08 agosto, 2013

Ruídos desnecessários

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E pronto, estão oficialmente terminados os jogos a “feijões” e a partir de sábado já é finalmente a doer!

Como tem sido (bom) hábito começaremos com a Supertaça, sinal de que fomos uma das equipas vencedoras da temporada passada. Como o passado já é museu (por falar nisso, nunca mais é 28 de Setembro…) é tempo de voltar a vencer, fazendo jus ao estatuto de campeão nacional face a um Vitória de Guimarães que está nesta final com todo o mérito mas bastante fragilizado pelas saídas de importantes peças da estrutura que os levou à histórica vitória na última Taça de Portugal. No entanto, como as estatísticas e as análises teóricas não ganham jogos, há que entrar no Estádio Municipal de Aveiro com o máximo de vontade e ambição, de modo a evitar surpresas que nesta fase embrionária da temporada são bem dispensáveis.

Entretanto, e enquanto não abrem as hostilidades, aproveito este meu texto para analisar um assunto que desde há 1 ano e meio tem sido recorrente no seio do FC Porto:

Lucho é finito?

Desde o seu regresso aos 31 anos que se tem falado recorrentemente na idade e na disponibilidade física do Capitão. Nesta pré-temporada tal não fugiu à regra, sendo que após a boa exibição do jovem reforço Quintero o assunto ainda ganhou mais força, voltando a assumir grande destaque pela bluegosfera e não só.

Ponto prévio: todos nós estamos sujeitos ao factor tempo, ninguém foge ao seu juízo. O futebol não é excepção e mesmo os ícones têm a sua hora de sair de cena. Inevitavelmente chega sempre o dia em que o Vítor Baía cede a baliza ao Helton, o João Pinto deixa de ser indiscutível face ao Secretário, o Emerson e o Paulinho Santos oferecem mais garantias que o André ou o Jorge Andrade suplanta o Aloísio, isto apenas falando de algumas das sucessões mais marcantes das últimas décadas.

E quanto ao Lucho? Será que faz sentido estabelecer desde já que chegou a hora do “render da guarda”, ficando o Capitão apenas como uma “reserva de luxo” e um líder de balneário?

Confesso que acho despropositada esta conclusão definitiva e este constante escrutínio negativo ao Comandante. Quem seguiu com atenção a época passada viu um Lucho quase omnipresente por força de um plantel curto em termos de centrocampistas, problema ao qual se juntaram as lesões sofridas por Fernando e Moutinho em determinadas fases da temporada. Mas, muito mais do que isso, viu um Lucho a desempenhar funções de liderança em quase todas as situações de jogo, capaz de ser a primeira linha de pressão sobre centrais e trincos adversários, jogando inteligentemente com os colegas de modo a oferecer soluções interiores ao James sem deixar a equipa “coxa” à direita e ainda compensando muitas vezes o Danilo e as suas subidas, para não falar das não raras vezes em que foi capaz de ser dos primeiros a recuperar no terreno depois de perdas de bola em lances de bolas paradas ofensivas. Se a tudo isto somarmos que foi dos que mais correu em todos os jogos que fizemos, somando 11 a 12 quilómetros por diversas vezes, porque será que se continua a questionar Lucho, como se este já estivesse quase acabado?

Em primeiro lugar acho que tal acontece porque o Lucho é dos jogadores mais difíceis de avaliar pela TV (onde a maior parte segue os jogos) pela quantidade de coisas que faz e que não aparecem nas imagens. Quem o vê ao vivo fica normalmente com uma ideia bem diferente dos seus jogos, habitualmente bem mais abonatória do que aqueles que acabaram de ver o mesmo jogo pela televisão. Sendo alguém habitualmente pouco vistoso, prático nas suas acções e cuja velocidade nunca foi um forte acaba por ser natural que assim seja, levando a tal maioria de pessoas que acompanham as partidas à distância a ter uma opinião menos favorável sobre o seu rendimento. Não se trata no entanto de uma novidade uma vez que tal já acontecia durante a primeira passagem pelo FC Porto, em que me recordo que a qualquer período menos bom da equipa se levantavam as vozes de que um dos maiores responsáveis era “o Lucho que estava em baixo de forma”.

O segundo motivo é óbvio, tem a ver com a idade. Portugal, ao contrário de Itália ou Inglaterra por exemplo, tem tido uma cultura de aposta quase absoluta nos jogadores mais jovens, contando-se pelos dedos os “trintões” que continuam a ser referências nos clubes grandes. No FC Porto esta realidade tem sido ainda mais marcante, sendo que situações como a do André (sempre dos mais utilizados até aos 36 anos) tornaram-se episódios de um passado longínquo.

Lucho tem 32 anos feitos em Janeiro, logo estará na idade certa para perder protagonismo no FC Porto segundo alguns… No entanto permitam-me uma comparação com outros centrocampistas europeus. Pirlo deverá deixar de ser uma peça chave na Juventus porque já tem 34 anos? E Xavi deverá passar a crónico suplente do Barcelona porque está com 33 anos? E Xabi Alonso no Real Madrid deverá ser menos influente porque está perto de completar 32 anos? Ou Steven Gerrard no Liverpool e Michael Carrick no Manchester United, com 33 e 32 anos respectivamente?

Como se pode ver tudo acaba por ser relativo e como tal não fazem sentido as análises unidimensionais, ainda para mais quando analisamos um jogador como Lucho Gonzaléz, um líder e uma referência para os seus companheiros, cujo futebol e influência no campo ainda são um importante activo do Clube. Sendo certo que os lugares ganham-se no dia-a-dia e que não pode haver cativos para ninguém, tudo indica que teremos mais uma época com o Comandante ao mais alto nível e com a vantagem de termos este ano mais soluções a meio-campo, o que trará a possibilidade de uma gestão mais favorável e sem a necessidade de sobrecarga que se viveu na temporada passada, fruto da menor profundidade do plantel.

É tempo portanto de acabar com estas análises redutoras, fruto de uma ideia pré-concebida e já completamente desactualizada no futebol ao mais alto nível, de que num plantel tem de existir uma divisão quase estanque entre titulares “eternos” e suplentes “absolutos”. Teremos muitos jogos e uma desgastante época pela frente e todos poderão ser importantes, razão pela qual se constitui um plantel com 25 ou 26 jogadores, cada um deles com o seu valor e a sua utilidade. E dentro deste plantel está naturalmente o Capitão Lucho González, um dos mais marcantes futebolistas do FC Porto do século XXI e cujas “noticias sobre a sua morte são manifestamente exageradas"!

Continuação de boa semana e vamos atacar a 20ª Supertaça!

4 comentários:

  1. Lucho finito? Claramente, não!
    Agora, a 10, quando temos Quintero? Quando começa a baixar o ritmo, ficar em campo, porque é o Lucho, quando temos boas alternativas? Claramente, não! Mas Lucho é muito mais que o figura apenas para o balneário. Pode ser 10 em determinados jogos, aépoca é longa, pode ser 8 e pode ser 6 com alguém ao lado. Uma vez escrevi que Lucho podia ser o nosso Pirlo, continuo a pensar o mesmo.

    Abraço

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  2. A posição onde o Lucho poderá ser mais útil já é outra questão, bem pertinente.

    Como nunca foi um 10 não me parece ser essa a melhor forma de rentabilizar as suas características. Subir no terreno aos 32 anos não me parece a melhor solução, normalmente os jogadores tendem a recuar à medida que os anos passam, daí que esta 1ª opção do Paulo Fonseca pareça meia contranatura mas ele terá as suas ideias e eu espero para ver o que ele pretende...

    De qualquer forma, e daí o meu texto, o que me parece abusivo é permanentemente andar a ler textos ou opiniões que assinalam que o Lucho seria neste momento um jogador desportivamente excedentário. Isso é que não me parece correcto, acho insultuoso até atendendo à última época.

    Obrigado pelo comentário, um abraço!

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  3. Acho que Lucho poderá brilhar muito mais este ano, simplesmente, porque vai poder jogar menos jogos e, assim, exibir-se sempre a um bom nível, ao nível a que nos habituou. Será, ao mesmo tempo, quando estiver a ser poupado,o tutor de Quintero.

    O problema que se coloca não é o da idade. É o do rendimento de Lucho a 10 e a possibilidade de, a curto prazo, ser ultrapassado pelo rendimento do Quintero nessa posição. Deverá, nesse caso, Lucho ir para o banco ou para 8? E o Herrera? El comandante vai ter que puxar pelos galões!

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  4. Na minha opinião o facto de alguns adeptos denegrirem o Lucho é também devido ao que chamo "renovação constante de ídolos". Esses adeptos estão sempre à espera de novas contratações sonantes, de jogadores que serão ainda melhores que os anteriores e quando um jogador está há algum tempo no clube já pensam que pode ir porque arranjaremos sempre outro melhor.
    Este modo de pensar é de alguma forma influenciado pela politica que o clube tem de renovação constante.
    Basta ver a reação de alguns quando o possivel 11 para a Supertaça possa não ter nenhum reforço (com Defour e Kelvin) pedindo já a a titularidade de Herrera, Josué e Quintero todos ao mesmo tempo deixando de lado Fernando (6 anos de clube) ou o próprio Lucho.
    No caso do Lucho, acho bem o FCP ter um jogador experiente porque ter um plantel jovem tem vantagens e desvantagens, uma das quais a inexperiencia nas andancias da Champions por exemplo.

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