15 março, 2019

O MOMENTUM MUDOU.


No futebol, confesso, sou de feelings. Não sou apologista de crenças adivinhatórias ou espíritas, mas sim de ler o que se passa nas entrelinhas, as declarações dos intervenientes, o jogo jogado, a forma e ímpeto dos jogadores, o momentum. E esse momentum é o que me leva às premonições, às tais adivinhas, aos feelings. Feelings, wo-o-o feelings…..

No jogo em casa, contra o principal rival, é justo dizer que não estava com boas sensações. As coisas são o que são e, de facto, o momentum do rival era superior, mais colorido e mais entusiasmante. Sentia-se no ar que a equipa que que vinha jogar ao Dragão aparecia numa boa fase, vibrante até. A derrota, em nossa casa, doeu muito e os portistas dignos desse nome certamente que dormiram mal  nas noites seguintes. Já dizia alguém que “o problema não é perder, mas sim a cara com que a gente fica”. Bem verdade.

Sucede que o momentum, esse algo indefinido mas que tudo define, mudou. Desde logo porque o FC Porto, depois dessa derrota, venceu dois jogos bastante complicados, cada um à sua maneira: frente à Roma, permitindo mais uma saborosa qualificação para os quartos-de-final da maior competição de clubes do mundo; diante do Feirense, num jogo fora de portas, perante uma equipa aflita (e todos sabemos como custa vencer equipas que estão para lá da linha de água). Pelo contrário, depois da vitória no Dragão, o nosso rival não venceu os dois jogos que disputou: Dínamo de Zagreb (derrota, fora) e Belenenses (empate, casa).

A época é longa e ainda vai no adro. Abril está a chegar e Maio, o mês de todas as decisões, ainda parece distante. Vêm aí pausa para selecções, mais jogos europeus, mais Taça de Portugal e, claro, jogos do campeonato. Só os mais fortes sobrevivem, diz o lema. E Abril e Maio aí estão para o provar. As pernas, essas, vão pesar, as lesões vão reaparecer, o cansaço acumulado vai originar cansaço mental, os treinadores serão postos à prova e, a dada altura, terá que haver cedências, fazer opções, tomar decisões.

O rival, parece-nos, já as fez, apostando tudo no campeonato nacional. Tem ainda uma meia-final da Taça de Portugal para jogar, onde o rival Sporting tudo fará para salvar o que lhe resta da época. O FC Porto, esse, irá a Braga com a eliminatória praticamente ganha, mas convém não deixar o adversário galvanizar-se durante os – longos – 90 minutos (vide Atlético Madrid em Turim).

Sucede que o empate frente ao grupo comandado por Mestre Silas – a propósito: grande trabalho deste treinador ao leme de um clube que já não se sabe bem no que se transformou e que por si só mereceria uma crónica em separado – veio alterar todas as previsões e análises feitas. Com efeito, depois da vitória no Dragão, um empate caseiro frente ao Belenenses acaba por vir provar a imaturidade e falta de estaleca da equipa de Lage. As contas fazem-se no fim, a verdade é que o rival segue na frente e que se o campeonato terminasse hoje, o FC Porto não seria o campeão nacional.

Mas não há sombra de dúvida de que este empate fez soar os alarmes na segunda circular e na comunicação social deste país: afinal ainda há quem lhe resista, ainda há quem vá a luz e não leve 10x0, ainda há clubes dispostos a lutar por pontos contra o nosso rival. E essa é uma boa novidade, pois até aqui assistimos a um passeio de Bruno Lage, sem dificuldades de maior e em ritmo de passeio. Mas algo parece ter mudado, não sabemos se se trata das lesões, do cansaço acumulado, da pressão de ir na frente, mas de repente temos algo a que nos agarrar. Que ninguém nos diga que é impossível, porque não é. Já não somos os favoritos a vencer o campeonato, isso é certo, mas vamos vender cara a derrota. E esse é o maior capital que atribuo a Sérgio Conceição: a incapacidade em desistir, em garantir que todos dão o extra-mile, a certeza de que não restarão gotas de suor para expelir, a plena noção de que ali está um bando de guerreiros que não baixa os braços. Este Porto vai à luta e tem estofo e espírito de campeão, não se rende com facilidade.

E é a isto que temos que nos agarrar. Não é muito, bem sei, mas é alguma coisa. O momentum mudou, os benfiquistas já não entram nos escritórios de peito feito e com piadolas básicas, as nuvens deslocaram-se e compete ao FC Porto aproveitá-las. O mundo muda rapidamente e no futebol não é excepção. Temos que fazer a nossa parte e esperar que os outros não tenham estofo de campeão. Porque e isto é escamoteável, os campeões somos nós, o FC Porto. É a isso que nos agarramos.

Rodrigo de Almada Martins

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