O campeonato do Presidente

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1. Não foi graças ao golo do Incrível, à exibição soberba do Moutinho, nem ao melhor Defour desta época ou ao Otamendi imperial como o do ano passado. Em Braga, não ganhou um jogador, não ganhou uma equipa, muito menos um treinador. Em Braga, ganhou uma cultura de vitória, uma mentalidade, uma mística, alimentadas pela paixão, pela competência, pela dedicação e pela desmedida ambição. Em Braga, ganhou um clube. Ganhou, portanto, o presidente.

E é assim que tudo caminha para que este campeonato fique, indelevelmente, para a história como o campeonato do Presidente, entre os 19 que já conquistou nos 30 anos de presidência que se comemoram no próximo dia 23. Confesso que não me lembro de alguma época em que tantas vezes tenha sido obrigado a intervir sobretudo a nível interno junto de um plantel minado por egos demasiado altos, alguns dos quais que já de lá deviam ter sido corridos, e a quem sempre faltou uma voz que o treinador nunca soube ter, porque é pouco ou nada hábil para gerir um balneário daqueles. Não foram raras as vezes em que se viu forçado a lá entrar para, com a autoridade que todos no clube lhe respeitam, pô-lo em ordem e em sentido e comandá-los para a vitória, depois de ter assumido o risco da aposta num treinador que na carreira nunca tinha treinado sequer uma equipa do principal escalão do futebol português.

Que balneário resistiria à instabilidade e às consequentes guerrilhas internas provocadas pela traição de um treinador que se pisgou a uma semana de começar a pré-temporada? Que plantel sobreviveria à saída inesperada de um jogador que na época anterior marcou quase 50 golos e que nunca teve um sucessor à altura? Que treinador, a quem deram um Ferrari que nunca soube conduzir, já não teria sido corrido, depois de ter conseguido ser eliminado da Liga dos Campeões pelo Apoel, humilhado pelo Gil Vicente no campeonato e pela Académica na Taça? Que equipa não teria baqueado depois de ter tido sido apupada e insultada no aeroporto e à saída do estádio, onde até chegou a haver agressões físicas entre os seus jogadores e os adeptos? Que equipa, apesar de todo este clima menos do que favorável, teria sido capaz de se reerguer? Num outro qualquer clube, estávamos mortos e enterrados há muito tempo. Aqui, estamos vivos, bem vivos, pertinho de sermos novamente campeões. Graças a ele.

2. Era em Braga que eles confiavam a nossa queda, como percebi pela conversa de elevador tida com o meu chefe lampião: “A única hipótese que temos de ser campeões é agora. Vocês perdem em Braga, nós ganhamos ao Sporting e fica resolvido”, dizia-me ele. “O problema é que o Porto nestes jogos…”, respondi eu, para logo ele a seguir completar, vergado pela história e pela tradição: “Pois é, transcende-se…”. De qualquer forma, os carneiros estavam com fé, sobretudo depois da estrondosa vitória (moral, claro) sobre o “Chelssia”.

É sempre assim. Quando eles mais antecipam a nossa derrota, mais depressa são derrubados pela derrota com a força da nossa vitória. O fim-de-semana foi um exemplo perfeito disso. E por muito que a força da história os faça ver que isto não é obra do acaso, eles persistem, insistem e crêem à custa das palas que têm nos olhos que é desta que vai ser diferente. Chamem-lhe falta de discernimento, estupidez, masoquismo ou deficiência, mas a verdade é que eles, felizmente, não aprendem, por mais que a realidade lhes mostre o contrário.

Não aprendem aqui nem lá fora, onde nem aí se esforçam um bocadinho que seja para serem um clube menos parolo. Aquela peixeirada em Londres, contra a equipa de “arbitagem”, a berrar pelo Platini que tanto lhes deu jeito outrora, foi um espectáculo - uma “ganda confusão”, como dizia o outro -, que em nada dignifica o futebol português nem quem melhor o representa. Aquele clube na Champions é como aqueles convidados de uma festa de gala, que não sabem vestir-se, que se comportam como uns palhaços, e têm que ser postos na rua ao pontapé. Nem que seja por um "Chelssia" de quinta categoria.

Continuem assim, a festejar as taças da cerveja, a atirar-se aos “árbitos”, a teimar na choradeira, a berrar e a estrebuchar, que nós continuaremos, como sempre, a ganhar.