Os maus exemplos

http://bibo-porto-carago.blogspot.com/

---

“Eu já fui. Quem quiser, venha atrás”. Foi o recado deixado a um balneário cheio de sonhos e mais unido que muitas famílias por um “trainador” que a dois dias de começar a trabalhar num clube que lhe deu tudo para ganhar tudo troca a cadeira que demagogicamente dizia ser de sonho por uma poltrona cheia de libras. Falcao vai segui-lo à risca e muito provavelmente não será a o único. O último a sair que feche a porta. Boa viagem.

Nesta casa, ao contrário de outras onde há quem ameace sair só para lhe aumentarem o ordenado, só faz falta quem cá está e quem quer cá estar para ganhar, como a história não deixa enganar. Para quem não quer, a porta da rua é a serventia da casa, como sempre ouvi dizer. E antes de a fecharem, deixem o cheque, com todos os milhões que queremos e a que temos direito pelas vitórias todas que muitos nunca mais sequer vão festejar.

É a triste e desencantadora sina do futebol moderno, enfermado pelo dinheiro. Dói vê-los partir, com as legítimas aspirações de conseguir um contrato ainda mais milionário num clube de top do futebol mundial, à procura de garantir uma vida boa num futuro que nunca é longo - aconteceu assim com Vítor Baía, Deco, Ricardo Carvalho, Anderson ou Pepe. Mas a revolta ainda é maior quando nos trocam por clubes como o Lyon, o Marselha, o Zenit ou o “Patético de Madrid”, o sexto classificado da Liga Espanhola, que na história recente foi copiosamente por nós batido na Europa.

Adeus Radamel. Para a eternidade fica o golo da final de Dublin, o “taconazzo” aos lampiões, aquele calcanhar à Madjer com que ajudaste a despachar o teu novo clube na Champions, o pontapé de bicicleta ao Marítimo e muitos outros golos que nos permitiste deliciar e festejar. Agora, vou ver-te a lutar pelo quinto ou sexto lugar da Liga espanhola, a ser esmagado pelo Barça ou pelo Real Madrid e a tentares desafiar o teu recorde de golos na Liga Europa que pela Champions quiseste trocar. Mas tem cuidado com esse joelho esquerdo que, pelos vistos, alguns temores parece causar e que 40 milhões não podem fazer recusar… Nós, por cá, para cumprir a tradição, vamos continuar a ganhar. Sem ti, mas com outros.

Aquelas palavras em Guimarães e que a comunicação social lisboeta tratou de difundir com estrondo, ansiosa por ver partir aquele tipo que se fartava de marcar golos atrás de golos, não me surpreenderam, portanto. Aliás, já nada no futebol me espanta depois de ver aquilo que fez um traidor medricas e mercenário armado em “special two”. E por isso recusei ir, com aqueles como eu que utopicamente cantávamos que ele seria dragão até ao fim, dar-lhe as boas-vindas ao aeroporto no dia em que regressou de férias para pedir-lhe que ficasse. Somos grandes, demasiado grandes, para pedinchar o quer que seja a quem, pelos vistos, já se fartou de ganhar.