16 junho, 2013

Tudo por Tri. Vamos para Tetra!

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Falar desta época sem se nos desenhar imediatamente um sorriso nos lábios é difícil. De facto, atendendo a toda a conjugação cósmica de acontecimentos no final da época, desde o histórico e inesquecível golo de Kelvin, passando pelos títulos de andebol e de hóquei em patins festejados no Dragão Caixa e terminando no decisivo jogo de Paços de Ferreira, este foi mais um ano de ouro para o FC Porto.

Olhando agora para trás, cada portista sentirá, bem lá no fundo, que tudo estava escrito nas estrelas. Que todas as provações que a sua equipa de futebol iria passar tinham um motivo e uma razão de ser. Impossível não estarmos agradecidos aos deuses do futebol.

Eu, então, fui um feliz contemplado. Pude escrever crónicas quase todos os fins-de-semana aqui para o BibóPorto e “cobri” o jogo do título em Paços de Ferreira. Acompanhar esta época a par e passo foi um privilégio que só tenho que agradecer.

Como referiu certa vez Vítor Pereira, a sorte dá muito trabalho. Desde logo porque a equipa técnica se viu a braços com uma equipa muitíssimo jovem e inexperiente. Se hoje parece consensual que Mangala, Alex Sandro e Jackson representam literalmente dinheiro em caixa num futuro mais ou menos próximo, no início da temporada eram muitas as dúvidas que recaíam sobre determinados jogadores. Além disso, o facto de não haver substitutos para as laterais, obrigou o ex-treinador portista ao malabarismo de adaptar em dados momentos os centrais à posição de lateral. Funções onde quer Maicon, quer Mangala se saíram particularmente bem e sem registos de preocupações.

Já aqui destacamos Mangala. Seria impossível não nos referirmos a esta força da natureza, a este poço de força sobrenatural, que faz com que a impulsão de Bruno Alves pareça banal ao seu lado. A sua capacidade de recuperar metros quando a bola era endossada para as costas da defensiva retiraram muitas dores de cabeça a Helton. Além disso, impôs-se facilmente no campeonato nacional fazendo uso do seu poderio físico, chegando a parecer um Golias à solta sem o menor indício de um David. A forma altiva como sai a jogar, aliada a uma marcação duríssma, na senda daquilo que costuma ser designado por um “central à Porto”, conquistaram a massa adepta portista.

Mas a meu ver o patrão da defesa foi outro, muito embora assuma não ser o meu jogador de eleição. É tempo de assumir sem rodeios: que grande época fez Otamendi! Imperial no jogo aéreo (apesar da altura), fantástico na marcação homem a homem, exímio nos carrinhos, incansável na pressão alta, magnífico nas antecipações, foi ele o patrão da defensiva. Complementou-se com Mangala, permitindo que o FC Porto pudesse jogar adiantado no terreno. Se por um lado o francês consegue ir buscar os avançados que se aventuram em terrenos mais perigosos, o argentino é capaz de “varrer” as jogadas logo no meio-campo adversário. Foi, assim, uma dupla de centrais clássica e digna dos pergaminhos do FC Porto.

Para o ano, assumindo que continuará a “solitária” imposta a Rolando, espera-se uma maior concorrência de Maicon, assim as lesões o poupem. Aliás, parece-me muito possível que a Direcção encare como aceitável a venda de um dos titulares da “zaga”, atendendo à qualidade já demonstrada por Maicon e à esperança depositada em Diego Reyes, que até poderá actuar na posição 6, dependendo daquilo que Paulo Fonseca entender e de como decorrer o processo em torno de Fernando.

As laterais parecem estar com dono. Se Alex mostrou ser um atleta de eleição, com selo de qualidade para vir a ser o melhor do mundo na sua posição, Danilo ainda não convenceu os adeptos portistas. E se é verdade que os 13M de euros pagos pelo seu passe pesam nos seus ombros e na cabeça dos adeptos mais exigentes, a forma como acaba o campeonato, sendo expulso na Mata Real com o jogo totalmente sob controlo, é o reflexo de grande parte sua época. Não se lhe detectaram grandes erros no seu posicionamento defensivo (ao arrepio do que se dizia dele), mas foi no momento ofensivo que revelou mais dificuldades, nomeadamente na incapacidade de progredir com a bola controlada e no facto de não conseguir esticar o jogo até à linha de fundo. A temporada de Danilo pode considerar-se globalmente positiva. O problema é que o termo de comparação é Alex Sandro. A notícia de que Paulo Fonseca quererá ver Fucile no estágio de pré-época, embora não agradando a quem não compactua com faltas de profissionalismo no FC Porto, poderá ser o tónico que faça agitar Danilo, logo ele que confessou deixar-se adormecer nos jogos menos importantes.

O trio centrocampista revelou-se essencial na conquista deste campeonato. Castro e principalmente Défour conseguiram actuar nessas posições, mas a batalha estava perdida à partida. Fernando, Moutinho e Lucho eram os detentores dos lugares. Realizaram temporada à altura dos seus estatutos. Fernando fez aquilo em que se devia concentrar mais vezes: jogar futebol ao invés de falar, seja por intermédio do Facebook, seja por intermédio do seu empresário. A sua permanência no Dragão, infelizmente, parece muito complicada e não me admiraria que o Presidente prefira perder uns milhões a ceder à chantagem de um jogador do plantel. Uma solução estilo Rolando não me parece posta de parte. De realçar ainda a classe e a entrega do nosso grande Capitão, jogos a fio como o jogador que mais quilómetros percorreu em campo, o que diz bem da sua temporada. Moutinho confirmou todo o seu potencial, de forma mais amadurecida, carimbando justamente o passaporte para um contrato milionário, naquela que consubstancia juntamente com James Rodriguez mais uma transferência choruda para os cofres da SAD.

Em boa verdade se diga que o prodígio colombiano, por seu lado, não fez por justificar uma transferência tão sonante. Contrariamente ao que se lhe pediu, não foi capaz de ocupar o lugar de Hulk como figura maior da orquestra atacante portista. Sai como mais um grande talento que passou pela cidade do Porto, sem nunca confirmar toda a magia e categoria que dele se esperava. Em todo o caso, foi um prazer ver James Rodriguez com a camisola azul e branca.

Os outros avançados não deram nunca garantias a Vítor Pereira. Se Varela apenas surgiu em grande plano já no final da temporada, Atsu, Kelvin e principalmente Iturbe nunca foram capazes de se assumirem como alternativas válidas. É certo que o ganês e o brasileiro tiveram os seus momentos interessantes, mas a verdade é que ninguém apostaria que seria Kelvin a resolver os jogos frente ao Braga e frente ao segundo classificado. O futebol tem destas coisas imponderáveis e Kelvin será dos três o único a manter-se no plantel portista, muito embora fosse aquele que partisse na posição menos vantajosa. Atsu e Iturbe, pelas palavras que foram tendo ao longo do ano, dificilmente voltarão a vestir a nossa camisola.

O defeso indicia uma viragem na política de contratações do clube. Se Reyes e Herrera assumem a face da continuação da política anterior, já Licá e Carlos Eduardo parecem consubstanciar o regresso a uma estratégia bem conhecida e frutuosa, a de recrutar talentos emergentes dentro de portas e depois catapultá-los para altos voos. Vêm-nos assim à cabeça Paulo Ferreira, Bosingwa, Derlei, Pedro Mendes, Zahovic, Capucho, Drulovic, entre muitos outros.

Já Ricardo e Tiago Rodrigues parecem ser mais apostas para o futuro do que para o presente imediato. Mesmo sabendo que Ricardo, em certas movimentações e imaginação em ampo faz lembrar Ricardo Quaresma e que Tiago Rodrigues, pelo dinamismo e qualidade no passe e remate se assemelha a João Moutinho, não nos parece estarem ainda à altura de integrar o plantel do Campeão Nacional. Carlos Eduardo mostrou qualidade interessante no Estoril, com muita imaginação, técnica e capacidade de fazer a diferença. Licá terá que se adaptar a um futebol de ataque continuado, sabendo que não terá metros para correr nas costas das defesas contrárias. Mas poderá estar aqui um talento a ser potenciado, fruto do remate fácil que detém e da baliza sempre em mira. Quem sabe mais um a ser colocado pelo nosso clube na Selecção Nacional.

Assim sendo, prevê-se interessante a luta pela titularidade no meio-campo. Se Moutinho e James já estão com os dois pés fora do Dragão, Fernando terá um pé e meio. Castro e Défour já têm rodagem, mas Carlos Eduardo e Herrera não deixarão os seus créditos por mãos alheias.

Parece ainda fazer sentido a contratação de uma real alternativa a Jackson, visto que Liedson nunca o conseguiu ser. Ghillas parece-me ser uma excelente opção e confesso aguardar ansiosamente pela conclusão desse negócio. Ghillas poderá crescer como jogador tendo à sua frente um ponta-de-lança da craveira do colombiano, a meu ver o melhor jogador em Portugal neste preciso momento.

Assim sendo, para esta nova época surgem muitas interrogações e poucas certezas. Vítor Pereira parte para o Al-Ahlly da Arábia Saudita mais amado do que quando entrou. O seu festejo no Dragão após o golo de Kelvin entrou definitivamente para a galeria dos momentos místicos do FC Porto. Derreteu, assim, o gelo que possivelmente ainda poderia persistir no coração dos mais frios adeptos portistas. A sua saída, ainda envolta em muitos pontos de interrogação, parece ter sido mal conduzida. Mas, como já se disse por aqui, obrigado Vítor e toda a sorte do mundo. Não será com certeza a última vez que nos encontraremos. E... venha o próximo! Paulo Fonseca entra, por seu lado, após realizar uma época a todos os títulos fantástica em Paços de Ferreira. Que ninguém duvide que este seu terceiro lugar e consequente acesso à Champions é tarefa tão ou mais difícil do que ter sucesso numa equipa como o FC Porto. Se Paulo Fonseca se conseguir habituar e moldar à estrutura, se perceber como as coisas funcionam no nosso clube, se souber conviver com a pressão diária de ganhar, as hipóteses de sucesso aumentam exponencialmente. As primeiras impressões são positivas, mas será jogo a jogo, fim-de-semana a fim-de-semana que terá que provar o que vale.

Para finalizar, impõe-se um agradecimento especial. Um obrigado à Manel, pela paciência e compreensão que teve comigo durante toda a temporada futebolística. Por ter saído de uma festa de anos e ter vindo comigo à Estalagem de Ofir para termos um local com acesso à internet para enviar a crónica. Por ter vindo comigo, já bem depois da meia-noite, para o frio de um Inverno tentar apanhar o wi-fi de um café já fechado em Alvarenga. Por ter acedido, não sem alguma discussão, a adiarmos um fim-de-semana por causa de um jogo decisivo. Pelos fins-de-semana em que fui para casa mais cedo fazer a crónica. Pelas noites em que fui ao estádio. Por aceitar isto que é gostar de um clube de futebol. Não digo compreender, porque é a pessoa que conheço para quem o futebol menos significa. Bem me esforço, desde que conheço a Manel, por fazê-la admirar ou sentir um pouco desta minha paixão. Desde a oferta de um cachecol, passando por inúmeros convites para assistir aos jogos do meu clube, até lhe contar histórias emocionantes de futebol, aquelas em que qualquer adepto fica com pele de galinha e sente as lágrimas virem-lhe aos olhos. Mas sem sucesso. No que toca a futebol, é a pessoa mais insensível que conheço. O que vale é que o futebol é uma coisa. A vida é outra!

Rodrigo de Almada Martins

4 comentários:

  1. Boas,
    Boa análise... e agora é esperar para ver o que reserva o futuro!

    Cumprimentos

    Ana Andrade

    www.portistaacemporcento.blogspot.com

    www.artigosonlineanaandrade.blogspot.com

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  2. Sou Luiz Sousa

    Parabéns pelo post, parabéns por todos os outros posts, parabéns por fazer parte de um excelente blogue que sabe falar de futebol e dos adversários com elevação e educação...se todos fossem assim tudo era mais agradável neste mundo da bola.

    Abc

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  3. Belo texto.Parabéns.Uma boa análise e um belíssimo agradecimento final,pelos vistos,a uma companheira.

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  4. Belo texto caro colega, no entanto deixo uma ideia...em todas as analises que leio sobre a composiçao do plantel para a proxima época ninguem se lembrou da possibilidade de Danilo jogar no meio campo, posiçao natural do jogador...Abraço a todo o pessoal PORTISTA..

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