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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto
Capítulo 4: 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte III)
Final do Campeonato de Portugal 1931-32
Eliminado o Benfica, surgiu no caminho do FC Porto o Belenenses que com dificuldade afastara o Barreirense. Para a Final, em 3 de Julho de 1932, jogadores, técnicos, dirigentes e simpatizantes portistas, empolgados, confiavam cegamente na vitória da equipa.O Campo do Arnado, em Coimbra, voltou a ser o terreiro da luta arbitrada pelo espanhol Ramon Melcón, a quem a Federação Portuguesa de Futebol recorreu por não ter sido possível obter o acordo entre os dois clubes relativamente a qualquer árbitro português.
Os pupilos de Szabo chegaram com surpreendente facilidade a uma vantagem de 4-1, com golos de Pinga (2), Francisco Castro e Waldemar Mota. A 24 minutos do fim parecia que nada impediria a concretização de uma vitória merecida. Mas, por vezes, o destino desconcerta:
À última hora, antes do encontro, o Belenenses teve de substituir o seu habitual avançado-centro, Rodolfo Faroleiro, pelo reserva José Ramos. Este não esteve em dia de inspiração e o treinador do Belenenses decidiu, perto do fim, colocar nessa função o médio-centro Augusto Silva. Foi coelho que saltou da cartola — Augusto Silva destroçou a defesa do FC Porto apontando dois golos e dando a marcar o do empate (4-4) aos 76 minutos. Foram 6 minutos arrasadores! Com ambas as equipas abatidas pelo esforço dispendido, no prolongamento o resultado não se alterou apesar de um maior empertigamento dos lisboetas, que de nada valeria devido à exibição notável do guardião portuense Siska.
O regulamento do Campeonato de Portugal determinava que a finalíssima se disputasse no domingo seguinte, mas não pôde respeitar-se a regra porque a Associação de Futebol de Lisboa (!) combinara um Lisboa-Astúrias para o dia 10 de Julho. E por isso se jogaria a 17, outra vez sob arbitragem de Ramon Melcón, cujo desempenho no primeiro encontro se considerara modelar.
FC PORTO - BELENENSES, 4-4 (após prolongamento)
3-7-1932, Coimbra (Campo do Arnado)
Árbitro: Ramon Melcón (espanhol)
Marcadores:
1-0 Pinga (18’)
2-0 Pinga (25’)
3-0 Francisco Castro (55’)
3-1 Augusto Silva (63’)
4-1 Waldemar Mota (66’)
4-2 Augusto Silva (71’)
4-3 Augusto Silva (74’)
4-4 Heitor Nogueira (76’)
FC Porto – Treinador: Joseph Szabo (húngaro)
Miguel Siska; Avelino Martins e Pedro Temudo; Álvaro Sequeira, Álvaro Pereira e Acácio Sousa; Lopes Carneiro, Waldemar Mota, Acácio Mesquita, Artur de Sousa “Pinga” e Francisco Castro.
Belenenses – Treinador: Artur José Pereira
José Miranda; José Simões e João Belo; Joaquim Almeida, Augusto Silva e César Matos; Alfredo Ramos, Heitor Nogueira, José Ramos, Bernardo Soares e José Luís.
Finalíssima
Os capitães do Belenenses e do FC Porto (Waldemar Mota) ladeando o árbitro espanhol Ramon Melcón, antes do início do jogo
FC PORTO - BELENENSES, 2-1
17-7-1932, Coimbra (Campo do Arnado)
Árbitro: Ramon Melcón (espanhol)
Marcadores:
1-0 Pinga (11’ gp)
1-1 Bernardo Soares (38’)
2-1 Acácio Mesquita (62’)
FC Porto – Treinador: Joseph Szabo (húngaro)
Miguel Siska; Avelino Martins e Pedro Temudo; Álvaro Sequeira, Álvaro Pereira e Francisco Castro; Lopes Carneiro, Waldemar Mota (cap.), Acácio Mesquita, Artur de Sousa “Pinga” e Carlos Mesquita.
Belenenses – Treinador: Artur José Pereira
José Miranda; José Simões e João Belo; Joaquim Almeida, Augusto Silva e César Matos; Alfredo Ramos, Heitor Nogueira, Rodolfo Faroleiro, Bernardo Soares e José Luís.
Duas fases do jogo, com Siska preparado para a recepção da bola e José Miranda, guarda-redes de Belém, protegido pelos seus defesas, a interceptar um cruzamento dos avançados portistas.
FC Porto, 3.ª vez Campeão de Portugal!
A equipa vencedora do Campeonato de Portugal, 1931-32. Em cima: Francisco Castro, Pinga, Carlos Mesquita, Álvaro Sequeira, Lopes Carneiro, Waldemar Mota, Álvaro Pereira, Pedro Temudo e Szabo (treinador); em baixo: Siska, Avelino Martins e Acácio Mesquita.
Na edição de 20 de Julho de 1932 da “Stadium”, foi dado destaque ao jogo da Finalíssima entre FC Porto e Belenenses. Na foto de primeira página da “revista portuguesa de todos os sports” é visível o mítico guarda-redes do FC Porto, Mihaly Siska, a interceptar uma bola perante Augusto Silva, do Belenenses. Apesar de nessa altura ainda não haver jornais desportivos diários, a revista “Stadium” era considerada a bíblia do futebol nacional (repare-se no preço de capa: 1 escudo!).
Eis a crónica da “Stadium”:
Os ferrenhos “supporters” do FC Porto chegaram a Coimbra em toda a espécie de viaturas: automóveis — de Rolls-Royce ao Ford Modelo T — camionetas, comboios especiais e bicicletas. Os bilhetes custavam cinco escudos e quem primeiro chegasse ao Arnado melhor se instalava.
A primeira parte terminou com empate a uma bola. O FC Porto abriu o activo graças a uma grande penalidade apontada por Pinga, imposta por mão claríssima de César. Empatou o Belenenses, por intermédio de Bernardo Soares. O golo da igualdade chegou um tanto contra a corrente do jogo, pois o FC Porto, obtido o primeiro tento, passou a instalar toada de ataque não muito pronunciado mas mesmo assim predominante e o Belenenses só de vez em quando aliviava para surtidas, as mais adequadas das quais eram neutralizadas pela tarde infeliz do seu extremo-direito Heitor Nogueira.
O título de Campeão de Portugal decidiu-se aos 17 minutos da segunda parte, com um golo dos mais brilhantes que se verificaram em partidas de futebol, pois começou num pontapé de alívio de um defesa, Avelino Martins, e de então até a bola entrar na baliza do finalista lisboeta só jogadores portuenses lhe tocaram: Álvaro Pereira, Waldemar, Pinga, Carlos Mesquita, que centrou, e o seu irmão Acácio, que lhe deu o caminho da rede com um pequeno toque, aliás, perante o assombro da defesa belenense. A ovação a este golo durou minutos!... Feita, como é bem de calcular, pela massa dos adeptos dos portuenses.
A vitória do FC Porto ficou bem justificada pelo jogo desenvolvido na segunda parte e a nota a dar-se é a de que a sua equipa esteve mais vezes perto do terceiro tento que a lisboeta de buscar igualdade que fizesse discutir a posse do título.
Falta de elegância e dureza dos de Belém
A arbitragem de Ramon Melcón foi considerada imparcial e inquestionável por todos os críticos. Desgostoso ficou, contudo, com o comportamento de alguns dos homens da Cruz de Cristo: “É aborrecido quando, como consequência da excitação dos ânimos, a nossa conduta imparcial de árbitro honesto é posta em xeque e discutida pelos jogadores. Nesta partida houve mais disputa e os dois “teams” jogaram de igual para igual. Houve alguma dureza, é certo, mas o que mais me consternou foi a falta de elegância revelada comigo pelos dois extremos do Belenenses, Ramos e José Luís, ante a derrota. Individualmente, no FC Porto gostei de Pinga, de Álvaro Pereira e de Avelino. No Belenenses, sobretudo na primeira parte, Augusto Silva defendeu una barbaridade!”
A propósito do jogo, Acácio Mesquita, excelente jogador do FC Porto, disparou: “Os homens de Belém, com a bola nos pés, não sabem jogar! Sabem, sim, ser duros. Mas não é com dureza que se pratica futebol”.
De carro para o hotel
Indescritível aquele momento que se seguiu ao fim do encontro! O campo transformou-se num mar vibrante de cabeças. Os jogadores do FC Porto foram arrastados em triunfo pela multidão ululante. Nenhum pôde resistir. A mole humana era gigantesca e o entusiasmo colossal. Sorrisos, foguetes, bandeiras tremulando ao vento. Só muito tempo depois, recolhidos os aplausos frenéticos, os Campeões tomaram quatro automóveis e, ainda com bagas de suor na face, mantendo os equipamentos sujos e ensopados, correram para o Hotel Astória, onde se banharam, enfim.
Claro, na Invicta impressionante recepção aos heróis e protagonistas de um jogo brilhante! Que, postados na varanda da sede do Clube, foram vitoriados por dezenas de milhar de pessoas que enchiam o espaço público.
Pedro Themudo – Pedro Temudo (n. 21 Out.1907 – m.??), foi pupilo do “mestre” Abel Aquino que, qual garimpeiro de novos valores, descobriu e adestrou jovens que com ele deram os primeiros pontapés na bola. Como Temudo, também Waldemar Mota, Acácio Mesquita e outros, foram jogadores de eleição saídos da “cantera” da Constituição.
• Temudo jogava a defesa-central, valendo-se da elevada estatura e do poder de antecipação. Era o atleta mais alto do FC Porto (cerca de 2 metros) e um dos mais altos que alinhavam em equipas do Campeonato de Portugal.
• Sagrou-se Campeão de Portugal, na época 1924-25, apenas com 17 anos. Em 1931-32 voltou a ganhar o Campeonato de Portugal ao serviço do seu clube de sempre, o FC Porto. Na temporada do primeiro título, jogou ao lado de grandes nomes como Miguel Siska, Júlio Cardoso (o outro central), Floriano Pereira, Balbino da Silva, Flávio Laranjeira, Norman Hall e João Nunes. No segundo título, também teve como companheiros Avelino Martins, Álvaro Sequeira, Álvaro Pereira, Francisco Castro, Lopes Carneiro, Waldemar Mota, Acácio Mesquita e Artur de Sousa “Pinga”.
• Foi internacional e envergou a camisola da Selecção Nacional num Itália-Portugal (6-1), realizado em Milão no dia 1 Dez.1929. Não voltaria a ser chamado à “equipa de todos nós”, embora o seu valor o justificasse.
• Pedro Temudo, um futebolista que brilhou no clube de coração, o FC Porto.
Carreira no FC Porto (equipa sénior)
1924-25 a 1933-34
Palmarés
2 Campeonatos de Portugal (1924-25 e 1931-32)
10 Campeonatos do Porto (1925-26 a 1933-34)
Álvaro Pereira – Álvaro Cardoso Pereira (n. Porto, 7 Nov.1904, - m. ??), médio-centro, com grande presença em campo e rigor táctico invejável, qualidades que lhe mereceram a confiança de treinadores como Akos Tezler, Alexandre Cal, Joseph Szabo, Mihaly Siska e Magyar.
• Durante 10 anos, alinhou no meio-campo do FC Porto com outros excelentes jogadores como Álvaro Sequeira, Lopes Martins, Euclides Anaura, Francisco Castro, Carlos Pereira e Manuel dos Anjos (Pocas).
• Participou na retumbante vitória de 8-0, sobre o Benfica, em Maio de 1933 e no empolgante jogo em que a “equipa-maravilha da Europa”, o First de Viena, acabaria vergada ao empenho e à valentia do FC Porto, perdendo por 0-3, no Estádio do Lima.
• Enquanto Álvaro Pereira esteve na equipa azul-e-branca, o FC Porto venceu 1 Campeonato Nacional, 1 Campeonato de Portugal e 10 Campeonatos do Porto.
• 7 vezes internacional entre 1930 e 1934, fez o primeiro jogo em 30 Nov.1930, contra a Espanha, no Porto (0-1).
Jogou nas vitórias de Portugal com a Bélgica (3-2, Lisboa, 31-5-1931) e com a Hungria (1-0, Lisboa, 29-1-1933).
A última vez que vestiu a camisola da Selecção Nacional foi em 18-3-1934, na derrota com a Espanha (1-2).
• Álvaro Pereira foi, no seu tempo, dos jogadores que mais jogos perfizeram ao serviço do FC Porto. Um grande futebolista a quem muito deve o Clube. Uma glória do FC Porto!
Carreira no FC Porto
1926-27 a 1935-36
Palmarés
1 Campeonato Nacional/Liga (1934-35)
1 Campeonato de Portugal (1931-32)
10 Campeonatos do Porto
Avelino Martins – Avelino da Silva Martins (n. S. Mamede de Infesta, 11 Mai.1905 – m. ??), um defesa-direito ou esquerdo possante (“backmuralha” lhe chamavam) que defendia a camisola do FC Porto com denodo e entrega admiráveis. Esporadicamente alinhava também a defesa-central.
• Ele foi herói no jogo do Campeonato de Portugal, com o Benfica, nas Amoreiras em Lisboa. Em 16 Jun.1932, Avelino jogando a defesa-esquerdo, desbaratou a linha avançada dos encarnados não lhe permitindo veleidades. Num jogo de extrema dureza, fez uma exibição extraordinária de garra e querer! O FC Porto, com Pinga também em grande plano, venceu por 2-1. Martins voltou a jogar na estrondosa derrota de 8-0 do Benfica, na Constituição, em 1933, bem como nos famosos 10-1 ao Sporting, em 1936, quando o companheiro Carlos Nunes concretizou um “póker”.
• Venceu de dragão ao peito 1 Campeonato Nacional, 1 Campeonato de Portugal e 8 Campeonatos do Porto.
• Avelino foi 8 vezes internacional entre 1930 e 1934 e estreou-se na Selecção Nacional em jogo disputado no dia 8 de Junho de 1930, em Antuérpia, contra a Bélgica que venceu por 2-1. Esteve nas vitórias ante as selecções belga e jugoslava (ambas por 3-2) e frente à Hungria (1-0). Fez o último jogo por Portugal defrontando a Espanha em 18 Mar.1934 (1-2).
• Em 1935-36 ainda dava o seu contributo à equipa do FC Porto com o mesmo espírito de sacrifício e entrega sem regateio.
• Está sepultado no mausoléu do Clube, no cemitério de Agramonte, ao lado de outras glórias portistas como Acácio Mesquita, Valdemar Mota, Pinga, Pavão e Pedroto. Avelino Martins, uma enorme glória do FC Porto!
Carreira no FC Porto
1928-29 a 1935-36
Palmarés
1 Campeonato Nacional/Liga (1934-35)
1 Campeonato de Portugal (1931-32)
8 Campeonatos do Porto
Francisco Castro, Francisco Pinto de Castro (n. 1 Abr.1910 – m.??) valoroso avançado que chegou ao FC Porto na época 1928-29 vindo do Salgueiros onde despontou para o futebol.
• Filho de um talhante – possuidor de metade dos estabelecimentos comerciais da especialidade, no Porto – só gostava de sardinhas… Jogador polivalente actuava preferencialmente a ponta esquerda, por sinal onde menos dava nas vistas. Fazia na perfeição outros lugares, inclusive o de guarda-redes em que era imbatível. Craque também no jogo das cartas, ninguém o levava a não ser quando encontrava nas visitas a Lisboa, determinada "Rosa"... Para os colegas era o "arrasta".
• Sagrou-se Campeão de Portugal em 1931-32 e Campeão Nacional em 1934-35. Jogou ao lado de outros excelentes futebolistas como Norman Hall, Siska, Balbino da Silva, Waldemar Mota, Acácio Mesquita, Álvaro Pereira, Avelino Martins, Carlos Pereira, Soares dos Reis, Lopes Carneiro e Artur de Sousa Pinga.
• Foi internacional-A em 2 ocasiões, jogando na sua estreia contra a Espanha (0-1), no Porto, em 30 Nov.1930. O outro jogo fê-lo ante a Hungria, em 29 Jan.1933, na vitória de 1-0 em Lisboa. Participou neste encontro com os colegas de clube Avelino Martins, Waldemar Mota, Álvaro Pereira e Pinga que marcou o golo da Selecção Portuguesa.
• Terá deixado o FC Porto no final da época 1935-36, mas não há notícias da sua continuidade no futebol.
Carreira no FC Porto
1928-29 a 1935-36 (?)
Palmarés
1 Campeonato Nacional/Liga (1934-35)
1 Campeonato de Portugal (1931-32)
8 Campeonatos do Porto
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto
Capítulo 4: 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte III)
Final do Campeonato de Portugal 1931-32
Eliminado o Benfica, surgiu no caminho do FC Porto o Belenenses que com dificuldade afastara o Barreirense. Para a Final, em 3 de Julho de 1932, jogadores, técnicos, dirigentes e simpatizantes portistas, empolgados, confiavam cegamente na vitória da equipa.O Campo do Arnado, em Coimbra, voltou a ser o terreiro da luta arbitrada pelo espanhol Ramon Melcón, a quem a Federação Portuguesa de Futebol recorreu por não ter sido possível obter o acordo entre os dois clubes relativamente a qualquer árbitro português.
Os pupilos de Szabo chegaram com surpreendente facilidade a uma vantagem de 4-1, com golos de Pinga (2), Francisco Castro e Waldemar Mota. A 24 minutos do fim parecia que nada impediria a concretização de uma vitória merecida. Mas, por vezes, o destino desconcerta:
À última hora, antes do encontro, o Belenenses teve de substituir o seu habitual avançado-centro, Rodolfo Faroleiro, pelo reserva José Ramos. Este não esteve em dia de inspiração e o treinador do Belenenses decidiu, perto do fim, colocar nessa função o médio-centro Augusto Silva. Foi coelho que saltou da cartola — Augusto Silva destroçou a defesa do FC Porto apontando dois golos e dando a marcar o do empate (4-4) aos 76 minutos. Foram 6 minutos arrasadores! Com ambas as equipas abatidas pelo esforço dispendido, no prolongamento o resultado não se alterou apesar de um maior empertigamento dos lisboetas, que de nada valeria devido à exibição notável do guardião portuense Siska.
O regulamento do Campeonato de Portugal determinava que a finalíssima se disputasse no domingo seguinte, mas não pôde respeitar-se a regra porque a Associação de Futebol de Lisboa (!) combinara um Lisboa-Astúrias para o dia 10 de Julho. E por isso se jogaria a 17, outra vez sob arbitragem de Ramon Melcón, cujo desempenho no primeiro encontro se considerara modelar.
FC PORTO - BELENENSES, 4-4 (após prolongamento)
3-7-1932, Coimbra (Campo do Arnado)
Árbitro: Ramon Melcón (espanhol)
Marcadores:
1-0 Pinga (18’)
2-0 Pinga (25’)
3-0 Francisco Castro (55’)
3-1 Augusto Silva (63’)
4-1 Waldemar Mota (66’)
4-2 Augusto Silva (71’)
4-3 Augusto Silva (74’)
4-4 Heitor Nogueira (76’)
FC Porto – Treinador: Joseph Szabo (húngaro)
Miguel Siska; Avelino Martins e Pedro Temudo; Álvaro Sequeira, Álvaro Pereira e Acácio Sousa; Lopes Carneiro, Waldemar Mota, Acácio Mesquita, Artur de Sousa “Pinga” e Francisco Castro.
Belenenses – Treinador: Artur José Pereira
José Miranda; José Simões e João Belo; Joaquim Almeida, Augusto Silva e César Matos; Alfredo Ramos, Heitor Nogueira, José Ramos, Bernardo Soares e José Luís.
Finalíssima
Os capitães do Belenenses e do FC Porto (Waldemar Mota) ladeando o árbitro espanhol Ramon Melcón, antes do início do jogo
FC PORTO - BELENENSES, 2-1
17-7-1932, Coimbra (Campo do Arnado)
Árbitro: Ramon Melcón (espanhol)
Marcadores:
1-0 Pinga (11’ gp)
1-1 Bernardo Soares (38’)
2-1 Acácio Mesquita (62’)
FC Porto – Treinador: Joseph Szabo (húngaro)
Miguel Siska; Avelino Martins e Pedro Temudo; Álvaro Sequeira, Álvaro Pereira e Francisco Castro; Lopes Carneiro, Waldemar Mota (cap.), Acácio Mesquita, Artur de Sousa “Pinga” e Carlos Mesquita.
Belenenses – Treinador: Artur José Pereira
José Miranda; José Simões e João Belo; Joaquim Almeida, Augusto Silva e César Matos; Alfredo Ramos, Heitor Nogueira, Rodolfo Faroleiro, Bernardo Soares e José Luís.
Duas fases do jogo, com Siska preparado para a recepção da bola e José Miranda, guarda-redes de Belém, protegido pelos seus defesas, a interceptar um cruzamento dos avançados portistas.
FC Porto, 3.ª vez Campeão de Portugal!
A equipa vencedora do Campeonato de Portugal, 1931-32. Em cima: Francisco Castro, Pinga, Carlos Mesquita, Álvaro Sequeira, Lopes Carneiro, Waldemar Mota, Álvaro Pereira, Pedro Temudo e Szabo (treinador); em baixo: Siska, Avelino Martins e Acácio Mesquita.
Na edição de 20 de Julho de 1932 da “Stadium”, foi dado destaque ao jogo da Finalíssima entre FC Porto e Belenenses. Na foto de primeira página da “revista portuguesa de todos os sports” é visível o mítico guarda-redes do FC Porto, Mihaly Siska, a interceptar uma bola perante Augusto Silva, do Belenenses. Apesar de nessa altura ainda não haver jornais desportivos diários, a revista “Stadium” era considerada a bíblia do futebol nacional (repare-se no preço de capa: 1 escudo!).
Eis a crónica da “Stadium”:
Os ferrenhos “supporters” do FC Porto chegaram a Coimbra em toda a espécie de viaturas: automóveis — de Rolls-Royce ao Ford Modelo T — camionetas, comboios especiais e bicicletas. Os bilhetes custavam cinco escudos e quem primeiro chegasse ao Arnado melhor se instalava.
A primeira parte terminou com empate a uma bola. O FC Porto abriu o activo graças a uma grande penalidade apontada por Pinga, imposta por mão claríssima de César. Empatou o Belenenses, por intermédio de Bernardo Soares. O golo da igualdade chegou um tanto contra a corrente do jogo, pois o FC Porto, obtido o primeiro tento, passou a instalar toada de ataque não muito pronunciado mas mesmo assim predominante e o Belenenses só de vez em quando aliviava para surtidas, as mais adequadas das quais eram neutralizadas pela tarde infeliz do seu extremo-direito Heitor Nogueira.
O título de Campeão de Portugal decidiu-se aos 17 minutos da segunda parte, com um golo dos mais brilhantes que se verificaram em partidas de futebol, pois começou num pontapé de alívio de um defesa, Avelino Martins, e de então até a bola entrar na baliza do finalista lisboeta só jogadores portuenses lhe tocaram: Álvaro Pereira, Waldemar, Pinga, Carlos Mesquita, que centrou, e o seu irmão Acácio, que lhe deu o caminho da rede com um pequeno toque, aliás, perante o assombro da defesa belenense. A ovação a este golo durou minutos!... Feita, como é bem de calcular, pela massa dos adeptos dos portuenses.
A vitória do FC Porto ficou bem justificada pelo jogo desenvolvido na segunda parte e a nota a dar-se é a de que a sua equipa esteve mais vezes perto do terceiro tento que a lisboeta de buscar igualdade que fizesse discutir a posse do título.
Falta de elegância e dureza dos de Belém
A arbitragem de Ramon Melcón foi considerada imparcial e inquestionável por todos os críticos. Desgostoso ficou, contudo, com o comportamento de alguns dos homens da Cruz de Cristo: “É aborrecido quando, como consequência da excitação dos ânimos, a nossa conduta imparcial de árbitro honesto é posta em xeque e discutida pelos jogadores. Nesta partida houve mais disputa e os dois “teams” jogaram de igual para igual. Houve alguma dureza, é certo, mas o que mais me consternou foi a falta de elegância revelada comigo pelos dois extremos do Belenenses, Ramos e José Luís, ante a derrota. Individualmente, no FC Porto gostei de Pinga, de Álvaro Pereira e de Avelino. No Belenenses, sobretudo na primeira parte, Augusto Silva defendeu una barbaridade!”
A propósito do jogo, Acácio Mesquita, excelente jogador do FC Porto, disparou: “Os homens de Belém, com a bola nos pés, não sabem jogar! Sabem, sim, ser duros. Mas não é com dureza que se pratica futebol”.
De carro para o hotel
Indescritível aquele momento que se seguiu ao fim do encontro! O campo transformou-se num mar vibrante de cabeças. Os jogadores do FC Porto foram arrastados em triunfo pela multidão ululante. Nenhum pôde resistir. A mole humana era gigantesca e o entusiasmo colossal. Sorrisos, foguetes, bandeiras tremulando ao vento. Só muito tempo depois, recolhidos os aplausos frenéticos, os Campeões tomaram quatro automóveis e, ainda com bagas de suor na face, mantendo os equipamentos sujos e ensopados, correram para o Hotel Astória, onde se banharam, enfim.
Claro, na Invicta impressionante recepção aos heróis e protagonistas de um jogo brilhante! Que, postados na varanda da sede do Clube, foram vitoriados por dezenas de milhar de pessoas que enchiam o espaço público.
Pedro Themudo – Pedro Temudo (n. 21 Out.1907 – m.??), foi pupilo do “mestre” Abel Aquino que, qual garimpeiro de novos valores, descobriu e adestrou jovens que com ele deram os primeiros pontapés na bola. Como Temudo, também Waldemar Mota, Acácio Mesquita e outros, foram jogadores de eleição saídos da “cantera” da Constituição.
• Temudo jogava a defesa-central, valendo-se da elevada estatura e do poder de antecipação. Era o atleta mais alto do FC Porto (cerca de 2 metros) e um dos mais altos que alinhavam em equipas do Campeonato de Portugal.
• Sagrou-se Campeão de Portugal, na época 1924-25, apenas com 17 anos. Em 1931-32 voltou a ganhar o Campeonato de Portugal ao serviço do seu clube de sempre, o FC Porto. Na temporada do primeiro título, jogou ao lado de grandes nomes como Miguel Siska, Júlio Cardoso (o outro central), Floriano Pereira, Balbino da Silva, Flávio Laranjeira, Norman Hall e João Nunes. No segundo título, também teve como companheiros Avelino Martins, Álvaro Sequeira, Álvaro Pereira, Francisco Castro, Lopes Carneiro, Waldemar Mota, Acácio Mesquita e Artur de Sousa “Pinga”.
• Foi internacional e envergou a camisola da Selecção Nacional num Itália-Portugal (6-1), realizado em Milão no dia 1 Dez.1929. Não voltaria a ser chamado à “equipa de todos nós”, embora o seu valor o justificasse.
• Pedro Temudo, um futebolista que brilhou no clube de coração, o FC Porto.
Carreira no FC Porto (equipa sénior)
1924-25 a 1933-34
Palmarés
2 Campeonatos de Portugal (1924-25 e 1931-32)
10 Campeonatos do Porto (1925-26 a 1933-34)
Álvaro Pereira – Álvaro Cardoso Pereira (n. Porto, 7 Nov.1904, - m. ??), médio-centro, com grande presença em campo e rigor táctico invejável, qualidades que lhe mereceram a confiança de treinadores como Akos Tezler, Alexandre Cal, Joseph Szabo, Mihaly Siska e Magyar.
• Durante 10 anos, alinhou no meio-campo do FC Porto com outros excelentes jogadores como Álvaro Sequeira, Lopes Martins, Euclides Anaura, Francisco Castro, Carlos Pereira e Manuel dos Anjos (Pocas).
• Participou na retumbante vitória de 8-0, sobre o Benfica, em Maio de 1933 e no empolgante jogo em que a “equipa-maravilha da Europa”, o First de Viena, acabaria vergada ao empenho e à valentia do FC Porto, perdendo por 0-3, no Estádio do Lima.
• Enquanto Álvaro Pereira esteve na equipa azul-e-branca, o FC Porto venceu 1 Campeonato Nacional, 1 Campeonato de Portugal e 10 Campeonatos do Porto.
• 7 vezes internacional entre 1930 e 1934, fez o primeiro jogo em 30 Nov.1930, contra a Espanha, no Porto (0-1).
Jogou nas vitórias de Portugal com a Bélgica (3-2, Lisboa, 31-5-1931) e com a Hungria (1-0, Lisboa, 29-1-1933).
A última vez que vestiu a camisola da Selecção Nacional foi em 18-3-1934, na derrota com a Espanha (1-2).
• Álvaro Pereira foi, no seu tempo, dos jogadores que mais jogos perfizeram ao serviço do FC Porto. Um grande futebolista a quem muito deve o Clube. Uma glória do FC Porto!
Carreira no FC Porto
1926-27 a 1935-36
Palmarés
1 Campeonato Nacional/Liga (1934-35)
1 Campeonato de Portugal (1931-32)
10 Campeonatos do Porto
Avelino Martins – Avelino da Silva Martins (n. S. Mamede de Infesta, 11 Mai.1905 – m. ??), um defesa-direito ou esquerdo possante (“backmuralha” lhe chamavam) que defendia a camisola do FC Porto com denodo e entrega admiráveis. Esporadicamente alinhava também a defesa-central.
• Ele foi herói no jogo do Campeonato de Portugal, com o Benfica, nas Amoreiras em Lisboa. Em 16 Jun.1932, Avelino jogando a defesa-esquerdo, desbaratou a linha avançada dos encarnados não lhe permitindo veleidades. Num jogo de extrema dureza, fez uma exibição extraordinária de garra e querer! O FC Porto, com Pinga também em grande plano, venceu por 2-1. Martins voltou a jogar na estrondosa derrota de 8-0 do Benfica, na Constituição, em 1933, bem como nos famosos 10-1 ao Sporting, em 1936, quando o companheiro Carlos Nunes concretizou um “póker”.
• Venceu de dragão ao peito 1 Campeonato Nacional, 1 Campeonato de Portugal e 8 Campeonatos do Porto.
• Avelino foi 8 vezes internacional entre 1930 e 1934 e estreou-se na Selecção Nacional em jogo disputado no dia 8 de Junho de 1930, em Antuérpia, contra a Bélgica que venceu por 2-1. Esteve nas vitórias ante as selecções belga e jugoslava (ambas por 3-2) e frente à Hungria (1-0). Fez o último jogo por Portugal defrontando a Espanha em 18 Mar.1934 (1-2).
• Em 1935-36 ainda dava o seu contributo à equipa do FC Porto com o mesmo espírito de sacrifício e entrega sem regateio.
• Está sepultado no mausoléu do Clube, no cemitério de Agramonte, ao lado de outras glórias portistas como Acácio Mesquita, Valdemar Mota, Pinga, Pavão e Pedroto. Avelino Martins, uma enorme glória do FC Porto!
Carreira no FC Porto
1928-29 a 1935-36
Palmarés
1 Campeonato Nacional/Liga (1934-35)
1 Campeonato de Portugal (1931-32)
8 Campeonatos do Porto
Francisco Castro, Francisco Pinto de Castro (n. 1 Abr.1910 – m.??) valoroso avançado que chegou ao FC Porto na época 1928-29 vindo do Salgueiros onde despontou para o futebol.
• Filho de um talhante – possuidor de metade dos estabelecimentos comerciais da especialidade, no Porto – só gostava de sardinhas… Jogador polivalente actuava preferencialmente a ponta esquerda, por sinal onde menos dava nas vistas. Fazia na perfeição outros lugares, inclusive o de guarda-redes em que era imbatível. Craque também no jogo das cartas, ninguém o levava a não ser quando encontrava nas visitas a Lisboa, determinada "Rosa"... Para os colegas era o "arrasta".
• Sagrou-se Campeão de Portugal em 1931-32 e Campeão Nacional em 1934-35. Jogou ao lado de outros excelentes futebolistas como Norman Hall, Siska, Balbino da Silva, Waldemar Mota, Acácio Mesquita, Álvaro Pereira, Avelino Martins, Carlos Pereira, Soares dos Reis, Lopes Carneiro e Artur de Sousa Pinga.
• Foi internacional-A em 2 ocasiões, jogando na sua estreia contra a Espanha (0-1), no Porto, em 30 Nov.1930. O outro jogo fê-lo ante a Hungria, em 29 Jan.1933, na vitória de 1-0 em Lisboa. Participou neste encontro com os colegas de clube Avelino Martins, Waldemar Mota, Álvaro Pereira e Pinga que marcou o golo da Selecção Portuguesa.
• Terá deixado o FC Porto no final da época 1935-36, mas não há notícias da sua continuidade no futebol.
Carreira no FC Porto
1928-29 a 1935-36 (?)
Palmarés
1 Campeonato Nacional/Liga (1934-35)
1 Campeonato de Portugal (1931-32)
8 Campeonatos do Porto
- No próximo post.: Capítulo 4, 1931 a 1940 – À conquista do futuro; Bicampeão! (Parte IV) – Época 1932-33; Presidente Sebastião Ferreira Mendes; o Andebol de Onze, palmarés riquíssimo; Campeonato de Portugal 1932-33; a goleada histórica de 8-0 ao Benfica!; depois da humilhação, agressões…; 2.ª mão, em Lisboa, recheada de incidentes.
Mais uma boa continuação deste trabalho encantador. Mesmo antes da publicação das fotografias, que devem estar ainda a ser editadas, quando leio o artigo, dá já para ver mais esta parcela, impecável, como de costume. De cuja parte, de agora, se recorda aqueles momentos que devem ter sido grandiosos na finalíssima de Coimbra... trazendo-nos à memória algo também inesquecível, muitos anos depois, que, a propósito, vem à memória de imediato: ...aquela final da Supertaça disputada já em nosso tempo, quando Coimbra foi também talismã e vencemos os mouros vermelhos nos pontapés da marca de grande penalidade... quem não se lembra?!
ResponderEliminarUm abraço
http://longara.blogspot.com/
Mais um post de excelência, que mostra um facto que nos dias de hoje continua igual: problemas com os árbitros, ao ponto de ter vir um espanhol arbitrar!
ResponderEliminarEsse Porto a ganhar 4-1 e a deixar-se empatar, faz-me lembrar Setúbal, tempos de Bobby Robson, estavamos a ganhar 3-0 e eles empataram.
Um abraço
Mais um post incrível, cada linha vale a pena quase por si só. As fotografias e capas sao um fenómeno. Obrigado pela dedicação e pela divulgação aqui.
ResponderEliminarPalavras para quê? É mais uma página brilhante do apaixonado historiador portista Fernando Moreira.
ResponderEliminarEspero pela próxima que promete... 8-0 ao Benfica!
Será pedir muito a repetição desse resultado na segunda mão da Taça de Portugal?
Deixem-me sonhar!
Um abraço
Vingámo-nos dos azuis de Belém que nos tinham pregado uma partida no ano anterior.
ResponderEliminarPelo que nos mostras está visto que os nossos atletas podem gostar de sardinhas ou leitão; isso é irrelevante. O que interessa é gostarem da camisola Azul e Branca, amarem-na.
Beijos
Mais um post fantástico, como já é habitual, até com o promenor das fotos o Dragão Azul Forte, nos delicia!
ResponderEliminarMais uma vez, muito obrigado!;))
BIBÓ PORTO
Que emoção que aqui nos transcreves:
ResponderEliminar"Indescritível aquele momento que se seguiu ao fim do encontro! O campo transformou-se num mar vibrante de cabeças. Os jogadores do FC Porto foram arrastados em triunfo pela multidão ululante. Nenhum pôde resistir. A mole humana era gigantesca e o entusiasmo colossal. Sorrisos, foguetes, bandeiras tremulando ao vento."
LINDO!
É história contada e documentada por parte do nosso Azul Forte.
ResponderEliminarVou comprar um dicionário para arranjar palavras que descrevam este trabalho.
Um abraço.
"Vou comprar um dicionário para arranjar palavras que descrevam este trabalho."
ResponderEliminarnão podia estar mais de acordo, não podia mesmo... é que já começam a escassear adjectivos para descrever a mais sentida e completa história do fcPORTO existente na internet!
Parabéns!!!