25 junho, 2009

O tetra, jornada a jornada - parte II

11ª jornada
[setúbal, 0 – porto, 3]

“O FC Porto é diferente porque a dimensão do seu futebol começa na cabeça dos seus jogadores e numa cultura de exigência interna, muito especialmente dos seus adeptos. No dia em que o FC Porto perder essa cultura de exigência será igual, no resultado e na falta de afirmação, aos seus tristes parceiros nacionais”. Vitor Serpa dixit.

Com o Sado à vista, o Porto passeou literalmente em Setúbal. O carrossel ofensivo, que faria furor nos jogos fora do Dragão, dava um ar de sua graça. Com a surpresa Lino a titular, no lado esquerdo da defesa, o Porto foi dominador, não permitindo qualquer veleidade a um adversário que tinha empatado, na semana anterior, na Luz. Bruno Alves, imperial no jogo aéreo, inaugurou o marcador, a que se seguiram remates certeiros de Guarin, após uma bela assistência de Hulk e El Comandante. Os comandados de Jesualdo continuavam, na condição de visitantes, a coleccionar registos vitoriosos, numa saga que aparentava ser interminável.

9ª jornada (jogo em atraso)
[e.amadora, 2 – porto, 4]

Com o interlúdio da Champions a configurar a recuperação abismal dos Dragões, vencendo os “gunners” londrinos e, mercê disso, ganhando o grupo da elitista competição, o campeonato fervilhava de rumores, nesta altura. Dezembro, já avançado no calendário, era o mês alvo das especulações, com as equipas procurando corrigir os desequilíbrios do plantel, de forma a encararem a recta final da competição com outra competitividade. A blogosfera azul e branca não se manteve à margem do fenómeno. Uma posição, de entre todas, se destacava de forma unânime, como sendo imperiosa na necessidade de se reforçar: a lateral-esquerda, vilipendiada por adversários, que viam ali uma fraqueza a explorar.

Enquanto Suazo continuava a “pensar no título”, como publicava a toda a largura a capa da Bola de 17/12, os Dragões acertavam contas com o calendário, numa deslocação sempre problemática à Amadora. Num jogo de loucos, fazendo lembrar algumas trepidantes partidas da Liga Inglesa, o Porto entrou a todo o gás, mas sofrendo sempre uma réplica brava dos homens da casa. Com vários erros defensivos pouco habituais, o suspense quanto ao vencedor manteve-se, até aos 64 minutos. Aí, Hulk assinou uma obra-prima, num pontapé em arco que resgatou os portistas de novo desaire. Paulatinamente, o Porto aproximava-se do seu lugar de eleição: o 1º!

12ª jornada
[porto, 0 – marítimo, 0]

A míseros 4 dias das festividades natalícias, a prenda que os portistas não queriam. Um retrocesso no ataque ao primeiro posto. Um travo amargo, numa altura de consumismo, com a mágica noite de 24 a funcionar como o pretexto para uma voragem de desejos. A ambição, qualidade que faz parte do código genético da maioria dos adeptos do FCP, faz com que tentemos sempre ser melhores. Em tudo. E o sensaborão empate, frente a uns madeirenses empedernidos, acicatou apenas o azedume. Com Lucho a voltar às exibições soturnas, longe do fulgor que constituía a sua imagem de marca, os azuis e brancos nunca conseguiram tornear as dificuldades colocadas pelos visitantes, num futebol desgarrado, vivendo apenas das já habituais incursões devastadoras de Hulk e do espírito batalhador e empreendedor de Rodriguez. Pouco. Muito pouco, numa altura em que a estabilidade parecia ter assentado arraiais na Invicta.

Mas o que a Madeira tira, a Madeira oferece. A onde de excitação que varreu a imprensa, pela perda dos dois pontos portistas, quando a máquina azul parecia embalada e imparável, conheceu o reverso da medalha. O Nacional repetia o resultado dos seus parceiros insulares, roubando dois pontos na Luz. Como diria o saudoso Fernando Pessa, “e esta, hein?”.

13ª jornada
[nacional, 2 – porto, 4]

A silly-season regressa sempre, naquele vasto interregno que premeia as equipas no período de festividades. Os discursos de alguns dos intervenientes no desporto-rei luso primaram pelo mesmo diapasão: atacar a arbitragem, com especial incidência na 2ª circular, onde o novel director-desportivo, vestindo as suas roupagens Armani, mas mantendo o habitual discurso trauliteiro, pressionava descaradamente os homens do apito. Era secundado pela nulidade endeusada como avançado de créditos firmado, um Nuno qualquer que sonegou o apelido a um dos maiores avançados de sempre do FCP. A dupla, ridícula e ultrapassada no tempo, arranjava o bode expiatório perfeito para camuflar a incompetência própria.

Mas como dos fracos não reza a história, o Porto entrou no novo Ano da melhor forma: recuperando a liderança, num triunfo que mesclou o épico e o sofrimento atroz. Num jogo impróprio para cardíacos, os golos do triunfo foram obtidos, quando o marcador assinalava um teimoso 2-2, em tempo de descontos. Lucho e Hulk vincaram a vontade indómita de vencer, numa exibição raçuda, que combinou as roupas de gala com o fato-macaco operário. A destacar um momento sublime, que merece figurar num qualquer anuário de 2009. Existem quadros belíssimos. Ou peças musicais esplendorosas. Sente-se que por ali, ao ver ou ouvir, o génio tocou o infinito, compondo pedaços brilhantes. Rodriguez assinou um desses momentos. Não precisou de pincel ou de qualquer outro artefacto. Apenas de um par de chuteiras de inspiração. O golo, num pontapé de bicicleta, é único. A dupla a que me tinha referido acima teve a resposta que merecia. Derrota comprometedora na Trofa.

14ª jornada
[porto, 0 – trofense, 0]

O Destino tem destas coisas. Uma semana depois de proferirmos comentários jocosos sobre a derrota encarnada na Trofa, eis que novo balde de água fria foi jorrado sobre o Estádio do Dragão. Segundo empate consecutivo em casa, comprovando que era na Invicta que a equipa mais dificuldades sentia para romper as amarras tácticas dos adversários. O Trofense, usando a densidade de jogadores no espaço defensivo como arma única para suster a equipa portista, conseguiu o impensável, face ao último lugar que ocupava, na classificação.

Já com a certeza de que Cissokho seria o lateral-esquerdo requerido por Jesualdo, a equipa azul e branca manteve um estranho duelo com a sorte, a ineficácia no momento do remate e as pouco ortodoxas decisões arbitrais. Pese a obrigatoriedade de vencer um adversário claramente inferior, na retina ficou mais um penalty sonegado aos portistas, aumentando o rol de queixas da temporada.

Mas nem só a nós o Destino colocava a nú as fragilidades. O presidente de uma agremiação lisboeta, reconhecido facilmente pelos apêndices auditivos do tamanho de um arranha-céus, proclamava no órgão oficioso, na enésima entrevista dada ao lacaio Delgado, que “esperava que deixassem o SLB vencer a Liga dentro do campo”. Pois. Num espírito corporativo inimaginável, começaram logo a fazer-lhe a vontade. O “mais belo golo a carreira de David Luiz”, falso como Judas, ajudou a derrotar o Braga, num confronto onde curiosamente o treinador dos arsenalistas, um tal de Jesus, bradou contra a costumeira roubalheira em casa da águia. Meu caro, nunca digas desta água não beberei…

15ª jornada
[braga, 0 - porto, 2]

Com a neve a pintalgar o País [notável uma foto da Heliantia colocada no blogue, com os flocos brancos a decorarem o Estádio do Dragão], o Porto deparou-se também com um adversário climático, na Taça da Liga, com o nevoeiro madeirense a ser o protagonista num jogo surreal. Na Liga principal, a curta vagem até Braga revelou um dado curioso: o Dragão só sabe vencer, de forma compulsiva, fora de casa. Frente a um adversário difícil, foi uma dupla sul-americana que resolveu a contenda. Rodriguez e Lisandro, num verdadeiro festival de contra-ataque, com Hulk a assumir-se como um poderoso aríete para derrubar as barreiras opostas. A capacidade extraordinária de vencer, fora de portas, ia mantendo os portistas na corrida pelo título. O final da primeira volta, cheia de percalços, com uma irregularidade enorme em termos exibicionais, espelhava bem as dificuldades da equipa técnica para suprir as saídas do plantel. Mas o Porto lutava, como sempre, mantendo-se em prova em todas as competições. Nesta altura, tinha já derrubado a muralha leixonense, na Taça, sendo o único grande em prova, congratulando-se igualmente com as meias-finais da Taça da Liga, prova toda ela jogada quase sempre com a equipa não-titular. Na Champions, já se sabia, o opositor seria o Atlético, sediado na capital espanhola.

continua na próxima semana...

6 comentários:

  1. Grande Paulo, grande resumo do 2º terço da temporada, grandes recordações...

    Acho q posts como este deveriam ter reconhecimento de quem os lê, e não há maior reconhecimento do q vir à caixa de comentários e felicitar o autor, congratulando-se com o se leu, contrariando-o ou até contestando o post.

    Mesmo através de comentários anónimos.

    É a minha opinião.

    É um vazio muito grande ver esta qualidade toda sem nenhum comentário mesmo vendo o grande nº de visitas q o blog vai registando.

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  2. Se recordar é viver, nada melhor que ler este post para nos lembrarmos de excelentes momentos, mas também de outros que não foram assim tão bons, como foram os casos dos empates em casa com Marítimo e Trofense.

    A verdade é uma, tem sido uma bela “viagem” ler esta descrição do tetra jornada a jornada. Recordando a nossa caminhada, olho para trás e apercebo-me da fantástica evolução de uma equipa que se viu “anputada” de 3 elementos muito importantes.

    Obrigado Paulo Pereira por me “obrigares” a dar ainda mais valor a este saboroso tetra!

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  3. Viva !

    Grande trabalho ! Muitos Parabéns !

    Lembro-me bem do 0-0 contra o Trofense. Mas agora são boas lembranças.

    Obrigado por teres colocado o resultado dos jogos. Ajuda a melhor memorizar.

    E Viva o Porto !

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  4. Paulo Pereira,

    Muita, muita bom este teus "rewinds" ao nosso mais recente TETRA, ainda hoje bem mais que presente nas nossas memórias.

    Destas 5 finais que hoje nos trazes, recordo alguns momentos de relevo:

    1. o jogo complicadérrimo, mais por culpa própria do que outra coisa, na Amadora;

    2. o fabulástico golo do CR10 na Choupana... de rever e chorar por mais;

    3. a odiosa malapata caseira, desta vez, defronte do Trofense, num daqueles dias em que se podia estar ali toda a noite, que não havia forma de colocar a redondinha lá dentro;

    4. por fim, dizes e bem, o festival de contra-ataque dado na Pedreira, defronte do Braga.

    Bem, agora que atingido o meio do campeonato, fico já a aguardar pelas tuas próximas 5 memórias a publicar na próxima semana.

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  5. 24 campeonatos ganhos pelo FC Porto.
    17 ganhos com JNPC ao leme.O resto é conversa aziada.

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  6. Excelente post desta tua continuação daquilo que se passou ao longo da época, amigo Paulo!

    Nestes jogos que nos resumes, confirma-se que estivemos melhor fora de casa do que no nosso Estádio. Soube a pouco tanto o empate com o Marítimo como com os vizinhos da Trofa. Destaco também o golão (!!!) do cebola na choupana! E a grande "cavalgada" que fizemos em Braga, num jogo que tive a oportunidade de assitir ao vivo!

    Também já espero pela continuação...

    Um Abraço

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