13 outubro, 2013

Os Meus Destaques do Relatório & Contas de 2013

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

Tendo por base os dados preliminares enviados à CMVM, gostava de realçar os seguintes aspectos:

1- Para começar, o mais importante. Estamos perante um Relatório & Contas e não, como muitos dizem e escrevem, de um relatório de contas. Refiro isto para sublinhar que não se trata de uma só peça (as demonstrações financeiras a que vulgarmente chamam contas), mas sim de duas peças: a primeira é o Relatório de Gestão onde a administração da sociedade descreve a actividade desenvolvida no exercício e a sua evolução (aqui se integrando a actividade desportiva), e a segunda são as referidas Contas. Saliento este facto porque normalmente há a tendência para se discutirem as Contas do FCP-SAD como se tratasse de uma qualquer sociedade comercial cujo escopo principal é a obtenção de um lucro contabilístico. Ora, como bem sabemos, a FCP-SAD é uma sociedade desportiva que tem por objectivo maior a obtenção de títulos desportivos (no caso, o futebol) e onde o lucro financeiro é secundário (embora não despiciendo).

2- Assim sendo, o primeiro destaque vai para os resultados desportivos. Concretamente, o FCP-SAD alcançou o título de campeão nacional (aliás, tri-campeão), a Supertaça e passou a fase de grupos da Liga dos Campeões, tendo falhado a Taça de Portugal e a Taça da Liga. Globalmente, o ano foi positivo, embora como é apanágio neste clube se espere sempre melhor – em especial fica “atravessada” a derrota na final da Taça da Liga e a eliminação aos pés do Málaga.

3- O resultado líquido do exercício cifrou-se em 20.356 m€, muito acima das expectativas visto que a administração tinha orçamentado um resultado líquido de 11.503 m€. Contudo, convém não esquecer que no ano anterior o prejuízo foi de 35.763 m€, razão porque na média dos dois últimos anos o saldo ainda é bastante negativo. Refiro este facto porque, para efeitos do fair-play financeiro da UEFA, concretamente o critério do “break-even”, são considerados os resultados dos últimos anos (média), motivo porque se impõe que no próximo ano se continue com resultados líquidos positivos.

4- Ainda mais relevante que a descida do passivo total em 3.160 m€ (montante pouco significativo), é a diminuição da dívida financeira líquida em 26.594 m€. Trata-se de uma redução muito importante porque é esta parte do passivo que gera os juros suportados, e que nos últimos anos têm vindo a subir consideravelmente. Para se ficar com uma ideia do problema, constata-se que a rubrica “resultados financeiros” (onde se incluem os juros pagos) afectou negativamente os resultados do exercício em 9.122 m€ quando no ano de 2012 esse valor tinha sido de 7.857 m€. Se disser que estes 9.122 m€ são o saldo (isto é, já abatidos dos juros recebidos, nomeadamente do FCP-Clube ao abrigo do protocolo existente), fácil será concluir que os juros pagos já ultrapassam os 10 milhões de euros/ano.

5- Os proveitos operacionais (sem resultados de transacções de passes) foram 78.441 m€. Como os resultados de transacções de passes foram 76.445 m€ conclui-se que esta rubrica de mais-valias na venda dos direitos económicos de jogadores representa quase 50 por cento da totalidade dos ganhos. Como referi em artigo anterior esta dependência excessiva da venda de passes pode vir, mais cedo ou mais tarde, a revelar-se um forte constrangimento na gestão da SAD.

6- Por outro lado, como os custos operacionais (também com exclusão de transacções de passes) foram 96.585 m€, confrontando com os 78.441 m€ de proveitos operacionais, as contas revelam um défice de 18.144 m€ (resultado operacional negativo). Como estamos a falar de proveitos e custos operacionais sem transacções de passes, estes 18.144 m€ de défice devem constituir um objectivo a eliminar no futuro, seja pela via da redução de custos, seja pela via do aumento de proveitos ou seja pelo efeito conjugado dos dois casos.

7- Uma nota final para os custos com o pessoal que subiram de 49.595 m€ em 2012 para 54.065 m€ em 2013. Este valor está mesmo no limite do valor recomendado pela UEFA (70%) no fair-play financeiro. Como os proveitos operacionais foram 78.441 m€, estes 54.065 m€ representam exactamente 68.9% (54.065/78.441), motivo porque a administração da SAD não se pode distrair muito nesta área…


nota: o blog BPc agradece ao JCHS a elaboração deste artigo.

1 comentário:

  1. Joaquim da Fonte13 outubro, 2013

    O valor necessário, em transferências, para equilibrar o barco é assustador e mais assustador fica quando se percebe que este só terá tendência a aumentar uma vez que as restantes receitas não param de descer.

    Esta forma de sustentabilidade está seriamente ameaçada quando percebemos que nas duas últimas épocas temos vendido ouro para comprar latão.

    Acho que é pacífico dizer, que face às necessidades, tanto o Mangala como o Jackson sairão até ao final deste exercício.

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