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O que ficou desta semana de FC Porto? Nada de muito importante a curto prazo, mas há acontecimentos que se podem revelar decisivos nos próximos anos. A alteração dos Estatutos do nosso clube não podia deixar, por isso, de ser o tema central destas linhas
Quem navega diariamente na bluegosfera sabe a celeuma que se foi criando nos dias que antecederam a Assembleia Geral, marcada como de costume sem grande alarido e publicidade. O ponto alto, porém, decorreu durante a tarde do dia do grande acontecimento, quando os portistas mais atentos tentavam adivinhar e opinar sobre as medidas que iam ser sujeitas a votação.
Da minha parte, após conversa com uns quantos portistas preocupados com este assunto, dirigi-me aos canais comuns do clube (página de contactos do website oficial) no sentido de obter os actuais Estatutos do clube. Para surpresa minha, obtive resposta imediata do Departamento Jurídico, tendo-me sido dada também uma cópia dos Estatutos que iam a votação.
Embora seja isto que se pretende e que deva ser normal, visto que sou sócio do clube há mais de 25 anos (já agora, onde pára a minha roseta?), não posso deixar de me sentir satisfeito pelo tratamento de que fui alvo, atendendo a que é público e notório que o clube está, a cada dia que passa, mais afastado dos seus sócios e adeptos, numa relação fria e impessoal, mais típica de uma mera empresa do que de um clube de futebol cujos sócios pagam religiosamente as suas quotas semestrais. Teria sido melhor e mais transparente, contudo, que os novos Estatutos tivessem tido uma maior publicidade antecipada, de forma a dar a conhecer aos associados as alterações que estavam em equação. Isso poderia ter sido feito quer através dos jornais de maior tiragem, quer através dos canais oficiais do clube na internet. Não faz sentido que, em pleno século XXI, na era dos Iphones e do mundo à distância de um polegar, as propostas sejam conhecidas e discutidas apenas no momento em que se realiza a AG. Ainda para mais às 20h a meio de uma semana de trabalho!
E já que se falou em quotas acima, aproveito para entrar já num dos assuntos mais quentes da semana. Foi aprovada uma alteração aos Estatutos, plasmando que os Grupos Organizados de Adeptos (vulgo as claques) possam passar a ter desconto nas quotas de associados. Esta introdução nos Estatutos parece vir ao encontro daqueles que vêm notando um cada vez maior peso da claque Super Dragões na estrutura do clube (ora são elementos da claque chamados para fazer de modelos a equipamentos alternativos, ora é o próprio clube a publicitar um evento de MMA onde participa o líder da claque). É que se é verdade que faz sentido que aqueles que acompanham a equipa todos os Domingos de Norte a Sul do país tenham acesso a descontos no preço dos bilhetes, já não parece fazer sentido impor uma descriminação no que toca ao valor das quotas face aos sócios do FC Porto que não pertençam às claques organizadas.
É verdade que um sócio há mais de 30 anos, desde que comprove a sua situação de reformado, pode a partir de agora ser isentado total ou parcialmente do pagamento de quotas, mediante decisão expressa da Direcção. O que parece ser injusto é, imaginemos, o caso de alguém que ande na casa dos 40, com 40 anos de sócio pagante, activo, ter de pagar mais pela sua condição de associado do que um qualquer superdragão com meses de associado. Dê por onde der, não faz sentido nenhum e apenas consigo ver a medida como uma forma de agradar ou de corresponder às expectativas de certos grupos influentes.
Os sempre defensores de toda e qualquer decisão do Presidente, dirão que nada foi definido de forma definitiva nos Estatutos, cabendo à Direcção o poder de decidir se há desconto em determinado ano para as claques ou não. Tudo isso é indesmentível, mas também é fácil de ver que se a alteração existiu por algum motivo foi, não sejamos anjinhos. Nestas coisas não há ponto sem nó e, conhecendo os protagonistas, atribuindo o tal famoso desconto num certo ano, quero ver quem será o herói que se atreverá a suprimir esse mesmo desconto nos anos seguintes.
Diga-se também em abono da verdade, que para se exercer o direito de voto numa AG do FC Porto, é necessário a partir de agora ter mais de um ano de sócio e não 3 meses; a possibilidade de ser-se eleito para órgãos sociais sobe de 1 ano para 5 anos; e para o cargo de Presidente esse número sobe de 5 para 10 anos. Estas alterações são bem vindas e aplaudem-se e vêm de certa forma proteger o clube face ao oportunismo que poderia surgir numa época pós-Pinto da Costa. Época essa para a qual o FC Porto e as suas gentes devem estar preparados, pois ninguém é imortal. À excepção do clube, obviamente. Que isso fique ciente na cabeça de muitos portistas que continuam a querer enterrar a cabeça na areia, qual avestruz que se recusa a ver o que se passa à sua volta.
Quanto melhor for pensado o período pós-Pinto da Costa, melhor e mais rápido o clube recuperará da sua saída, que – assumimos – será sempre difícil e complicada. Temos que estar preparados para viver tempos conturbados, assembleias gerais quentes e apaixonadas, confrontos eleitorais e de visões diferentes para o clube. Hão-de aparecer oportunistas candidatos ao lugar, outros a querer imitar o estilo do Presidente e ainda outros a querer transformar o FC Porto num clube simpático e, finalmente (pensam eles), conferir ao clube um estatuto nacional. Todos esses artistas vão aparecer, todos eles vão querer chegar ao poleiro, uns apoiados por uma certa guarda pretoriana, outros apoiados pelo grande capital, mas quase todos sem o mínimo conhecimento do que é o FC Porto e o que é que significa a sua mística. Vamos esperar que os sócios do nosso clube saibam distinguir, por entre o nevoeiro, quem são os “artistas” e quem são os homens que podem conduzir os destinos do nosso clube. De aventureiros estamos nós todos, no país, fartos. Tê-lo ao leme do FC Porto é totalmente dispensável.
De um ponto de vista jurídico, estes novos Estatutos parecem preparar o FC Porto para o período pós-Pinto da Costa. É claro o objectivo de blindagem do “forte” azul e branco contra os interesseiros habituais neste tipo de sucessões. No entanto, dão a ideia de se fechar algumas portas, para depois se abrir uma ou outra janela. E todos sabemos quem é que, nos últimos anos, mais tem estado presente nas Assembleias Gerais do clube. Não fica difícil imaginar como será a primeira AG do clube na era pós-Pinto da Costa.
Palavra final para pedir o vosso aplauso para o sócio do FC Porto que impediu que, no artigo relativo ao primeiro equipamento, se suprimisse a obrigatoriedade das “riscas verticais” por uma mera obrigatoriedade de se alinhar com as equívocas “cores normais do clube”. Uma vergonha de todo o tamanho, que esteve em risco de ser aprovada, pese embora a imediata concordância do Presidente à chamada de atenção desse sócio.
É que já basta que não se respeite, há muitos anos, a obrigatoriedade presente nos Estatutos antigos de envergar a camisola com 8 cm de comprimento das listas. Hoje em dia, temos de assumir, o FC Porto equipa um ano à Grasshoppers de Zurique e outro ano à Blackburn Rovers. E o mais grave é que isso parece não importar ao adepto comum.
Longe vai o tempo em que os jogadores da equipa das Antas, mesmo sem símbolo nas camisolas, subiam aos relvados e, obviamente, se sabia que aquela era a equipa do FC Porto. Haja respeito pela tradição e pelas camisolas do nosso clube, as mais bonitas que o Mundo inteiro já viu!
Rodrigo de Almada Martins
Quem navega diariamente na bluegosfera sabe a celeuma que se foi criando nos dias que antecederam a Assembleia Geral, marcada como de costume sem grande alarido e publicidade. O ponto alto, porém, decorreu durante a tarde do dia do grande acontecimento, quando os portistas mais atentos tentavam adivinhar e opinar sobre as medidas que iam ser sujeitas a votação.
Da minha parte, após conversa com uns quantos portistas preocupados com este assunto, dirigi-me aos canais comuns do clube (página de contactos do website oficial) no sentido de obter os actuais Estatutos do clube. Para surpresa minha, obtive resposta imediata do Departamento Jurídico, tendo-me sido dada também uma cópia dos Estatutos que iam a votação.
Embora seja isto que se pretende e que deva ser normal, visto que sou sócio do clube há mais de 25 anos (já agora, onde pára a minha roseta?), não posso deixar de me sentir satisfeito pelo tratamento de que fui alvo, atendendo a que é público e notório que o clube está, a cada dia que passa, mais afastado dos seus sócios e adeptos, numa relação fria e impessoal, mais típica de uma mera empresa do que de um clube de futebol cujos sócios pagam religiosamente as suas quotas semestrais. Teria sido melhor e mais transparente, contudo, que os novos Estatutos tivessem tido uma maior publicidade antecipada, de forma a dar a conhecer aos associados as alterações que estavam em equação. Isso poderia ter sido feito quer através dos jornais de maior tiragem, quer através dos canais oficiais do clube na internet. Não faz sentido que, em pleno século XXI, na era dos Iphones e do mundo à distância de um polegar, as propostas sejam conhecidas e discutidas apenas no momento em que se realiza a AG. Ainda para mais às 20h a meio de uma semana de trabalho!
E já que se falou em quotas acima, aproveito para entrar já num dos assuntos mais quentes da semana. Foi aprovada uma alteração aos Estatutos, plasmando que os Grupos Organizados de Adeptos (vulgo as claques) possam passar a ter desconto nas quotas de associados. Esta introdução nos Estatutos parece vir ao encontro daqueles que vêm notando um cada vez maior peso da claque Super Dragões na estrutura do clube (ora são elementos da claque chamados para fazer de modelos a equipamentos alternativos, ora é o próprio clube a publicitar um evento de MMA onde participa o líder da claque). É que se é verdade que faz sentido que aqueles que acompanham a equipa todos os Domingos de Norte a Sul do país tenham acesso a descontos no preço dos bilhetes, já não parece fazer sentido impor uma descriminação no que toca ao valor das quotas face aos sócios do FC Porto que não pertençam às claques organizadas.
É verdade que um sócio há mais de 30 anos, desde que comprove a sua situação de reformado, pode a partir de agora ser isentado total ou parcialmente do pagamento de quotas, mediante decisão expressa da Direcção. O que parece ser injusto é, imaginemos, o caso de alguém que ande na casa dos 40, com 40 anos de sócio pagante, activo, ter de pagar mais pela sua condição de associado do que um qualquer superdragão com meses de associado. Dê por onde der, não faz sentido nenhum e apenas consigo ver a medida como uma forma de agradar ou de corresponder às expectativas de certos grupos influentes.
Os sempre defensores de toda e qualquer decisão do Presidente, dirão que nada foi definido de forma definitiva nos Estatutos, cabendo à Direcção o poder de decidir se há desconto em determinado ano para as claques ou não. Tudo isso é indesmentível, mas também é fácil de ver que se a alteração existiu por algum motivo foi, não sejamos anjinhos. Nestas coisas não há ponto sem nó e, conhecendo os protagonistas, atribuindo o tal famoso desconto num certo ano, quero ver quem será o herói que se atreverá a suprimir esse mesmo desconto nos anos seguintes.
Diga-se também em abono da verdade, que para se exercer o direito de voto numa AG do FC Porto, é necessário a partir de agora ter mais de um ano de sócio e não 3 meses; a possibilidade de ser-se eleito para órgãos sociais sobe de 1 ano para 5 anos; e para o cargo de Presidente esse número sobe de 5 para 10 anos. Estas alterações são bem vindas e aplaudem-se e vêm de certa forma proteger o clube face ao oportunismo que poderia surgir numa época pós-Pinto da Costa. Época essa para a qual o FC Porto e as suas gentes devem estar preparados, pois ninguém é imortal. À excepção do clube, obviamente. Que isso fique ciente na cabeça de muitos portistas que continuam a querer enterrar a cabeça na areia, qual avestruz que se recusa a ver o que se passa à sua volta.
Quanto melhor for pensado o período pós-Pinto da Costa, melhor e mais rápido o clube recuperará da sua saída, que – assumimos – será sempre difícil e complicada. Temos que estar preparados para viver tempos conturbados, assembleias gerais quentes e apaixonadas, confrontos eleitorais e de visões diferentes para o clube. Hão-de aparecer oportunistas candidatos ao lugar, outros a querer imitar o estilo do Presidente e ainda outros a querer transformar o FC Porto num clube simpático e, finalmente (pensam eles), conferir ao clube um estatuto nacional. Todos esses artistas vão aparecer, todos eles vão querer chegar ao poleiro, uns apoiados por uma certa guarda pretoriana, outros apoiados pelo grande capital, mas quase todos sem o mínimo conhecimento do que é o FC Porto e o que é que significa a sua mística. Vamos esperar que os sócios do nosso clube saibam distinguir, por entre o nevoeiro, quem são os “artistas” e quem são os homens que podem conduzir os destinos do nosso clube. De aventureiros estamos nós todos, no país, fartos. Tê-lo ao leme do FC Porto é totalmente dispensável.
De um ponto de vista jurídico, estes novos Estatutos parecem preparar o FC Porto para o período pós-Pinto da Costa. É claro o objectivo de blindagem do “forte” azul e branco contra os interesseiros habituais neste tipo de sucessões. No entanto, dão a ideia de se fechar algumas portas, para depois se abrir uma ou outra janela. E todos sabemos quem é que, nos últimos anos, mais tem estado presente nas Assembleias Gerais do clube. Não fica difícil imaginar como será a primeira AG do clube na era pós-Pinto da Costa.
Palavra final para pedir o vosso aplauso para o sócio do FC Porto que impediu que, no artigo relativo ao primeiro equipamento, se suprimisse a obrigatoriedade das “riscas verticais” por uma mera obrigatoriedade de se alinhar com as equívocas “cores normais do clube”. Uma vergonha de todo o tamanho, que esteve em risco de ser aprovada, pese embora a imediata concordância do Presidente à chamada de atenção desse sócio.
É que já basta que não se respeite, há muitos anos, a obrigatoriedade presente nos Estatutos antigos de envergar a camisola com 8 cm de comprimento das listas. Hoje em dia, temos de assumir, o FC Porto equipa um ano à Grasshoppers de Zurique e outro ano à Blackburn Rovers. E o mais grave é que isso parece não importar ao adepto comum.
Longe vai o tempo em que os jogadores da equipa das Antas, mesmo sem símbolo nas camisolas, subiam aos relvados e, obviamente, se sabia que aquela era a equipa do FC Porto. Haja respeito pela tradição e pelas camisolas do nosso clube, as mais bonitas que o Mundo inteiro já viu!
Rodrigo de Almada Martins
@ ram.
ResponderEliminarparabernizar-te por um conjunto de apreciações tão lúcidas quanto as que aqui nos deixaste em relação ao famoso tema da alteração dos estatutos do fcporto.
foste curto, claro e sucinto. quem percebeu, percebeu. quem não percebeu, vai continuar a não perceber. nada a fazer quanto a isso.
três apartes apenas:
1. continuar em pleno século xxi a veicular ag's em formato papel, com distribuição por meia dúzia de cromos, é digno da mais popular mercearia da zona... cada qual, entenda como quiser;
2. agendar uma ag sem informar atempadamente os sócios do clube para o que vão, o que se propõe alterar, repito, "informar", já nem me pronuncio em fornecer toda a panóplia de papel com os artigos da nova versão dos estatutos, é digno da mais popular mercearia da zona... cada qual, entenda como quiser;
3. o meu estrondoso aplauso para o sócio que, uma vez não tendo chegado (?!), se viu obrigado por uma segunda vez a impedir (!!!) que, no artigo relativo ao primeiro equipamento, se suprimisse a obrigatoriedade das “riscas verticais” por uma mera obrigatoriedade de se alinhar com as equívocas “cores normais do clube”, mas, sem que se tire o mérito total e completo ao mesmo, era mesmo preciso que tal tivesse acontecido?! era mesmo?! respeito pela tradição e camisolas do nosso clube?! mas será que é preciso pedir isso?! é preciso impedir-se isso?! é preciso quase implorar pela concordância do presidente?! tá tudo doido!!!... cada qual, entenda como quiser;