado.

Certo é que a irmã de Carolina Salgado acabou mesmo por mudar de posição, visando "retractar-se" de falsas declarações anteriores e acusando Pinto da Costa de lhe ter pago para mentir. Os factos em que supostamente faltou à verdade deverão, ainda, ser pormenorizados.

Se pelo Ministério Público for tida como verdadeira a versão agora apresentada, o presidente do F. C. Porto pode ser alvo de uma acusação de suborno e instigação a falso testemunho. Até agora, não existem arguidos neste processo que visava principalmente a actuação dos magistrados do Ministério Público que trabalharam em casos conexos ao Apito Dourado.

# fonte: JN on-line em 15Mar2009

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