ESCREVI no meu último texto que esta semana que passou iria ser decisiva para o futuro próximo do FC Porto, com os dois jogos contra o Arsenal de Londres e o de Braga e a iminente leitura da sentença que o Justiceiro congeminava para Hulk e Sapunaru. Mas acrescentei que é justamente nestas alturas que o clube e a equipa se agigantam. E assim foi: no que dependia da equipa, os resultados foram os melhores; no que dependia dos seus inimigos, foram maus, claro, bem piores do que a vergonha permitiria supor. Sigamos, então, a ordem destes cinco dias vertiginosos para os portistas. FOI um jogo magnífico na primeira parte e terrível na segunda. O Arsenal, mesmo desfalcado de jogadores como Almunia, Arshavin ou Van Persie, é uma equipa fabulosa — como rapidamente se pôde ver no tapete do Dragão. E só foi pena que o FC Porto, mais uma vez, tenha começado por perder dois golos logo de entrada, porque não aparecem oportunidades assim contra equipas destas em todos os jogos. Mas, no resto, o FC Porto fez um jogo tremendo — de esforço, de bom futebol, de capacidade de resistência e de jogar a um ritmo que diz muito do profissionalismo com que se trabalha naquela casa: nenhuma outra equipa portuguesa, como se tem visto ao longo dos últimos anos, é capaz de sustentar um jogo a este nível e disputá-lo do primeiro ao último minuto.
O FC Porto acabou por ter a sorte do jogo na forma como obteve os seus dois golos (o segundo, digo--o contra nós, não deveria ser permitido — embora o Bayern também já nos tenha eliminado assim uma vez). Mas em campo esteve, pela primeira vez, aquele que considero, jogador por jogador, o melhor onze possível. Todavia, acusando e muito a debilidade física e falta de ritmo de jogo de alguns regressados: Raul Meireles, Fernando, Hulk. Para além disso, repetiu-se essa estranha debilidade no jogo aéreo estático do centro da defesa portista, a permitir o golo do Arsenal (como depois permitiria igualmente o do Braga): é muito estranho como é que Rolando e Bruno, imperiais no jogo aéreo em movimento, se tornam vulneráveis nas bolas paradas pelo ar…
Mas há ali à solta um trio de luxo neste FC Porto, que tem conseguido ultrapassar castigos e lesões, sobrecarga de jogos e ausência de um banco à altura: é o trio Álvaro Pereira, Ruben Micael, Silvestre Varela. Seguramente, que Carlos Queiroz está atento aos dois últimos; seguramente que o CD da Liga está atento a todos eles e mais o Falcao. Vai ser preciso ultrapassar sarrafadas, emboscadas em túneis e árbitros comanditados. Não vai ser fácil, não — assim como não vai ser fácil segurar esta débil vantagem em Londres, dentro de quinze dias. Mas, pelo menos, os outros que têm chegado à Liga dos Campeões quase sempre exclusivamente por mérito nosso, podem-nos agradecer mais dois pontos arrecadados para o ranking da UEFA. Vá lá, agradecem, que só vos fica bem.
APESAR de todo o seu gosto pelas encenações grandiosas, apesar da sua retórica pseudo-jurídica para parolos e ignorantes, o Dr. Ricardo Costa é demasiadamente previsível. O homem tem uma obsessão, que não há como esconder: perseguir o FC Porto, como ninguém mais. Debalde, se tentará embrulhá-la em sinuosas teses jurídicas, que a ignorância jornalística ou a má-fé militante consentem apadrinhar. Facto é que todas as suas teses de direito acabam derrotadas por quem de direito: quis pôr o FC Porto fora da Europa e da primeira Liga e acabou posto no lugar pelo Comité de Disciplina da UEFA; mandou silenciar Pinto da Costa por dois anos e acabou enxovalhado pelos tribunais, que reduziram a nada o suposto crime e os supostos factos pelos quais ele condenou o presidente do FC Porto; e agora, retirou a dois profissionais de futebol o direito ao trabalho por uma larga temporada, e mais tarde será, obviamente, desautorizado. O problema é que, enquanto pode e o deixam, enquanto inventa teses jurídicas e não é posto na ordem por quem o pode fazer, ele causa danos — e esse é o resultado prático da sua «justiça».
As teses jurídicas do Dr. Ricardo Costa fazem-me lembrar o que se contava na minha Faculdade de Direito de Lisboa, a propósito da tese de doutoramento do professor Soares Martinez. Contava-se (não sei se como lenda ou verdade) que, depois de o ouvir dissertar, o Professor Marcelo Caetano, arguente da tese, lhe disse: «A sua tese tem partes boas e partes originais. Infelizmente, as partes boas não são originais e as originais não são boas».
O mais original (e previsível) da última tese jurídica do Dr. Ricardo Costa é a doutrina que ele acaba de criar de que os seguranças contratados por um clube — sem acreditação da Liga nem sujeitos à sua alçada disciplinar — são «agentes desportivos». Porque, repito-o mais uma vez: A LEI NÃO DIZ QUEM SÃO OS AGENTES DESPORTIVOS. E, de forma alguma sugere ou permite concluir que os seguranças o sejam: quem o diz é o Dr. Ricardo Costa. E di-lo, porque essa sua original interpretação da lei é a única que permite retirar dos relvados por uma temporada absurda dois jogadores do FC Porto. Por isso, quando ele se escuda na «dura lex, sed lex» para justificar o injustificável, estamos perante um vulgar exercício de malabarismo: a lei não diz nem permite inferir aquilo que o Dr. Ricardo Costa afirma que ela diz. A lei não é ele e isto não é o Texas.
Se, como ele sustenta, os seguranças (cuja única missão é vigiar o público, e não vigiar jogadores, fazer-lhes uma espera em atitude de desafio dentro do túnel e provocá-los quando eles vão para a cabina) são «intervenientes no jogo», então toda a gente que está no estádio é interveniente no jogo. Desde logo, os próprios espectadores — que, ao contrário dos seguranças (que passam o tempo todo de costas viradas ao jogo), puxam pela equipa da casa, vaiam os adversários, pressionam o árbitro, etc. E os apanha-bolas, que muitas vezes demoram ou apressam a reposição das bolas em jogo, conforme o interesse da equipa da casa. E os polícias, os arrumadores, os vendedores dos bares, os tratadores da relva, os que cuidam da iluminação, os jornalistas, os fotógrafos de campo.
Toda esta gente, segundo a brilhante tese do Dr. Ricardo Costa, são «intervenientes no jogo» e «agentes desportivos». Têm direito a um tratamento VIP, que até contempla um estatuto excepcional de direitos sem deveres: eles são intocáveis, para efeitos disciplinares de quem se atreva a tocar-lhes; mas são, simultâneamente, impunes e irresponsáveis, se forem para o túnel provocar desacatos ou até agredir jogadores e dirigentes. É isso que justifica que o Javi García, à vista de 50.000 pessoas no estádio e um milhão em casa, possa enfiar dois pontapés num adversário e continuar a jogar, enquanto espera pela decisão de um «sumaríssimo» que, na pior hipótese, o vai suspender por dois ou três jogos; mas o Hulk e o Sapunaru, que responderam a uma provocação num túnel e, no meio da confusão geral, terão dado respectivamente, um e dois murros num segurança, à vista de meia-dúzia de pessoas (e muito gostaria eu de saber como foi feita a prova…), esses, ficam preventivamente suspensos durante dois meses e depois levam 25 e 35 jogos de suspensão. Repito: quem permite isto não é a lei: é a interpretação que dela quis fazer o Justiçeiro. E que já se adivinhava desde o primeiro dia — bastando para tal ler o tom eufórico da imprensa desportiva lisboeta.
Porque isto é tão escandaloso, tão chocantemente evidente, julguei que, mesmo com as rivalidades e ódios exacerbados, quem quer que goste de futebol se indignaria. Mas, não: um tal Dr. Pragal Colaço, jurista, e um tal Araújo Pereira, humorista, ainda estranharam a benevolência e as «atenuantes» que o Dr. Ricardo Costa, compungidamente, enunciou. É assim, sem disfarce, que aspiram a ser campeões.
ELES jogam nos túneis, nós jogamos no campo. E, por isso, senhoras e cavalheiros, servimo-vos esta noite o melhor jogo de futebol a que este campeonato já assistiu. Porque, por mais que eles inventem apitos e carolinas e paixões e ricardos, nós respondemos sempre no campo, à vista de quem quer ver, à vista de quem gosta mesmo de futebol. Nestas ocasiões, é hábito deles sugerirem que vamos facilitar, só para dificultar a vida aos rivais. Assim foi há dois anos, quando o Guimarães era «amigo» e disputava uma vaga na Liga dos Campeões com o Sporting: fomos lá e demos-lhes cinco. Agora, também as Virgens da Verdade Desportiva insinuavam que iríamos facilitar contra o «amigo» Sporting de Braga: demos-lhes cinco e podiam ter sido sete ou oito.
Tenho tanto orgulho em ser portista!
Miguel Sousa Tavares n' A Bola (retirado de portistaforever)
Anjo ou Diabo? É verdade que só se conseguia ver em alta-definição, num daqueles "elecêdês" gigantescos que custam tanto como uma casa, mas houve alguns privilegiados que conseguiram testemunhar a aparição: por cima da cabeça de Ricardo Costa, presidente da Comissão Disciplinar da Liga, a poucos centímetros do cabelo impecavelmente penteado, pairava uma auréola luminosa durante a conferência de Imprensa em que anunciou os castigos aplicados a Hulk e Sapunaru. Menos perceptíveis eram as asas, mas há quem garanta que estavam lá, esmagadas pelo fato e os mais atentos asseguram que até estremeceram quando, pio, disse que a moldura penal não era razoável, por ser muito pesada e excessiva. Coitadinho: ele não queria suspender os jogadores por tanto tempo, mas teve de ser. Claro que teve de ser porque ele quis considerar os "stewards" intervenientes no jogo, apesar de inúmeros especialistas considerarem o contrário. Ora, sendo a lei ambígua, bastava que tivesse optado por um enquadramento diferente para não ter de ficar tão contrariado por aplicar penas tão claramente injustas, excessivas e desproporcionais. Claro que depois não podia fazer beicinho em directo. E não sei se era capaz de passar sem isso...
Comecemos por aquele momento de Paixão em Matosinhos, no Leixões-F.C. Porto da última jornada. Como foi possível não ver um pénalti tão óbvio, erguido mesmo debaixo do nariz?"Estava demasiado próximo", explicou Jorge Coroado, e descontada a ironia, é verdade. Por vezes, temos de nos afastar das coisas para as podermos ver. Também o auxiliar do jogo do Braga com o Marítimo não viu uma bola passar a linha por estar demasiado próximo. Estamos a falar, é claro, de gente que vê mal ao perto.Não sei porque correm atrás da bola e dos jogadores se vêem melhor ao longe. Quem também não anda bem da vista são os presidentes da liga e da Comissão de Arbitragem. Disse o primeiro que "voltamos a ter credibilidade na arbitragem" e o segundo que "a suspeição desapareceu do sector". Vêem? Estão demasiado perto daquela realidade: não conseguem ver. Isto de uns verem uma coisa e outros verem outra é natural, já que depende do que sente o observador.Há os que olham para uma nuvem e vêem um dragão, outros uma águia e outros ainda um leão.Vêem-nos porque os querem ver. O presidente da CD da Liga não olha para um steward e vê um interveniente no jogo, equiparável a jogadores, árbitros, dirigentes, e, claro, também vendedores de castanhas? Lá está: o coração deseja , os olhos vêem. E também há o caso do Sr Wenger, que disse nunca ter visto nada igual ao segundo golo do Porto ao Arsenal. Também estava demasiado perto? Eu, que olho para o futebol de longe, e do sofá, estou farto de ver golos daqueles, até do Arsenal. A questão, aqui, também não tem dioptrias: quando estes golos nos favorecem, vemos isso com bons olhos. Aliás, dá gosto vê-los. No caso contrário, nem os podemos ver. Eu, por exemplo, já vi um tal Cuningham marcar um assim a Fonseca, num F.C.Porto-Real Madrid (2-1) e que custou a eliminatória. Na quarta-feira no Dragão, senti-me, finalmente ressarcido dessa dor. Obrigado, Sr Hanson. E obrigado também ao professor Jesualdo por ter lido a minha crónica da semana passada, em que pedia exactamente aquela equipa contra o Arsenal (quando voltar a precisar já sabe, estou ao dispor). Graças a isso, também, o jogo foi vivo, intenso, e cada lance suscitava uma reação, pois todos os momentos eram para se viver. É isso que nós queremos: sentir avibração da "Champions", hora e meia da mais intensa vida anímica, sensorial (para morrer de tédio e indignação já nos chega a infame vida caseira).Na quarta-feira, ennhum portista saiu maldisposto do Dragão (isso eu vi, e ao perto), embora o resultado não vele pela nossa salvação. É que, vende bem, morrer, nesta fase, também é natural. Sem verdadeira luta é que não.
ALGUÉM descobriu que Shakespeare é o que é porque era capaz de atirar a alma para um corpo qualquer e de imediato possuir-lhe sentimentos, apanhar-lhe paixões, escrevê-los. Também acho. Talvez por isso tenham andado pela minha cabeça personagens suas, a cruzarem-se umas nas outras — enquanto o dr. Ricardo Costa falava, pomposo, na TV. Quando ele, altivo, desdramatizou os «35 dias úteis» da suspensão preventiva de Hulk e Sapunaru — e reafirmou que o processo até fora «célere e sem tempos mortos», lembrei-me da Violeta da Noite de Reis murmurar: — Quem sabe brincar com as palavras, depressa as torna atrevidas...
Quando ele, enleante, embrulhou os stewarts no papel (esfíngico) de agentes desportivos, para moldar as penas que moldou, lembrei-me do Holofernes de Canseiras de Amor em Vão traçar Adriano em cínico trejeito: — Ele puxa pelo fio da verborreia até o pôr mais fino do que a fibra do seu argumento...
Quando ele, em caramunha, admitiu que quatro e seis meses até poderiam ser penas desproporcionadas e injustas, mas que não fizera a lei, simplesmente a aplicara, lembrei-me do fragor da Constança de Rei João: — Quando não pode a lei fazer justiça é legal impedir que seja injusta...
Quando parei a matutar: se a lei é desproporcionada e injusta e a responsabilidade dela é dos clubes, porque é que o dr. Ricardo Costa não se demitiu para não a aplicar — desproporpor- cionada e injusta? – ao fundo do pensamento, pareceu-me ver Bassânio de O Mercador de Veneza, a desenvencilhar-se numa nuvem de fumo: — Em questões da justiça qual é a causa ruim e impura que uma voz persuasiva não possa salvar?
Dois dias depois – percebi que continuava a haver futebol para lá de túneis e sofismas. Foi quando o FC Porto fez o que fez ao Braga, num jogo em que não jogou só no campo, jogou sobretudo na alma – começando logo a ganhá-lo nas palavras de Nuno Espírito Santo e nas lágrimas de Hulk...
Futebol é isto, o resto são Calabotes
ResponderEliminarESCREVI no meu último texto que esta semana que passou iria ser decisiva para o futuro próximo do FC Porto, com os dois jogos contra o Arsenal de Londres e o de Braga e a iminente leitura da sentença que o Justiceiro congeminava para Hulk e Sapunaru. Mas acrescentei que é justamente nestas alturas que o clube e a equipa se agigantam. E assim foi: no que dependia da equipa, os resultados foram os melhores; no que dependia dos seus inimigos, foram maus, claro, bem piores do que a vergonha permitiria supor. Sigamos, então, a ordem destes cinco dias vertiginosos para os portistas.
FOI um jogo magnífico na primeira parte e terrível na segunda. O Arsenal, mesmo desfalcado de jogadores como Almunia, Arshavin ou Van Persie, é uma equipa fabulosa — como rapidamente se pôde ver no tapete do Dragão. E só foi pena que o FC Porto, mais uma vez, tenha começado por perder dois golos logo de entrada, porque não aparecem oportunidades assim contra equipas destas em todos os jogos. Mas, no resto, o FC Porto fez um jogo tremendo — de esforço, de bom futebol, de capacidade de resistência e de jogar a um ritmo que diz muito do profissionalismo com que se trabalha naquela casa: nenhuma outra equipa portuguesa, como se tem visto ao longo dos últimos anos, é capaz de sustentar um jogo a este nível e disputá-lo do primeiro ao último minuto.
O FC Porto acabou por ter a sorte do jogo na forma como obteve os seus dois golos (o segundo, digo--o contra nós, não deveria ser permitido — embora o Bayern também já nos tenha eliminado assim uma vez). Mas em campo esteve, pela primeira vez, aquele que considero, jogador por jogador, o melhor onze possível. Todavia, acusando e muito a debilidade física e falta de ritmo de jogo de alguns regressados: Raul Meireles, Fernando, Hulk. Para além disso, repetiu-se essa estranha debilidade no jogo aéreo estático do centro da defesa portista, a permitir o golo do Arsenal (como depois permitiria igualmente o do Braga): é muito estranho como é que Rolando e Bruno, imperiais no jogo aéreo em movimento, se tornam vulneráveis nas bolas paradas pelo ar…
(cont.)
Mas há ali à solta um trio de luxo neste FC Porto, que tem conseguido ultrapassar castigos e lesões, sobrecarga de jogos e ausência de um banco à altura: é o trio Álvaro Pereira, Ruben Micael, Silvestre Varela. Seguramente, que Carlos Queiroz está atento aos dois últimos; seguramente que o CD da Liga está atento a todos eles e mais o Falcao. Vai ser preciso ultrapassar sarrafadas, emboscadas em túneis e árbitros comanditados. Não vai ser fácil, não — assim como não vai ser fácil segurar esta débil vantagem em Londres, dentro de quinze dias. Mas, pelo menos, os outros que têm chegado à Liga dos Campeões quase sempre exclusivamente por mérito nosso, podem-nos agradecer mais dois pontos arrecadados para o ranking da UEFA. Vá lá, agradecem, que só vos fica bem.
ResponderEliminarAPESAR de todo o seu gosto pelas encenações grandiosas, apesar da sua retórica pseudo-jurídica para parolos e ignorantes, o Dr. Ricardo Costa é demasiadamente previsível. O homem tem uma obsessão, que não há como esconder: perseguir o FC Porto, como ninguém mais. Debalde, se tentará embrulhá-la em sinuosas teses jurídicas, que a ignorância jornalística ou a má-fé militante consentem apadrinhar. Facto é que todas as suas teses de direito acabam derrotadas por quem de direito: quis pôr o FC Porto fora da Europa e da primeira Liga e acabou posto no lugar pelo Comité de Disciplina da UEFA; mandou silenciar Pinto da Costa por dois anos e acabou enxovalhado pelos tribunais, que reduziram a nada o suposto crime e os supostos factos pelos quais ele condenou o presidente do FC Porto; e agora, retirou a dois profissionais de futebol o direito ao trabalho por uma larga temporada, e mais tarde será, obviamente, desautorizado. O problema é que, enquanto pode e o deixam, enquanto inventa teses jurídicas e não é posto na ordem por quem o pode fazer, ele causa danos — e esse é o resultado prático da sua «justiça».
As teses jurídicas do Dr. Ricardo Costa fazem-me lembrar o que se contava na minha Faculdade de Direito de Lisboa, a propósito da tese de doutoramento do professor Soares Martinez. Contava-se (não sei se como lenda ou verdade) que, depois de o ouvir dissertar, o Professor Marcelo Caetano, arguente da tese, lhe disse: «A sua tese tem partes boas e partes originais. Infelizmente, as partes boas não são originais e as originais não são boas».
O mais original (e previsível) da última tese jurídica do Dr. Ricardo Costa é a doutrina que ele acaba de criar de que os seguranças contratados por um clube — sem acreditação da Liga nem sujeitos à sua alçada disciplinar — são «agentes desportivos». Porque, repito-o mais uma vez: A LEI NÃO DIZ QUEM SÃO OS AGENTES DESPORTIVOS. E, de forma alguma sugere ou permite concluir que os seguranças o sejam: quem o diz é o Dr. Ricardo Costa. E di-lo, porque essa sua original interpretação da lei é a única que permite retirar dos relvados por uma temporada absurda dois jogadores do FC Porto. Por isso, quando ele se escuda na «dura lex, sed lex» para justificar o injustificável, estamos perante um vulgar exercício de malabarismo: a lei não diz nem permite inferir aquilo que o Dr. Ricardo Costa afirma que ela diz. A lei não é ele e isto não é o Texas.
(cont.)
Se, como ele sustenta, os seguranças (cuja única missão é vigiar o público, e não vigiar jogadores, fazer-lhes uma espera em atitude de desafio dentro do túnel e provocá-los quando eles vão para a cabina) são «intervenientes no jogo», então toda a gente que está no estádio é interveniente no jogo. Desde logo, os próprios espectadores — que, ao contrário dos seguranças (que passam o tempo todo de costas viradas ao jogo), puxam pela equipa da casa, vaiam os adversários, pressionam o árbitro, etc. E os apanha-bolas, que muitas vezes demoram ou apressam a reposição das bolas em jogo, conforme o interesse da equipa da casa. E os polícias, os arrumadores, os vendedores dos bares, os tratadores da relva, os que cuidam da iluminação, os jornalistas, os fotógrafos de campo.
ResponderEliminarToda esta gente, segundo a brilhante tese do Dr. Ricardo Costa, são «intervenientes no jogo» e «agentes desportivos». Têm direito a um tratamento VIP, que até contempla um estatuto excepcional de direitos sem deveres: eles são intocáveis, para efeitos disciplinares de quem se atreva a tocar-lhes; mas são, simultâneamente, impunes e irresponsáveis, se forem para o túnel provocar desacatos ou até agredir jogadores e dirigentes. É isso que justifica que o Javi García, à vista de 50.000 pessoas no estádio e um milhão em casa, possa enfiar dois pontapés num adversário e continuar a jogar, enquanto espera pela decisão de um «sumaríssimo» que, na pior hipótese, o vai suspender por dois ou três jogos; mas o Hulk e o Sapunaru, que responderam a uma provocação num túnel e, no meio da confusão geral, terão dado respectivamente, um e dois murros num segurança, à vista de meia-dúzia de pessoas (e muito gostaria eu de saber como foi feita a prova…), esses, ficam preventivamente suspensos durante dois meses e depois levam 25 e 35 jogos de suspensão. Repito: quem permite isto não é a lei: é a interpretação que dela quis fazer o Justiçeiro. E que já se adivinhava desde o primeiro dia — bastando para tal ler o tom eufórico da imprensa desportiva lisboeta.
Porque isto é tão escandaloso, tão chocantemente evidente, julguei que, mesmo com as rivalidades e ódios exacerbados, quem quer que goste de futebol se indignaria. Mas, não: um tal Dr. Pragal Colaço, jurista, e um tal Araújo Pereira, humorista, ainda estranharam a benevolência e as «atenuantes» que o Dr. Ricardo Costa, compungidamente, enunciou. É assim, sem disfarce, que aspiram a ser campeões.
ELES jogam nos túneis, nós jogamos no campo. E, por isso, senhoras e cavalheiros, servimo-vos esta noite o melhor jogo de futebol a que este campeonato já assistiu. Porque, por mais que eles inventem apitos e carolinas e paixões e ricardos, nós respondemos sempre no campo, à vista de quem quer ver, à vista de quem gosta mesmo de futebol. Nestas ocasiões, é hábito deles sugerirem que vamos facilitar, só para dificultar a vida aos rivais. Assim foi há dois anos, quando o Guimarães era «amigo» e disputava uma vaga na Liga dos Campeões com o Sporting: fomos lá e demos-lhes cinco. Agora, também as Virgens da Verdade Desportiva insinuavam que iríamos facilitar contra o «amigo» Sporting de Braga: demos-lhes cinco e podiam ter sido sete ou oito.
Tenho tanto orgulho em ser portista!
Miguel Sousa Tavares n' A Bola (retirado de portistaforever)
Anjo ou Diabo?
ResponderEliminarÉ verdade que só se conseguia ver em alta-definição, num daqueles "elecêdês" gigantescos que custam tanto como uma casa, mas houve alguns privilegiados que conseguiram testemunhar a aparição: por cima da cabeça de Ricardo Costa, presidente da Comissão Disciplinar da Liga, a poucos centímetros do cabelo impecavelmente penteado, pairava uma auréola luminosa durante a conferência de Imprensa em que anunciou os castigos aplicados a Hulk e Sapunaru. Menos perceptíveis eram as asas, mas há quem garanta que estavam lá, esmagadas pelo fato e os mais atentos asseguram que até estremeceram quando, pio, disse que a moldura penal não era razoável, por ser muito pesada e excessiva. Coitadinho: ele não queria suspender os jogadores por tanto tempo, mas teve de ser. Claro que teve de ser porque ele quis considerar os "stewards" intervenientes no jogo, apesar de inúmeros especialistas considerarem o contrário. Ora, sendo a lei ambígua, bastava que tivesse optado por um enquadramento diferente para não ter de ficar tão contrariado por aplicar penas tão claramente injustas, excessivas e desproporcionais. Claro que depois não podia fazer beicinho em directo. E não sei se era capaz de passar sem isso...
Jorge Maia n' O Jogo.
(fonte: portistaforever)
Brilhantes... tanto JORGE MAIA como MST!!!
ResponderEliminarGente que vê mal ao perto - Álvaro Magalhães JN
ResponderEliminarComecemos por aquele momento de Paixão em Matosinhos, no Leixões-F.C. Porto da última jornada. Como foi possível não ver um pénalti tão óbvio, erguido mesmo debaixo do nariz?"Estava demasiado próximo", explicou Jorge Coroado, e descontada a ironia, é verdade. Por vezes, temos de nos afastar das coisas para as podermos ver. Também o auxiliar do jogo do Braga com o Marítimo não viu uma bola passar a linha por estar demasiado próximo. Estamos a falar, é claro, de gente que vê mal ao perto.Não sei porque correm atrás da bola e dos jogadores se vêem melhor ao longe.
Quem também não anda bem da vista são os presidentes da liga e da Comissão de Arbitragem. Disse o primeiro que "voltamos a ter credibilidade na arbitragem" e o segundo que "a suspeição desapareceu do sector". Vêem? Estão demasiado perto daquela realidade: não conseguem ver.
Isto de uns verem uma coisa e outros verem outra é natural, já que depende do que sente o observador.Há os que olham para uma nuvem e vêem um dragão, outros uma águia e outros ainda um leão.Vêem-nos porque os querem ver. O presidente da CD da Liga não olha para um steward e vê um interveniente no jogo, equiparável a jogadores, árbitros, dirigentes, e, claro, também vendedores de castanhas? Lá está: o coração deseja , os olhos vêem.
E também há o caso do Sr Wenger, que disse nunca ter visto nada igual ao segundo golo do Porto ao Arsenal. Também estava demasiado perto? Eu, que olho para o futebol de longe, e do sofá, estou farto de ver golos daqueles, até do Arsenal. A questão, aqui, também não tem dioptrias: quando estes golos nos favorecem, vemos isso com bons olhos. Aliás, dá gosto vê-los. No caso contrário, nem os podemos ver. Eu, por exemplo, já vi um tal Cuningham marcar um assim a Fonseca, num F.C.Porto-Real Madrid (2-1) e que custou a eliminatória. Na quarta-feira no Dragão, senti-me, finalmente ressarcido dessa dor. Obrigado, Sr Hanson.
E obrigado também ao professor Jesualdo por ter lido a minha crónica da semana passada, em que pedia exactamente aquela equipa contra o Arsenal (quando voltar a precisar já sabe, estou ao dispor). Graças a isso, também, o jogo foi vivo, intenso, e cada lance suscitava uma reação, pois todos os momentos eram para se viver. É isso que nós queremos: sentir avibração da "Champions", hora e meia da mais intensa vida anímica, sensorial (para morrer de tédio e indignação já nos chega a infame vida caseira).Na quarta-feira, ennhum portista saiu maldisposto do Dragão (isso eu vi, e ao perto), embora o resultado não vele pela nossa salvação. É que, vende bem, morrer, nesta fase, também é natural. Sem verdadeira luta é que não.
Brilhantes mesmo, conseguem escrever o que nos vai na alma.
ResponderEliminarTenho mesmo orgulho de ser Portista.
Só porque este texto também esta muito bom!... Temos gente muito boa a escrever por nós! Dá mesmo muito orgulho ser do Porto!
ResponderEliminarGrande MST, Grande Portista, Grande crónica!:)
ResponderEliminarBIBÓ PORTO
23 Fevereiro, 2010
"Com a bola ou talvez não"
ResponderEliminarDa (in)justiça
ALGUÉM descobriu que Shakespeare é o que é porque era capaz de atirar a alma para um corpo qualquer e de imediato possuir-lhe sentimentos, apanhar-lhe paixões, escrevê-los. Também acho. Talvez por isso tenham andado pela minha cabeça personagens suas, a cruzarem-se umas nas outras — enquanto o dr. Ricardo Costa falava, pomposo, na TV. Quando ele, altivo, desdramatizou os «35 dias úteis» da suspensão preventiva de Hulk e Sapunaru — e reafirmou que o processo até fora «célere e sem tempos mortos», lembrei-me da Violeta da Noite de Reis murmurar:
— Quem sabe brincar com as palavras, depressa as torna atrevidas...
Quando ele, enleante, embrulhou os stewarts no papel (esfíngico) de agentes desportivos, para moldar as penas que moldou, lembrei-me do Holofernes de Canseiras de Amor em Vão traçar Adriano em cínico trejeito:
— Ele puxa pelo fio da verborreia até o pôr mais fino do que a fibra do seu argumento...
Quando ele, em caramunha, admitiu que quatro e seis meses até poderiam ser penas desproporcionadas e injustas, mas que não fizera a lei, simplesmente a aplicara, lembrei-me do fragor da Constança de Rei João:
— Quando não pode a lei fazer justiça é legal impedir que seja injusta...
Quando parei a matutar: se a lei é desproporcionada e injusta e a responsabilidade dela é dos clubes, porque é que o dr. Ricardo Costa não se demitiu para não a aplicar — desproporpor- cionada e injusta? – ao fundo do pensamento, pareceu-me ver Bassânio de O Mercador de Veneza, a desenvencilhar-se numa nuvem de fumo:
— Em questões da justiça qual é a causa ruim e impura que uma voz persuasiva não possa salvar?
Dois dias depois – percebi que continuava a haver futebol para lá de túneis e sofismas. Foi quando o FC Porto fez o que fez ao Braga, num jogo em que não jogou só no campo, jogou sobretudo na alma – começando logo a ganhá-lo nas palavras de Nuno Espírito Santo e nas lágrimas de Hulk...
António Simões, n'A BOLA
fonte: portistaforever
4 crónicas... brilhantes!!!
ResponderEliminarParabéns a todos esses 'defensores' da imprensa, do nosso FC Porto!!!