Doce Vingança

assistência: 38.117 espectadores.

árbitros: Vasco Santos (Porto), Alexandre Freitas e Paulo Vieira; João Lamares.

FC PORTO: Helton; Fucile, Rolando, Bruno Alves «cap.» e Álvaro Pereira; Fernando, Belluschi e Raul Meireles; Hulk, Falcao e Varela.
Substituições: Álvaro Pereira por Tomás Costa (46m), Raul Meireles por Valeri (54m) e Varela por Farías (73m).
Não utilizados: Nuno, Rodríguez, Mariano e Maicon.
Treinador: Jesualdo Ferreira.

LEIXÕES: Diego; Laranjeiro, Nuno Silva «cap.», Tucker e Benítez; Fernando Alexandre, Wénio e Hugo Morais; Zé Manel, Faioli e Tiago Cintra.
Substituições: Zé Manel por Cauê (46m), Hugo Morais por Leo (54m) e Faioli por Pouga (64m).
Não utilizados: Berger, Joel, Vinh e Trombetta.
Treinador: José Mota.

disciplina: Cartão amarelo a Laranjeiro (22m), Hugo Morais (23m), Fernando (29m) e Faioli (52m).

golos: Varela (20m), Hulk (23m, g.p.), Rolando (32m), Falcao (41m) e Pouga (76m).

Ponto prévio. Os jogos das selecções não provocaram, aparentemente, mossa física nos jogadores portistas. Quando se equacionava a implementação do sistema de rotatividade, pelo desgaste nos jogadores internacionais, especialmente no contingente sul-americano, a única mexida no onze inicial foi a saída…de Mariano, há muito arredado das convocatórias de Maradona.

Na recepção ao incómodo vizinho, que tinha desempenhado papel fulcral na episódica crise do ano passado, Jesualdo optou por não correr riscos, relativizando o jogo da Champions, a 72 horas de distância. Em boa hora o fez, como demonstra o score final…

No lançamento da partida, nenhuma surpresa táctica. O mesmo quarteto defensivo, protegendo Helton, com o trio habitual no meio-campo. Fernando, o “carregador” de piano, Meireles, descaído para a esquerda e Belluschi, tapando o flanco direito. Lá na frente, um tridente de impor respeito. Varela, desviado para a direita, Hulk, preferencialmente no lado esquerdo e Falcao, no centro.

O cartão de apresentação aos visitantes era este. Uma noite amena, caindo tranquila, na Invicta. Um Estádio resplandecente de alegria, na recepção aos guerreiros de azul e branco. E o público, sempre presente, fiel.

As hostilidades não se fizeram esperar. Procurando, desde logo, resolver a contenda o mais cedo possível, os pupilos de Jesualdo exibiram um futebol rectilíneo, fluido, agradável, com a velocidade a imperar. As dificuldades, para o adversário, eram evidentes. O Porto parecia um rolo compressor, esmagando a resistência na zona nevrálgica do meio-campo, numa pressão alta que provocava inúmeras bolas perdidas pelo Leixões.

Ainda não se tinham esgotado 5 minutos, e o golo já tinha rondado a baliza à guarda de Diego, em duas ocasiões. A primeira, um regalo para a vista, com a execução técnica sublime de Hulk, passando o esférico por cima de um defesa para remate posterior, a embater com violência nas redes laterais.

O mote estava dado. Meireles, após incursão de Fucile, proporcionou uma defesa aparatosa ao guardião leixonense. Pressentia-se o golo portista, pese a tímida reacção do opositor, quase sempre a solo, por intermédio do desamparado Faioli.

Defendendo à zona, recuando as linhas sempre que o Porto tinha a posse de bola, a equipa de José Mota era um mar de equívocos. O macio meio-campo, incapaz de acompanhar o ritmo imposto à partida, permitia várias linhas de passe, perante os surpreendidos laterais, sucessivamente submergidos na maré atacante portista.

E assim, paulatinamente, o Dragão reconciliou-se com as noites calmas. Aquelas em que o avolumar precoce do resultado permitem soltar o nervosismo de quem sofre por paixão. Varela, depois do endiabrado Alvaro Pereira ter efectuado uma maldade ao defesa leixonense, rematou com efectividade para o tento inaugural. Vantagem merecida, premiando o caudal ofensivo dos azuis e brancos.

O pesadelo dos homens do Mar tinha apenas conhecido o seu capítulo inicial. Não tardou muito tempo para que a partida ficasse sentenciada. Alvaro Pereira, repetente na incursão preferida, impondo o físico, a técnica e a velocidade até à linha de fundo, foi carregado em falta, ao entrar na área adversária.

O defesa uruguaio, mais solto, apareceu neste regresso ao Dragão com uma personalidade definida, vincando finalmente a qualidade que lhe era reconhecida.

O Porto clube construiu a sua grandeza, coleccionando títulos, mas mantendo sempre a capacidade organizativa como pedra fulcral para sustentar o edifício. É nas pequenas coisas que, bastas vezes, se marca a diferença. Depois do resgate dos seus atletas sul-americanos, em avião próprio fretado expressamente para poupar cansaços extra, é novamente um pormenor, que muitos considerariam supérfluo, a vincar a diferença. Para a marcação da grande-penalidade foi convidado…Hulk. Pormenor motivacional sagaz, oferecendo ao brasileiro uma espécie de redenção, após a expulsão na Mata Real.

O super-herói não se fez rogado. Com classe, introduziu a bola nas redes opostas, mandando às malvas o discurso sensaborão de quem se ufanava poder vencer o Porto, novamente.


O Porto era, nesta altura, um animal esfaimado, com uma presa dócil e apavorada pela frente. Fez o que lhe competia. Manteve a alta rotatividade do seu motor topo de gama, privilegiando os flancos na procura dos desequilíbrios atacantes.

Depois do segundo, o terceiro, sem qualquer aviso preliminar. Oportunidade criada, oportunidade convertida. Debaixo das luzes da ribalta, um velho conhecido, referenciado neste artigo. Se o leitor, que não viu o jogo, exclamou “Alvaro Pereira”, acertou em cheio. Cavalgada pelo flanco esquerdo, cruzamento venenoso, bola redondinha a cair nos pés de Rolando, e o defesa-central a limitar-se a empurrá-la.

Castigo pesado para o Leixões? Qual quê. Quem se lembra da noite horrível do Porto, no ano transacto, frente a este mesmo adversário, sentiu o doce sabor da vingança. Aquela que se serve fria. A dinâmica portista, implementada de forma contundente, pedia meças aos rivais directos. Não fazemos enjoativas capas diárias nos jornais, mas gostamos de colocar água na fervura. Nas euforias pífias. A exibição dos pupilos de Jesualdo foi, antes de tudo o mais, uma espécie de grito de revolta. De quem é campeão. Se sente campeão. E vai ser campeão. Mesmo, repito, não figurando nos me[r]dia como o favorito. Que é.

Quase que me esquecia de continuar a escrever sobre o jogo. Que, verdade seja dita, não teve muito mais para contar.

Falcao marcou, ainda, o quarto tento da partida. Curiosamente, o seu quarto golo em quatro jornadas. O colombiano assume-se como um predador, não enjeitando as oportunidades de que dispõe.

E acabou. Em 45 minutos. Realizado, com brilhantismo, o objectivo primário, de angariação dos 3 pontos da vitória, o Porto enfeitou a conquista com laivos de bom futebol, continuando a subir de forma, nos parâmetros estipulados pela equipa técnica. A segunda parte foi uma espécie de bónus, para Jesualdo. Arrumada a questão central do vencedor, foi tempo de mitigar esforços, numa casta de treino mais competitivo, com a habitual substituição de peças desgastadas.

Nota final: Porque é que todos os jogos não são assim, tão fáceis? A tensão arterial dos adeptos portistas agradeceria, por certo, tal dádiva. Num jogo que se previa de dificuldade elevada, o onze portista mostrou ter a lição devidamente estudada. Pressão alta, domínio esmagador, peças móveis, desequilíbrios criados, velocidade elevada. Foram estes os ingredientes para a obtenção do triunfo.

Arbitragem: Noite descansada para o delegado da Liga. Não será necessário omitir dados cruciais no relatório, como parece ser apanágio de alguns, em túneis mais a sul. Num jogo correcto, apenas dois lances poderiam manchar a nota do juiz de campo. Perante os protestos do banco leixonense, depois de Faioli se ter estatelado na área portista, em lance com Fernando, o que parecia ser uma atitude salomónica do árbitro revelou-se, nas imagens, correcta. Fernando não toca no avançado contrário, em lance disputado fora da área de rigor. A grande-penalidade sobre Alvaro Pereira, que provocou uma dose industrial de impropérios do habitualmente fleumático José Mota, não existe. Nas palavras do duo de marretas da SportTv. Decisão correcta, digo eu, perante o estatelamento do defesa portista, tocado cirurgicamente no pé de apoio.

Melhor do Porto: Num primeiro impulso ia a escrever José Mota. Mas depois reflecti. Dei para embirrar com o homem, hoje. Levou quatro. Um banho de bola. Não jogou a ponta de um c**no. Mas os trejeitos no banco, o sorriso debochado, as constantes críticas às decisões do árbitro, foram demais para o meu circunspecto sistema nervoso. Atitude claramente mesquinha, tipicamente lusitana, esta do técnico matosinhense, auto-colocado num pedestal de sapiência e com um mau perder do caraças.

Voltando ao que interessa. Alvaro Pereira. Man of the Match. Sim, eu sei que jogou apenas 45 minutos. Mas fez tudo bem. Jogador mais participativo da equipa, no período áureo, com 3 – sim, três – assistências para golo. Passe para Varela, no 1º. Carregado em falta, no 2º. Centro aveludado, no 3º. É a grande diferença entre quantidade e qualidade. O uruguaio, desta feita, optou pela segunda. Em boa altura. Tempo, agora, para sonhar com feitos heróicos, na gesta londrina. Eu acredito. E tu?