UMA TRISTEZA PREVISÍVEL.

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Infelizmente, o adeus definitivo à luta pelo título de campeão nacional, restando ao FC Porto a mera hipótese matemática, não era nada que fosse muito difícil de prever por qualquer adepto do FC Porto minimamente atento à realidade do clube. Aliás, já era suposto que a queda ocorrida em braga tivesse ocorrido mais cedo, nomeadamente quando jogamos na luz. Direi que a derrota em braga arrumou completamente as hipóteses de título e deixou o 2º lugar a uma distância quase irrecuperável tendo em conta o que se tem visto do FC Porto.

O mais triste de tudo é quando depois de uma derrota do FC Porto, uma pessoa ficar triste como sempre, mas estranhamente ter uma sensação de que “isto era mais que previsível”. Há apenas 3 anos, no ano de 2013, quando éramos treinados por Vítor Pereira, aquele “incompetente do futebol enfadonho que não convencia os adeptos”, quando as coisas corriam mal, acabava sempre por ver uma luz ao fundo do túnel e ainda tinha aquela sensação de que caminhávamos num sentido bem definido, com virtudes e defeitos, mas sabendo pelo menos para onde ir. Neste momento, confesso-vos que percebo cada vez menos qual é o nosso caminho, para onde vamos, porque vamos e de que forma pretendemos trilhar esse caminho.

Defendo hoje, como defendi no passado e tal como irei SEMPRE defender no futuro que os balanços da época apenas se fazem em maio. Aí sim, devem ser feitos os julgamentos, analisar os desempenhos, ver os objetivos atingidos e os que ficaram por atingir, bem como as decisões a tomar em relação ao futuro mais próximo. Tendo em conta este meu pensamento, considero também que tudo o que seja decisões tomadas a meio da época que envolvam despedimento de treinadores, ou seja, interrupção de um projeto a meio, deve ser a última das alternativas, ou seja, todos os intervenientes nomeadamente jogadores e dirigentes devem contribuir na medida das suas possibilidades para a criação de um ambiente favorável para que todo e qualquer projeto chegue pelo menos ao final de cada época. Aí sim, deve ser o momento despedir, contratar, reformular, destruir e reconstruir. Inverter, antecipar ou “queimar” as fases deste processo dá geralmente mau resultado.

Toda esta conversa para quê, perguntarão vocês? Basicamente para transmitir uma ideia relativamente simples de um processo muito complexo. Os problemas atuais do FC Porto são complexos e têm de ser analisados sob vários pontos de vista, com a cabeça fria e sobretudo muita calma, não a pedir vassouradas completas, despedimento de 20 jogadores e compra de outros 20. Os problemas atuais não são de hoje, nem de ontem, têm origem em situações que se têm vindo a arrastar ao longo dos últimos anos, mesmo aqueles em que ainda ganhávamos campeonatos.

O grande problema é quando se pensa que as soluções mais fáceis de tomar, ou seja, as soluções simples, resolvem os problemas complexos que assolam o clube. E é basicamente isto que tem acontecido nos últimos 3 anos sobretudo. Tratou-se mal um treinador bicampeão nacional com apenas 1 derrota em 60 jogos, treinador esse que fugiu a sete pés à primeira oportunidade... Depois em 13/14 pensou-se que o título de campeão nacional era um automatismo em que bastava colocar um boneco no banco para se ganharem jogos e consequentemente campeonatos, a coisa correu mal, o treinador pediu a demissão várias vezes porque não aguentou a brutal pressão dos adeptos e o final de época foi penoso... Em 14/15 apostou-se em novo projeto, novo treinador, perdeu-se o campeonato por 3 pontos devido a vários erros próprios e também a vários "erros humanos" de outros agentes do jogo (nomeadamente agentes que se vestem de preto e põem apito na boca)... Este ano depois de um empate frente ao Rio Ave, em que se notou (sejamos sérios e frontais) claramente que alguns jogadores quiseram "fazer a folha ao treinador", as coisas tornaram-se irrespiráveis e o treinador obviamente teve de sair. Optou-se pela solução mais fácil e simples, muda-se de treinador e tudo se resolveria às mil maravilhas...

Continuo a dizer sempre o mesmo: problemas complexos não são resolvidos com soluções simples. Há que haver uma reflexão profunda de quem de direito sobre o que tem corrido mal. Aconteça o que acontecer até ao final da época, 2º ou 3º lugar, taça ganha ou perdida, é necessário de facto que da reflexão se passem aos atos. Sob pena do futuro se tornar ainda mais negro. Vamos completar 3 anos sem ganhar o campeonato, tal não pode ser razão para entrarmos em desespero completo, mas sim para todos contribuírem de modo construtivo para o futuro do clube na medida das suas possibilidades, no fundo pensar o que cada um pode fazer pelo clube e não o que o clube pode fazer por nós. Há outros adeptos que estiveram há bem pouco tempo, 11 anos sem ganhar um campeonato, outros caminham para o 14º ano sem ganhar um campeonato. Não vejo ninguém a atirar-se da ponte por causa disso. Haja alguma calma em tudo isto. Não somos o primeiro, nem iremos ser o último clube a passar por momentos menos bons. Há que ter a capacidade para dar a volta a isto, mas a capacidade tem de vir de jogadores, dirigentes e treinadores. E se os adeptos não desajudarem já não era mau.

Nota Final: Haveria muito a dizer sobre o jogo de braga, por exemplo que não considero que tenhamos feito um jogo tão mau assim, que se a bola do Brahimi tivesse ido uns centímetros mais ao lado a história poderia ter sido outra, que se o Xistra fosse um árbitro e não um palerma com apito na boca pelo menos um penaltie claro teria sido assinalado a nosso favor, etc, etc. Mas isto são os "ses" do futebol, no fundo toda e qualquer análise se altera com base no bola que vai à barra ou que entra. Um treinador é brilhante taticamente se ganha um jogo fazendo um remate à baliza e depois enfiando um autocarro de 2 andares no restante tempo de jogo, por outro lado um treinador é uma besta se faz uma qualquer substituição num jogo em que perde no último minuto. Também desse tipo de análises confesso que estou um pouco farto, porque se analisa sempre com base na teoria de que acertar nos resultados à 2ª feira é sempre muito mais fácil. A reflexão necessária neste momento deverá ser profunda e não tão simplista.

PS - Haverá algum clube à face da terra que decorridas 25 jornadas de um campeonato, não tenha um único penaltie e expulsão marcados contra si?