Envergonhado, mas de cabeça bem erguida

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A memória não é propriamente o maior atributo do adepto de futebol. Não há jogo ou título ganho no passado que apague a tristeza duma derrota no presente. A dor duma derrota é demasiado intensa. Não há cachecol pendurado na parede da nossa casa, lembrando uma gloriosa vitória, que acalme a mágoa de vermos ao vivo e a cores os nossos rapazes a sofrer uma derrota humilhante.

É por essas e por outras que não vale a pena lembrar a ninguém que não se pode ganhar sempre – isso, a bem dizer, tiraria toda a nossa paixão pelo mais belo jogo.

Tivéssemos nós ganho os dez anteriores campeonatos e as últimas dez edições da liga dos campeões e isso não tiraria nem um milésimo da tristeza que todos estamos a sentir. Ainda bem, digo eu. Quer dizer que somos um grande clube, um clube vencedor, um clube que nunca está satisfeito com o que já ganhou.

Podia vir aqui lembrar tudo o que temos ganho nos últimos anos, os feitos heróicos das nossas cores, os tetras, o penta, as ligas dos campeões. Podia vir aqui recordar como é que um clube duma cidade pequena da Europa se tornou num dos colossos futebolísticos mundiais. Se o fizesse não seria um verdadeiro portista. Trairia o nosso panteão de heróis e todos aqueles que derramaram sangue, suor e lágrimas para que o nosso amado clube fosse o que é hoje.

A grande alegria que tive nestas últimas horríveis semanas foi a de falar com os meus amigos dragões e nenhum, mesmo nenhum, ter vindo com a conversa de que “isto é só um mau momento e já andamos a ganhar há muito tempo”. Não senhor, nem um. Andamos todos como devemos andar: tristes, envergonhados e zangados. E é bom que quem comanda a nossa bela nau saiba que não será de nós que ouvirá palavras contemporizadoras, que não será de nós que ouvirá desculpas, que não será de nós que terá palmadinhas nas costas.

Andamos, como já disse, envergonhados. Todos. Não há dirigentes, nem sócios, nem adeptos com diferentes níveis de vergonha. Temos que estar, mais que nunca, no mesmo barco. A responsabilidade é nossa. Somos nós que jogamos, não é o Guarin, não é o Valeri, não é o Bruno Alves.

Não vai ser com gestos, dizendo que somos tetra campeões, para a claque adversária que vamos conseguir ganhar. Vai ser da nossa garra, da nossa vontade de sermos os melhores, da nossa capacidade de transformar fraquezas em forças que voltaremos a ganhar. Não podemos esquecer as humilhações das últimas semanas porque vão ser elas que nos vão dar a força para ganharmos já amanhã, contra tudo e contra todos como sempre foi.

Pronto, vou voltar a chorar mais um bocado. Mas choro de cabeça bem erguida, com a certeza que, não tarda, vou voltar a celebrar vitórias.