06 agosto, 2010

Capítulo 1: 1893 a 1910 - Raízes nos socalcos do Douro (Continuação – Parte V)

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FC Porto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do F. C. do Porto


Capítulo 1: 1893 a 1910 - Raízes nos socalcos do Douro (Continuação – Parte V)

9 Out.1909 – Aprovação dos estatutos e do regulamento interno do FC Porto
Na Assembleia Geral de 9-10-1909, a que corresponde a Acta nº 3, foram aprovados os primeiros Estatutos e o Regulamento Interno do Football Club do Porto.
• Logo a encimar as regras, se obrigava o jogador a “usar o uniforme do Clube, que consta de camisa de malha azul e branca às faixas verticais, calção preto e calçado próprio”.
• Missão a cumprir: “propaganda da modalidade por vilas e cidades do Norte, sensibilização das populações para a leitura, higiene e exercício físico”.

Primeiro Relatório e Contas
O primeiro Relatório e Contas do FC Porto, aprovado por unanimidade em Assembleia Geral, em 1909, reflecte a ambição de projectar o Clube para grandes cometimentos, dotando-o de estruturas prestáveis e propagandeando o desporto, nem que para tanto houvesse que remover escolhos que minavam o ânimo mas que acicatavam o espírito de conquista. Eis trechos do documento:
Instalou-se o Clube tão modestamente quanto lho permitiam os seus minguados recursos, na Rua da Rainha n.º 371, ocupando a casa onde actualmente está o vestiário, banheiro, etc., e o campo de jogos anexo. Ali foi frutificando e espalhando os benefícios de uma forma animadora e lisonjeira para os seus fundadores. Em 20 de Fevereiro de 1907 foi eleita a primeira Direcção… (…) Apesar de lutar com falta de recursos, esta Direcção conseguiu com um trabalho insano e digno do maior elogio conquistar para o Clube uma animadora e franca simpatia por parte dos amadores de sports, entregando-nos em 10 de Fevereiro de 1908 a gerência com um número de sócios já elevado, 180, e as melhores esperanças de um futuro próspero. (…) E foi animada por os mais ardentes desejos de reformar tanto quanto possível o que mais urgente se tornava, que a gerência de 1908 a 1909 tomou posse do seu cargo. (…) O excelente efeito que produziram as obras no campo e na casa de vestiário era já esperado e, com prazer, registamos aqui o facto de bastantes dos actuais sócios se terem inscrito após a primeira visita às dependências renovadas do Clube. Para coroar a nossa expectativa (…) o aumento de número de sócios, que sendo de 180 ao tomarmos posse da gerência, era de 237 ao terminar da primeira época de 1908 (antigas instalações) e de 285 ao terminar da época de 1909 (novas instalações). Não queremos dizer que sejam excelentes as condições… (…) Muito falta ainda fazer. (…) Mais não fizemos para não onerarmos o cofre do Clube… (…) Esta agremiação pode descansar algum tempo sem temer que, enquanto os seus recursos se reforçam, os sócios lhe fujam por falta de comodidades. (…)



Equipa de 1909 – De pé, Elísio Bessa, Manuel Valença e Vitorino Pinto; no meio, Mário Maçãs, Camilo Figueiredo e Magalhães Bastos; em baixo, José Bacelar, Camilo Moniz, Henrique Yerro, António Portal e Ivo Lemos.


1910 – O primeiro emblema do FC Porto
Criado o primeiro emblema do clube, uma bola de futebol (em azul e raiada de branco) com as iniciais FCP.

3 Abr.1910 – A primeira vitória internacional registada
No Campo da Rainha, em 3-4-1910, a equipa do FC Porto recebeu o Real Fortuna de Vigo e venceu o jogo por 2-1. Foi a primeira vitória internacional registada e contra um adversário muito forte.
• Notas: É controversa a data e o resultado do jogo em que o FC Porto conquistou a sua primeira e registada vitória de âmbito internacional. Várias publicações aludem a uns 4-1 sobre o Real Vigo mas, quanto à data, acham-se hipóteses em profusão desmedida. Sopesando as conjecturas, dei como certo o dia 17 de Março de 1912 como aquele em que o FC Porto venceu os galegos por 4-1. Estaria, assim, resolvido o imbróglio… Contudo vim a descobrir informações de uma outra vitória do FC Porto, com o mesmo adversário, ocorrida quase 2 anos antes. As fontes, um opúsculo e dois sítios na internet, que listam os resultados de equipas portuguesas com congéneres estrangeiras, referem o dia 3 de Abril de 1910 e o triunfo por 2-1 em jogo realizado no Porto. As fontes são insuspeitas, como tal considerei o informe verídico.

29 Mai.1910 – O arranque do atletismo
O atletismo, com carácter oficial e competitivo, nasceu no FC Porto. O primeiro grande concurso atlético foi disputado no Campo da Rua da Rainha.





5 Out.1910Viva a República, Porto (Clube e Cidade) imbuído de alento, José Monteiro da Costa, republicano convicto, exultante.

A relva do campo da Rainha, o estrume e a noiva…
O campo da Rua da Rainha fervilhava. Nas múltiplas manifestações desportivas havia público a rodos. Os jogos de futebol estavam enquadrados por espectadores entusiásticos onde não faltava o elemento feminino.
Após um duelo mais impetuoso entre atletas, uma massa de gente invadiu o campo e, com o olhar investigador, procurou nas canelas dos futebolistas as... negras deixadas pela luta renhida. Entre os "invasores" algumas senhoras que para ali foram na intenção de mostrar as suas faustosas "toilettes".
Uma delas, elegante como uma "miss", noiva dum jogador que caíra, acercou-se e, ao ver-lhe o joelho, gritou: "Ah! Alfredo! Podes ficar sem uma perna!" Carinhosamente, com aquela candura das noivas, preparava-se para cuidar o ferimento, quando o Alfredo exclamou, esquivando o joelho:
"Oh! Não, meu anjo, não ponhas a mão que cheira mal..."
A relva do campo fora estrumada dias antes! [In "Glória e Vida de Três Gigantes", 1995 – Adaptação].



-- Clicar nas fotos para ampliar --


Desenho assinado por um desconhecido de seu nome R. Machado, que revela o que eram as instalações desportivas do FC Porto na Rua da Rainha. As zonas delimitadas do campo para a prática de várias modalidades ilustram o ecletismo do clube logo nos primórdios da sua existência.

Equipamentos da década








Como já vimos, as camisolas do FC Porto não se mostraram logo listadas de azul e branco. As ilustrações (em cima) relembram-nos o equipamento da primeira equipa oficial do Clube, em 1906, e o uniforme “à Arsenal de Londres”, com calções e meias azuis, de 1907. Neste mesmo ano surgiu a sagrada camisola às riscas verticais azuis e brancas. Em 1909, dando cumprimento aos primeiros estatutos, os calções eram de cor preta.

Nota: os uniformes do Clube, os equipamentos dos jogadores são uma parte riquíssima da história do FC Porto. A exposição não ficaria acabada se não se fizesse uma abordagem, tão completa quanto possível, a essa componente do património histórico do nosso Clube. Em cada capítulo serão revelados, em ilustrações que se anseia sejam fidedignas, os equipamentos do período concernente. Está em conclusão um trabalho que abrange todos os equipamentos usados ao longo da existência do FC Porto. Em breve, à margem da publicação da história, será apresentado esse estudo que espero seja do agrado dos nossos leitores. Que constitua uma boa surpresa…

Efeméride da década 1901-1910 – Inauguração da Livraria Lello


Em 1906, José Monteiro da Costa empreendeu o relançamento do FC Porto. No mesmo ano ocorreu um evento de enorme importância para a cultura portuense. Eis trechos de um texto, alusivo ao acontecimento, da autoria da investigadora Rosário Carvalho:
No dia 13 de Janeiro de 1906 inaugurava-se, no Porto, a Livraria Lello, causando grande impacto no meio cultural da época. Tratava-se de um espaço de tradição livreira, uma vez que já aí tinha sido fundada a Livraria Chardron, em 1869. José Pinto de Sousa Lello constituiu sociedade com o seu irmão António Lello, passando a livraria a designar-se Lello & Irmão, Lda.
O edifício, de carácter ecléctico, com fachada neogótica, foi concebido segundo projecto do engenheiro Xavier Esteves, destacando-se fortemente na paisagem urbana envolvente. A fachada apresenta um arco abatido de grandes dimensões, com entrada central e duas montras laterais. A decoração é complementada por motivos vegetais, formas geométricas e a designação "Lello e Irmão", sobre as janelas.
No interior, os arcos em ogiva apoiam-se nos pilares em que o escultor Romão Júnior esculpiu os bustos de escritores como Antero de Quental, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Teófilo Braga, Tomás Ribeiro e Guerra Junqueiro, sob baldaquinos rendilhados, de linguagem neogótica. O grande vitral, onde se pode ler a divisa "Decus in Labore", é uma das marcas mais significativas da livraria, pelas dimensões e riqueza de tons; tal como a escadaria de grandes dimensões, de acesso ao 1.º piso, e os tectos trabalhados.
A Livraria Lello é um dos mais emblemáticos edifícios do neogótico portuense. Entretanto, modernizou-se, com o objectivo de se adaptar aos tempos presentes. Foi criada uma nova sociedade - Prólogo Livreiros, S.A. – de que faz parte ainda um dos herdeiros da família Lello; todo o interior foi restaurado em 1995 e a Livraria está apta a responder aos novos desafios com um serviço actualizado e informatizado, disponibilizando ainda um espaço de galeria de arte e de tertúlia entre intelectuais, que constitui um importante pólo cultural da cidade do Porto. [Trechos de texto de Rosário Carvalho]


Notas:
- Compareceram à inauguração nomes como os de Guerra Junqueiro, José Leite de Vasconcelos e Afonso Costa, entre outros.
- A Livraria Lello é descrita por Enrique Vila-Matas como "A mais bonita livraria do mundo"; em 2008 o periódico inglês The Guardian considerou-a a terceira mais bela do mundo.
- Localização: Rua dos Clérigos, Porto.
- Os portuenses podem orgulhar-se desta jóia da arquitectura e da cultura portuguesas.


- No próximo post. Capítulo 2, 1911 a 1920 - Auspiciosas vitórias (Parte I): morre J. Monteiro da Costa; jogo com o Médoc, a primeira equipa francesa a exibir-se em Portugal; jogos atléticos; primeiro triunfo numa competição.

8 comentários:

  1. Mais um excelente trecho da nossa História.
    Não foi a sprintar que vim comentar (em linguagem de ciclismo, na época da Volta e ainda nos ecos do post colocado no meu blog...), mas comento já, por estar a contar com a publicação, sempre procurando estar atento, pelo que me despertam estes bons trabalhos do amigo Fernando Moreira.
    Melhor que mais palavras, basta dizer mais uma vez, que espero já o próximo...
    Abraço
    http://www.longara.blogspot.com/

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  2. Não é querer dizer que sou mais Portista que ninguém. Nem eu nem o F.M.(D.AZUL FORTE) nem qualquer outro. Mas permita-me que lhe confesse que ao ler estes seus posts fico sempre assim com uma emoção muito própria, comparável assim com a leitura de uma qualquer carta que em adolescente uma namorada nos escrevia:)

    É o amor ao Porto, CLUBE.

    Parabéns. Continue!

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  3. Mais uma página brilhante da nossa história, complementada com um trecho sobre um dos mais belos espaços da Invicta, a Livraria Lello e Irmão.

    Parabéns e um abraço

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  4. Eu disse que não conseguia esperar 15 dias e o Azul Forte fez-me a vontade.

    De registar a nossa organização em 1909 que já era bem profissional (para a altura pois claro).

    Infelizmente nos dias de hoje o máximo que a Nike se consegue lembrar não é a história do FC Porto mas os temas da moda como a reciclagem.

    Também fizeste questão de lembrar a Livraria Lello, talvez a livraria mais bonita em todo mundo, é um espaço único e só mostra que além de uma grande clube também em tempos já fomos uma grande cidade.

    Para a semana estou aqui à espera dos próximos capítulos, agora que me habituas-te à cronica semanal estás tramado.

    Um Abraço.

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  5. Belos nacos de uma história que muito nos deve orgulhar.

    Parabéns e um abraço

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  6. Que emoção ao ler isto.

    Azul Forte, continue assim!

    Abraço

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  7. Este é um trabalho ímpar, de muito nível.
    Faço votos para que possa ler aqui a célebre carta de Alexandre Cal, publicada em Abril de 1920 no Primeiro de Janeiro, que, infelizmente, não estando disponível para leitura na BPMP, me impede de saber o que ele escreveu, acerca das não-notícias dos jornais de Lisboa, nos dias seguintes à vitória do Porto sobre o benfica, em jogo no Campo Grande,cuja vitória portista já então lhes causava engulhos!!
    Fico expectante de que seja aqui, que finalmente, a possa ler!

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  8. Caro anónimo, Caro Portista:
    "4 de Abril de 1920, uma tarde histórica, em Sete Rios, em Lisboa: o FC Porto, enfim, bateu o Benfica. Por 3-2. Curiosamente, já nessa altura a imprensa de Lisboa dava pouco destaque às vitórias do FC Porto mas..."
    "17 Abr. 1920 – Ocorreu o primeiro protesto portista contra a (ainda hoje) facciosa imprensa lisboeta, que desvalorizou a vitória do FC Porto contra o Benfica. Foi o jornal portuense O Primeiro de Janeiro..."
    Claro que a famosa carta de Alexandre Cal será publicada. É um documento de valor histórico extraordinário. E o facto de o conhecer faz-nos saber que o amigo é um portista com conhecimento da história do nosso querido Clube. Felicito-o por isso e agradeço-lhe o facto de nos ler no Bibó Porto, um blogue em que amamos, com os nossos leitores, o passado e o presente do nosso FC PORTO!
    Bibó Porto! Um abração.

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