16 março, 2016

PROCURAM-SE CULPADOS!

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/


Mais um fim de semana desportivo passou, mais outro jogo intenso no Dragão. Das partidas pardacentas de um passado recente restam apenas vãs memórias. O tempo é de thriller, acção e emoção, onde ao contrário dos finais do temerário Agente 007, aqui nunca sabemos se no fim da fita teremos o tão almejado happy end.

Neste ano de 2016, depois da cura dos nossos fantasmas sulistas, temos encontrado no Minho um novo cenário para os nossos pesadelos - Famalicão, Guimarães e Braga - ainda mais assombrador e decisivo do que o anterior.

Contudo, numa coisa temos demonstrado uma consistência admirável nesta época: A busca incessante pelo próximo culpado!

O primeiro, e o mais óbvio para qualquer clube e adepto que se preze, é o treinador!

O dogma de Lopetegui como o verdadeiro culpado é tão incontestável para 90% dos portistas, como o Alcorão o é para os muçulmanos.

Claro que, como em qualquer dogma, existem factos capazes de os desconstruir. O mais claro e exacto será o da matemática, onde todos os números, desde golos marcados, sofridos, vitórias e derrotas, abonam em favor do espanhol. A mais expressiva destas estatísticas, será o número de golos sofridos em casa. 6 tentos em 27 jogos realizados por Lopetegui. Tantos golos como os sofridos nos últimos QUATRO encontros caseiros. Poderíamos também falar da tranquilidade das vitórias, onde no tempo do basco, apenas contra o Nacional e Tondela tivemos que contar os minutos para o final. Em sentido contrário, desde que Lopetegui saiu, só contra Boavista (com Rui Barros) e Estoril pudemos dar descanso às unhas.

Mais conjugações poderia apresentar destinadas ao mesmo vazio. Quando entramos nos campos da emoção, não há razão que assista.

A mais tenebrosa das verdades que está por detrás da Fatwa lançada a Lopetegui, é a de que actualmente estamos (muito) pior do que no tempo do espanhol.

Numa segunda posição de culpa, temos tido os jogadores.

Qual montanha russa, no início de Setembro, o adepto portista encontrava-se a atingir o pico da subida. Era o tempo da super-equipa.

Essa mentira conscientemente regada a gasolina pela imprensa, foi sustentada em três vectores falaciosos.

- Os 20 milhões de Imbula, completa incógnita, cujo valor do passe inflacionou desproporcionalmente em termos comparativos com adversários, o real valor da equipa.

- A vinda de Casillas, mais-valia em termos de marketing, mesmo que desportivamente pouco acrescentasse a Fabiano ou Helton, que no computo geral, haviam estado a bom nível em 2014/2015.

- O "roubo" de Maxi ao rival slb, troca mediática, mas mais uma salvaguarda num jogador experiente para a posição, do que um reforço propriamente dito, onde Danilo vinha de uma época a grande nível.

As restantes contratações - Bueno, Danilo, André André, Layun, Sérgio Oliveira, Cissokho, Osvaldo, Corona - com maiores ou menores expectativas, maiores ou menores valores, podemos considerar as normais que ocorrem todas as épocas. Como também é normal em todas as épocas, umas contratações vingam - com Danilo, André André e Layun mais destacados - enquanto outras revelam-se flops. Para nosso azar, o maior deles foi o dispendioso Imbula.

Incompreensível, e bem revelador da forma como a opinião do adepto é moldada a bel-prazer pelos media, é poder achar-se que uma equipa nova, recheada de incógnitas, e acabada de perder quase todos os seus melhores jogadores, poderia estar num nível competitivo muito superior aos rivais, que em ambos os casos tinham mantido as estruturas de base da época anterior, reforçando a equipa apenas em posições estratégicas.

Como qualquer plantel, temos jogadores melhores, outros piores. O que não temos é a equipa ultra-mega-super-hiper-superior aos rivais. Temos sim uma equipa equivalente às das deles.

Os jogadores devem ser avaliados e criticados por aquilo que eles são. Não podem ser condenados e culpados pelas expectativas que criamos para eles.

Como mais recente contendor nesta caça ao culpado, temos a SAD do FC Porto.

Ao contrário dos outros concorrentes neste desprestigiante pódio, que na minha opinião têm sido demasiado fustigados por factores exógenos, a SAD portista tem grandes responsabilidades no ponto actual em que nos encontrámos, no que à época futebolística de 2015/16 diz respeito, pois noutras temáticas muito mais haveria a dizer. Tentando ser sucinto, aponto aqueles que são os três grandes erros desta direcção:

- A manutenção e o despedimento de Lopetegui

Se Pinto da Costa não gostava do estilo de jogo que Lopetegui incutia à equipa, como o afirmou em entrevista ao Porto Canal, porque o manteve no verão de 2015? A resposta parece-me simples. Porque o treinador espanhol encaixava em pleno no perfil exigido. Não só concentrava nele as atenções mediáticas com coragem, como tinha capacidade para valorizar jogadores, ao que juntava qualidades interessantes no campo competitivo.

Contudo, sabendo que o nome do basco não era consensual, quer entre os adeptos, como mesmo entre os seguidores mais próximos, com Antero Henrique à cabeça, Pinto da Costa deveria ter optado por uma solução mais pacífica no defeso, tendo muito provavelmente opções superiores à de Peseiro. O porquê de não o ter feito, para ceder quando não o deveria, só o próprio poderá dizer.

Seguindo o caminho da manutenção, como o fez, deveria ter dado outro tipo de apoio ao treinador, à semelhança do que Luís Filipe Vieira teve com Rui Vitória quando o slb parecia arredado de tudo. Porventura, se o tivesse feito, poderíamos estar num lugar muito mais confortável na classificação.O que se passou na entrevista do Porto Canal, mais não foi do que uma versão Pôncio Pilatos, colheita 2016.

- A política de contratações

Este ponto será o mais grave da corrente gestão desportiva.

Seria especulativo da minha parte apontar o dedo a contratações que aparentemente não fazem muito sentido, como dar 20 milhões por uma promessa, ignorar o passado problemático de certos jogadores, reforçar posições específicas em que temos uma dúzia de jogadores nos quadros ou dispender 4 milhões em atletas com um déficit de qualidade atroz. Sem falar nos obscuros negócios para a equipa B.

Sendo todos estes exemplos de gestão susceptíveis de levantar críticas, incompreensível mesmo, é o conhecimento de que um sector específico da equipa está altamente debilitado, quer em qualidade, quer em quantidade, e nada se ter feito... pior, nada se TENTAR ter feito, para resolver esta situação.

- A comunicação com os media

E se num dia destes víssemos Angela Merkel a discutir importantes assuntos de Estado com o Quim Barreiros, ou o Toy em amena cavaqueira com Cameron sobre a manutenção do Reino Unido na UE? Pois... é exactamente como me sinto ao ver o Dragões Diário a representar-nos. Onde está o Presidente na hora das derrotas? Na hora dos roubos? Nos ataques sujos que alguns meios de comunicação social nos fazem? Este é o ponto onde mais órfãos estamos do sentimento PORTO.

Tendo a SAD a maior quota parte da responsabilidade pelo período menos bom que passamos, também é verdade que ela está associada às maiores alegrias que vivemos. Sabendo que as decisões eleitorais estão consumadas antes de ocorrem, resta-nos acreditar que o Presidente ainda irá impôr o seu portismo sobre as teias que querem enredar os cantos do clube.

É o mínimo que se espera de alguém que um dia recusou o seu nome para o Estádio do Dragão.

E os Adeptos? Também não serão culpados?

3 comentários:

  1. Nos adeptos também o somos, mas em muito menor escala é claro. Quando o FCP ganhava facilmente e se mostrava forte sem nunca vacilar, era fácil estar e ir ao estádio. Agora que precisávamos de mostrar que somos realmente uma nação, que este clube é diferente e único não o conseguimos. Para quem tem lugar anual e tenta estar lá sempre, como eu, é bem visível que os adeptos na grande maioria não são fiéis, querem é pipocas e festa. A equipa entra intranquila porque sabe que a tolerância está abaixo de 0. Ao mínimo erro lá estão os castigadores. Brahimi era um deus agora nem na bola pode tocar, Herrera com todos os seus defeitos e o capitão mas mais parece o maior adversário entre muitos outros exemplos.
    O plantel na minha opinião, o do início da época não este que restou, era mais do que suficiente para estarmos na luta e sermos campeões. Lopetegui tinha plenos poderes, como foi bem visível, e nunca foi capaz de potenciar a equipa ao máximo. Era uma montanha russa de jornada para jornada. É certo que sofríamos muito poucos golos mas o processo estava mais assimilado. O nosso futebol era sonolento, sem chama e sem objetividade.
    É só dar o benefício da dúvida a Peseiro, dar os jogadores que ele pretende e deixá-lo prepara a época que vem. E nós adeptos está na hora de fazer a diferença.

    Silva

    ResponderEliminar
  2. A estatistica deixa Lopetegui ficar (comparativamente) bem na foto, mas de estatisticas está o Inferno cheio. Convém não esquecer, no q a golos sofridos diz respeito, q Lopetegui teve sempre pelo menos 3 centrais «A» à sua disposição; e não apenas um, como tem acontecido regularmente desde q Peseiro chegou.

    Isto não é para desculpar Peseiro, mas para assinalar q se Lopetegui tivesse continuado era expectavel q o # golos sofridos aumentasse precisamente por essa razao.

    ResponderEliminar
  3. Quando se está num buraco, a pior coisa que se pode fazer é escavar mais...

    E basicamente, estamos de há 3 anos a esta parte numa fase de escavação intensa, ou seja, metidos num buraco e a escavar, escavar, escavar...

    Há-de chegar ao dia em que atingiremos pedra, aí será o fundo do buraco e não conseguiremos escavar mais.

    Espero sinceramente que não se atinja o fundo do buraco, que se pare de escavar mais porque, acreditem, ainda não estamos no fundo.

    Mas a pergunta impõe-se: o que fazer para não escavar mais?

    A resposta não é fácil, mas dou só uma pista do que me parece ser evidente ao longo desses últimos anos em que muita coisa anormal tem acontecido:

    Despedir treinadores a cada 6 meses, colocar no treinador todas as culpas do insucesso e deixá-lo só perante a porca da comunicação social portuguesa... São 3 coisas que não se deve fazer.

    Se na loucura fosse dadas todas as condições aos treinadores, como se deram durante muitos anos, se calhar as coisas não correriam tão mal.

    ResponderEliminar