MUITOS benfiquistas nunca aceitaram o facto de o FC Porto ter melhores equipas, treinadores e organização. Não se conformaram com os novos tempos, em que deixaram de poder contar com o beneplácito político e com o monopólio do poder futebolístico. Para eles, a cada vitória do FC Porto nas competições domésticas, seguia-se a auto-vitimização e a insinuação, em forma de chorrilho fedorento. Nem os feitos europeus e mundiais do clube calaram essa maledicência. Tudo isso levou, aliás, a uma ruptura com a tradição. É que lembro-me da minha infância e da forma como nós, portistas, vibrávamos com as façanhas europeias do Benfica, e as sentíamos não direi como nossas, mas com orgulho por haver um clube português capaz de ombrear com os melhores. Pelo contrário, quando o FC Porto atingiu esse patamar, os seus sucessos foram apoucados e relativizados. O jornal do Benfica sugeria, há dias, que teria havido batota no Manchester United-FC Porto de 2004.
À custa de recordarem a sua história gloriosa, e entretidos a denegrirem os méritos alheios, as sucessivas direcções benfiquistas foram adiando as reformas de que o clube precisava. Para eles, a culpa pelos insucessos próprios e pelos sucessos do FC Porto sempre foi atenuada por fantasiosos factores externos, pelo sistema, pelo túnel das Antas, pelo desinfectante do balneário, pelo guarda Abel. Criou-se, assim, entre os benfiquistas, uma mitologia estranha, em que o passado era branqueado e o presente ia sendo desconstruído. Todos os anos, no Verão, garantiam que «desta vez é que vai ser» mas, chegada a Primavera seguinte, a desilusão era mascarada pelos habituais queixumes, enquanto os plantéis iam sendo dizimados. Ora, em termos meramente desportivos, este negacionismo benfiquista foi útil para perpetuar o domínio do FC Porto.
Este ano, o Benfica reapareceu com um projecto ousado, antecipando receitas vindouras e congregando novos investidores. É uma aposta de risco, mas à custa disso, tem uma equipa muito mais competitiva do que no passado recente e com um treinador apostado, também, em garantir, muito cedo na época, um improvável apuro de forma que mobilizou os seus adeptos. No Dragão, onde nem tudo vai bem depois do realismo das contas ter levado à saída de alguns dos melhores jogadores, a ascensão do adversário é vista com apreensão. E, como o Benfica vai contando, também, com os favores da arbitragem e dos ratos de secretaria, os portistas tem todo o direito, perante a evidência de que as cartas estão marcadas, de não esquecer o passado e de pagar aos encarnados com as moedas que estes cunharam. Bem podem os benfiquistas fazer-se, agora, de virgens ofendidas. Têm sido eles os mestres da suspeita. Mas, para ganhar o campeonato, não bastará reclamar. O FC Porto vai ter de ser, como sempre, melhor, muito melhor que o seu adversário.
A lei de 'Spock'
A provocação no túnel da Luz é indiscutível. Aliás, até Rui Costa por lá apareceu para pôr cobro à situação. Nada justifica agressões que, como já disse, são um caso de polícia, mas espanta-me que alguns moralistas não queiram ver onde esteve o rastilho e aplaudam a preguiça do processo. Será que um pontapé num túnel vale uma pena exemplar, quando o pontapé de Luisão a um adversário caído, e que aconteceu em pleno jogo e à vista de todos, só merece um cartão amarelo? Será por certo por este Luisão ser benfiquista e não faltará quem garanta que, ele sim, foi provocado... No fundo, os Spocks têm medo e não confiam na sua equipa. Se assim não fosse, não precisavam deste handicap.
O terrorismo FOI terrível o que sucedeu em Angola com a selecção do Togo. Mesmo assim, a CAN vai ser um sucesso, e os angolanos não são os culpados. Quem se lembra de Munique sabe bem que a cobardia encontra sempre, no desporto, um dos seus alvos favoritos. Acredito que o torneio vai ser exemplar, que tudo vai correr como estava previsto, que a organização vai exceder as expectativas, que o povo vai vibrar. Para todos aqueles que desculpam o terrorismo, e em Portugal há quem defenda a FLEC, a ETA, as FARC e o Hezbollah e tente encontrar razões para o que não tem explicação e para justificar o que não tem desculpa, ficará mais este caso lamentável a sujar-lhes a consciência.
Para recordar «VERIFICA-SE um estado de espírito geral de apoio incondicional ao Benfica», «há uma guerra fria cuidadosamente desenvolvida contra o Porto pelos meios de comunicação social de Lisboa», disse Pedroto. Tudo continua como dantes. O andor, e a aleivosia despudorada. Aplaude-se a actuação do CD da Liga, como se esta fosse um trunfo desportivo. Condenam-se os jogadores do FC Porto por uma acusação que eles não conhecem. Aceita-se que sejam, agora também, alvos de um processo por violação do segredo de justiça, quando já foram julgados pela opinião pública que conhece os factos que lhes são imputados através deste jornal. Vinte e cinco anos depois, o panorama não mudou.
Rui Moreira n' A Bola. _______________________
JORGE MAIA (no JOGO) Arbitragem em contramão
Há quem goste de viver nos limites, correndo riscos desnecessários, só para sentir o prazer da adrenalina. Assim como quem conduz em contramão na auto-estrada de prego a fundo. E, como por vezes a sorte protege os imbecis, se não provocam um acidente e toda a gente consegue sair-lhes da frente a tempo, imaginam-se intocáveis e voltam a repetir o disparate. Até que um dia, Deus está a olhar para outro lado e levam tudo à frente. Vítor Pereira resolveu correr o risco de nomear João Ferreira para o Académica-FC Porto da Taça da Liga. Como os jogadores das duas equipas fizeram os possíveis para lhe saírem da frente, não aconteceu a desgraça que se adivinhava. E como sobreviveu à primeira, Vítor Pereira deve ter-se imaginado imortal e insistiu na insensatez. Agora nomeou João Ferreira para o jogo entre o Benfica e o Marítimo. João Ferreira, que testemunhou os acontecimentos no túnel da Luz no final do clássico entre os encarnados e o FC Porto, vai apitar mais um jogo de uma das equipas envolvidas no processo disciplinar que ainda corre - ou gatinha - na Liga. Esperemos que toda a gente consiga sair-lhe da frente a tempo.
Rui Moreira e Jorge Maia... em grande e verdade seja dita, se do 2º nunca me queixei, do 1º, passei por uma altura de «torcer literalmente o nariz» aos seus conteúdos e intervenções televisivas, onde por várias vezes estivemos em conflito de opiniões, mas hoje, e já de uns tempos (largos, bem largos) para cá, é de elementar justiça dizê-lo que estou em perfeita sintonia com a sua linha orientação opinativa, tanto na escrita, como na verbal, ainda que ache que por vezes, lhe falte aquele toque «taliban» para pôr o seu colega à esquerda no Trio D'Ataque na ordem, mas prontos, um dia, talvez...
RUI MOREIRA (JORNAL ABOLHA)
ResponderEliminarOlho por olho
MUITOS benfiquistas nunca aceitaram o facto de o FC Porto ter melhores equipas, treinadores e organização. Não se conformaram com os novos tempos, em que deixaram de poder contar com o beneplácito político e com o monopólio do poder futebolístico. Para eles, a cada vitória do FC Porto nas competições domésticas, seguia-se a auto-vitimização e a insinuação, em forma de chorrilho fedorento. Nem os feitos europeus e mundiais do clube calaram essa maledicência. Tudo isso levou, aliás, a uma ruptura com a tradição. É que lembro-me da minha infância e da forma como nós, portistas, vibrávamos com as façanhas europeias do Benfica, e as sentíamos não direi como nossas, mas com orgulho por haver um clube português capaz de ombrear com os melhores. Pelo contrário, quando o FC Porto atingiu esse patamar, os seus sucessos foram apoucados e relativizados. O jornal do Benfica sugeria, há dias, que teria havido batota no Manchester United-FC Porto de 2004.
À custa de recordarem a sua história gloriosa, e entretidos a denegrirem os méritos alheios, as sucessivas direcções benfiquistas foram adiando as reformas de que o clube precisava. Para eles, a culpa pelos insucessos próprios e pelos sucessos do FC Porto sempre foi atenuada por fantasiosos factores externos, pelo sistema, pelo túnel das Antas, pelo desinfectante do balneário, pelo guarda Abel. Criou-se, assim, entre os benfiquistas, uma mitologia estranha, em que o passado era branqueado e o presente ia sendo desconstruído. Todos os anos, no Verão, garantiam que «desta vez é que vai ser» mas, chegada a Primavera seguinte, a desilusão era mascarada pelos habituais queixumes, enquanto os plantéis iam sendo dizimados. Ora, em termos meramente desportivos, este negacionismo benfiquista foi útil para perpetuar o domínio do FC Porto.
Este ano, o Benfica reapareceu com um projecto ousado, antecipando receitas vindouras e congregando novos investidores. É uma aposta de risco, mas à custa disso, tem uma equipa muito mais competitiva do que no passado recente e com um treinador apostado, também, em garantir, muito cedo na época, um improvável apuro de forma que mobilizou os seus adeptos. No Dragão, onde nem tudo vai bem depois do realismo das contas ter levado à saída de alguns dos melhores jogadores, a ascensão do adversário é vista com apreensão. E, como o Benfica vai contando, também, com os favores da arbitragem e dos ratos de secretaria, os portistas tem todo o direito, perante a evidência de que as cartas estão marcadas, de não esquecer o passado e de pagar aos encarnados com as moedas que estes cunharam. Bem podem os benfiquistas fazer-se, agora, de virgens ofendidas. Têm sido eles os mestres da suspeita. Mas, para ganhar o campeonato, não bastará reclamar. O FC Porto vai ter de ser, como sempre, melhor, muito melhor que o seu adversário.
A lei de 'Spock'
A provocação no túnel da Luz é indiscutível. Aliás, até Rui Costa por lá apareceu para pôr cobro à situação. Nada justifica agressões que, como já disse, são um caso de polícia, mas espanta-me que alguns moralistas não queiram ver onde esteve o rastilho e aplaudam a preguiça do processo. Será que um pontapé num túnel vale uma pena exemplar, quando o pontapé de Luisão a um adversário caído, e que aconteceu em pleno jogo e à vista de todos, só merece um cartão amarelo? Será por certo por este Luisão ser benfiquista e não faltará quem garanta que, ele sim, foi provocado... No fundo, os Spocks têm medo e não confiam na sua equipa. Se assim não fosse, não precisavam deste handicap.
(...)
(...) RUI MOREIRA
ResponderEliminarO terrorismo
FOI terrível o que sucedeu em Angola com a selecção do Togo. Mesmo assim, a CAN vai ser um sucesso, e os angolanos não são os culpados. Quem se lembra de Munique sabe bem que a cobardia encontra sempre, no desporto, um dos seus alvos favoritos. Acredito que o torneio vai ser exemplar, que tudo vai correr como estava previsto, que a organização vai exceder as expectativas, que o povo vai vibrar. Para todos aqueles que desculpam o terrorismo, e em Portugal há quem defenda a FLEC, a ETA, as FARC e o Hezbollah e tente encontrar razões para o que não tem explicação e para justificar o que não tem desculpa, ficará mais este caso lamentável a sujar-lhes a consciência.
Para recordar
«VERIFICA-SE um estado de espírito geral de apoio incondicional ao Benfica», «há uma guerra fria cuidadosamente desenvolvida contra o Porto pelos meios de comunicação social de Lisboa», disse Pedroto. Tudo continua como dantes. O andor, e a aleivosia despudorada. Aplaude-se a actuação do CD da Liga, como se esta fosse um trunfo desportivo. Condenam-se os jogadores do FC Porto por uma acusação que eles não conhecem. Aceita-se que sejam, agora também, alvos de um processo por violação do segredo de justiça, quando já foram julgados pela opinião pública que conhece os factos que lhes são imputados através deste jornal. Vinte e cinco anos depois, o panorama não mudou.
Rui Moreira n' A Bola.
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JORGE MAIA (no JOGO)
Arbitragem em contramão
Há quem goste de viver nos limites, correndo riscos desnecessários, só para sentir o prazer da adrenalina. Assim como quem conduz em contramão na auto-estrada de prego a fundo. E, como por vezes a sorte protege os imbecis, se não provocam um acidente e toda a gente consegue sair-lhes da frente a tempo, imaginam-se intocáveis e voltam a repetir o disparate. Até que um dia, Deus está a olhar para outro lado e levam tudo à frente. Vítor Pereira resolveu correr o risco de nomear João Ferreira para o Académica-FC Porto da Taça da Liga. Como os jogadores das duas equipas fizeram os possíveis para lhe saírem da frente, não aconteceu a desgraça que se adivinhava. E como sobreviveu à primeira, Vítor Pereira deve ter-se imaginado imortal e insistiu na insensatez. Agora nomeou João Ferreira para o jogo entre o Benfica e o Marítimo. João Ferreira, que testemunhou os acontecimentos no túnel da Luz no final do clássico entre os encarnados e o FC Porto, vai apitar mais um jogo de uma das equipas envolvidas no processo disciplinar que ainda corre - ou gatinha - na Liga. Esperemos que toda a gente consiga sair-lhe da frente a tempo.
Jorge Maia n' O Jogo.
Grande texto do Rui Moreira que exemplifica na perfeição o estado actual de coisas a que o futebol português chegou...
ResponderEliminarGrande JORGE MAIA!
ResponderEliminarP.s- in "O JOGO", "Jesus tem de dar miminhos a Éder Luís".
Agora com o casamento homossexual até pode ser mais do que isso....
Rui Moreira e Jorge Maia... em grande e verdade seja dita, se do 2º nunca me queixei, do 1º, passei por uma altura de «torcer literalmente o nariz» aos seus conteúdos e intervenções televisivas, onde por várias vezes estivemos em conflito de opiniões, mas hoje, e já de uns tempos (largos, bem largos) para cá, é de elementar justiça dizê-lo que estou em perfeita sintonia com a sua linha orientação opinativa, tanto na escrita, como na verbal, ainda que ache que por vezes, lhe falte aquele toque «taliban» para pôr o seu colega à esquerda no Trio D'Ataque na ordem, mas prontos, um dia, talvez...
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