O circo veio à aldeia

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Vou abrir o meu artigo de hoje com palavras que não escrevi, mas gostaria de ter escrito. Refiro-me a este texto no blog Portistas Anónimos, e em particular aos deliciosos dois primeiros parágrafos, que exemplificam a forma saudável como nós Portistas acolhemos a boca da “invasão à aldeia”, também por muitos associada à famosa aldeia do Asterix, invicta como a nossa, ou, como dizem os gauleses, "irréductible". A intenção era, obviamente, insultar-nos, chamar-nos parolos, atrasados, "bimbos" - possivelmente o insulto menos insultuoso que existe, e que cá no Norte, caso não saibam, é só pão de forma e mais nada. Mas mal estávamos nós se nos deixássemos insultar de cada vez que um xenófobo abre a boca ou uma faixa. Insulto, aqui para os aldeões, é o Norte ser das regiões mais pobres da União Europeia. Insulto é ficarem-nos com os fundos europeus destinados precisamente a essas zonas pobres, ao abrigo de uma alínea manhosa qualquer. Insulto é não nos permitirem gerir o nosso aeroporto em prol da nossa região. Com bocas foleiras podemos nós bem.

De qualquer forma, honra seja feita ao sporting, que teve a rectidão de reconhecer em comunicado que essa atitude demonstrou “mesquinhez regional”. O quê? Não era a isso que o comunicado se referia? Era aos cartazes para o Patrício? Mas então empunhar cartazes irónicos sem qualquer referência a regiões ou cidades, tendo como destinatário uma única pessoa, é mesquinhez regional, ao passo que chamar aldeia à segunda cidade do país e exibir uma imagem gigante de um leão a derrubar um símbolo dessa cidade não é? Pois, parece que é mesmo assim. Quem o diz é o gajo que pediu uma recepção hostil (em declarações incendiárias que não são novidade para as bandas da segunda circular e cuja gravidade foi novamente desvalorizada pelos media que temos) e depois veio choramingar porque uns meninos maus tinham uns cartazes feios. Para mim estas coisas são muito estranhas, mas talvez façam sentido em algum lugar. No sétimo, por exemplo.

Todo o comunicado do sporting é uma pérola, do princípio ao fim, e saúdo o meu clube por não o ter sequer dignificado com uma resposta. Não estive presente nas supostas situações mencionadas, mas quando o texto começa precisamente por colocar em causa aquilo que as imagens exibem de forma óbvia e que a polícia já esclareceu também inequivocamente - que o grupo não identificado que agrediu indiscriminadamente e sem provocação adeptos Portistas de todas as idades antes do início do jogo é de facto constituído por elementos afectos ao sporting - está visto o nível de honestidade por que o comunicado e a direcção que o emitiu se pautam. Aliás, tenho séria dificuldade em perceber o que sai mais maltratado daquela dissertação: se a verdade, se a língua portuguesa. Tenho o palpite que o comunicado foi redigido pelo mesmo génio que escreveu a magnífica faixa exibida no estádio pelos adeptos visitantes - não a "Obrigado SD; melhor imitação; por serem a nossa", que também era boa, mas a "Mantém-os sob tensão... cansa-os", que, de resto, o próprio comunicado cita incorrectamente ("mete-os sobre tensão e cansai-os"), eliminando o erro original mas introduzindo outros dois por sua vez, tudo numa frase tão curtinha, só para mostrar que nem os viscondes estão imunes ao flagelo da iliteracia.

E para fechar com chave de ouro, o sporting termina o comunicado a tentar explicar o que é ser um clube grande, que é mais ou menos o mesmo que eu vos tentar explicar o que é ser astronauta ou estrela de Hollywood. O nosso grande humor não desilude.

Para lá de todo este circo, o importante é que somámos mais uma vitória. Porém, deixámos ainda bastante a desejar, e um adversário mais capaz poderia ter-nos causado um dissabor. É de enaltecer, no entanto, a nossa reacção ao golo do empate, com a demonstração de uma atitude que espero ver com mais frequência daqui para a frente.

Esta equipa e este plantel têm um potencial imenso, que Paulo Fonseca está ainda a começar a explorar, mas já estamos em Novembro e não há tempo a perder. Se no campeonato a vantagem pontual já nos dá uma certa tranquilidade, na Liga dos Campeões toda a pressão está do nosso lado, e na Taça teremos um adversário difícil. Estou convicta de que esta vitória no clássico e a forma autoritária como desfizemos o empate, ultrapassando facilmente um momento que poderia ter sido de fragilidade, serão o tónico de que precisávamos. Agora é sempre a subir. Orgulho tripeiro, raça de Dragão, força grande Porto, vais ser campeão!