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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do F. C. do Porto
Capítulo 4: 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte VI)
Apurados para o Campeonato de Portugal:
Apurados do Campeonato da época anterior
Futebol Clube do Porto (PORTO) – não participou por estar suspenso pela AFP Boavista Futebol Clube (PORTO)
Sport Comércio e Salgueiros (PORTO) – não participou por estar suspenso pela AFP
Sporting Clube de Espinho (AVEIRO)
Assoc. Académica de Coimbra (COIMBRA)
Carcavelinhos Football Club (LISBOA)
Clube Futebol Os Belenenses (LISBOA)
Futebol Clube Barreirense (LISBOA) – estava inscrito na Associação de Lisboa
Sporting Clube de Portugal (LISBOA)
Luso Futebol Clube do Barreiro (LISBOA) – estava inscrito na Associação de Lisboa União Football de Lisboa (LISBOA)
Sport Lisboa e Benfica (LISBOA)
U.F. Comércio e Industria (SETÚBAL)
Vitória Futebol Clube (SETÚBAL)
Apurados da Competição de Classificação (independente dos campeonatos distritais)
Futebol Clube Fafe (BRAGA)
Sport Club Vianense (VIANA DO CASTELO)
Sport Clube de Vila Real (VILA REAL) Leixões Sport Clube (PORTO)
Sport Clube Beira Mar (AVEIRO)
Lusitano Futebol Clube Vildemoinhos (VISEU)
Clube de Futebol União de Coimbra (COIMBRA)
Atlético Club Marinhense (LEIRIA)
Chelas Futebol Clube (LISBOA)
Sport Grupo Scalabitano Os Leões (SANTARÉM)
Seixal Futebol Clube (SETÚBAL)
Sport Clube Estrela (PORTALEGRE)
Lusitano Ginásio Clube (ÉVORA)
Lusitano Futebol Clube (ALGARVE)
Clube Desportivo Nacional (FUNCHAL)
Trama e suspensão; FC Porto e Salgueiros impedidos de participar no Campeonato de Portugal 1933-34
O Boavista conseguiu arregimentar, no seio da AFP, um bloco antiportista formado, entre outros, pelo próprio Boavista, Leixões, Académico e Progresso. Através de ardis e jogadas subterrâneas, ataques e contra-ataques, o conflito prolongou-se e só faltava o pretexto para consumar a trama… E foi encontrado o pretexto no facto dos jogadores do FC Porto não aceitarem, obviamente por imposição da sua Direcção, convocatória para o Porto-Lisboa, jogando a equipa portista, nesse mesmo dia, em Guimarães, com o Vitória…!!! FC Porto e o Salgueiros acabaram por ser suspensos da actividade desportiva, após conclusão do Campeonato do Porto, não podendo ambos, por isso, disputar o Campeonato de Portugal de 1933-34 (!!) que para os portistas era o objectivo fundamental e que, perante as prestações contra equipas estrangeiras, parecia perfeitamente ao seu alcance. O Sporting haveria de conquistar o Campeonato vencendo na final o Barreirense, por 4-3, após prolongamento.
22 Jul.1934 – Empate com super-Brasil
O Campeonato do Porto esteve suspenso enquanto durou a guerrilha. Acabaria por decidir-se em Julho. Depois das tréguas, e empatando com o Académico, por 3-3, o FC Porto venceu-o como era da tradição.
Por essa altura sabia-se já que, na época de 1934-35, a FPF lançaria o Campeonato da I Liga. Era outro sonho aberto para os homens de azul-e-branco que, entretanto, para evitar a paragem forçada, defrontaram a selecção do Brasil, acabadinha de regressar do Campeonato do Mundo de Itália, empatando com ela a zero golos. As crónicas não deixaram de exaltar os “estupendos jogadores brasileiros”, sobretudo Leónidas, Martin e Canali, mas escrevendo-se, por exemplo, na “Stadium”:
“Foi um match soberbo e se o FC Porto tivesse mais um pouco de sorte teria saído vencedor do terreno”. E, adiante, Silva Petiz afiançou: “Os brasileiros fartaram-se de elogiar o futebol tripeiro, isto é, a superioridade do nosso futebol sobre o de Lisboa. E foram francos e leais: não ganharam porque o adversário, o FC Porto, lhes saiu valoroso”. [In "Glória e Vida de Três Gigantes", 1995 - Adaptação]
Nem médico havia para Szabo…
Continuando dominada pelo bloco anti-portista, a Associação de Futebol do Porto não deixava de parecer uma “boceta de Pandora”. Por esse tempo ficou a saber-se que o fundo de assistência que se criara para ajudar futebolistas (e treinadores) lesionados estava... nuzinho de todo. Disso padeceu Szabo, que continuava a jogar futebol. Em partida de reservas, o húngaro (que haveria de naturalizar-se português) foi atingido numa costela, mas a AFP nem sequer lhe facultou consulta médica. O médico não o examinou e bem teria morrido se não fosse consultar-se a médico particular. Por intermédio do FC Porto apresentaram-se as facturas para reembolso, mas debalde. Foi-lhe recusado pagamento, alegando-se dificuldades no fundo de assistência... [In "Glória e Vida de Três Gigantes", 1995 - Adaptação]
Época 1934-1935
12 Set.1934 – Eduardo Dumont Villares sucedeu a Sebastião Ferreira Mendes na presidência do FC Porto, cargo que ocupava pela segunda vez. No seu mandato, que se prolongou até Set.1936, a equipa de futebol obteve mais uma brilhante conquista: o primeiro Campeonato Nacional (Liga), na época 1934-35. Foi ele que despediu o treinador Joseph Szabo, há mais de sete anos no clube, e contratou Magyar que, pouco depois, derrotou o Sporting por expressivos 10-1.
Reatou as relações desportivas com o Benfica e aprovou o aumento de quotas criando, ainda, novas categorias de associados. Promoveu a prática do hóquei-em-campo que obteve para o Clube as primeiras vitórias em competições oficiosas.
Dez.1934 – Cartaz anunciando a realização de jogos internacionais no Estádio do Lima, do Académico FC, no Porto.
Eis os resultados dos jogos do FC Porto com duas poderosas equipas da Hungria:
23-12-1934: FC Porto 2 – Ujpest 1
01-01-1935: FC Porto 1 – Ferencvaros 2
Campeonatos Nacionais
A partir da época 1934-35 até aos nossos dias, disputaram-se os Campeonatos Nacionais no figurino que conhecemos (todos contra todos em duas voltas). A prova, organizada pela Federação Portuguesa de Futebol e, mais tarde, pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional, pode dividir-se em três fases temporais:
• De 1934/35 a 1937/38 – Campeonato da 1.ª Liga (com 8 equipas participantes), organizado pela Federação Portuguesa de Futebol;
• De 1938/39 a 1998/99 – Campeonato Nacional da 1.ª Divisão (começou com 8 participantes), organizado pela Federação Portuguesa de Futebol;
• De 1999/2000 à actualidade – Campeonato da Liga Profissional (começou com 18 participantes), organizado pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional. Nota: entre as épocas 1934/35 e 1994/95, eram atribuídos 2 pontos por vitória e 1 ponto por empate; a partir da época 1995/96, passaram a ser atribuídos 3 pontos por vitória e 1 ponto por empate.
Todos contra todos, assim mesmo o sistema do chamado Campeonato da 1.ª Liga que durante mais quatro épocas decorreu a par do Campeonato de Portugal. O novo figurino era, pela primeira vez, introduzido nas competições de âmbito nacional. Participaram 8 equipas: de Lisboa (4), do Porto (2), de Setúbal (1) e de Coimbra (1).
1.ª jornada Jan.1935: Belenenses 1 – FC Porto 1
Em Lisboa, empate a um golo com o Belenenses. Ao intervalo os portistas perdiam por 0-1, mas logo após o reatamento Carlos Nunes igualou. Rezam as crónicas: “O FC Porto cresceu sobre o adversário, comandando bem a situação, mas não teve sorte para alcançar a vitória que várias vezes esteve à vista. E apesar do seu domínio os portuenses estiveram em risco de derrota, ao sofrerem um injusto penalti com que o árbitro os castigou. O Belenenses não soube, porém, aproveitar a deixa. Bernardo apontou fraco e à figura e Soares dos Reis não teve dificuldade em afastar o perigo”. Mas, em questões de arbitragens e outros jogos subterrâneos, bem pior estava para vir…
Jogo nas Salésias, em Janeiro de 1935 – O guardião Reis, do Belenenses anula um ataque de Acácio Mesquita e Carlos Nunes do FC Porto. O resultado salda-se por um empate (1-1).
2.ª jornada
Na segunda jornada, 7-1 à Académica, estreando-se o avançado Artur Alves, que, segundo cronista da época, “revelou qualidades, deixando impressão de que será, no futuro, um esplêndido elemento, embora sem esquecer Acácio Mesquita”. Marcou três golos, cabendo dois a Carlos Nunes e um a Pinga e Lopes Carneiro.
3.ª jornada
O primeiro “clássico” na Liga
3-2-1935: FC Porto 2 – Benfica 1
FC Porto e Benfica encontraram-se, no Porto, no Estádio do Lima, para disputar o primeiro clássico da história da Liga, num jogo a contar para a 3.ª jornada. A partida foi arbitrada pelo conimbricense Manuel Oliveira. O FC Porto venceu por 2-1, com o avançado Lopes Carneiro, aos 14 minutos, a adiantar os portistas no marcador, fixando o resultado ao intervalo. O Benfica procurou reagir, mas, aos 58 minutos, os seus jogadores cometeram uma infracção na grande-área sendo assinalada a competente grande penalidade favorável ao FC Porto. O goleador Pinga, chamado à conversão do castigo máximo, permitiu a Augusto Amaro entrar na história do Benfica, ao ser o primeiro guarda-redes a defender uma grande penalidade em jogos na Liga, mas não conseguiu impedir que o avançado portista marcasse na recarga, colocando o FC Porto a vencer por 2-0. Era o terceiro golo de Pinga no Campeonato Nacional. Alfredo Valadas, avançado dos de Lisboa, ainda reduziria dois minutos depois, mas o FC Porto conseguiria segurar a vantagem até ao final, mantendo a liderança da prova a par do Belenenses, com o Benfica a ficar a 2 pontos de ambos.
Do jogo, disse um cronista: “Tecnicamente a primeira parte valeu mais que a segunda. O FC Porto, nesse meio tempo, jogou como em dia grande e o Benfica nem por ser dominado teve falta de ânimo. O guarda-redes Amaro valeu aos vermelhos com três excelentes defesas em que salvou lances perigosíssimos”. (Foto)
FC PORTO: Soares dos Reis; Avelino Martins, Jerónimo Faria; João Nova, Álvaro Pereira, Carlos Pereira; Lopes Carneiro, Waldemar Mota, Acácio Mesquita, Pinga, Carlos Nunes. Treinador: Joseph Szabo.
BENFICA: Augusto Amaro; Gatinho, Gustavo Teixeira; Francisco Albino, Álvaro Pina, Gaspar Pinto; Domingos Lopes, Luís Xavier, Torres, Rogério Sousa, Alfredo Valadas. Treinador: Vítor Gonçalves. GOLOS: 14' Lopes Carneiro (1-0); 60' Pinga (2-0); 62' Alfredo Valadas (2-1).
4.ª jornada
10-2-1935: Vitória de Setúbal 1 – FC Porto 0
O FC Porto perdeu em Setúbal, por 0-1. Arautos de desgraça clamaram contra o destino, falando de uma equipa destroçada, quase em jeito de fantasmas e não de gente com sangue quente e de ambição correndo nas veias, porventura agitada por frémitos de impaciência ou desconfiança em si próprios. E, nos múrmurios dos bastidores, pedia-se a cabeça de Szabo. “A linha avançada do FC Porto furtou-se ao choque com a defesa contrária e esta impôs a sua vontade. E fizeram muitas esquivas e acabaram por se inferiorizar ante o adversário. Minutos antes do golo marcado por Rendas, Carlos Nunes teve um golo à vista, num remate de cabeça que a trave defendeu.
Na segunda parte o FC Porto merecia ter marcado, pela pressão que exerceu, apesar de os setubalenses se remeterem a uma porfiada defesa, de forma a salvar o resultado. Dentro da área chegaram a juntar-se 16 jogadores! A cinco minutos do fim, um ataque cerrado dos portuenses foi concluído com um excelente remate de cabeça que chegou às redes, mas que o árbitro anulou por suposta deslocação...”. [In "Glória e Vida de Três Gigantes", 1995 - Adaptação]
Acácio, 500 escudos e um emprego
Acácio Mesquita, um dos símbolos de sucesso do FC Porto, pressionou a Direcção a arranjar-lhe um emprego, decidindo não jogar enquanto não visse satisfeitos os seus desejos. “É verdade que ganho dinheiro no FC Porto [e ganhava pouco mais de 500 escudos por mês], mas quero modificar a minha situação, olhar para o futuro. Se o ordenado a receber não for de molde a satisfazer as minhas aspirações, não posso prescindir de um lugar que me ocupe, que me garanta o futuro, onde possa singrar para a vida, que positivamente não há-de ser sempre só futebol”.
O FC Porto, respeitando o jogador e sentindo a vontade do homem em escorar a vida, arranjou-lhe emprego, como funcionário de uma casa comercial do Porto. O emprego afastou as nuvens negras no provir, mas, Acácio, que tantas tardes de glória dera ao seu clube, perdeu a titularidade, porque o seu poder realizador já não se afirmava, no início do primeiro Campeonato da I Liga (1934-35) que começou por correr menos bem ao FC Porto. Treinava-se, como os demais, às sete horas em ponto, às segundas, quartas e sextas. Szabo ainda não era o treinador durão em que se transformaria pouco depois. Mas impusera já o esquema de multas de... “dez per cente” sempre que um jogador chegasse atrasado ao treino ou que, naquilo que ele chamava “jogo séria”, chutasse dentro da área e... falhasse o golo!!!
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do F. C. do Porto
Capítulo 4: 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte VI)
Apurados para o Campeonato de Portugal:
Apurados do Campeonato da época anterior
Futebol Clube do Porto (PORTO) – não participou por estar suspenso pela AFP Boavista Futebol Clube (PORTO)
Sport Comércio e Salgueiros (PORTO) – não participou por estar suspenso pela AFP
Sporting Clube de Espinho (AVEIRO)
Assoc. Académica de Coimbra (COIMBRA)
Carcavelinhos Football Club (LISBOA)
Clube Futebol Os Belenenses (LISBOA)
Futebol Clube Barreirense (LISBOA) – estava inscrito na Associação de Lisboa
Sporting Clube de Portugal (LISBOA)
Luso Futebol Clube do Barreiro (LISBOA) – estava inscrito na Associação de Lisboa União Football de Lisboa (LISBOA)
Sport Lisboa e Benfica (LISBOA)
U.F. Comércio e Industria (SETÚBAL)
Vitória Futebol Clube (SETÚBAL)
Apurados da Competição de Classificação (independente dos campeonatos distritais)
Futebol Clube Fafe (BRAGA)
Sport Club Vianense (VIANA DO CASTELO)
Sport Clube de Vila Real (VILA REAL) Leixões Sport Clube (PORTO)
Sport Clube Beira Mar (AVEIRO)
Lusitano Futebol Clube Vildemoinhos (VISEU)
Clube de Futebol União de Coimbra (COIMBRA)
Atlético Club Marinhense (LEIRIA)
Chelas Futebol Clube (LISBOA)
Sport Grupo Scalabitano Os Leões (SANTARÉM)
Seixal Futebol Clube (SETÚBAL)
Sport Clube Estrela (PORTALEGRE)
Lusitano Ginásio Clube (ÉVORA)
Lusitano Futebol Clube (ALGARVE)
Clube Desportivo Nacional (FUNCHAL)
Trama e suspensão; FC Porto e Salgueiros impedidos de participar no Campeonato de Portugal 1933-34
O Boavista conseguiu arregimentar, no seio da AFP, um bloco antiportista formado, entre outros, pelo próprio Boavista, Leixões, Académico e Progresso. Através de ardis e jogadas subterrâneas, ataques e contra-ataques, o conflito prolongou-se e só faltava o pretexto para consumar a trama… E foi encontrado o pretexto no facto dos jogadores do FC Porto não aceitarem, obviamente por imposição da sua Direcção, convocatória para o Porto-Lisboa, jogando a equipa portista, nesse mesmo dia, em Guimarães, com o Vitória…!!! FC Porto e o Salgueiros acabaram por ser suspensos da actividade desportiva, após conclusão do Campeonato do Porto, não podendo ambos, por isso, disputar o Campeonato de Portugal de 1933-34 (!!) que para os portistas era o objectivo fundamental e que, perante as prestações contra equipas estrangeiras, parecia perfeitamente ao seu alcance. O Sporting haveria de conquistar o Campeonato vencendo na final o Barreirense, por 4-3, após prolongamento.
22 Jul.1934 – Empate com super-Brasil
O Campeonato do Porto esteve suspenso enquanto durou a guerrilha. Acabaria por decidir-se em Julho. Depois das tréguas, e empatando com o Académico, por 3-3, o FC Porto venceu-o como era da tradição.
Por essa altura sabia-se já que, na época de 1934-35, a FPF lançaria o Campeonato da I Liga. Era outro sonho aberto para os homens de azul-e-branco que, entretanto, para evitar a paragem forçada, defrontaram a selecção do Brasil, acabadinha de regressar do Campeonato do Mundo de Itália, empatando com ela a zero golos. As crónicas não deixaram de exaltar os “estupendos jogadores brasileiros”, sobretudo Leónidas, Martin e Canali, mas escrevendo-se, por exemplo, na “Stadium”:
“Foi um match soberbo e se o FC Porto tivesse mais um pouco de sorte teria saído vencedor do terreno”. E, adiante, Silva Petiz afiançou: “Os brasileiros fartaram-se de elogiar o futebol tripeiro, isto é, a superioridade do nosso futebol sobre o de Lisboa. E foram francos e leais: não ganharam porque o adversário, o FC Porto, lhes saiu valoroso”. [In "Glória e Vida de Três Gigantes", 1995 - Adaptação]
Nem médico havia para Szabo…
Continuando dominada pelo bloco anti-portista, a Associação de Futebol do Porto não deixava de parecer uma “boceta de Pandora”. Por esse tempo ficou a saber-se que o fundo de assistência que se criara para ajudar futebolistas (e treinadores) lesionados estava... nuzinho de todo. Disso padeceu Szabo, que continuava a jogar futebol. Em partida de reservas, o húngaro (que haveria de naturalizar-se português) foi atingido numa costela, mas a AFP nem sequer lhe facultou consulta médica. O médico não o examinou e bem teria morrido se não fosse consultar-se a médico particular. Por intermédio do FC Porto apresentaram-se as facturas para reembolso, mas debalde. Foi-lhe recusado pagamento, alegando-se dificuldades no fundo de assistência... [In "Glória e Vida de Três Gigantes", 1995 - Adaptação]
Época 1934-1935
12 Set.1934 – Eduardo Dumont Villares sucedeu a Sebastião Ferreira Mendes na presidência do FC Porto, cargo que ocupava pela segunda vez. No seu mandato, que se prolongou até Set.1936, a equipa de futebol obteve mais uma brilhante conquista: o primeiro Campeonato Nacional (Liga), na época 1934-35. Foi ele que despediu o treinador Joseph Szabo, há mais de sete anos no clube, e contratou Magyar que, pouco depois, derrotou o Sporting por expressivos 10-1.
Reatou as relações desportivas com o Benfica e aprovou o aumento de quotas criando, ainda, novas categorias de associados. Promoveu a prática do hóquei-em-campo que obteve para o Clube as primeiras vitórias em competições oficiosas.
Dez.1934 – Cartaz anunciando a realização de jogos internacionais no Estádio do Lima, do Académico FC, no Porto.
Eis os resultados dos jogos do FC Porto com duas poderosas equipas da Hungria:
23-12-1934: FC Porto 2 – Ujpest 1
01-01-1935: FC Porto 1 – Ferencvaros 2
Campeonatos Nacionais
A partir da época 1934-35 até aos nossos dias, disputaram-se os Campeonatos Nacionais no figurino que conhecemos (todos contra todos em duas voltas). A prova, organizada pela Federação Portuguesa de Futebol e, mais tarde, pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional, pode dividir-se em três fases temporais:
• De 1934/35 a 1937/38 – Campeonato da 1.ª Liga (com 8 equipas participantes), organizado pela Federação Portuguesa de Futebol;
• De 1938/39 a 1998/99 – Campeonato Nacional da 1.ª Divisão (começou com 8 participantes), organizado pela Federação Portuguesa de Futebol;
• De 1999/2000 à actualidade – Campeonato da Liga Profissional (começou com 18 participantes), organizado pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional. Nota: entre as épocas 1934/35 e 1994/95, eram atribuídos 2 pontos por vitória e 1 ponto por empate; a partir da época 1995/96, passaram a ser atribuídos 3 pontos por vitória e 1 ponto por empate.
Todos contra todos, assim mesmo o sistema do chamado Campeonato da 1.ª Liga que durante mais quatro épocas decorreu a par do Campeonato de Portugal. O novo figurino era, pela primeira vez, introduzido nas competições de âmbito nacional. Participaram 8 equipas: de Lisboa (4), do Porto (2), de Setúbal (1) e de Coimbra (1).
1.ª jornada Jan.1935: Belenenses 1 – FC Porto 1
Em Lisboa, empate a um golo com o Belenenses. Ao intervalo os portistas perdiam por 0-1, mas logo após o reatamento Carlos Nunes igualou. Rezam as crónicas: “O FC Porto cresceu sobre o adversário, comandando bem a situação, mas não teve sorte para alcançar a vitória que várias vezes esteve à vista. E apesar do seu domínio os portuenses estiveram em risco de derrota, ao sofrerem um injusto penalti com que o árbitro os castigou. O Belenenses não soube, porém, aproveitar a deixa. Bernardo apontou fraco e à figura e Soares dos Reis não teve dificuldade em afastar o perigo”. Mas, em questões de arbitragens e outros jogos subterrâneos, bem pior estava para vir…
Jogo nas Salésias, em Janeiro de 1935 – O guardião Reis, do Belenenses anula um ataque de Acácio Mesquita e Carlos Nunes do FC Porto. O resultado salda-se por um empate (1-1).
2.ª jornada
Na segunda jornada, 7-1 à Académica, estreando-se o avançado Artur Alves, que, segundo cronista da época, “revelou qualidades, deixando impressão de que será, no futuro, um esplêndido elemento, embora sem esquecer Acácio Mesquita”. Marcou três golos, cabendo dois a Carlos Nunes e um a Pinga e Lopes Carneiro.
3.ª jornada
O primeiro “clássico” na Liga
3-2-1935: FC Porto 2 – Benfica 1
FC Porto e Benfica encontraram-se, no Porto, no Estádio do Lima, para disputar o primeiro clássico da história da Liga, num jogo a contar para a 3.ª jornada. A partida foi arbitrada pelo conimbricense Manuel Oliveira. O FC Porto venceu por 2-1, com o avançado Lopes Carneiro, aos 14 minutos, a adiantar os portistas no marcador, fixando o resultado ao intervalo. O Benfica procurou reagir, mas, aos 58 minutos, os seus jogadores cometeram uma infracção na grande-área sendo assinalada a competente grande penalidade favorável ao FC Porto. O goleador Pinga, chamado à conversão do castigo máximo, permitiu a Augusto Amaro entrar na história do Benfica, ao ser o primeiro guarda-redes a defender uma grande penalidade em jogos na Liga, mas não conseguiu impedir que o avançado portista marcasse na recarga, colocando o FC Porto a vencer por 2-0. Era o terceiro golo de Pinga no Campeonato Nacional. Alfredo Valadas, avançado dos de Lisboa, ainda reduziria dois minutos depois, mas o FC Porto conseguiria segurar a vantagem até ao final, mantendo a liderança da prova a par do Belenenses, com o Benfica a ficar a 2 pontos de ambos.
Do jogo, disse um cronista: “Tecnicamente a primeira parte valeu mais que a segunda. O FC Porto, nesse meio tempo, jogou como em dia grande e o Benfica nem por ser dominado teve falta de ânimo. O guarda-redes Amaro valeu aos vermelhos com três excelentes defesas em que salvou lances perigosíssimos”. (Foto)
FC PORTO: Soares dos Reis; Avelino Martins, Jerónimo Faria; João Nova, Álvaro Pereira, Carlos Pereira; Lopes Carneiro, Waldemar Mota, Acácio Mesquita, Pinga, Carlos Nunes. Treinador: Joseph Szabo.
BENFICA: Augusto Amaro; Gatinho, Gustavo Teixeira; Francisco Albino, Álvaro Pina, Gaspar Pinto; Domingos Lopes, Luís Xavier, Torres, Rogério Sousa, Alfredo Valadas. Treinador: Vítor Gonçalves. GOLOS: 14' Lopes Carneiro (1-0); 60' Pinga (2-0); 62' Alfredo Valadas (2-1).
4.ª jornada
10-2-1935: Vitória de Setúbal 1 – FC Porto 0
O FC Porto perdeu em Setúbal, por 0-1. Arautos de desgraça clamaram contra o destino, falando de uma equipa destroçada, quase em jeito de fantasmas e não de gente com sangue quente e de ambição correndo nas veias, porventura agitada por frémitos de impaciência ou desconfiança em si próprios. E, nos múrmurios dos bastidores, pedia-se a cabeça de Szabo. “A linha avançada do FC Porto furtou-se ao choque com a defesa contrária e esta impôs a sua vontade. E fizeram muitas esquivas e acabaram por se inferiorizar ante o adversário. Minutos antes do golo marcado por Rendas, Carlos Nunes teve um golo à vista, num remate de cabeça que a trave defendeu.
Na segunda parte o FC Porto merecia ter marcado, pela pressão que exerceu, apesar de os setubalenses se remeterem a uma porfiada defesa, de forma a salvar o resultado. Dentro da área chegaram a juntar-se 16 jogadores! A cinco minutos do fim, um ataque cerrado dos portuenses foi concluído com um excelente remate de cabeça que chegou às redes, mas que o árbitro anulou por suposta deslocação...”. [In "Glória e Vida de Três Gigantes", 1995 - Adaptação]
Acácio, 500 escudos e um emprego
Acácio Mesquita, um dos símbolos de sucesso do FC Porto, pressionou a Direcção a arranjar-lhe um emprego, decidindo não jogar enquanto não visse satisfeitos os seus desejos. “É verdade que ganho dinheiro no FC Porto [e ganhava pouco mais de 500 escudos por mês], mas quero modificar a minha situação, olhar para o futuro. Se o ordenado a receber não for de molde a satisfazer as minhas aspirações, não posso prescindir de um lugar que me ocupe, que me garanta o futuro, onde possa singrar para a vida, que positivamente não há-de ser sempre só futebol”.
O FC Porto, respeitando o jogador e sentindo a vontade do homem em escorar a vida, arranjou-lhe emprego, como funcionário de uma casa comercial do Porto. O emprego afastou as nuvens negras no provir, mas, Acácio, que tantas tardes de glória dera ao seu clube, perdeu a titularidade, porque o seu poder realizador já não se afirmava, no início do primeiro Campeonato da I Liga (1934-35) que começou por correr menos bem ao FC Porto. Treinava-se, como os demais, às sete horas em ponto, às segundas, quartas e sextas. Szabo ainda não era o treinador durão em que se transformaria pouco depois. Mas impusera já o esquema de multas de... “dez per cente” sempre que um jogador chegasse atrasado ao treino ou que, naquilo que ele chamava “jogo séria”, chutasse dentro da área e... falhasse o golo!!!
- No próximo post.: Capítulo 4, 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte VII) – Campeonato Nacional/Liga 1934-35: as últimas jornadas; FC Porto, o primeiro Campeão Nacional (Liga)!; recepção triunfal; atribuída ao FC Porto a Medalha de Ouro de Mérito Desportivo da Cidade do Porto.
Grande descrição de tempos remotos mas com muitas peripécias ainda quase actuais.
ResponderEliminarTambém veio desde distantes tempos, como se nota, certo comportamento de homens do vizinho Boavista, o que levou sempre muito boa gente, como eu, a não gostar mesmo nada daquela equipa /clube de camisola aos remendos. Pode parecer, agora, que é bater no ceguinho, só que quem tem memória não esquece. Ou como diria o outro, há mortos de quem nem depois de mortos se pode dizer bem...
Gostei e aprecio ao ler estes pormenores, como todos os que aqui se lêm e são dados a conhecer, com rigor e atenção. Cada vez mais isto se revela um trabalho que vai ficar para a História, fazendo verdadeira História!
Abraço.
http://longara.blogspot.com/
Peço desculpa a todos os leitores: houve um problema (não identificado) com a edição do post, após tentar alterar um pormenor. Perdi a formatação e não consegui repô-la. Também uma foto.
ResponderEliminarVou comunicar ao Administrador do blogue (BlueBoy) para ele resolver a questão.
As minhas desculpas.
DAF
Delicioso como sempre;)
ResponderEliminar1º clássico da Liga, 1º Porto/Benfica, em 1934/35, 1ª vitória azul e branca;)
É assim a nossa nobre história:)
Mais uma belíssima página da nossa história que é muito bonita, mas também muito sofrida. Fico com a sensação ao ler este trabalho do Fernando, que nunca ninguém nos deu nada, tivemos de conquistar tudo a pulso de ferro.
ResponderEliminarUm abraço
Aleluia encontrei o fantástico Carcavelinhos numa liga dos grandes. :)
ResponderEliminarImportante reter o campeonato em que não nos deixaram inscrever para que outro clube de Lisboa fosse vencedor, já havia muito jogo de secretaria já na altura.
Episódio revoltante de Szabo, acho que ainda nos dias de hoje ainda é assim.
E claro o nosso arranque na liga de 1934/35 a ganhar à mouralhada é sempre de registar.
Dragão Azul Forte isto para mim é um delicioso conseguir todos os dias ao lanche poder ler mais um bocadinho da nossa história.
Cá te espero grande amigo.
Sonegaram-nos a participação no Campeonato de Portugal, mas ganhámos o primeiro “derby” dos Campeonatos Nacionais. Toma lá milhafre! E vais levar pela mesma medida no domingo.
ResponderEliminarUm beijo.
Dragão Azul Forte obrigado, por mais um capítulo da nossa fantástica história!;)
ResponderEliminarBIBÓ PORTO
Parabéns pelo seu blogue tem muita informacao sobre o nosso Porto. Deve de haver um erro nos golos do Pinga porque no texto do jogo da 3° Jornada contra o slb vem la a dizer que o Pinga marcou o seu 3° golo no Campeonato no penalty, mas so tinha marcado um golo na 2° Jornada. Fui a outro site e esta la que marcou 2 golos na 2° Jornada. Desculpe pelos meus erros ortograficos e um abraco aqui do Luxemburgo.
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