30 março, 2012

A luz ao fundo dos túneis

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Nos túneis do futebol português por onde passa a agremiação de Carnide acontecem (quase) sempre coisas esquisitas. Algumas, todos vemos ou ouvimos, porque as câmaras lá colocadas e os microfones das rádios e das televisões não deixam. Outras que se vão sabendo, porque alguém, ao contrário dos outros que viram, recusou fazer de conta que não viu. São histórias pouco dignificantes, puníveis à luz dos regulamentos, às quais até os delegados da Liga fecham os olhos e tapam os ouvidos, como se nada se tivesse passado: contam-se berros e palavrões, às vezes até estaladas e empurrões.

Agora, sim, se percebe por que se diz que é ao fundo do túnel que se vê a luz. Incapazes de ganhar no campo, desesperados por nos verem cada vez maiores, galgam as impunemente as fronteiras dos limites e tentam por todos os meios possíveis ganhar fora dele. Esta palhaçada que o futebol português teima em fazer cair no esquecimento, num despudorado e não menos nojento proteccionismo ao clube que continua a ser do regime, já lhes valeu, pelo menos, um campeonato. A coisa deu resultado e eles continuaram a insistir. Foi a chapada que o Ruben Micael, na altura jogador do Nacional, levou naquele mesmo túnel onde eles conquistaram o título. Foram aquelas cenas lamentáveis à entrada do túnel em Braga que só redundou em castigos cirúrgicos aos jogadores mais importantes da equipa dos espanhóis do Minho.

Se no ano passado a choradeira e gritaria que se ouvia sempre que eles irrompem pelo túnel não deu grandes frutos, porque havia uma equipa de outra galáxia, nesta época a coisa é bem diferente. São muitas as histórias que se contam, dos berros dos lampiões, como aconteceu, no intervalo do jogo com o Feirense, no túnel do Marcolino de Castro, em que Jorge Jesus e António Carraça, bastante exaltados, cercaram a equi­pa de arbitragem, a quem lançaram impropérios irreproduzíveis nestas linhas pela não marcação de uma grande penalidade. Conta quem presenciou a cena - testemunhada aliás pelo delegado da Liga que, mais uma vez, prestou a vassalagem do costume -, que se ouviram, como sempre, berros, gritos e muitas pressões. O resto da história toda a gente já sabe. Na segunda parte, o 5LB dá a volta ao resultado e vence por 2-1, com a ajuda do senhor Rui Costa, o árbitro, que anulou um golo limpo ao Feirense quando vencia por 1-0.

Na semana passada, em Olhão, o filme voltou a ter os mesmos contornos. No final do jogo, foram bem audíveis, através da “flash interview”, muitas vozes exaltadas no túnel de acesso aos balneários. No dia seguinte, “O Jogo”, escrevia que “tal deveu-se ao facto de jogadores encarnados e elementos da equipa técnica terem procurado pressionar a equipa de arbitragem liderada por João Capela, limitando-lhe os espaços de passagem e impedindo-a de progredir para a sua cabina”. O motivo era, pasme-se, a expulsão do (c)Ai(ao)mar, porque prejudicou gravemente o 5LB. Aí até estou de acordo, mas contestar a justiça do cartão vermelho cai no domínio do surreal. A choradeira não conhece, de facto, limites. Nem os do ridículo.

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