31 agosto, 2011

Capítulo 5: 1941 a 1950 - O centralismo da capital e o jejum (Parte IV)

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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto


Capítulo 5: 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte IV)

Época 1944-1945

1944 - Constituição da secção de Hóquei em Patins
A patinagem já era uma tradição no FC Porto desde os primórdios do Clube. Mas foi em 1944 que o hóquei em patins chegou ao FC Porto sem que, contudo, singrasse para altos feitos como aconteceria mais tarde. Neste ano e nos imediatos, equipas portistas inscreveram-se nos torneios regionais participando nas respectivas provas.
Em 1955, após um interregno em que a secção esteve desactivada, os Dragões conquistaram o primeiro título nacional ao vencerem o Campeonato Metropolitano da 2.ª Divisão. Era o começo de um percurso feito de triunfos e esplendorosas vitórias, que fizeram do palmarés do FC Porto um dos mais valiosos do Mundo. Lá faremos o historial, bem rico, desta modalidade no FC Porto. Lá mais para diante.

17 Nov.1944 – O Dr. Ângelo César Machado foi agraciado com o título de Presidente Honorário do FC Porto.

19 Jan.1945 – O Dr. Cesário Bonito foi eleito presidente do FC Porto, sucedendo a Luís Ferreira Alves. Logo em Março fez regressar ao comando técnico da equipa de futebol José Szabo, na tentativa de se retomarem os triunfos. Cesário Bonito haveria de fazer história no FC Porto nos três mandatos para que foi eleito. Neste primeiro, até Maio de 1948, teve de se confrontar com as sucessivas manobras contra o FC Porto em que se empenhava o poder do futebol português instalado em Lisboa. E, nesse quadro, com os insucessos da equipa nas competições nacionais.
De sucesso não o privou a equipa de Andebol de 11 que conquistou o heptacampeonato. Relevante a constituição da secção de ciclismo e a formação de um grande conjunto, bem como a festa que organizou para a despedida de Pinga. Cesário Bonito ficou ligado, neste mandato, à edificação do Estádio das Antas, pois defendeu o projecto, de que foi pioneiro, com “unhas e dentes” e contra os que se lhe opunham. Viu partir Szabo e contratou o argentino Eladio Vaschetto, treinador protagonista da vitória sobre o Arsenal, em Maio de 1948, que assombrou o mundo. Logo de seguida entregou a presidência do FC Porto a Júlio Ribeiro de Campos.
Cesário Bonito foi, como se revalidará à frente, o presidente mais marcante da história do FC Porto depois de Pinto da Costa.

Derrotas comprometedoras e vitórias insuficientes
Os desaires continuavam a não ser superados nos campos de futebol que outrora tinham sido palco de sucesso. Os dirigentes portistas, feridos de revolta, culpavam insistentemente os “poderes perversos de Lisboa” e as suas jogadas de bastidores. Quando Cesário Bonito ascendeu à presidência do FC Porto o ambiente mantinha-se assim, carregado de mágoa e cinzento. O torpor também contaminava. E para o acentuar… as derrotas.
• Mas ainda com tempo para derrotar, no Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, os rivais Sporting e Benfica em jogos disputados no Porto.

• No último dia do ano de 1944, 4-3 ante o Benfica. No Estádio do Lima o FC Porto alinhou com:
Barrigana; Alfredo Pais, Camilo, Franco, Octaviano, Romão, Álvaro, Correia Dias, Lourenço, Araújo e Catolino.
Golos portistas apontados por Catolino (1’ e 28’) e Araújo (68’ e 76’). Os golos dos de Lisboa foram marcados por Espírito Santo (40’), Joaquim Teixeira (65’) e Rogério Carvalho (69’).
• Depois, de uma assentada, duas pesadas derrotas: 2-6 com o Belenenses, no Lima, 4-5 com o Sporting, no Lumiar (4-2-1945). No jogo com o Belenenses, Correia Dias, avançado-centro do FC Porto, abandonou o campo aos 38 minutos com uma perna partida.
• Depois, 0-3 com o Guimarães e empate, no Estádio do Lima, com o Estoril. Assim…

• Durante a época, o melhor que o FC Porto fez terá sido impor uma goleada (10-0) ao Vitória de Guimarães, ainda com Correia Dias a jogar e outra ao Salgueiros, por 9-0, com cinco golos de Catolino e sem Correia Dias na equipa.
• Em 18 de Março, a prova do que fora, afinal, a campanha quase toda: derrota com o Benfica, no Campo Grande, por... 2-7.
O FC Porto acabaria o Campeonato, já sem Hertzka ao comando, no 4.º lugar a 10 pontos dos campeões…

Março 1945 - Foi sem espanto que José Szabo, que aceitou receber 1500 escudos por mês, assumiu o comando técnico do FC Porto, substituindo Hertzka. Era o regresso de um mito, quiçá a tentativa desesperada do presidente Cesário Bonito salvar a época através da Taça de Portugal, que no Campeonato o título já era inalcançável.










A Taça de Portugal era a réstia de esperança para salvar a época. Mais se acalentou o sonho quando, a 15 de Abril de 1945, o FC Porto empatou (0-0), no Lumiar, com o Sporting. Uma semana volvida, os sportinguistas, treinados por Cândido de Oliveira, venceram surpreendentemente, no Lima, por 4-1. Esfumava-se a fé num bom resultado, logo à primeira eliminatória da Taça de Portugal.

Uma equipa do FC Porto na época 1944-45.
Em baixo, da esquerda para a direita: Franco, Araújo, Correia Dias, Pinga e Catolino;
Em cima: Guilhar, Pocas, Romão, Barrigana, Octaviano e Alfredo Pais.

Szabo, de novo uma aposta de futuro
Perdido o Campeonato e perdida a Taça, foi assumido pela Direcção do FC Porto que Szabo fora contratado como aposta de futuro e não em jeito de desesperada procura de santo milagre. Os dirigentes portistas exigiram-lhe, então, que tentasse recolocar o clube em rota de sucesso, apesar das limitações financeiras para contratar grandes jogadores, já que sobrevivia a crise. Um exemplo: os gastos com a Secção de Futebol do Sporting, por essa época, já ultrapassavam os 1000 contos; os azuis-e-brancos tinham um “plafond” orçamental de 800 contos e excedê-lo poderia ser a bancarrota.
Por isso, as contratações para a época seguinte foram parcimoniosas: José Szabo Júnior — guarda-redes, jovem promessa, filho do treinador, cujo destino seria tragicamente cortado por um atropelamento que o deixou inutilizado — Armando e Joaquim Machado. Mantinham-se no plantel Barrigana, Guilhar, Correia Dias, Pinga, Catolino, Manuel dos Anjos “Pocas”, Araújo, Lourenço, Falcão, Francisco, Andrade, Alvarenga, Álvaro, Faria, Toninho, Diógenes Boavida, Zeca, Cereja, Camilo, Romão.

Os métodos insólitos que se mantinham…
O presidente Cesário Bonito anuíra a que o treinador utilizasse os seus reconhecidos métodos disciplinadores, que impusera com sucesso na sua primeira passagem pelo Clube e agora no Sporting. Szabo era um autêntico polícia de costumes…
• Não permitia que os jogadores solteiros fumassem, obrigando-os a tratar os casados por... senhores;
• Cinco minutos de atraso na chegada aos treinos, que se faziam logo de manhã cedo, equivaliam a 10 por cento de multa sobre o ordenado mensal;
• Szabo, que nunca largava de mão um cronómetro suíço que era para si amuleto, orientava treinos e jogos expelindo fumaças de charuto havano e proibia os seus pupilos que gargarejassem água durante as tarefas de treino, aventando, vezes sem conta: “Sinhores, não beber água fria porque garaganta estar quente e fazer inginhas. Sinhor massagista trazer chá quente para sinhores...”;
• Mantinha a fama de insultar os jogadores e ofendê-los com uma insuportável insolência, incendiando conflitos por vezes insanáveis. Tinha, de facto, um vocabulário agreste, havendo quem garantisse que, muitas vezes, não sabia o verdadeiro significado das palavras que utilizava e por isso mesmo insultava o próprio filho indignificando a mulher sem o saber…!
• Utilizava ainda, como antigamente, bonecos de madeira para exemplificar as tácticas. A expressão que o caracterizava e que o empolgava, continuava a ser “mandar Bêrnardo às compras”, que significava chutar ao golo;
• Antes de se deitar passava por casa de todos os jogadores (quer dos solteiros quer dos casados), para garantir que não prevaricavam na “malandrice do noite”. E passava a vida, como que numa obsessão invencível, a dizer-lhes que a maior praga dos jogadores de futebol eram as “mulieres”, exortando os jogadores casados a entrar em abstinência à quinta-feira, zangando-se com as mulheres!
• “Muito importante, sinhores: ficharem torneira dê nêmoros dê mininas. Atenção, fazer muito mal e precisar canetas para jogo... E casados fazer este: chigar a casa quinta-feira para jantar e dizer suas mulieres quê sopa estar um sucata, arranjar-se uma discussão, fazer zaragata, ir-se deitar zangado com ela, voltar-se lado contrária e só fazer-se pazes sêgundo-feira”.
Vezes sem conta dizia isto aos jogadores do FC Porto. Era o seu jeito.

3 Jun.1945 – A II Guerra Mundial (terminou na Europa em 7 Mai.1945) afectou e interrompeu o intercâmbio desportivo entre clubes da Europa. Logo a 3 de Junho de 1945, o FC Porto retomou os contactos internacionais defrontando e vencendo, no Estádio do Lima, o Real Madrid por quatro bolas a uma. Foi uma vitória deveras prestigiante, espécie de reparação de afrontas antigas.

Andebol de Onze: heptacampeonato!
O FC Porto sagrava-se, pela sétima vez consecutiva, Campeão Nacional de andebol de 11 (época 1944-45)!
Sete títulos consecutivos! Era a primeira vez na história do desporto em Portugal que, em qualquer modalidade de jogo colectivo, uma equipa conquistava o heptacampeonato! Era mais um título conquistado por Henrique Fabião, Teixeira, Miguel, Raul, Teófilo Tuna, Pichel, Reis, Albano, Guerra, Prazeres e Gomes da Costa. E o Andebol de Onze do FC Porto não se ficaria por aqui…
Os andebolistas eram o orgulho do FC Porto. A secção gastava pouco mais de 10 contos por ano, numa altura em que o futebol absorvia mais de 700. E as receitas do andebol ultrapassavam os cinco contos! O Andebol era, sem dúvida, uma modalidade amadora que triunfava e se auto-sustentava!

1945 - Constituição da secção de Ciclismo
Esta modalidade teve no FC Porto o seu início de actividade em 1945 e foi suspensa em 1984. Mas já em 1927 uma equipa do FC Porto havia participado na 1.ª Volta a Portugal em Bicicleta, tendo o portista Nunes de Abreu obtido o 2.º lugar numa prova ganha por António Augusto de Carvalho, do Carcavelos.
Contudo, em 1945 é que se constituiu a secção de Ciclismo que muitos triunfos havia de dar ao Clube e que faria vibrar de euforia os adeptos espalhados por essas estradas fora. João Rodrigues, zeloso dirigente, formou a equipa em que, no ano seguinte (1946), viriam a ingressar Fernando Moreira, Onofre Tavares, Moreira de Sá e Dias dos Santos.
O ciclismo foi uma das modalidades que mais prestigiou o clube. Em 1948 Fernando Moreira venceu a 1.ª Volta a Portugal para o FC Porto. Aquando do relato dessa vitória, far-se-á o historial brilhante do ciclismo portista.
  • No próximo post.: Capítulo 5, 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte V) – Época 1945-46; Campeonato Nacional; Taça de Portugal; José Travassos a um passo do FC Porto; a despedida de Pinga; biografia de Gomes da Costa.

9 comentários:

  1. Um trabalho magnifico.
    PARABÉNS

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  2. Mais um óptimo trecho do grande trabalho que está aqui a ser feito, com grande dedicação e saber do amigo Fernando Moreira. Tal como temos vindo a manifestar, quando o trabalho é feito com amor à causa é outra loiça. E isto é algo especial, bem elaborado e documentado, digno de louvor.
    Abraço.

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  3. Mais um post 6 estrelas, com o Hóquei, modalidade de referência em destaque; um jogador/treinador marcante, J.Szabo; e um presidente que é pelos mais velhos reconhecido, como um dos 3 melhores, Cesário Bonito.

    Abraço

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Obrigado ao "austria87" e aos amigos Armando Pinto e Vila Pouca.
    Tenho pena que em "tempos de vacas magras" a história do FC Porto não interesse a mais pessoas/portistas... Face há história passada, não posso fazer nada; sobre o meu trabalho futuro vou pensar se devo... deixar de fazer.

    Abraço.

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  6. Cesário Bonito era da Régua, não era? Um grande Presidente.

    De facto é curioso: em posts onde se narravam vitórias, havia mais de uma dezena de comentários. Agora, numa parte da história do FC Porto em “jejum” (tal como indica o título do Capítulo 4) há… 3 comentários…! Compreendo a tua interrogação: “vale a pena?!” Eu compreendo a tua indignação e/ou frustração. Porque sei o trabalho que dá fazer tudo isto. Andas há quase 4 anos nisto… Se as pessoas conhecessem o tempo e a energia que despendes, davam muito mais valor ao que fazes. As que tu dão, são sempre as mesmas, nunca falham. Elas são pessoas que reconhecem a valia da tua obra. Por isso, não tenhas receio, não estás sozinho. E deixa-te de modéstias que são expressas com sinceridade, mas que não se justificam, porque tu te empenhas para fazer o melhor. Não penses nos que não merecem o teu esforço. Pensa nos (des)portistas que sabem que o teu trabalho é de mérito inestimável. Olha para o primeiro comentário, lê os seguintes de teus dois grandes amigos… Força, Papá. FORÇA DRAGÃO!

    Bjos,
    BIBÓ PORTO!

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  7. Perdão: Face à história passada... e não "Face há história passada..."

    Obrigado.
    Abraço.

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  8. o nosso historiador é um espectáculo... pena é que a "assistência" diária que nos visita, sempre aos milhares, passe, ande e nem um olá deixe... é pena, porque se há trabalhos merecem ser reconhecidos, este é sem sombra de dúvidas, um deles!!!

    aMIGO, como já é habitual, muitos paraBéns... e deixe-se de conversa estragada... este trabalho, é uma relíquia para ser vista por muitos e longos anos enquanto existir esta coisa a que chamam de internet.

    vá, força, anime-se... e não se apoquente com quem nem um olá deixa ficar... nem eles/as são obrigados a isso... nem tão pouco alguém os pode obrigar a tal... é pena, mas que se fazer? é o que é!

    bola mas é prá frente!!!

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  9. Sobre Cesário Bonito tenho bastante curiosidade, que se aguçou ao ler as palavras de Pinto da Costa sobre ele na sua autobiografia, onde inclusivamente referiu que, sempre que o cumprimentava com um abraço, dizia: "O Presidente feio abraça o Presidente Bonito" :)

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