07 dezembro, 2013

Os Sete Pecados de Fonseca

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

Não é um António Oliveira, com décadas de futebol ao mais alto nível e de capitão e artista maior do FC Porto. Não é um Sir Bobby Robson, velha raposa do futebol internacional, com a chancela de seleccionador inglês. Não é um Fernando Santos, com anos e anos de futebol nacional. Não é um José Mourinho, com cultura de FC Porto e com estágio curricular internacional feito em Barcelona com as escolas de Robson e Van Gaal. Não é um Jesualdo Ferreira, com experiência nas selecções jovens, a solidez adquirida de muitos anos de profissão e respectiva consolidação e provas dadas em Braga. Não é um Villas-Boas, também com cultura de FC Porto, portuense, aprendiz de Robson e de Mourinho, em vários contextos e diferentes campeonatos. Nem sequer é um Vítor Pereira, com experiência de balneário no FC Porto e conviveu com um treinador vencedor de uma taça europeia para o FC Porto, representando de certa forma uma continuidade e não uma ruptura.

Paulo Fonseca chega ao FC Porto com mérito mas sem nenhuma destas vivências. Nunca vestiu a camisola do FC Porto, nem teve propriamente uma carreira de referência. Não foi estagiário de nenhum treinador de nomeada internacional. Não tem cultura FC Porto. Não acumula anos de experiência no campeonato nacional. Falta-lhe vivência, digamos. Terá outras competências, configura o self made man do futebol português, com carreira construída a pulso, do Pinhalnovense para o Paços de Ferreira, com um inacreditável terceiro lugar. Basta ver por onde anda hoje o Paços. Representa outro tipo de treinador, não o habitualmente recrutado para treinar o FC Porto. Aposta específica do Presidente que, continuo a acreditar, trará os seus benefícios.

Mas então o que está a correr mal? Todos nós portistas nos interrogamos. A SuperTaça fazia adivinhar um FC Porto de novo ao mais alto nível. Os cinco pontos de vantagem conseguidos idem. Mas, já perto do fim do ano, a equipa perde gás, perde força, perde sistemas, fica previsível, chata, presa, sem ideias, desleixada, desatenta, adormecida, sem chama do Dragão. Porquê? Que pecados cometeu Fonseca?

1 – Numa das primeiras entrevistas da pré-época, Fonseca referiu o facto de ser quase como um sonho treinar Lucho Gonzalez. Acreditamos. Para mim também seria. Mas não se diz. É uma nova versão de Quinito e do seu Gomes + 10. Erro crasso. Não fica bem. Logo depois, é Fernando quem diz que este treinador é mais próximo dos jogadores. Torci logo o nariz. Más notícias no horizonte.

2 – O anúncio alto e bom som, para quem quis ouvir, que ia mudar de sistema. Inverter o triângulo do meio-campo. Romper com quase uma década de trinco único. Costinha, Assunção, Fernando. E nós a pensar no duplo trinco de má memória (Paredes e Costinha). Como jogar com dois trincos se o Porto não tem extremos de categoria inconfundível? Como fazer isso sem ter um Capucho, um Sérgio Conceição, um Drulovic, um Quaresma ou um Hulk? Difícil, não? E Fernando, é homem para essas aventuras? Mas o homem não desiste e leva a sua àvante.

3 – Avisa que a nova posição de Lucho será a 10, mais adiantado, para fazer uso da sua capacidade de passe. Mas depois, afinal, Lucho é mais um pressionador de guarda-redes e de centrais adversários do que propriamente um 10 organizador de jogo. Corre quilómetros, cansa-se em demasia em tarefas defensivas e, na frente, recebendo sempre a bola pressionado e em locais congestionados, não consegue fazer a diferença. Perde-se um “oito” de classe mundial e ganha-se um 9,5 de nível médio. Desadaptado, sem jogo, quase a faer e segundo ponta-de-lança. Mudar-lhe a posição aos 33 anos? Para quê? E o pior de tudo é o fosso que se cria entre os dois lá de trás (Fernando e Défour/Herrera) e Lucho e Jackson. Uma zona de ninguém, sem preenchimento, à merçê dos adversários.

4 – A rotatividade no meio-campo assusta e confunde tudo e todos, desde adeptos a jogadores. Ora Défour, ora Herrera, ora Josué. Cada um à vez são testados no meio-campo. Continuidade zero. Dezembro aí está e nem há um onze base. Tanta rotatividade para quê e com que intuito? Mudar um sistema táctico já de si é difícil. Juntar a isso uma mudança de elementos só pode criar problemas adicionais.

5 – Insistência no erro. Perto do fim do ano fica claro que há jogadores que não se adaptaram a este sistema. Fernando e Lucho, apesar de manterem o nível, estão longe do que podem e sabem fazer. Défour perdeu-se como jogador. Herrera não consegue aparecer. Alex Sandro acumula erros defensivos. Otamendi e Mangala infantilizaram-se. Jackson parece outro. Fonseca nada vê, nada repara. O máximo que acede a mudar é o jogador que emparelha com Fernando. O 2-1 é para manter, nada de regressar ao trinco único. Insiste no erro. Jornais apontam, adeptos apontam, há assobios, lenços brancos e nada. Surdo face ao que lhe atiram os críticos. Às vezes mudar é sinal de inteligência.

6 – incapacidade em utilizar Ghillas e Carlos Eduardo. Herrera é bom, mas falta-lhe experiência europeia. Não estará parte da solução na equipa B em Carlos Eduardo? Estrela maior do Estoril, com qualidade para dar e vender, capacidade de passe, classe no um para um...porque não? E Ghillas, porque não entra? Se é forte, rápido, dava água pela barba sozinho no ataque do Moreirense a defesas inteiras, porque não entra nas contas para substituir o desinspirado Jackson? Pior não fica!

7 – Antes do jogo frente ao Nacional, diz Fonseca que está a treinar a finalização para tornar a equipa “quase perfeita”. Não percebe onde está o erro. Insiste em algo que não é de insistir. Não repara que a transição defensiva é miserável e continua a apostar numa tracção à frente, quando as equipas se constroem a partir da defesa. Finalização? Porquê se cada ataque adversário semeia o pânico na equipa?

Quo vadis, Fonseca? Se o Presidente confia, nós confiamos. Se Fonseca é o treinador do FC Porto, nós apoiamos o FC Porto, seja onde for, seja contra quem for. Mas estas dúvidas assaltam-nos. Serão estes sete pecados mortais? Eu espero que não. Nós esperamos que não. Assim saiba Fonseca mudar aquilo que está mal. Em frente, rumo ao TETRA. O Braga tem que ser a próxima vítima e iniciar um novo ciclo de vitórias. O momento é agora.

Rodrigo de Almada Martins

7 comentários:

  1. Estive a ver vídeos do nosso clube e encontrei este vídeo, vi-o há uns anos e na altura desejei tanto o regresso do nosso El Comandante. Apreciem :) http://www.youtube.com/watch?v=08hGBYXTWFY

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  2. Excelente texto e diagnostico.

    Abraço

    Castle

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  3. O nosso treinador deve ter lido este excelente texto ao intervalo e não é que jogamos como há muito não se via. O Carlos Eduardo é jogador de primeira, e melhor que o Quintero que não defende nada e já me está a parecer o Walter. Somos Porto sempre. Saudações Portistas.

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  4. Em resumo, e sem me querer sobrepor ao excelente texto de RAM, vamos ver se, finalmente, o Paulo Fonseca se deixa de invenções e abandona o erro sistemático que já nos causou a perda de 9 pontos. É esta a minha modestíssima opinião:
    - Não aos dois trincos;
    - Se jogar Fernando (trinco) não pode jogar Défour e vice-versa; é assumido – cada um deles é um trinco;
    - Herrera é um médio de ataque, que organiza jogo para a linha avançada; não pode jogar recuado, tem de jogar na posição em que se exibiu (muito bem) na 2.ª parte;
    - A equipa tem de ter flanqueadores efectivos; não importa que um seja Varela a meio-tempo e a jogar bem; que entre outro para a outra parte… a jogar bem…
    - Só eles e Herrera, Lucho, Carlos Eduardo ou Quintero poderão garantir, a tempo inteiro, o bom municiamento de Jackson; querer que Défour faça isso com permanente qualidade é uma asneira;
    - Requer-se intensa pressão sobre as linhas adversárias que caracterizou as grandes equipas “à Porto”;
    - As características de Maicon têm de ser aproveitadas; tal como Mangala, é um desequilibrador nato; deve é de ter cuidado nas recuperações para a defensiva…
    - Paulo Fonseca tem de arranjar soluções para alternativas ao sistema de jogo: 4-1-4-1, 4-4-2 ou 4-3-3 são válidos conforme o jogo e a situação perante o adversário.

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  5. Ahahah herrera nao pode jogar porque nao tem experiencia europeia mas carlos eduardo no primeiro ano de primeira liga ja tem. Lembro que herrera é internacional pelo mexico.. 2 grandes jogadores de futuro

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  6. Um pouco mais de azul...08 dezembro, 2013

    Nestes momentos confusos em que a equipa perde fulgor e tudo parece correr mal, somos presas fáceis de um curioso dilema: defender o grupo para lá de toda a lógica, evitando críticas e promovendo uma união "forçada" em torno de decisões em que não se acredita; ou dizer mal de uma ponta à outra, expondo jogadores, treinador e dirigentes à "vergonha" da derrota, como se o futebol não fosse também isso. No intervalo destas posições extremas aparecem alguns comentários bem articulados, como é o caso da crónica de RAM: pôr o dedo na ferida, mostrar a diferença de opiniões mas sem exigir o corte de cabeças. Penso também que ainda não se justificam medidas tão radicais. A época não tem sido brilhante, é um facto, mas lembrem-se que o ano passado ganhamos o campeonato no último minuto do penúltimo jogo.

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  7. Excelente texto.Muito bem elaborado.Muito bem analisado.Muitos parabéns ao que nos vem habituando.Leio sempre com ansiedade as suas crónicas,pois tal a veracidade delas.Jornalista do melhor que há em Portugal.Concordo inteiramente com o que diz.APAREÇA..............ensinaria muita gente....até a escrever com beleza sobre futebol....

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