22 março, 2013

Direitos e deveres

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

Não tiveram força, não honraram a camisola nem a nossa cor azul. Em Málaga, tal como na Madeira, não se viu o que pedimos no cântico que não nos cansámos de entoar na curva. Na realidade, o verdadeiro, o único Porto que esteve no Estádio La Rosaleda foram aqueles quase dois mil que encheram a bancada sul do La Rosaleda. Outro, o que andou lá em baixo, no relvado, não foi, definitivamente, o Porto.

Um Porto sem garra, sem atitude, sem chama, sem nada. Um Porto que não foi Porto, um Porto que ninguém merecia ter visto, sobretudo aqueles que largaram, largam e largarão sempre tudo para o ver. Aqueles que deixaram a família em casa, que faltaram ao trabalho, às aulas ou tiraram férias do emprego de propósito para os apoiar. Aqueles que depois de uma terça-feira de trabalho, só tiveram tempo para arrumar a mochila, abastecer a lancheira, rumar ao Dragão para, ao fim de mais de uma hora ao frio, se fazerem à estrada. Aqueles que percorreram quase mil quilómetros em meio-dia, sentados numa cadeira de autocarro sem conforto e sem saber o que é dormir, para chegar ao destino, almoçar no centro da cidade e entrar no estádio duas horas antes do início do jogo. Aqueles que pagaram 45 euros para ver 14 camisolas roxas – nem sequer eram azuis e brancas! – a desfilar pelo relvado durante os 94 minutos em que transformaram o nosso sonho em pesadelo. Aqueles que estiveram uma hora ao frio à espera que os ‘coños’ espanhóis nos deixassem entrar para a camioneta e enfrentar uma dolorosa viagem de regresso, com uma enorme dor na alma. Aqueles que chegaram ao Porto, completamente extenuados, 33 horas depois de o terem abandonado, avistaram o mais belo estádio do mundo iluminado pelo sol invernoso da manhã e, sem quaisquer arrependimentos ou lamúrias, desabafaram com os próprios botões: “Nunca mais é domingo!”.

Esses, sobretudo esses, não mereciam aquela miséria. Esses, que fazem os possíveis e os impossíveis, para estar em qualquer lado, em qualquer estádio só para os apoiar, mereciam ter visto o Porto das gloriosas noites europeias, capaz de se transcender e olhar qualquer adversário nos olhos, o Porto que tantas alegrias nos tem dado. Esses, que depois dessa jornada negra voaram para a Madeira ver aquela desgraça, não vos podem exigir sempre a vitória – afinal, somos todos humanos -, mas têm o direito de vos exigir sempre o dever de lutar por ela. Esses não vos podem exigir que sejam campeões, mas têm todo o direito de vos exigir que lutem por isso até ao fim como verdadeiros dragões.

4 comentários:

  1. Mais uma vez, uma grande prosa, Farpas. Partilho da tua dor. Acreditemos no título até ser impossível.

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  2. A equipa tem os seus deveres (e falhou) mas os adeptos também os têm (e falharam, igualmente). Infelizmente, pelo que se tem ouvido, muitos dos que lá foram "apoiar" também não honraram o nome do clube ao vandalizar e a roubar gente honesta. Mal esteve a equipa em campo e os adeptos fora dele. Seria interessante ouvir de quem lá esteve o que verdadeiramente se passou.

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  3. Quando fazemos comentários desde o conforto do nosso sofá, facilmente fazemos julgamentos, dizendo coisas como "os adeptos falharam nos seus deveres".
    Este pseudo anti-nacionalismo bacoco, poderia ter sido utilizado para fazer críticas ás recorrentes investidas de adeptos de diversos clubes espanhóis sempre que se deslocam ao Porto ou quando somos nós a lá ir.
    O que fizeram os pacíficos malaguenhos na nossa baixa 3 semanas antes?? Isto para não falar em adeptos do Sevilha ou do Atlético de Madrid.
    A frequência com que carros de matrícula portuguesa são vandalizados EM QUALQUER ESTÁDIO ESPANHOL, a atitude provocatória e insultuosa da polícia para os portugueses portistas (o que acontece aos outros, não sei), deveria isso sim ser crítica...mas não, quem não sai do conforto do seu sofá, quem julga que ir ou não é a mesma coisa, quem julga que tem a mesma frustração ao perder estando ou não a 1000kms de distância, é de quem sente vos pés quentinhos e muda de canal de televisão quando o jogo acaba.

    Acrescento apenas, e para que fique claro, que não defendo quem vandaliza restaurantes...não julgo é uma mole humana de 2 mil pessoas, pelo que 20 ou 30 fizeram. Generalizar nos adeptos a postura geral do comportamento dos nossos atletas, é criticar por criticar.

    VIVAM OS NOSSOS ADEPTOS QUE NÃO ABANDONAM A EQUIPA E LHES VÃO MOSTRAR AOS ESTÁDIOS E AEROPORTOS QUE PODEM BRINCAR COM MUITA COISA, MAS NUNCA COM O NOSSO BRAZÃO E MANTO ABENÇOADO!!!

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  4. entre "direitos e deveres", cabe a nós, adeptos de todas as horas, dizer "presente" e estar lá para apoiar... a partir dali, já não depende exclusivamente de nós, mas tb do contributo da equipe.

    agora, se dependesse exclusivamente de "nós", era tudo tão, tão mais fácil... resta-nos, fazer a nossa parte... e cada qual, faça a sua.

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