O tal canal

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Eu sei que os Oscars são um festival de auto-indulgência de uma indústria egoísta e indiferente, uma americanice arrogante onde o talento e a qualidade raramente têm o papel principal, mas ainda assim gosto de ver a cerimónia. Neste caso em particular sou como aquelas pessoas que gostam de ler os horóscopos, mesmo não acreditando que as previsões tenham o mínimo de credibilidade. Todos os anos fico enroscada num cobertor no sofá da sala, acompanhada de um enorme balde de pipocas salgadas, para às 5 da manhã dizer “não acredito que ganhou este lixo” e seguir para a cama. Este ano foi a excepção. Fiquei acordada com o intuito único de ver o Colin Firth com o homenzinho dourado na mão, e fui dormir feliz. E por isso, neste que é o meu primeiro post desde os Oscars, vou abrir com algo diferente. Uma sugestão cinematográfica.

Não, não vou sugerir O Discurso do Rei, o excelente filme que valeu ao inglês a consagração em Hollywood (ainda estou à espera que alguém faça um trailer de “O Discurso do Mister”, mais ou menos deste género, starring aquele treinador extremamente loquaz em que vocês estão a pensar), mas algo bastante mais obscuro. O nome do filme é Fever Pitch – baseado no livro homónimo de Nick Hornby, que também recomendo – e Colin Firth é Paul Ashworth, um fanático do Arsenal. Este é, dos filmes que conheço, aquele que mais fielmente retrata a condição de adepto de um clube de futebol. A alegria da vitória, a dor da derrota, a censura social a que muitas vezes estamos sujeitos por colocarmos o amor ao nosso clube na linha da frente das nossas prioridades. É um filme engraçado, uma comédia romântica, mas simultaneamente muito cru e muito real. Não exagera nem parodia o fanatismo, como faz o filme americano baseado no mesmo livro, lançado sete anos depois; pelo contrário, compreende-o e explica-o a quem está de fora. Um filme obrigatório, do qual gosto tanto que faço questão de ir impingindo aos meus correligionários, pois tenho a certeza que se vão rever nele. Mudando a cor das camisolas, é claro!

Deixo-vos aquela que é provavelmente a minha cena preferida do filme, com legendas em português. Como contextualização, basta dizer que o Paul está de rastos com uma derrota do Arsenal que parece ter-lhes custado o campeonato. Vejam a cena e digam lá se nunca passaram por uma situação assim ;)

Do grande ecrã para o pequeno, e passando finalmente ao nosso clube, é com enorme expectativa e entusiasmo que encaro a notícia de que o Futebol Clube do Porto (clube, e não SAD – o que não é um detalhe) está em vias de associar-se ao Porto Canal. Dado o posicionamento “ideológico” descaradamente assumido pelos media nacionais como um todo, e com raríssimas excepções, a necessidade de reforçarmos a nossa estratégia de comunicação era (e é) gritante. Temos que ser capazes de defender-nos publicamente e de afirmar a nossa versão de uma forma mais abrangente e eficaz do que com comunicados no site ou alfinetadas do Labaredas, às quais os media dão a repercussão que bem entenderem, e que normalmente é zero. Os blogs Portistas, de entre os quais o Bibó Porto se destaca como um dos mais relevantes, têm também tido um papel fundamental nessa afirmação de uma alternativa à história da carochinha, citando o Pedro Marques Lopes, que os media convencionais vão transmitindo e publicando como verdade absoluta. Mas é preciso mais. E a participação num canal de televisão por cabo será sem dúvida o meio ideal para atingir esse fim. A abrangência é enorme, a capacidade de resposta é imediata (ao contrário, por exemplo, do que acontece com jornais ou revistas) e as potencialidades do formato são imensas.

Não menos importante será também assegurar a transmissão televisiva de todos os nossos jogos no Dragão Caixa e alguns jogos fora, sempre que os direitos não estejam já assegurados por outro canal. Esse aumento na exposição das modalidades poderá mesmo potenciar um crescimento da sua popularidade e a angariação de mais e melhores patrocínios que as ajudem a ultrapassar a situação financeira precária que atravessam (a qual não pretendo continuar a discutir em espaços públicos, privilegiando o contacto particular com sócios do clube que partilham das minhas preocupações. Quem ama o FCP não dorme em serviço!).

É por esta necessidade de uma estratégia de comunicação mais eficaz e de um espaço televisivo para transmissão dos jogos das nossas modalidades que estou verdadeiramente entusiasmada com este entendimento entre o nosso clube e o Porto Canal, que espero que dê frutos tão brevemente quanto possível. Chamo a atenção para o facto do comunicado referir que foi celebrado um memorando de entendimento “com os proprietários” do canal. Ou seja, não se trata de uma mera parceria a nível de conteúdo acordada com a direcção do canal, mas de uma opção de gestão negociada com os proprietários. O que é uma excelente notícia. A ideia, ao que parece, será manter um canal generalista dedicado ao Porto e ao Norte (que, sublinhe-se, desempenha um papel importantíssimo e do qual a região sentiu falta durante o hiato entre o fim da NTV e a criação do Porto Canal), mas que acompanhe de muito perto a realidade do FC Porto, transmitindo ao país e ao mundo a “nossa” verdade, que os outros órgãos de comunicação social fazem questão de abafar. Transmissão de jogos, conferências de imprensa, entrevistas, um ou outro programa temático – para já não peço mais. Tudo o que quero é um canal que seja a nossa voz e que promova uma cada vez maior e mais frequente presença do FC Porto nas vidas dos seus adeptos, sobretudo daqueles que residem mais longe do Porto.

Em termos de linha editorial, devo dizer que alinho, sem pestanejar, com os Portistas que querem distância da postura do canal dos enc@rnados, do qual só vi, e bem me chegou, a transmissão de um jogo de hóquei do FCP e um ou dois vídeos na Internet que devem constituir um embaraço para qualquer adepto desse clube que tenha uma réstia de respeito próprio. Idealmente, na minha opinião, o futuro canal deverá assumir claramente a perspectiva do FC Porto, mas tendo sempre subjacente uma atitude de respeito (ou de respeitosa indiferença, quando for o caso ;)) para com todos os outros clubes, entidades e pessoas. Ou seja, espero um canal “azulado”, mas com elegância e dignidade. De resto, até o logótipo já é azul e branco e nem o nome tem que mudar. Perfeito!

Aguardo ansiosamente a efectivação do contrato, bem como notícias mais concretas, mas as primeiras manifestações desta parceria são já boas razões para sorrir: após a transmissão da grande vitória dos nossos hoquistas na semana passada, está já marcada para amanhã a transmissão do Limianos x Porto, também em hóquei. Estou optimista. A ver vamos se o futuro corresponderá às minhas expectativas.

E viva o Porto – clube, cidade... e canal ;)