Tenho cá para mim que, se não tivéssemos passado a semana a conhecer o novo guarda-redes do Benfica e o novo lateral do Benfica e o novo médio do Benfica e o novo avançado do Benfica pelos jornais, talvez o actual guarda-redes do Benfica, o actual lateral do Benfica, o actual médio do Benfica e o actual avançado do Benfica tivessem encontrado a motivação necessária para aproveitar o empate do Sporting e ganhar ao Nacional. Quando, como acontece todos os anos nesta altura, é tão evidente que a estrutura dirigente só parece estar preocupada com o futuro mais do que perfeito que vem já aí, é apenas natural que a equipa lhe ofereça um presente envenenado. E essa é apenas uma das muitas diferenças que explica o abismo que existe entre uns e outros. Sendo que os uns desta história, mesmo quando estão a três pontos de garantir o tetracampeonato, mantêm a concentração no presente, na necessidade de ganharem o próximo jogo sem se dispersarem em questões laterais. Como a renovação do treinador, por exemplo.
DENTRO de três semanas, quando a Liga acabar e o Estádio do Dragão se trajar a rigor para festejar a vitória do FC Porto, a 24.ª da sua história, os adeptos do Benfica e do Sporting voltarão a interrogar-se: por que razão os seus clubes não conseguem ganhar tanto como ele? Dentro de três semanas, chegar-se-á a esta conclusão: é impressionante o domínio do FC Porto e a sua capacidade para conquistar títulos, 14 no universo dos últimos vinte, sobrando meia dúzia para distribuir por Benfica (três), Sporting (dois) e Boavista (um). Os adeptos dos vizinhos de Lisboa voltarão então a questionar-se, já resignados: não será possível copiá-lo, imitá-lo, enfim, fazer alguma coisa de maneira a suster a extraordinária eficácia competitiva do futebol portista?
Como cada temporada desportiva no FC Porto é planeada com rigor e executada com sentido profissional, tudo leva a crer que em 2009/2010, se nada de inesperado entretanto emergir nos dois lados da Segunda Circular susceptível de interferir no normal curso dos acontecimentos, a probabilidade de mudança manter-se-á baixa, sem motivação que resista à imparável vaga de confiança a Norte suscitada pela perspectiva do segundo pentacampeonato. Mas não é só. Enquanto no FC Porto, a uma vitória do título, há todas as condições para projectar a próxima época sem sobressaltos, no Benfica e no Sporting isso não se observa.
Na Luz, depois de milionário investimento, ao jeito de este ano é que é, deve doer ao ver-se os jogadores destroçados, a onze pontos de distância do líder, sem alma, sem orientação, rendidos ao fracasso. Como tem sido hábito nos últimos anos, aponta-se o dedo ao treinador. Luís Filipe Vieira diz que não, há outro ano assinado, mas também se sabe que quanto mais barulhento e repetido é o apoio presidencial, mais perto fica a porta de saída. Aqui para nós o ideal seria Enrique Flores pôr-se ao fresco sem que o Benfica tivesse de gastar um cêntimo em indemnização, porque o dinheirinho vai ter de ser muito bem contado para voltar a formar-se uma equipa que não desista a meio do trajecto. Talvez a coisa se componha através de providencial interferência de um Sevilha, por aí. O espanhol vai à vida dele e, pronto, amigos como dantes... Encerrado o primeiro problema, liberdade para a resolução do segundo: escolher o senhor que se há-de seguir. Mais espera, mais notícias contraditórias, mais discussões e mais a imprescindível, mas não segura, abertura e flexibilidade dos decisores para desencantarem treinador que agrade a gregos e a troianos. Concluída esta fase, avança-se então para os derradeiros acertos no plantel, já debaixo da esfera de influência do novo mister, lá para Julho/Agosto...
Em Alvalade, perdida a corrida pelo primeiro lugar, mas praticamente assegurado o segundo, uma espécie de título dos pobres, despromoveram-se as questões relacionadas com a equipa de futebol. Todas as atenções, ou quase todas, se concentram na feira eleitoral, onde julgo dever destacar-se duas posições: uma de coerência, por parte de Rogério Alves; outra de sensatez, por parte de Abrantes Mendes. O primeiro, por saber responder com inteligência aos ataques que visam perturbar a sua equidade até agora inatacável; o segundo, na qualidade de candidato derrotado nas últimas eleições, por, igualmente até agora, se manter à margem do rebuliço.
Com calma, e quando houver oportunidade, fala-se com Paulo Bento para se saber se quer ficar ou não. Sobre entradas e saídas, logo se vê...
Tanta distracção na Segunda Circular. Soares Franco, como presidente, nunca ganhou a Liga, mas apela a linha de continuidade. Filipe Vieira insiste na defesa do seu projecto, que em cinco anos e tal só lhe deu um título de campeão. Perante estas médias brilhantes, como reage o FC Porto? Aproveita-se de adversários tão simpáticos e entretém-se a somar campeonatos...
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MIGUEL SOUSA TAVARES (ABOLA)
Fim de conversa
1 E pronto, acabaram-se as conversas e as discussões. Este campeonato já está resolvido. Como sempre ou quase sempre, o azeite veio à tona e, lá no fundo, ficaram as águas sulfurosas das eternas discussões sobre árbitros e apitos e jogadas suspeitas — esse folclore de inveja com que todos os anos os incompetentes tentam justificar a sua incompetência e deitar fumo para os olhos dos que não querem mesmo ver. O campeonato de 2008/09 está resolvido e está resolvido como vem sendo hábito: o FC Porto em primeiro, destacado e apesar de acumular a liderança clara com uma infinitamente melhor e mais desgastante campanha europeia; o Sporting em segundo, no seu certinho papel de Calimero, sempre chorando-se com os árbitros, mas praticando um futebol tão curto (Liedson à parte) que o semi-vazio das bancadas de Alvalade canta «eu sei porque fiquei em casa»; e o Benfica, o eterno e auto-proclamado campeão da «verdade desportiva» e da excelência de gestão, o clube que, a fazer fé nos jornais, todos os jogadores do mundo ambicionam representar um dia, a perder mais um «campeonato da segunda circular» e a olhar para trás, apreensivo, para ver se não perde mesmo o último lugar do pódio. Vira o disco e toca o mesmo. Eu próprio já começo a achar monótono.
Mas o que se há-de fazer por quem faz tão pouco por si próprio? Mesmo sabendo o líder cansado, exausto de competição ao mais alto nível e desfalcado de dois jogadores de tremenda influência na equipa, os seus rivais — jogando antes e com a possibilidade de o colocar sob pressão, entregaram o ouro ao bandido, antes mesmo de ouvirem as palavras «isto é um assalto ao título!». O Sporting, jogando para o título e para a Champions, foi a Coimbra (onde mora uma equipa muito organizada mas com um poder ofensivo nulo) e, em lugar de se atirar desde o início para cima deles em busca de um só golo que seria suficiente, jogou em soberbo pousio durante noventa insuportáveis minutos. Ainda gostava que alguém me explicasse como é que haverá tantos clubes de fora interessados num Miguel Veloso ou algum disponível para dar 22 milhões pelo João Moutinho! É uma atitude louvável, e até de sobrevivência, ter uma Academia para formar jovens jogadores e integrá-los na equipa principal. Mas isso não quer dizer que tudo o que sai de lá é um Cristiano Ronaldo em potência e que lhe basta fazer meia dúzia ou nem tanto de bons jogos, para logo ter as portas da Europa abertas de par-em-par. Caramba, eles não verão as transmissões televisivas dos jogos em Espanha, em Inglaterra, em Itália? Aquele Sporting de Coimbra, a quem, na hora decisiva, se exigia ambição e risco, talento e trabalho, foi o que se viu: um candidato ao segundo lugar nos anos bons.
E, depois de o Sporting ter deixado dois pontos em Coimbra, foi a vez de o Benfica entrar em campo — teoricamente ainda a perseguir o título, mas muito realisticamente a perseguir, sim, o segundo lugar de acesso à pré-liminatória da Champions. Aqueles jogadores, pagos a peso de ouro, sabem com certeza a importância financeira que uma presença na Champions tem para o clube e para as suas próprias carreiras. Sabiam que tinham uma oportunidade de ouro para ficarem encostados ao Sporting. Há menos de duas semanas, foi jogar ao mesmo estádio o modesto Paços de Ferreira, que, em caso de vitória, conseguiria a proeza de levar o clube à final da Taça: e, contra todos os vatícinios, eles conseguiram-no, porque se bateram por isso. Bem, eu não vi o jogo do Benfica com o Nacional, porque há tempos que desisti de ver os jogos do Benfica, por aboluta falta de interesse. Mas rezam todas as crónicas que foi mais um jogo de revoltar adeptos. Agora, os benfiquistas estão na fase dos «culpados» e, claro que Quique Flores é o suspeito mais à mão. Mas a verdade é que, por mais que se simpatize com ele, como é o meu caso, o «culpado» principal este ano só pode ser Rui Costa. Agora, que Vieira se afastou do que não percebia e deixou o futebol à gestão de Rui Costa, é este que deve responder: foi ele que escolheu Quique e que, com Quique, escolheu os jogadores, o tal plantel de luxo que iria ofuscar tudo à volta. Mas, pelo que tenho lido, parece que Rui Costa gasta mais tempo nos túneis a falar ou a reclamar com os árbitros do que a reclamar com os jogadores no Seixal.
E, estendida a passadeira vermelha pelos seus rivais, ao FC Porto bastou lançar mão da sua entranhada cultura de vitória para somar os três pontos contra o Marítimo e sentenciar de vez a coisa. Foi, claramente, um FC Porto esfarrapado e no limite das forças, desfalcado de Hulk e Lucho e que, quando cedo se viu sem Meireles, pareceu incapaz de segurar a vantagem conquistada logo a abrir, porque, como aqui escrevi desde o primeiro dia, Jesualdo Ferreira teve a desfaçatez de avançar para a época inteira apenas com dois médios de ataque — Lucho e Meireles — deitando fora Ibsen, Luís Aguiar, Léo Lima, etc. Olhando para aquele meio campo com Guarín e Tomás Costa, chego a pensar que foi uma bênção não termos passado o Manchester United: é que assim, sempre mantivemos intacto um prestígio que, de outra forma, logo seria estilhaçado às mãos do Arsenal. No Funchal e a vencer, valeu que o Marítimo teve de vir para a frente e o FC Porto aproveitou, em momentos cirúrgicos, a sua sabida capacidade de ataque instantâneo contra equipeas abertas. Assim matou o jogo e o campeonato. Daqui para frente, o objectivo único é arranjar três pontinhos onde der — de preferência já no próximo domingo e no Dragão — para poupar energias e recuperar algum jogador para o Jamor e a «dobradinha». E terá sido uma grande época!
2 O tipo que programou o Académica-Sporting para quase a mesma hora que o jogo do ano à escala planetária, devia ser fuzilado. Por dever de ofício, eu tive de dividir as atenções entre o concerto de música militar e a ópera de Milão, desesperando por não poder seguir integralmente cada suspiro desse fantástico Real Madrid-Barcelona. Dentro de dez anos ainda se falará em Espanha deste jogo, como durante muitos e muitos anos se falará, no mundo do futebol, desta fantástica equipa do Barcelona de Pepe Guardiola como uma das melhores de todos os tempos, em qualquer canto do mundo.
Quando, vai fazer três anos, antes do Mundial da Alemanha, A BOLA pediu aos seus colunistas que indicassem aquele que achavam que viria a emergir como o grande jogador desse Mundial, eu respondi Lionel Messi. Enganei-me, mas apenas por uma razão: porque o seleccionador argentino, Billardo, achou mais prudente deixar Messi no banco todo o Mundial, porque haverá sempre treinadores para acharem que os génios atrapalham as tácticas que eles tão genialmente conceberam. E este ano, quando, aqui também, se lançou uma espécie de campanha para que, em nome da Pátria, se declarasse, sem excepção, que o melhor jogador do mundo em 2008 tinha sido o Cristiano Ronaldo, eu respondi, quase a medo: «Pois, é um grande jogador sem dúvida, tem a imagem muito bem cuidada, as sobrancelhas muito bem depiladas, mas, quanto a ser o melhor do mundo, é uma chatice, mas há por aí um rapaz chamado Messi...»
Este sábado, em Chamartin, Lionel Messi, mais uma vez, mostrou àqueles que verdadeiramente gostam de futebol, independentemente de clubismos ou patriotismos idiotas, que o melhor jogador do mundo em 2006, 2007, 2008 e 2009, é ele e apenas ele. É certo que não ganhou ainda o respectivo troféu, mas daqui a vinte anos vos garanto que, quando se perguntar a alguém quem foram os cinco melhores jogadores do mundo de sempre, a resposta certa é: Pélé, Eusébio, Maradona, Cruyff e Messsi. Vou ficar a torcer para que amanhã, em Standford Bridge, esta espectacular equipa do Barcelona e o seu pequeno génio de Buenos Aires derrotem o futebol feio e deprimente do Chelsea. Para que haja alguma justiça, neste mundo onde há tão pouca.
JORGE MAIA "...se não tivéssemos passado a semana a conhecer o novo guarda-redes do Benfica e o novo lateral do Benfica e o novo médio do Benfica e o novo avançado do Benfica pelos jornais..."
Ora nem mais, ora nem mais... mas não é o mesmo de sempre? mais um passo em frente a caminho do abismo? eles, comem e gostam... nós também!
FERNANDO GUERRA "...DENTRO de três semanas, quando a Liga acabar e o Estádio do Dragão se trajar a rigor para festejar a vitória do FC Porto, a 24.ª da sua história, os adeptos do Benfica e do Sporting voltarão a interrogar-se: por que razão os seus clubes não conseguem ganhar tanto como ele?..."
Pois, aqueles há que nas alturas devidas, se preocupam mais em encontrar explicações para os erros internos, do que falar no acessório... outros há que levam à máxima a teoria de que "falar dos outros para que não falem de mim". Pois então, assim seja. Eles, comem e gostam... nós também!
MIGUEL SOUSA TAVARES "Olhando para aquele meio campo com Guarín e Tomás Costa, chego a pensar que foi uma bênção não termos passado o Manchester United: é que assim, sempre mantivemos intacto um prestígio que, de outra forma, logo seria estilhaçado às mãos do Arsenal."
Pois, já faltava o "habitual" tiro no pé... se os há aqueles que dão graças a Deus por não terem chegada ao Emirates Stadium para defrontar o Arsenal para as meias da CL, outros há, como eu, que ainda não conseguiu digerir mto bem a eliminação defronte do MU, com a morte à beira da praia, quando tinhamos tudo para seguir em frente e estar hoje nas meias com mérito. Nada de anormal no dicurso do "meu" ídolo crónista, um tal de MST... diz 99% acertadas, para depois, aproveitar o 1% que resta para dizer asneira... e da grossa!
MST em grande, excepto nesse tal ponto, em que mais uma vez, e de resto com é habitual, dá o tal "tiro no pé". No resto, excelente, toda a verdade!
Grande crónica também do Jorge Maia. E olhem que já começou a saga das vedetas que um dia gostariam de representar a escumalha de vermelho... mete nojo!
Acho que o Sr MST devia ter vergonha em ter escrito akilo... Das 3 ekipas que o MU apanhou nesta Liga dos Campeoes (e acabei de ver a goleada deles frente ao Arsenal), a mais dificil foi claramente o FC Porto. Vao para onde forem esta é a verdade...
Haja abertura de espírito. O MST não tem que ter vergonha naquilo que escreve. Nos é que temos a sorte e a felicidade de ter tal 'cronista' dentro das linhas inimigas.
1º Porque é tão PORTISTA como qualquer um de nós.
2º Porque escreve bem.
3º Porque é uma voz PORTISTA no meio do pasquim oficioso dos 'gayvotas'.
4º E para não me alongar, nos 10 ou 20 ... 'mandamentos', fico pela quarta (justificação) de TETRA que está a chegar, porque é uma voz livre, com ideias próprias, às vezes, de crítica construtiva, mas nunca pondo em causa o clube e as virtudes e o valor do Presidente; claro, também erra, e nem sempre estou de acordo com ele, mas é uma BOA VOZ/ ESCRITA, que muito nos apraz registar e que irrita...oh! se irrita, os enca(o)rnados e os calimeros invejosos!!!!!
JORGE MAIA (OJOGO)
ResponderEliminarConcentração até ao fim
Tenho cá para mim que, se não tivéssemos passado a semana a conhecer o novo guarda-redes do Benfica e o novo lateral do Benfica e o novo médio do Benfica e o novo avançado do Benfica pelos jornais, talvez o actual guarda-redes do Benfica, o actual lateral do Benfica, o actual médio do Benfica e o actual avançado do Benfica tivessem encontrado a motivação necessária para aproveitar o empate do Sporting e ganhar ao Nacional. Quando, como acontece todos os anos nesta altura, é tão evidente que a estrutura dirigente só parece estar preocupada com o futuro mais do que perfeito que vem já aí, é apenas natural que a equipa lhe ofereça um presente envenenado. E essa é apenas uma das muitas diferenças que explica o abismo que existe entre uns e outros. Sendo que os uns desta história, mesmo quando estão a três pontos de garantir o tetracampeonato, mantêm a concentração no presente, na necessidade de ganharem o próximo jogo sem se dispersarem em questões laterais. Como a renovação do treinador, por exemplo.
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FERNANDO GUERRA (ABOLA)
Resignados e distraídos
DENTRO de três semanas, quando a Liga acabar e o Estádio do Dragão se trajar a rigor para festejar a vitória do FC Porto, a 24.ª da sua história, os adeptos do Benfica e do Sporting voltarão a interrogar-se: por que razão os seus clubes não conseguem ganhar tanto como ele?
Dentro de três semanas, chegar-se-á a esta conclusão: é impressionante o domínio do FC Porto e a sua capacidade para conquistar títulos, 14 no universo dos últimos vinte, sobrando meia dúzia para distribuir por Benfica (três), Sporting (dois) e Boavista (um). Os adeptos dos vizinhos de Lisboa voltarão então a questionar-se, já resignados: não será possível copiá-lo, imitá-lo, enfim, fazer alguma coisa de maneira a suster a extraordinária eficácia competitiva do futebol portista?
Como cada temporada desportiva no FC Porto é planeada com rigor e executada com sentido profissional, tudo leva a crer que em 2009/2010, se nada de inesperado entretanto emergir nos dois lados da Segunda Circular susceptível de interferir no normal curso dos acontecimentos, a probabilidade de mudança manter-se-á baixa, sem motivação que resista à imparável vaga de confiança a Norte suscitada pela perspectiva do segundo pentacampeonato. Mas não é só. Enquanto no FC Porto, a uma vitória do título, há todas as condições para projectar a próxima época sem sobressaltos, no Benfica e no Sporting isso não se observa.
Na Luz, depois de milionário investimento, ao jeito de este ano é que é, deve doer ao ver-se os jogadores destroçados, a onze pontos de distância do líder, sem alma, sem orientação, rendidos ao fracasso. Como tem sido hábito nos últimos anos, aponta-se o dedo ao treinador. Luís Filipe Vieira diz que não, há outro ano assinado, mas também se sabe que quanto mais barulhento e repetido é o apoio presidencial, mais perto fica a porta de saída. Aqui para nós o ideal seria Enrique Flores pôr-se ao fresco sem que o Benfica tivesse de gastar um cêntimo em indemnização, porque o dinheirinho vai ter de ser muito bem contado para voltar a formar-se uma equipa que não desista a meio do trajecto. Talvez a coisa se componha através de providencial interferência de um Sevilha, por aí. O espanhol vai à vida dele e, pronto, amigos como dantes... Encerrado o primeiro problema, liberdade para a resolução do segundo: escolher o senhor que se há-de seguir. Mais espera, mais notícias contraditórias, mais discussões e mais a imprescindível, mas não segura, abertura e flexibilidade dos decisores para desencantarem treinador que agrade a gregos e a troianos. Concluída esta fase, avança-se então para os derradeiros acertos no plantel, já debaixo da esfera de influência do novo mister, lá para Julho/Agosto...
Em Alvalade, perdida a corrida pelo primeiro lugar, mas praticamente assegurado o segundo, uma espécie de título dos pobres, despromoveram-se as questões relacionadas com a equipa de futebol. Todas as atenções, ou quase todas, se concentram na feira eleitoral, onde julgo dever destacar-se duas posições: uma de coerência, por parte de Rogério Alves; outra de sensatez, por parte de Abrantes Mendes. O primeiro, por saber responder com inteligência aos ataques que visam perturbar a sua equidade até agora inatacável; o segundo, na qualidade de candidato derrotado nas últimas eleições, por, igualmente até agora, se manter à margem do rebuliço.
Com calma, e quando houver oportunidade, fala-se com Paulo Bento para se saber se quer ficar ou não. Sobre entradas e saídas, logo se vê...
Tanta distracção na Segunda Circular. Soares Franco, como presidente, nunca ganhou a Liga, mas apela a linha de continuidade. Filipe Vieira insiste na defesa do seu projecto, que em cinco anos e tal só lhe deu um título de campeão. Perante estas médias brilhantes, como reage o FC Porto? Aproveita-se de adversários tão simpáticos e entretém-se a somar campeonatos...
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MIGUEL SOUSA TAVARES (ABOLA)
Fim de conversa
1 E pronto, acabaram-se as conversas e as discussões. Este campeonato já está resolvido. Como sempre ou quase sempre, o azeite veio à tona e, lá no fundo, ficaram as águas sulfurosas das eternas discussões sobre árbitros e apitos e jogadas suspeitas — esse folclore de inveja com que todos os anos os incompetentes tentam justificar a sua incompetência e deitar fumo para os olhos dos que não querem mesmo ver.
O campeonato de 2008/09 está resolvido e está resolvido como vem sendo hábito: o FC Porto em primeiro, destacado e apesar de acumular a liderança clara com uma infinitamente melhor e mais desgastante campanha europeia; o Sporting em segundo, no seu certinho papel de Calimero, sempre chorando-se com os árbitros, mas praticando um futebol tão curto (Liedson à parte) que o semi-vazio das bancadas de Alvalade canta «eu sei porque fiquei em casa»; e o Benfica, o eterno e auto-proclamado campeão da «verdade desportiva» e da excelência de gestão, o clube que, a fazer fé nos jornais, todos os jogadores do mundo ambicionam representar um dia, a perder mais um «campeonato da segunda circular» e a olhar para trás, apreensivo, para ver se não perde mesmo o último lugar do pódio. Vira o disco e toca o mesmo. Eu próprio já começo a achar monótono.
Mas o que se há-de fazer por quem faz tão pouco por si próprio? Mesmo sabendo o líder cansado, exausto de competição ao mais alto nível e desfalcado de dois jogadores de tremenda influência na equipa, os seus rivais — jogando antes e com a possibilidade de o colocar sob pressão, entregaram o ouro ao bandido, antes mesmo de ouvirem as palavras «isto é um assalto ao título!». O Sporting, jogando para o título e para a Champions, foi a Coimbra (onde mora uma equipa muito organizada mas com um poder ofensivo nulo) e, em lugar de se atirar desde o início para cima deles em busca de um só golo que seria suficiente, jogou em soberbo pousio durante noventa insuportáveis minutos. Ainda gostava que alguém me explicasse como é que haverá tantos clubes de fora interessados num Miguel Veloso ou algum disponível para dar 22 milhões pelo João Moutinho! É uma atitude louvável, e até de sobrevivência, ter uma Academia para formar jovens jogadores e integrá-los na equipa principal. Mas isso não quer dizer que tudo o que sai de lá é um Cristiano Ronaldo em potência e que lhe basta fazer meia dúzia ou nem tanto de bons jogos, para logo ter as portas da Europa abertas de par-em-par. Caramba, eles não verão as transmissões televisivas dos jogos em Espanha, em Inglaterra, em Itália? Aquele Sporting de Coimbra, a quem, na hora decisiva, se exigia ambição e risco, talento e trabalho, foi o que se viu: um candidato ao segundo lugar nos anos bons.
E, depois de o Sporting ter deixado dois pontos em Coimbra, foi a vez de o Benfica entrar em campo — teoricamente ainda a perseguir o título, mas muito realisticamente a perseguir, sim, o segundo lugar de acesso à pré-liminatória da Champions. Aqueles jogadores, pagos a peso de ouro, sabem com certeza a importância financeira que uma presença na Champions tem para o clube e para as suas próprias carreiras. Sabiam que tinham uma oportunidade de ouro para ficarem encostados ao Sporting. Há menos de duas semanas, foi jogar ao mesmo estádio o modesto Paços de Ferreira, que, em caso de vitória, conseguiria a proeza de levar o clube à final da Taça: e, contra todos os vatícinios, eles conseguiram-no, porque se bateram por isso. Bem, eu não vi o jogo do Benfica com o Nacional, porque há tempos que desisti de ver os jogos do Benfica, por aboluta falta de interesse. Mas rezam todas as crónicas que foi mais um jogo de revoltar adeptos. Agora, os benfiquistas estão na fase dos «culpados» e, claro que Quique Flores é o suspeito mais à mão. Mas a verdade é que, por mais que se simpatize com ele, como é o meu caso, o «culpado» principal este ano só pode ser Rui Costa. Agora, que Vieira se afastou do que não percebia e deixou o futebol à gestão de Rui Costa, é este que deve responder: foi ele que escolheu Quique e que, com Quique, escolheu os jogadores, o tal plantel de luxo que iria ofuscar tudo à volta. Mas, pelo que tenho lido, parece que Rui Costa gasta mais tempo nos túneis a falar ou a reclamar com os árbitros do que a reclamar com os jogadores no Seixal.
E, estendida a passadeira vermelha pelos seus rivais, ao FC Porto bastou lançar mão da sua entranhada cultura de vitória para somar os três pontos contra o Marítimo e sentenciar de vez a coisa. Foi, claramente, um FC Porto esfarrapado e no limite das forças, desfalcado de Hulk e Lucho e que, quando cedo se viu sem Meireles, pareceu incapaz de segurar a vantagem conquistada logo a abrir, porque, como aqui escrevi desde o primeiro dia, Jesualdo Ferreira teve a desfaçatez de avançar para a época inteira apenas com dois médios de ataque — Lucho e Meireles — deitando fora Ibsen, Luís Aguiar, Léo Lima, etc. Olhando para aquele meio campo com Guarín e Tomás Costa, chego a pensar que foi uma bênção não termos passado o Manchester United: é que assim, sempre mantivemos intacto um prestígio que, de outra forma, logo seria estilhaçado às mãos do Arsenal. No Funchal e a vencer, valeu que o Marítimo teve de vir para a frente e o FC Porto aproveitou, em momentos cirúrgicos, a sua sabida capacidade de ataque instantâneo contra equipeas abertas. Assim matou o jogo e o campeonato. Daqui para frente, o objectivo único é arranjar três pontinhos onde der — de preferência já no próximo domingo e no Dragão — para poupar energias e recuperar algum jogador para o Jamor e a «dobradinha». E terá sido uma grande época!
2 O tipo que programou o Académica-Sporting para quase a mesma hora que o jogo do ano à escala planetária, devia ser fuzilado. Por dever de ofício, eu tive de dividir as atenções entre o concerto de música militar e a ópera de Milão, desesperando por não poder seguir integralmente cada suspiro desse fantástico Real Madrid-Barcelona. Dentro de dez anos ainda se falará em Espanha deste jogo, como durante muitos e muitos anos se falará, no mundo do futebol, desta fantástica equipa do Barcelona de Pepe Guardiola como uma das melhores de todos os tempos, em qualquer canto do mundo.
Quando, vai fazer três anos, antes do Mundial da Alemanha, A BOLA pediu aos seus colunistas que indicassem aquele que achavam que viria a emergir como o grande jogador desse Mundial, eu respondi Lionel Messi. Enganei-me, mas apenas por uma razão: porque o seleccionador argentino, Billardo, achou mais prudente deixar Messi no banco todo o Mundial, porque haverá sempre treinadores para acharem que os génios atrapalham as tácticas que eles tão genialmente conceberam. E este ano, quando, aqui também, se lançou uma espécie de campanha para que, em nome da Pátria, se declarasse, sem excepção, que o melhor jogador do mundo em 2008 tinha sido o Cristiano Ronaldo, eu respondi, quase a medo: «Pois, é um grande jogador sem dúvida, tem a imagem muito bem cuidada, as sobrancelhas muito bem depiladas, mas, quanto a ser o melhor do mundo, é uma chatice, mas há por aí um rapaz chamado Messi...»
Este sábado, em Chamartin, Lionel Messi, mais uma vez, mostrou àqueles que verdadeiramente gostam de futebol, independentemente de clubismos ou patriotismos idiotas, que o melhor jogador do mundo em 2006, 2007, 2008 e 2009, é ele e apenas ele. É certo que não ganhou ainda o respectivo troféu, mas daqui a vinte anos vos garanto que, quando se perguntar a alguém quem foram os cinco melhores jogadores do mundo de sempre, a resposta certa é: Pélé, Eusébio, Maradona, Cruyff e Messsi. Vou ficar a torcer para que amanhã, em Standford Bridge, esta espectacular equipa do Barcelona e o seu pequeno génio de Buenos Aires derrotem o futebol feio e deprimente do Chelsea. Para que haja alguma justiça, neste mundo onde há tão pouca.
fonte: http://portistaforever.blogspot.com/
JORGE MAIA
ResponderEliminar"...se não tivéssemos passado a semana a conhecer o novo guarda-redes do Benfica e o novo lateral do Benfica e o novo médio do Benfica e o novo avançado do Benfica pelos jornais..."
Ora nem mais, ora nem mais... mas não é o mesmo de sempre? mais um passo em frente a caminho do abismo? eles, comem e gostam... nós também!
FERNANDO GUERRA
"...DENTRO de três semanas, quando a Liga acabar e o Estádio do Dragão se trajar a rigor para festejar a vitória do FC Porto, a 24.ª da sua história, os adeptos do Benfica e do Sporting voltarão a interrogar-se: por que razão os seus clubes não conseguem ganhar tanto como ele?..."
Pois, aqueles há que nas alturas devidas, se preocupam mais em encontrar explicações para os erros internos, do que falar no acessório... outros há que levam à máxima a teoria de que "falar dos outros para que não falem de mim". Pois então, assim seja. Eles, comem e gostam... nós também!
MIGUEL SOUSA TAVARES
"Olhando para aquele meio campo com Guarín e Tomás Costa, chego a pensar que foi uma bênção não termos passado o Manchester United: é que assim, sempre mantivemos intacto um prestígio que, de outra forma, logo seria estilhaçado às mãos do Arsenal."
Pois, já faltava o "habitual" tiro no pé... se os há aqueles que dão graças a Deus por não terem chegada ao Emirates Stadium para defrontar o Arsenal para as meias da CL, outros há, como eu, que ainda não conseguiu digerir mto bem a eliminação defronte do MU, com a morte à beira da praia, quando tinhamos tudo para seguir em frente e estar hoje nas meias com mérito. Nada de anormal no dicurso do "meu" ídolo crónista, um tal de MST... diz 99% acertadas, para depois, aproveitar o 1% que resta para dizer asneira... e da grossa!
MST em grande, excepto nesse tal ponto, em que mais uma vez, e de resto com é habitual, dá o tal "tiro no pé". No resto, excelente, toda a verdade!
ResponderEliminarGrande crónica também do Jorge Maia. E olhem que já começou a saga das vedetas que um dia gostariam de representar a escumalha de vermelho... mete nojo!
Para mim o Miguel Sousa Tavares, está sempre em grande!!!!!!!!
ResponderEliminarTalvez haja uma ou outra coisa que ele comenta, os tais 1%, que não são do nosso agrado, mas que não deixa de ter alguma realidade!
BIBÓ PORTO
Acho que o Sr MST devia ter vergonha em ter escrito akilo...
ResponderEliminarDas 3 ekipas que o MU apanhou nesta Liga dos Campeoes (e acabei de ver a goleada deles frente ao Arsenal), a mais dificil foi claramente o FC Porto.
Vao para onde forem esta é a verdade...
Caros Amigos,
ResponderEliminarHaja abertura de espírito.
O MST não tem que ter vergonha naquilo que escreve. Nos é que temos a sorte e a felicidade de ter tal 'cronista' dentro das linhas inimigas.
1º Porque é tão PORTISTA como qualquer um de nós.
2º Porque escreve bem.
3º Porque é uma voz PORTISTA no meio do pasquim oficioso dos 'gayvotas'.
4º E para não me alongar, nos 10 ou 20 ... 'mandamentos', fico pela quarta (justificação) de TETRA que está a chegar, porque é uma voz livre, com ideias próprias, às vezes, de crítica construtiva, mas nunca pondo em causa o clube e as virtudes e o valor do Presidente; claro, também erra, e nem sempre estou de acordo com ele, mas é uma BOA VOZ/ ESCRITA, que muito nos apraz registar e que irrita...oh! se irrita, os enca(o)rnados e os calimeros invejosos!!!!!