ENTENDE-SE o orgulho do presidente do Sindicato de Treinadores por todas as equipas das competições profissionais serem orientadas por portugueses mas, se é positivo que os treinadores portugueses tenham um prestígio que lhes abre as portas internacionais, também é verdade que essa exclusividade doméstica contribui para o conservadorismo do nosso futebol, que se reflecte nas tácticas defensivas e na falta de golos. Os treinadores portugueses conhecem melhor do que ninguém os costumes caseiros, e sabem que os adeptos nacionais estão menos preocupados com o espectáculo do que com o resultado. Lembro-me, a propósito, duma conversa que tive com Co Adriaanse, semanas antes do holandês romper com o FC Porto. Dizia-me ele que havia momentos em que ficava na dúvida se o adepto português gostava, de facto, de ver futebol, ou se apenas estava interessado na vitória da sua equipa, ou seja, se gosta mais do jogo que de futebol.
O que é inegável é que, de acordo com os padrões nacionais, é menos preocupante não ganhar do que não perder. É por isso que, entre nós, e ao contrário do que acontece, por exemplo, no futebol holandês ou escocês, os adeptos tendem a só aplaudir a equipa quando esta está a ganhar, e é muito raro ouvir-se aplaudir quem está a perder ou já perdeu, mesmo que a derrota seja imerecida. Este status quo, que conta com a cumplicidade de alguns ilustres especialistas do futebolês, sempre prontos a crucificar os insensatos treinadores que ousam correr riscos, acaba por influenciar as tácticas e por redundar em maus espectáculos, com poucas ocasiões e pouquíssimos golos, como se viu na maçadora primeira jornada da nossa principal liga, com jogos tão monótonos, com equipas medrosas e com permanentes interrupções causadas por faltas reais e por muitas lesões fingidas. Creio, aliás, que o nosso futebol deve ser recordista mundial da utilização da maca.
Não defendo, note-se, a adopção de tácticas suicidas, por parte dos treinadores das equipas mais fracas. No jogo entre o gato e o rato, disputado entre o mais forte e o mais fraco, é normal que este tente pregar partidas àquele. Foi o caso do Marítimo, na Luz, onde fez a exibição possível, com sorte, é certo, mas também com inteligência e mérito. Contudo, se essa opção de contra-ataque é compreensível perante tão grande desequilíbrio de forças, já não entendo, por exemplo, a táctica do treinador do Paços de Ferreira que, a jogar em casa e depois de se ter apanhado com a dupla vantagem, no marcador por culpa da defesa do FC Porto e da trave, e no número de jogadores por precipitação de Hulk e por artes do xistrema, optou por reforçar a defesa em vez de tentar dar a estocada final.
É por essas e por outras, também, que os estádios estão vazios, e que o futebol nacional vai perdendo competitividade e viabilidade, e não sai da cepa torta.
XISTRA arbitrou, na época passada, os jogos em Guimarães, em que Hulk levou uma carga de pancada, e na Amadora, em que foi lesionado gravemente por uma entrada maldosa de um jogador que nem sequer foi admoestado. Vítor Pereira achou por bem nomeá-lo para o jogo de abertura do campeonato, talvez para provocar o treinador portista que se tem queixado das sucessivas faltas que Hulk tem sofrido, e que ficam impunes. Na 1.ª parte, Hulk viu um cartão amarelo por reclamar, com razão, por ter sido assinalada falta que não cometeu. Na 2.ª parte foi expulso por uma falta que não existiu. Não, não fui só eu a ver, Coroado também viu. O que é certo é que já muita gente dizia que era preciso travar Hulk…
Encantos do 'Xistrema'
NUM jogo viril e faltoso, Carlos Xistra só mostrou dois cartões amarelos por faltas, uma das quais a tal que não existiu, mas exibiu outros dois cartões por protestos dos jogadores. Estranhos critérios, estes, de um árbitro que se farta de condescender mas, como se viu, só o faz com alguns. É que, ainda antes de Hulk ser expulso, já há muito que os jogadores do Paços de Ferreira andavam a fazer simulações sempre que o portista estava por perto. E, numa dessas cenas, depois de Anunciação fingir (sem muito jeito) ter sido agredido pelo brasileiro, quase todos os pacenses e até os sentados no banco protestaram e exigiram o segundo amarelo, sem que tenham sofrido qualquer sanção…
Os ecos do costume
TUDO isso não impressionou a crítica que, crucificou o brasileiro e ainda sugeriu que o Paços fora prejudicado pela arbitragem. Como de costume, os comentadores televisivos, que têm acesso às repetições, não viram que Hulk não fez falta como o árbitro admitiria ao reatar o jogo com pontapé de baliza. Também não tinham visto o penalty não assinalado a Anunciação. Toda a gente falou, em tom de escândalo, que o assistente que se equivocou no último minuto, e como se leu neste jornal, «o lance com Carlitos vai dar pano para mangas», mas ninguém diz que esse mesmo assistente se equivocara de forma bem mais escandalosa, quando impediu Hulk de se isolar, numa jogada que poderia ter dado o empate.
Quem tem pequena dimensão?
NUMA entrevista, Antero Henrique disse que quando Pinto da Costa «pegou» no FC Porto, «isto era um clube de pequena dimensão». Admito que os funcionários dedicados e que prestam bons serviços ao clube, como é o caso do director-geral da SAD, deixem resvalar a gratidão para a adulação mas, ao contrário do que ele disse, o clube não é «isto» e nunca foi de pequena dimensão. Sempre teve grandes atletas e também ilustres dirigentes, que não tiveram o mérito nem conseguiram os feitos de Pinto da Costa mas que conheciam e respeitavam a história do clube, ao contrário de Antero Henrique a quem recomendo a leitura de Largos dias tem cem anos, onde encontrará tudo o que lhe falta, ainda, saber.
RUI MOREIRA NA BOLA
ResponderEliminar'Catenaccio' à portuguesa
ENTENDE-SE o orgulho do presidente do Sindicato de Treinadores por todas as equipas das competições profissionais serem orientadas por portugueses mas, se é positivo que os treinadores portugueses tenham um prestígio que lhes abre as portas internacionais, também é verdade que essa exclusividade doméstica contribui para o conservadorismo do nosso futebol, que se reflecte nas tácticas defensivas e na falta de golos.
Os treinadores portugueses conhecem melhor do que ninguém os costumes caseiros, e sabem que os adeptos nacionais estão menos preocupados com o espectáculo do que com o resultado. Lembro-me, a propósito, duma conversa que tive com Co Adriaanse, semanas antes do holandês romper com o FC Porto. Dizia-me ele que havia momentos em que ficava na dúvida se o adepto português gostava, de facto, de ver futebol, ou se apenas estava interessado na vitória da sua equipa, ou seja, se gosta mais do jogo que de futebol.
O que é inegável é que, de acordo com os padrões nacionais, é menos preocupante não ganhar do que não perder. É por isso que, entre nós, e ao contrário do que acontece, por exemplo, no futebol holandês ou escocês, os adeptos tendem a só aplaudir a equipa quando esta está a ganhar, e é muito raro ouvir-se aplaudir quem está a perder ou já perdeu, mesmo que a derrota seja imerecida. Este status quo, que conta com a cumplicidade de alguns ilustres especialistas do futebolês, sempre prontos a crucificar os insensatos treinadores que ousam correr riscos, acaba por influenciar as tácticas e por redundar em maus espectáculos, com poucas ocasiões e pouquíssimos golos, como se viu na maçadora primeira jornada da nossa principal liga, com jogos tão monótonos, com equipas medrosas e com permanentes interrupções causadas por faltas reais e por muitas lesões fingidas. Creio, aliás, que o nosso futebol deve ser recordista mundial da utilização da maca.
Não defendo, note-se, a adopção de tácticas suicidas, por parte dos treinadores das equipas mais fracas. No jogo entre o gato e o rato, disputado entre o mais forte e o mais fraco, é normal que este tente pregar partidas àquele. Foi o caso do Marítimo, na Luz, onde fez a exibição possível, com sorte, é certo, mas também com inteligência e mérito. Contudo, se essa opção de contra-ataque é compreensível perante tão grande desequilíbrio de forças, já não entendo, por exemplo, a táctica do treinador do Paços de Ferreira que, a jogar em casa e depois de se ter apanhado com a dupla vantagem, no marcador por culpa da defesa do FC Porto e da trave, e no número de jogadores por precipitação de Hulk e por artes do xistrema, optou por reforçar a defesa em vez de tentar dar a estocada final.
É por essas e por outras, também, que os estádios estão vazios, e que o futebol nacional vai perdendo competitividade e viabilidade, e não sai da cepa torta.
(CONT..)
(CONT...) RUI MOREIRA
ResponderEliminar'Pero que las hay…'
XISTRA arbitrou, na época passada, os jogos em Guimarães, em que Hulk levou uma carga de pancada, e na Amadora, em que foi lesionado gravemente por uma entrada maldosa de um jogador que nem sequer foi admoestado. Vítor Pereira achou por bem nomeá-lo para o jogo de abertura do campeonato, talvez para provocar o treinador portista que se tem queixado das sucessivas faltas que Hulk tem sofrido, e que ficam impunes. Na 1.ª parte, Hulk viu um cartão amarelo por reclamar, com razão, por ter sido assinalada falta que não cometeu. Na 2.ª parte foi expulso por uma falta que não existiu. Não, não fui só eu a ver, Coroado também viu. O que é certo é que já muita gente dizia que era preciso travar Hulk…
Encantos do 'Xistrema'
NUM jogo viril e faltoso, Carlos Xistra só mostrou dois cartões amarelos por faltas, uma das quais a tal que não existiu, mas exibiu outros dois cartões por protestos dos jogadores. Estranhos critérios, estes, de um árbitro que se farta de condescender mas, como se viu, só o faz com alguns. É que, ainda antes de Hulk ser expulso, já há muito que os jogadores do Paços de Ferreira andavam a fazer simulações sempre que o portista estava por perto. E, numa dessas cenas, depois de Anunciação fingir (sem muito jeito) ter sido agredido pelo brasileiro, quase todos os pacenses e até os sentados no banco protestaram e exigiram o segundo amarelo, sem que tenham sofrido qualquer sanção…
Os ecos do costume
TUDO isso não impressionou a crítica que, crucificou o brasileiro e ainda sugeriu que o Paços fora prejudicado pela arbitragem. Como de costume, os comentadores televisivos, que têm acesso às repetições, não viram que Hulk não fez falta como o árbitro admitiria ao reatar o jogo com pontapé de baliza. Também não tinham visto o penalty não assinalado a Anunciação. Toda a gente falou, em tom de escândalo, que o assistente que se equivocou no último minuto, e como se leu neste jornal, «o lance com Carlitos vai dar pano para mangas», mas ninguém diz que esse mesmo assistente se equivocara de forma bem mais escandalosa, quando impediu Hulk de se isolar, numa jogada que poderia ter dado o empate.
Quem tem pequena dimensão?
NUMA entrevista, Antero Henrique disse que quando Pinto da Costa «pegou» no FC Porto, «isto era um clube de pequena dimensão». Admito que os funcionários dedicados e que prestam bons serviços ao clube, como é o caso do director-geral da SAD, deixem resvalar a gratidão para a adulação mas, ao contrário do que ele disse, o clube não é «isto» e nunca foi de pequena dimensão. Sempre teve grandes atletas e também ilustres dirigentes, que não tiveram o mérito nem conseguiram os feitos de Pinto da Costa mas que conheciam e respeitavam a história do clube, ao contrário de Antero Henrique a quem recomendo a leitura de Largos dias tem cem anos, onde encontrará tudo o que lhe falta, ainda, saber.