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Pois continuei em hibernação profunda durante uns bons pares de dias. Um remanso retemperador. Eis senão quando, em finais da semana passada, comecei a oxigenar violentamente por força das notícias que vinham do exterior da toca, mais precisamente de um determinado ponto nevrálgico da Capital do Santo Império Lusitano (CSIL). Saí dela a rir-me como uma perdida. Orelhas alerta mas já não ursa. A vida já mais tolerável e menos pulha. Decidida a escrever uma crónica. Esta. Uma crónica com bolinha encarnada* no canto superior direito.
Todos nos lembrámos das últimas épocas do futebol português, de muitas das suas particularidades e encantos mil que incluíram túneis, árbitros de chuteiras emprestadas e um clube da Linha de Cascais a jogar em casa em pleno Algarve. E todos se recordam de como foi a época finda, certo? Pois, sim, sim, yadda, yadda. Já sabemos. Estavas bem calada. Foi horripilante de tão promiscua e batoteira e pornográfica e alarve e-faltam-me-mais-palavras-para-descrever. Desculpem voltar a tocar neste assunto que já tresanda e que queremos ver enterrado. Não querendo mexer mais na… na dita cuja, tenho de o fazer (com um pau devidamente esterilizado e mola na ponta do nariz) para tentar perceber a razão que nos levou a reagir assim e não assado, quando o assado era o ideal e aconselhável para não ficarmos fritos ou sermos cozidos. E COMO fomos!
Quando escrevo na segunda pessoa do plural, no “nós”, refiro-me obviamente à SAD do nosso Clube. O que levou a nossa SAD a agir da forma que fez? Ou melhor, a não agir? O que fez com que os nossos responsáveis ficassem mudos e quedos enquanto o país inteiro testemunhou um crime de lesa-pátria que só não o foi porque a maioria dos compatriotas é porcamente conivente e parcial com a Força que o perpetrou? O que motivou a os nossos directores a assistirem (aparentemente) impávidos e (aparentemente) serenos ao ataque semanal à nossa honra e dignidade? À pilhagem bruta e autêntica vergonha de que fomos alvo? O quê, bolas, o quê?!?!?!
A SAD Portista teve um Verão de 2014 muito activo. Desdobrando-se em negócios, em contactos e em contratos, fortalecendo de forma brutal a equipa, de tal modo que o país assistia de boca aberta ao desfile de craques anunciados. Parte dele de boca aberta e olhos brilhantemente estrelados, outra (bem maior) parte de boca aberta e olhos aterrorizados. Porque terá feito isso a nossa SAD? Por ambição desmedida e ataque puro ao campeonato que já nos fugira na época anterior? #RESGATE? Ou por já saber o volume, o alcance, a podridão do que nos esperaria?
Os comuns mortais cedo perceberam que a estratégia montada FORA das quatro linhas assentava no ataque ao nosso Clube DENTRO dos relvados, numa actuação sem precedentes. A equipa que o faria estava sem dúvida coordenada, bem afinada e todas as vénias devem ser feitas a quem urdiu e oleou a Máquina. Um trabalho perfeito e meticuloso que certamente terá implicado noites de laborioso planeamento e até ao queimar das pestanas, o adeus às férias de muitos, inúmeros e discretos(?) jantares, cozinhados perfeitos. Tudo com o objectivo claro de fragilizar os rapazes de azul e branco e tentar dessa forma equilibrar um pouco os pratos da balança. Todos nós sabemos o que ganhou Luís Filipe Vieira, mas… o que lucrou o sportinguista Presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol, Vítor Pereira? Favores de toda a espécie? Perdões? Indultos? Um andar [sinónimo de caminhar] novo? Pagamentos de dívidas? Dinheiro$? Patrocínios? Apoios? Pneus com droga? A droga sem os pneus? Ou terá sido apenas gratidão imorredoura? Como montou o esquema? A cilada perfeita? Uma engrenagem que de tão óbvia e gritante não foi por ninguém desmontada?
Face à existência de um vencedor antecipado e à certeza de quem estaria por detrás disso, a SAD Portista teve tempo mais do que suficiente para inverter o rumo das coisas, para reclamar os nossos direitos, para dar um murro na mesa, e para gritar que alto e parásse o baile. Não o fez, não gritou, nem sequer piou e a música continuou, o que desde logo nos permite ventilar ilações e atribuir responsabilidades. Não defendendo os interesses do Futebol Clube do Porto, clube que terão jurado honrar, que lhes paga as chorudas comissões e altos salários, podemos e devemos contestar o seu trabalho.
Deveríamos ter respondido em todas as frentes (através dos meios de comunicação social – porque entre tenebroso fanatismo há sempre, sempre quem nos abra as portas – das instâncias superiores, de contra-informação, mupis, outdoors #FREE PORTO!, panfletos, aviõezinhos de praia… whatever!**) como sempre nos orgulhámos de fazer, denunciar sem ser apenas através de textos meritórios no site oficial do clube, e mais tarde – já no final da época – em interessantes “bicadas” diárias… Tudo a roçar o patético e confrangedor. Porque não o fizemos?
Por dignidade? Por receio que a resposta beliscasse de alguma forma o nosso imenso patamar de glória ou o limite de ética? Por nova política interna de comportamento? Por acharmos que a resposta seria a seu tempo dada em campo? Por sobranceria? Por erro de cálculo? De planeamento? Por já não pertencermos à Elite? Ao Olimpo dos Deuses? Por algum acordo, pacto feito? Por estarmos comprometidos? Obrigados de alguma forma ao humilhante, desesperante silêncio? Rabos trilhados? Encostados à parede? Por cansaço? Por… medo? Porra, porquê?!
Haverá algo que TALVEZ devêssemos saber? E esta época que agora se planifica? Como vai ser? Deveremos esperar mais do mesmo? Deveremos ter medo? Irá continuar o valente treinador a combater sozinho em todas as frentes? A tentar passar incólume entre a chuva de balas disparadas de todas as direcções, mesmo das mais insuspeitas? Irão continuar os injustiçados e revoltados adeptos com sentimento de forte impotência, orfandade e total abandono? A aturar o regabofe e festim dos fracos de espírito centralizador? A sentir cada título inimigo como faca cravada no coração? Ou irá a SAD despir os seus homens dos cinzentos fatinhos de marca e vestir-lhes uma capa azul e branca esvoaçante pondo-os em campo e nos céus a combater pela Causa que lhes paga*** e que, como tal, devem defender até que a voz, a BANDEIRA, lhes doa?
Expliquem-me. Façam-me um desenho. Grande e enorme e colorido. Não como se eu fosse burra. Mas como se voltasse a ser a menina que aos 8 anos se apaixonou perdidamente por este Clube orgulhoso, altivo, do antes quebrar do que torcer. Irredutível. Invicto, impoluto. Desde 1893. Oh, yeah!
* podia ser vermelha, mas é encarnada.
** temos o nosso próprio CANAL!!!!
*** já nem falo em amor e devoção.
O silêncio da SAD, não há como escondê-lo, foi um dos grandes factores que levaram ao fracasso. Cedo se percebeu que a diferença qualitativa entre nós e eles era abismal. A Europa foi um barómetro perfeito para aquilatar dessa diferença. Essa diferença deveria ter chegado para sermos campeões cá do burgo e aos primeiros sinais do que se estava a preparar a SAD deveria ter agido firmemente. Não o fez e pagou por isso e obrigou o seu treinador a ser condenado na praça pública, desgastando a sua imagem por ter sido o único a dar a cara, a denunciar a farsa que foi este campeonato. Esse desgaste toldou a visão a muitos e quase ocultou a boa campanha europeia e um campeonato com pontos mais que suficientes para ser campeão. E agora? Mais importante que os jogadores que vão sair ou vão entrar, é perceber quais as linhas orientadoras da nossa SAD. Que Porto vamos ter? Que Porto queremos ter? Estamos na encruzilhada decisiva, não há que escondê-lo.
ResponderEliminarParabéns, está maravilhosamente escrito, como sempre, pertinente e conciso. Adoro e acho que é impossível não gostar de ler.
A nossa SAD este ano optou deliberadamente por 2 clássicos infantis:
ResponderEliminarA Bela Adormecida, e o Capuchinho Vermelho.
Na primeira metade da época, andou a dormir. O adversário jogava a maior parte dos jogos contra 10, golos válidos eram anulados, e os seus inválidos validados. Mas nada disto a fazia despertar. Confiava ingenuamente que o happy end não lhe fugiria.
Até que chegou aquela aziaga jornada 13, em dezembro.
Tempo de novo argumento. Escolha?
O "Capuchinho Vermelho"! Com o Julen a fazer de lobo, e a SAD a representar os coelhinhos da floresta, as borboletas esvoaçantes, o chilrear dos pássaros, entre outros idílicos papeis. Por sorte, o nosso treinador, e agora também lobo mau, teve uma das actuações mais fortes da história, relegando Laurences Oliviers, Marlon Brandos ou Jack Nicholsons para a categoria de amadores. O seu constante uivar atemorizou todas aquelas avozinhas de preto, que na fuga perderam algures o guardanapo vermelho que tantas vezes tinham usado na primeira parte do caminho. Fez também o próprio capuchinho vermelho recorrer à reserva de fraldas, tão amedrontada que estava no seu próprio quintal, rodeada de milhares de insectos seus amigos. Só não trouxe o galardão máximo, porque a restante matilha, enganou-se no argumento, pensando que a Choupana ainda era uma cena sonolenta, em detrimento do uso das garras.
Minha cara Miss BlueBay, só espero que a SAD para a próxima época escolha bem o argumento, e de uma vez por todas, suba a palco, deixando ao pobre lobo mau deste ano o papel que lhe compete, que é a de levar a nossa Equipa à vitória final.
Hugo Mota
Cara MISS BLUEBAY
ResponderEliminarTem inteira razão. Andámos (nós e a SAD) a época toda a dormir na forma. Ainda por cima deixámos o odioso dos protestos da roubalheira que foi o colinho das arbitragens para o Lopetegui nos defender. Quando refere a “nossa comunicação oficial” não sei quem seja. O PORTO CANAL não é com certeza. O JOGO acabou. De portista não tem nada. Os pasquins, rádios e tvs estão todas debaixo da pata da Holdimo, da Cofina ou do Estado (leia-se Benfica)
A “instituição” ou se preferir o clube da treta, tem um órgão oficial nos pasquins (A BOLHA) e dois nas TV (CHIC NUTICES e Correio Manhoso). Até o Rascord que foi criado para defender o Zbórden, agora ataca o presidente e ajuda as águias depenadas a saírem do atoleiro que eles próprios criaram.
Os paineleiros dos programas desportivos são escolhidos entre a ralé dos comentadores. Jorges Batistas, Seabras, Dias Ferreiras, Octávios, Gomes da Silva, Goberns, Talhante dos fígados, Manueis Josés, Carlos Danieis (pago pela TV pública), enfim uma cambada que tem um lema comum: Ódio ao nosso clube.
Calcule que a propósito das trocas e baldrocas do sapateiro para Alvalade até apareceram uns fósseis que eu pensava enterrados há muito tempo. António Pedro de Vasconcelos, Capristano (o fiel amigo de Vale e Azevedo), Gaspar Ramos, António Figueiredo, Dias da Cunha, Zés Eduardos, Jaimes Antunes, etc. etc. tudo gentalha que contribuiu para a falência dos 2 circos da Segunda Circular.
Ou muito me engano ou esta época vai repetir-se o colinho (agora repartido pelos 2 circos) e nós vamos continuar a apanhar bonés. Há minutos vi o nosso presidente na Casa do FC Porto de Argoncilhe a dizer que “vamos tomar medidas”. Pergunta o macaco: “Como, Quando e Onde?”
Bjinho
Rui, obrigada. Sem dúvida que a SAD, este ano, poderá ser a nossa maior contratação rumo ao que todos tantos desejamos.
ResponderEliminarHugo, adorei as tuas metáforas. Que o argumento seja indeed diferente para a época que agora se prepara. Bem que precisamos!
ResponderEliminarAi, José Lima, não me diga isso nem a cantar! :P Outro ano de trevas e de travessia do deserto seria demasiado horrível de aguentar. Espero sinceramente que tudo mude no cenário futebolístico português. Que sejamos nós os agentes dessa mudança. Se não acontecer, que a mudança aconteça em nós.
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