21 novembro, 2014

HERRERA, PATINHO FEIO OU TALVEZ NEM TANTO.

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O ano passado, bem sabemos, não foi amostra de nada. Tratou-se de uma época atípica, muito por culpa do equívoco na escolha do timoneiro – Paulo Fonseca – como também da escolha de um plantel claramente limitado em termos de quantidade e qualidade para atacar os objectivos estabelecidos. Para não ir mais longe basta comparar os extremos do FC Porto de Lopetegui com os extremos do FC Porto do agora treinador do Paços de Ferreira. Um é servido com Brahimi, Tello, Quaresma, Adrian Lopez, Kelvin e Ricardo, enquanto que o outro começou a temporada com Varela, Licá, Kelvin, Ricardo e Josué por vezes a actuar colado à linha. Assim se vê facilmente que o fracasso do ano anterior não pode apenas ser imputado a Paulo Fonseca. Foi um falhanço claro do Presidente, desde logo porque a aposta no homem do Barreiro é sua (e desde há muitos anos se sabe que a escolha do treinador é algo de que o Presidente nunca abdicou), e também de toda a estrutura.

Portanto estamos de acordo que 2013/2014 não pode servir de padrão de avaliação para o que quer que seja. Quando muito será o expoente máximo do que não se deve fazer. Por isso, parece-me que as avaliações ao mexicano Herrera foram claramente e obviamente precipitadas. Ora vamos lá ver: Herrera vem do futebol mexicano e aterra no Sá Carneiro com a responsabilidade de fazer esquecer João Moutinho, apenas e só um dos melhores jogadores portugueses da actualidade. Jovem, é certo, mas com carradas de anos de experiência ao mais alto nível no futebol nacional.

Herrera sofreu, claro está, a pressão que Danilo e Alex já haviam sofrido. O preço, o preço, o preço. Caro para o que rende. Caro para tão fracas prestações. A preocupação com as finanças do FC Porto vira quase obsessão nestas situações. Até que chegou o Mundial e o mundo azul e branco, assim como o universo futebolístico nacional, viu finalmente o verdadeiro Herrera, um puro-sangue de força e potência capaz de carregar os mexicanos estrada fora, enchendo o pé para inúmeros pontapés-canhão, levando a equipa para a frente, comendo metros e metros, encurtando distâncias no relvado, tabelando, empurrando literalmente a equipa para a frente.

Porque é que este Herrera não aparece no FC Porto? Desde logo porque naquele FC Porto em específico ninguém aparecia, ninguém se destacava, ninguém conseguia jogar sem estar sob brasas. Herrera é um excelente jogador, mas não é, claro, nem Messi nem Cristiano Ronaldo. Não é um génio, mas é alguém que vai dar muitas alegrias aos portistas. Disso não tenho a mais pequena dúvida.

Lopetegui pode ser teimoso, mas de burro não tem nada. E é exactamente por isso que raras vezes abdica de Herrera no seu meio-campo. Ninguém duvide que o mexicano já tem lugar cativo no meio-campo portista e que dificilmente de lá sairá. É verdade que Evandro pode dar algo que Herrera não pode dar, mas com Oliver, Brahimi, Tello e Quaresma, parece-me inevitável que os músculos de Herrera e o seu pulmão vão fazer falta.

Recordo os leitores do BibóPorto que Herrera é, quase sempre, o jogador do FC Porto que mais quilómetros percorre em campo. Ele ajuda o trinco, ele tabela com o extremo, ele aparece na linha a responder à solicitação do lateral, ele faz falta, ele surge na área a fazer golo, ele vem buscar jogo, ele remata em arco para golos de bandeira (defesa de Patrício em Alvalade). Em suma, é um pau para toda a obra, um verdadeiro box-to-box sudamericano, capaz de galgar quilómetros como poucos em Portugal o fazem.

É tempo de esquecer o preço de Herrera. Vai claramente render aos cofres portistas muito dinheiro. Mas antes disso vai certamente dar alegrias à plateia azul e branca. Não é habilidoso? Não dá toques de calcanhar? Não sabe tabelar curto? O mundo não é feito de Xavis e Iniestas e, pela Europa fora, é claro que o tiki-taka agoniza no seu leito de morte. Herrera é o médio moderno, o box-to-box que a Europa aprecia, o carregador de piano do século XXI. Dizer mal de um jogador assim é blasfémia.

Rodrigo de Almada Martins

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