22 fevereiro, 2015

REALISMO.

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Na ressaca do Basileia – FC Porto muito já se disse e escreveu. Nada surpreendentemente, lá surgiram os habituais imparciais comentadores desportivos a salientar que o Basileia não passa de uma equipa de pouca envergadura, cuja falta de classe obrigava o FC Porto a golear. Não o tendo feito, estamos então perante um resultado aquém do exigível e revelador de que este FC Porto é banal...

Até aqui tudo normal. Ano após ano, campanha europeia após campanha europeia, para muitos dos opinion makers portugueses nenhum dos nossos adversários vale grande coisa. Recordando algumas das nossas grandes campanhas, a Lázio não passava de um conjunto de velhas guardas (mesmo que tenha “aviado” sem dificuldades uns meses depois o todo-poderoso S. L. Andor), o campeão inglês Manchester United estava em crise profunda, Lyon ou Corunha eram equipas sem história (como se isso jogasse à bola...) e o Mónaco, mesmo ganhando ao Real Madrid e Chelsea, era digno do campeonato de amadores.

No entanto, e como começa a ser triste hábito, logo surgem Portistas dispostos a embarcar nesta corrente, alguns deles envergando uma espécie de capa de imparcialidade e superioridade moral. “Eu não sou carneiro, não ando a bater no peito com o #somosporto, penso pela minha cabeça” tornou-se uma espécie de jargão numa espécie de Portismo hipster, que vê mais, pensa melhor e é o baluarte da exigência contra os adeptos folclóricos que só sabem bater palminhas. A luz sobre as trevas, portanto...

Como gosto de verdadeiro realismo e de analisar as coisas com alguma perspectiva histórica, aqui vai uma análise racional sobre o FC Porto na Europa e o significado de um empate fora em Basileia para os oitavos de final da Liga dos Campeões:
  • O FC Porto empatou pela 5ª vez fora do seu reduto numa fase a eliminar na Liga dos Campeões, num total de 14 jogos. Tirando uma vitória na Corunha, acumulamos empates nos terrenos do Man Utd (2 vezes), Lyon e Atl. Madrid e derrotas com Bayern, Inter, Málaga, Schalke, às quais se somaram outras, em forma de goleada, com o já referido Man Utd, Barcelona e Arsenal.
  • Com este resultado estamos mais perto de atingir os quartos-de-final pela 7ª vez na nossa longa história na Taça dos Campeões/Champions - 86/87, 90/91, 93/94 (embora não houvesse este modelo), 99/00, 03/04 e 08/09. Atendendo à juventude da equipa e à inexperiência do próprio treinador, bem como à evidente falta de bases sólidas num grupo cujos “repetentes” vêm da pior época desde 88/89 é bastante apreciável.
  • Quanto ao jogo propriamente dito, é indiscutível que soubemos jogar com personalidade e segurança num campo onde nos últimos anos caíram equipas como o Liverpool, Bayern, Chelsea e Manchester United ou mesmo um milionário Zenit. Em comparação, refiro apenas que nos últimos anos temos como cartão-de-visita no Dragão vitórias sobre o Arsenal, PSG e outra sobre o Shakhtar, perdendo ou empatando invariavelmente com as equipas do verdadeiro top da Europa.
  • Podemos questionar se jogamos no limite do nosso potencial, se a equipa foi perfeita? Não, não senti isso, mas não permitimos veleidades a um Basileia que nem com o golo madrugador mostrou capacidade de partir para um resultado que lhe permitisse uma viagem tranquila ao Porto.
  • Atendendo a que equipas do FC Porto bem mais experientes e experimentadas, algumas delas recheadas de jogadores à Porto, foram batidas (e por vezes goleadas) por adversários que estavam perfeitamente ao nosso alcance como PSV, IFK Gotemburgo, Tottenham, Croácia Zagreb, Aalborg, Sparta de Praga, para já não falar de Artmedia, Wrexham, Barry Town, Apoel ou mesmo um Floriana de Malta (ok, aqui foi apenas um empate), somadas a essa incapacidade actual de bater verdadeiramente o pé aos gigantes, faz com que ache injusto querermos que ao Lopetegui e à sua equipa seja assim de repente exigido aquilo que na verdade raramente fomos: um gigante que soma e segue, varrendo a Europa jogue onde jogar...
  • Ganhamos vários títulos e somos um dos maiores da Europa. Sim, é verdade, temos um palmarés soberbo, mas há que situar as coisas. Foram conquistas fantásticas, fruto de várias circunstâncias, lutas intensas em eliminatórias por vezes disputadas até ao último segundo, anos felizes com grandes equipas no momento e na hora certa. Andamos sempre por lá e soubemos aproveitar as grandes oportunidades, mas não somos daquelas equipas quase infalíveis, que praticamente ano após ano aparecem em quartos ou meias-finais como um Barcelona, Real Madrid, Bayern ou actualmente o Chelsea.
Por tudo isto, e sendo o mais realista possível, não entendo a desilusão que alguns sentiram com um empate fora nos oitavos de final da Champions. O futebol não é matemática (senão nunca teríamos o palmarés que temos), o Basileia está lá com todo o mérito e não devemos agir como outros por vezes agem connosco: com desprezo e arrogância.

Dito isto há que frisar que ainda nada ganhamos e mau era se o que fizemos até aqui fosse visto como suficiente para um FC Porto que desde 1984 domina em Portugal e frequentemente surpreende a Europa. No entanto não posso deixar de registar que, ao contrário do ano passado, temos tido uma equipa a evoluir e a ser capaz de se bater de forma digna pelos objectivos, algo que os Portistas devem registar.

Canalizemos a nossa atenção para outros cenários, para a (falta de) vergonha que grassa no futebol português e que nos impede de sermos primeiros num campeonato onde temos sido a melhor equipa. Essas sim são as preocupações que servem os interesses do FC Porto neste momento e quanto ao resto apoiemos Lopetegui e os seus rapazes que, atendendo às circunstâncias e mesmo com os erros naturais de quem ainda tem muito que aprender, tem conseguido paulatinamente reerguer o FC Porto depois do pesadelo que foi 2013/14.

Bom fim-de-semana e muita atenção ao jogo na Rotunda!

8 comentários:

  1. grande crónica por favor escreva mais vezes adorei

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  2. William Wallace22 fevereiro, 2015

    Correctissimo na sua análise !

    Depois do ano passado, evoluímos já muito e só não vê isso quem não quer (mesmo dentro de portas)

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  3. Aproposito do estado da arbitragem:

    Lanço UM DESAFIO à Blogosfera Portista ( e Foruns) :

    Repitam o que já fizeram ( e teve eco) aquando da "apitadela" , UNAM-SE e denunciem com os dados possíveis ( e são muitos ) esta "brincadeira"

    Se o FCP parece não ter uma estratégia para tal ( nem de forma indireta) então que sejam estas corajosas, diligentes, dedicadas e atentas "organizações" portistas que façam .

    E façam chegar (se possível) tal "trabalho" a tudo que é entidades importantes. E divulguem no.

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  4. Muito bom mesmo, está tudo dito nesta crônica...

    Bibó Porto

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  5. 5 estrelas! muito bom mesmo.
    O Porto realmente é uma equipa de futuro, tenho esperanças que para o ano estejamos mais fortes e mais coesos.
    Temos é de começar a pensar que este ano vai ser muito difícil ser campeão nacional.
    O clube do colinho, o clube do regime não pára de roubar um único jogo, incrível como foram poucos aqueles jogos em que não roubaram.
    VERGONHA
    Nem em segundo deviam estar.

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  6. E não esquecer as declarações do principal dirigente do Sporting....

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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