A guerra ainda não acabou

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Depois de um fim-de-semana negro, depois de terem perdido em andebol, em voleibol e empatado em hóquei em patins, ainda guardava uma réstia de esperança, lá no fundo, de poder ver acontecer-lhes o mesmo no futebol, apesar das capelas que pudessem aparecer, apesar dos jogadores que pudessem comprar, apesar do perfume a urina com que eles se empestam desde que a época começou – como se diz por cá, eles têm tido muita ‘mijeira’.

Mais uma bola no poste, mais um penálti oferecido, desta vez não com uma capelada escandalosa, mas com uma lambreta habilidosa que acelerou em mostrar cartões amarelos aos jogadores da casa para ver se conseguia expulsar algum o mais cedo possível. Não conseguiu, mas também não foi preciso, porque os amigos são para as ocasiões e os amigos do senhor Pereira da Madeira compensaram toda a irreverência mostrada na primeira parte com uma despudorada generosidade na segunda.

Só poderia estar a delirar, de facto, ao acreditar que aquele empate duraria mais 22 minutos. Chamem-lhe ingenuidade, burrice. Eu prefiro chamar-lhe fé, um balão de fé que se esvaziou em segundos no exacto momento em que aquele imbecil meteu a bola onde não devia. Podia ter desviado para o poste, para as mãos do guarda-redes, podia ter desviado a bola para a ‘porra’ da linha de fundo, mas não. Tinha que ser para ali, para a zona proibida. Logo ali, naquele estádio, onde pela primeira vez comecei a temer o que não cria que pudesse acontecer. Logo ali, naquela baliza, onde devia ter entrado aquela bola chutada pelo Jackson no penálti e que assim nos permitiria estar, a esta altura, ávidos e esfomeados, à espera deles, no Dragão, para os esmagar e voltar a festejar um título no focinho deles.

Meus amigos, tal como para o nosso (ainda) treinador, que na inenarrável conferência de imprensa de ontem decidiu atirar a toalha ao chão, para mim, o sonho morreu. Mas a guerra não acabou. Para a semana, tal como há três anos, com o Dragão a abarrotar, não quero apenas ganhar, quero matá-los durante o jogo, porque recuso-me a pensar na hipótese de poder haver sangue depois dele. É que aqui não se brinca nem com água nem com luzes apagadas. Aqui é o inferno prometido.

Não quero espumar mais raiva. Já me basta a que vou espumar durante a próxima semana. Por agora, vou fazer um retiro de três dias à ilha onde há um ano estava, com o meu irmão, a brindar com poncha a mais um título e onde agora esperava poder começar a festejar a outro. Pelo menos, poncha vou poder beber, mas desta vez, será mesmo para esquecer.