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Começou como uma curiosidade, agora é um hábito e, se se mantiver, não demorará a virar tradição. No dia 1, depois de acordar bem tarde e devorar uma almoçarada de restos da véspera, lá seguimos para o Dragão para ver o treino do Campeão. Este ano até São Pedro ajudou, estava um solzinho simpático, um céu da nossa cor, e o pobo não faltou à chamada. Éramos uns 12 ou 13 mil - número semelhante à média de assistências do Braga e do Guimarães esta época e inferior apenas à dos três grandes. Bancada Poente e Superior Norte quase cheias de Portistas, desde meninas que suspiram pelo James (quando tinha a idade delas, também eu suspirava por um estrangeiro de pé esquerdo de ouro, mas este vinha do leste e deu-me, anos mais tarde, uma desilusão indescritível - embora saiba de fonte segura que continuou e continua Portista) a idosos, passando por grupos de amigos, casais ou famílias inteiras, com crianças ainda pequenas.
Reparei em muitas pessoas pouco familiarizadas com o estádio, possivelmente por lhes ser financeiramente difícil comprar bilhetes. Estes momentos são importantes não apenas pela possibilidade de vermos os nossos ídolos num contexto mais descontraído, mas também pela oportunidade proporcionada a essas pessoas, que são uma parte fundamental do FC Porto. E que são cada vez mais. A cada dia há mais um caso de um amigo, um familiar, um amigo de um amigo que perdeu o emprego, que teve de fechar o seu pequeno negócio ou que, depois de centenas de currículos enviados sem resposta, ficou sem subsídio. Ou que mantém o emprego, mas com os cortes e o aumento de impostos tem de começar a ter mais cuidado com as despesas. A certa altura, a quota de sócio começa a ficar desactualizada. Quem tem lugar anual precisa da quota em dia para entrar no estádio, mas quem não tem vai deixando passar: o dinheiro mal chega para o estritamente necessário. Num piscar de olhos, passaram 6 meses. E 60 euros é muita coisa.
Segundo os nossos estatutos, um filiado pode solicitar a suspensão do pagamento da quota no caso de estar desempregado (ou a prestar serviço militar obrigatório, ausente do país ou com doença que o impossibilite de angariar fundos). Durante esse tempo, não goza dos mesmos direitos que os outros associados (preços especiais, participação em assembleias-gerais, etc.), mas mantém o direito a conservar a condição de sócio, não sendo excluído caso haja uma recontagem. Desconheço como funciona na prática esta suspensão e não sei de ninguém que a tenha pedido, mas em teoria existe e acredito que possa ser útil a muita gente nesta altura, sobretudo a quem já leva muitos anos de casa e certamente faz questão de manter a sua antiguidade. Se alguém sabe mais sobre esta possibilidade, aproveito para pedir que o partilhe na caixa de comentários.
Quando vamos ao estádio não queremos pensar no estado do país, antes pelo contrário; queremos esquecê-lo por um momento e concentrar-nos em algo que nos faz felizes, na companhia de pessoas com quem nos sentimos bem. Mas isso não significa que o clube possa ou deva ignorar aquilo que se passa nas nossas vidas do torniquete para fora. O clube sabe que a nossa vida não está fácil. E sabe que, embora muitos de nós coloquemos o FCP bem perto do topo das nossas prioridades e façamos grandes sacrifícios para continuarmos a estar presentes, as coisas estão cada vez mais difíceis. Sabendo tudo isso, e sabendo que é uma força social capaz de ter um impacto real no estado de espírito e na motivação das pessoas, o nosso clube devia dar o exemplo e baixar significativamente os preços dos bilhetes. Significativamente, mesmo. Como quem diz: venham. Vamos lotar o Dragão, cantar pela nossa equipa e ser felizes por hora e meia. E encher os pulmões do ar frio da noite tripeira, que nos revigora e encoraja para a luta que é cada dia.
Reparei em muitas pessoas pouco familiarizadas com o estádio, possivelmente por lhes ser financeiramente difícil comprar bilhetes. Estes momentos são importantes não apenas pela possibilidade de vermos os nossos ídolos num contexto mais descontraído, mas também pela oportunidade proporcionada a essas pessoas, que são uma parte fundamental do FC Porto. E que são cada vez mais. A cada dia há mais um caso de um amigo, um familiar, um amigo de um amigo que perdeu o emprego, que teve de fechar o seu pequeno negócio ou que, depois de centenas de currículos enviados sem resposta, ficou sem subsídio. Ou que mantém o emprego, mas com os cortes e o aumento de impostos tem de começar a ter mais cuidado com as despesas. A certa altura, a quota de sócio começa a ficar desactualizada. Quem tem lugar anual precisa da quota em dia para entrar no estádio, mas quem não tem vai deixando passar: o dinheiro mal chega para o estritamente necessário. Num piscar de olhos, passaram 6 meses. E 60 euros é muita coisa.
Quando vamos ao estádio não queremos pensar no estado do país, antes pelo contrário; queremos esquecê-lo por um momento e concentrar-nos em algo que nos faz felizes, na companhia de pessoas com quem nos sentimos bem. Mas isso não significa que o clube possa ou deva ignorar aquilo que se passa nas nossas vidas do torniquete para fora. O clube sabe que a nossa vida não está fácil. E sabe que, embora muitos de nós coloquemos o FCP bem perto do topo das nossas prioridades e façamos grandes sacrifícios para continuarmos a estar presentes, as coisas estão cada vez mais difíceis. Sabendo tudo isso, e sabendo que é uma força social capaz de ter um impacto real no estado de espírito e na motivação das pessoas, o nosso clube devia dar o exemplo e baixar significativamente os preços dos bilhetes. Significativamente, mesmo. Como quem diz: venham. Vamos lotar o Dragão, cantar pela nossa equipa e ser felizes por hora e meia. E encher os pulmões do ar frio da noite tripeira, que nos revigora e encoraja para a luta que é cada dia.
Enid, mais uma vez um post muito pertinente. Sei de várias pessoas que, umas já suspenderam o pagamento de quotas, outras estão a pensar fazê-lo e mais alguns, como eu, reduziram as idas e viagens ao Porto para assistir a jogos das nossas equipas.
ResponderEliminarÉ um problema geral a que, como bem dizes, o Clube não pode alhear-se. Como a primeira coisa que um sócio e/ou adepto faz é ir a menos jogos (ou a nenhum…), a redução do preço dos ingressos torna-se imperiosa. Nas assistências no Dragão cada vez mais se nota a diminuição de espectadores. Não tenho dúvidas que se nada for feito a tendência se acentuará.
Abraço.
Concordo inteiramente que o problema nas assistências no Dragão é algo que não pode passar despercebido aos altos responsáveis do clube.
ResponderEliminarNa primeira metade desta época, a equipa passou tranquilamente aos oitavos da champions, partilha a liderança desde praticamente a 1ª jornada e, em minha opinião, pratica um futebol de qualidade razoavelmente superior ao que vimos na época passada por esta mesma altura.
Dito isto, parece-me como sempre me pareceu, que a quebra de assistências no Dragão tem muito mais a ver com grave crise económica do país do que com a qualidade do futebol apresentado (que segundo alguns é o principal motivo de afastamento de público do Dragão).
Urgem por isso medidas de redução de preços de modo a mitigar essa quebra de espetadores decorrente da grave crise em que vivemos. Acredito que os responsáveis da SAD tenham a perfeita consciência de como o contexto do país pode influenciar a afluência de público aos jogos do FC Porto, e deste modo afectar a receita de bilheteira.
Percebo que a alteração de preços pode também influenciar fortemente a receita de bilheteira, mas no limite há sempre um simples raciocínio que não se pode esquecer: é preferível ter 40.000 pessoas a um preço de 10€, do que ter 20.000€ a um preço de 20€, apesar da receita final de bilheteira ser a mesma.
Em suma, é um problema que seguramente não pode passar em claro a quem de direito.
caríssima Enid, caríssimas(os),
ResponderEliminar(com)partilho convosco a minha experiência de vida.
em tempos idos, fui sócio e posteriormente com lugar catiBo (situação que durou cinco anos - os dos penta). porque comecei a trabalhar ao final-de-semana para pagar os estudos, deixei de ser sócio catiBo. depois, e porque a minha família tem parcos recursos económicos também deixei de ser associado (pois não tinha como pagar as cotas) - situação actual, sendo que agora já não sou solteiro e mau rapaz e tenho um filhote para cuidar.
este ano de 2013 vou assistir ao próximo encontro no Dragão pois um Amigo emprestou-me o seu cartão de sócio. o bilhete custou-me cinco euros - um preço que considero aceitável. já o ingresso mais em conta para o público em geral custa doze euros - mais do dobro. não fosse esse meu Amigo e ficaria em casa, a ver o jogo via net, num qualquer streaming manhoso...
provavelmente será o único jogo a que irei assistir. a última vez que fui ao dragão foi em Abril de 2012, para assistir ao FC Porto vs. Beira-Mar...
conclusão:
para quem aufere um vencimento não superior a oitocentos euros mensais, e tendo em conta as despesas fixas, dez euros a cada quinze dias faz muita diferença na carteira - situação que se agrava para quem é associado, pois tem que pagar cotas e/ou lugar anual (mais deslocações).
é como já foi referido e bem: o clube necessita de repensar seriamente a sua política de preço dos ingressos pois vale bem mais preencher as bancadas com adeptos e ter a mesma receita do que com os preços actuais.
(esta situação não colide, a meu ver, com o facto de pretendermos o melhor para o nosso clube e, assim, desejarmos sempre um melhor plantel do que o da época anterior).
somos Porto!, car@go!
«este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!
saudações desportivas mas sempre pentacampeãs a todas(os) vós! ;)
Miguel | Tomo II
Testemunho muito realista, vindo do coração, do Miguel. Por mim, agradeço-lhe a extraordinária sinceridade.
ResponderEliminarÉ que isto faz-me lembrar algumas barbaridades sobre portismo que se ouvem por aí... Eu sou polémico onde há polémica... E fico-me por aqui.
Grande abraço, Amigo Miguel.
BIBÓ NOSSO AMADO CLUBE!
Pois é interessante que seja preciso vir quem de fora da administração lembrar um assunto que deveria ser uma preocupação dela mesmo... Nestas questões dos preços, eu até entendo que em certos locais o preço é a única forma de travar o abandalhamento; em hotéis, em saunas, em teatros...etc. Por muito que nos custe, a verdade é que o que não é pago não é cuidado. (Salvo honrosas exceções). Mas, em relação a ter um estádio cheio com bilhetes a 6 euros ou metade cheio com bilhetes a 12 não entendo a diferença.... (-será o preço dos stewards ou do policiamento? Será que assim se pode convencer os jogadores que os salários têm de ficar como estão??)
ResponderEliminarDe qualquer modo a questão dos sócios - também acontece com os "até 18 anos" que pagam metade e logo que fazem 18 têm de pagar por inteiro, como se aos 18 começassem a trabalhar e tivessem nas suas prioridades pagar as quotas - teria de ser analisada de outra forma. Eu que estou como muitos, à espera que os dias de pouco acabem, na última vez que fui ao Dragão, paguei bilhete inteiro, porque os que eram sócios e me emprestavam o cartão, deixaram de pagar quotas...E, um a um, nem os amigos dos amigos dos amigos. Uma razia.
Pergunto: e na administração não se vê isto? Isto só os preocupa, mas não tomam medidas?
Obrigada pelos vossos comentários, que só reforçam a minha ideia de que o problema é transversal, todos temos passado pelo mesmo ou conhecemos quem esteja nessa situação. Até conheço quem tenha oferecido quotas como prenda de aniversário, para que o presenteado não perdesse a condição de sócio. Sobre a suspensão do pagamento para desempregados ninguém parece saber nada. Qualquer dia talvez tente lá ir informar-me, embora tenha o palpite de que também não saberão de nada.
ResponderEliminarA questão dos 18 anos referida pela reine margot também é importante, tal como a das crianças, que com apenas 3 anos já têm de pagar bilhete inteiro (antes disso não podem entrar)!
Só o clube não vê, ou não quer ver, que as coisas têm de mudar. E, como dizem o Miguel e o Dragão Azul Forte, isso não significa que queiramos um clube com menor orçamento e equipas mais fracas. Além da bilheteira não ter assim tanto peso nas contas, é preciso sempre aplicar a matemática do RCBC: metade do estádio a x euros ou o estádio inteiro a x/2? Já para não falar nos óbvios benefícios não directamente financeiros de encher o estádio - mais apoio, melhor ambiente, mais interesse, maior facilidade em cativar adeptos jovens, etc. Quando voltarmos a tempos melhores, esses adeptos continuarão cá, ao passo que se passarem estes anos sem poder ir ao estádio há uma boa probabilidade de se desinteressarem.