13 novembro, 2009

António SOUSA

Num momento muito difícil para a nossa equipa do Porto, lembrei-me de um jogador que nos daria hoje uma grande ajuda na resolução desta crise que todos esperamos seja passageira.

António Augusto Gomes de Sousa, nasceu em São João da Madeira a 28 de Abril de 1957 e começou a jogar no clube da terra (Sanjoanense) e aos 16 anos estreou-se na equipa sénior do clube. Passou depois para o Beira-Mar e em 1979 foi contratado pelo Porto então treinado por José Maria Pedroto apesar do assédio dos clubes de Lisboa. Esteve 8 épocas de dragão ao peito e disputou 483 jogos na 1ª Divisão o que faz com que seja, ainda hoje, o 2º jogador com mais jogos disputados.

Sousa era um jogador de feitio reservado e triste mesmo dentro do campo e embora treinasse todos os dias no Porto preferiu continuar a viver em São João da Madeira e ao fim da tarde continuar a ajudar o sogro no quiosque. Médio ofensivo de grande dinâmica (que falta nos faz esta época) tinha um pontapé fortíssimo e um talento enorme juntando ainda uma cultura táctica notável. O seu único problema era alguma dificuldade em ganhar a melhor forma e, por isso, as primeiras voltas eram sempre mais difíceis. No entanto, uma vez em forma tornava-se num jogador fantástico. A facilidade com que colocava a bola onde queria fazia com que também os seus livres quer perto da área quer mais longe fossem sempre muito perigosos (mais uma característica que nos falta hoje – marcar livres). Rapidamente se impôs na equipa azul e branca mas, curiosamente, só mais tarde (87/88) seria campeão pelo Porto então treinado por Tomislav Ivic. Em 1984, no final do Euro 84 (onde é titular em todos os jogos que a Selecção Nacional realiza), troca o Porto pelo Sporting, juntamente com Jaime Pacheco, alegando falta de condições psicológicas. Curiosamente é depois de nova campanha da Selecção (Mundial 86) que regressa ao Porto e novamente com Jaime Pacheco.

Sousa está presente em todas as finais europeias do Porto da década de 80 e na primeira final, da Taça das Taças contra a Juventus em 16 de Maio de 1984 (onde tive a felicidade de estar presente), é ele quem marca o único golo do Porto com um forte remate de fora da área – a sua imagem de marca. Ainda nesse ano é autor de mais um grande golo (o único ao serviço da Selecção Nacional) no Euro 84 ao fazer um magnífico chapéu ao guardião espanhol Arconada permitindo chegar às meias finais.

Depois de dois anos no Sporting (em que o Porto foi campeão sob o comando de Artur Jorge) onde acusou os dirigentes do Porto de não terem cumprido com o que lhe prometeram e com estes a acusarem Sousa de ter tentado chantagear o clube, regressa ao Porto, em 1986, novamente envolto em polémica acusando os colegas de gozarem com a sua pronúncia. Também os dirigentes do Sporting acusaram os do Porto de comprarem os jogadores com dinheiro dado pelo estado para obras. No entanto, o seu regresso ao Porto também não foi pacífico pois houve muitos sócios que ficaram indignados com a sua contratação.

Nessa época mítica de 1986/87 o Porto não é campeão mas conquista a Taça dos Campeões e Sousa joga os 90 minutos. Na época seguinte o Porto conquista a Supertaça Europeia contra o Ajax, em pleno Estádio das Antas, em 13 de Janeiro de 1988, com Sousa a marcar o único golo do encontro da 2ª mão com um belo remate de fora da área e a sossegar os adeptos depois de o Porto já ter vencido na 1ª mão em Amesterdão por 1-0 (Rui Barros). Sendo um jogador bastante reservado inclusivamente quando marcava golos, foram este golo ao Ajax e o golo à Juventus as situações em que me lembro ver Sousa a festejar de forma efusiva e exuberante. Entre os 2 jogos da Supertaça Europeia, o Porto vai a Tóquio (13 de Dezembro de 1987) disputar a Taça Intercontinental contra o Peñarol de Montevideu debaixo de um nevão incrível com Sousa a jogar os 120 minutos.

Depois de uma horrível época de 88/89 em que o treinador Quinito é substituído por Artur Jorge, este promove uma “limpeza do balneário” e em Julho de 89 Sousa recebe a carta de dispensa. Mais uma vez, envolve-se em críticas ferozes ao Porto e concretamente a Artur Jorge acusando-o de "falta de coragem para dizer as coisas que não fossem boas nos olhos de quem quer que fosse" e lembrando-lhe que "foram aqueles que ele escorraçou indignamente do Porto que lhe deram os grandes títulos porque antes não tinha ganho nada". Regressa ao Beira-Mar (4 épocas) passa pelo Gil Vicente e termina na Ovarense na época 94/95. Na época 98/99 conquista a Taça de Portugal, o seu único troféu como treinador, orientando o Beira-Mar e com o filho Ricardo Sousa a marcar o golo da vitória.

10 comentários:

  1. O Estádio assobiava Ivic de forma assustadora. Ninguém queria acreditar naquela substituição. Sai Gomes e entra Plácido. 2 minutos depois golo do Porto, golo de SOUSA, um grande remate em cima da linha de grande área. Foi o descarregar de tensão acumulada. Foi a loucura nas Antas, a supertaça Europeia era nossa. Nunca mais a ganhamos.

    Sousa era assim, dono de um pontapé temível.

    Que raios, estava eu agora aqui a tentar fazer uma analogia e não é q n encontro ninguém no nosso ACTUAL plantel com capacidade de remate assim tão eficaz...

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  2. A leste de todas essas polémicas de feitio, o Sousa foi dos primeiros jogadores que eu retenho como "à Porto".

    Lucho, o Raúl Meireles quando está inspirado :)

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  3. Sim Heliantia, marca um golo a cada 5 anos...

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  4. Este golo de Sousa leva-me a recordações fantásticas de ainda muito miúdo que pela primeira vez foi ao Mítico Estádio das Antas ver o clube do seu coração.

    Mas já lá vamos, entretanto lembro-me de ver a única vez que o meu Pai chorou, estava o FC Porto a jogar na Suiça (Basileia)contra uma equipa que jogava de cor-de-laranja(a juventus do platineiro) ,não percebi porque chorava o meu Pai porque festejamos os dois o golo do numero 8 do FC Porto e que grande golo, eu ainda pouco ligava ao futebol e nem sabia que o jogador que tinha marcado aquele magnifico golo era o grande António Sousa, aliás a unica pergunta que repeti vezes sem conta era se o FC Porto era mesmo aquele que estava a jogar onde estavam as riscas brancas no equipamento.

    Voltando ao golo do Sousa na Supertaça-Europeia, foi o meu baptismo em idas ao futebol, lembro-me de ver um mar de gente, nunca tinha visto tal, lembro-me como se fosse hoje da confusão que era onde hoje está a torre das antas nunca tinha visto tantas bilheteiras na minha vida. Ao entrar pelas bilheteiras ao colo do meu pai já quase dava para ver lá para dentro, finalmente entramos que delírio que foi e ainda por cima com um triunfo e no golo do Sousa ao saltar perdi-me temporariamente do meu Pai, como disse o Lucho gritamos golo durante largos minutos foi uma loucura.

    Sempre que o nome António Sousa aparece estes são episódios que me vêm logo à cabeça.

    Quanto à saída para o sporting de lembrar que António Sousa passou por todos os maus momentos daquela altura no FC Porto desde o "verão quente", ao afastamento de Pedroto até à debandada por motivos psicológicos o Porto passava por alturas em que os ordenados estavam meses em atraso, ou seja perdoei a sua saída.

    Heliantia tirou-me as palavras da boca era sim senhor um jogador "à Porto".

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  5. Lucho
    Gostei dessa tua discrição da jogada, Foi dos primeiros jogo vi nas Antas!!!É verdade foi a loucura, lá estava eu pendurado na rede no superior norte... que grande recordação que tenho desse dia!
    Dizem agora que grande tiro ... aquele foi de canhão!!!
    Grande Sousa ....

    Um abraço

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  6. Grande jogador, que, como já foi dito, fará sempre parte do rol de jogadores "à Porto"! Já não me lembrava bem dos contornos da sua saída (com o Pacheco( para os calimeros, fiquei esclarecido, obrigado!

    Saudações

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  7. Eu descrevi a jogada mas não estive lá, estava na cama a ouvir o relato (a rtp só deu a 1ª mão)...Os pés suados com o nervosismo e o grito de golo meio abafado pelos cobertores:)

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  8. Grande jogador, na verdade, com a mácula de ter saído para o sbordem.
    Resgatado áquela miséria, veio a tempo de participar na grandes glõrias portistas.Grande e certeiro pontapé.
    Nessa época Pinto da Costa deu um enorme baile a João Rocha, Presidente dos Lagartos.
    Vieram cá, levaram o Sousa e o Pacheco para serem Campeões.
    O Porto foi buscar para os substituir, Quim, André e ... Futre ao Sbordem.
    Fomos nós os campeões!!!
    Dois anos depois resgatou-os e ... campeões europeus... De Mestre...

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  9. Não me posso lembrar (lol), mas sei que era um senhor jogador.

    Grande descrição lucho... sentido!!

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  10. Recordo-me perfeitamente do Sousa, aquele de quem muitas vezes não se dava nada, andava por ali, mais parecendo fazer número, mas que era uma formiguinha de trabalho em prol do colectivo.

    Os golos que referes, óhhh, se lembro carago... em Basileia, onde nos fez sonhar (invejo-te teres lá estado)... nas Antas, onde debaixo d'um diluvio de chuva, comigo lá nas bancadas do topo Norte, voltou a marcar e fazer-nos dessa vez, felizes, muito felizes... bons velhos tempos, c'um carago!

    Já não me recordava claramente dos constornos da ida pó Zbordem, regresso às Antas e partida de novo envolto em polémica com o Rei Artur... depois de ler, foi fácil recordar todas essas confusões.

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