RIO AVE-FC PORTO, 2-2
Um filme já visto várias vezes ao longo da história do FC Porto, mas não deixa de ser um filme inconcebível. Vem-me à memória outros tempos como por exemplo o V. Setúbal-FC Porto 93-94 ou o Nacional-FC Porto 2004-05, mas estamos a falar de jogos que, na altura, não decidiam nada no imediato. São igualmente inconcebíveis, mas com um peso muito menor do que o jogo desta noite em Vila do Conde.
Não se compreende, nem se aceita que jogadores, pagos a peso de ouro, possam passar por episódios destes, numa altura crucial do campeonato. Todos sabiam que qualquer escorregadela seria a “morte do artista” e os jogadores sabem perfeitamente disso. A esta equipa não serviu de emenda a derrota em casa com o V. Guimarães, no início da época depois de estarem a vencer ao intervalo por 2-0.
A vencer, também agora, por 0-2 ao fim de 20 minutos, os Dragões perderam várias situações para fazer o 0-3, principalmente, a escandalosa perdida de Brahimi no início da segunda parte, deixam os cabelos em pé de qualquer adepto. Os jogadores convenceram-se de que estarem a vencer por duas bolas de diferença, a vitória estava garantida e resolveram jogar à malha. Venha o próximo, que este já está no papo!
Mas esqueceram-se completamente de que um jogo tem 90 minutos e que o resultado de 0-2 é um dos resultados mais ingratos no futebol. É uma boa vantagem, mas deve ser gerida com competência, com postura, com raça, com atitude e com humildade. E os jogadores do FC Porto não fizeram nada disso. Realizaram uma primeira parte de bom nível e regressaram das cabines a dormir e a contar com o relógio. Só que lhes correu mal. Nem os avisos iniciais da etapa complementar os alertou para os perigos iminentes. O que dizer da cabeçada de Bruno Moreira logo a abrir o segundo tempo, com tudo para reduzir o marcador? Ou da perdida de Dala, três minutos depois? E do estrondo da bola na trave de Casillas?
Alguma arrogância e crença de que estavam a jogar com uma equipa incompetente foi, claramente, o que passou pela cabeça dos jogadores portistas. E depois a pouca atitude e a falta de vontade para fazer mais e melhor para “matar” de vez o jogo, colocou a equipa em maus lençóis. Aos golos de Brahimi (18´) e de Marega (22´), respondeu o Rio Ave com crença e com muita vontade como, se calhar, não se tinha visto esta época, depois de uma desvantagem de dois golos.
O que dizer da grande frustração de Tarantini depois de ser substituído, arremessando contra o solo uma garrafa de água? Porquê tanta irritação de Daniel Ramos durante o jogo? O que motivou a grande festa dos jogadores vilacondenses no final do jogo? Quero ver que atitudes e reacções veremos nesta colectividade daqui por duas jornadas.
Voltando à partida… Como a bola não entrava e como tudo o que chegava à baliza de Casillas não abanava as redes, há que complicar ainda mais a tarefa. Cinco minutos para o final e os jogadores portistas resolvem preparar as almofadas para um sono longo e profundo. Bola colocada por Casillas no meio-campo, recuperação do Rio Ave, Nuno Santos isola-se, a equipa portista a dormir e golo dos vilacondenses. Caldo entornado, alarmes ligados e perigo iminente!
Não contentes com isto, a equipa de Sérgio Conceição, completamente perdida em campo e com o complexo de jogar feio e de pontapé para a frente, resolve tentar sair a jogar perto da sua grande área quando estava a ser altamente apertada. Danilo perde a bola, de forma infantil em vez de dar um “chutão” para o meio-campo contrário, sobra para Ronan que, de uma forma muito feliz, remata contra Alex Telles e o esférico engana Casillas. 2-2 aos 90 minutos. Em terríveis cinco minutos, o FC Porto perdia dois preciosos pontos.
Incrédulos, jogadores e técnicos, não sabiam o que estava a acontecer. Pois não! Esqueceram-se que o resultado de 2-0 e a incompetência do Rio Ave não durava para sempre. A esta hora, digo que seria preferível que o lance de Bruno Moreira tivesse entrado. Teria sido o mote para uma segunda parte bem diferente, encarada com outra atitude e humildade.
Com este empate, o FC Porto pode ter comprometido de vez as aspirações à renovação do título. Enquanto a matemática o permitir, os Dragões terão que dar tudo por tudo, do primeiro ao último minuto do jogo. As contas fazem-se no final.
DECLARAÇÕES
Sérgio Conceição: "Temos de assumir as nossas responsabilidades"
Desfecho ingrato para o FC Porto
“É ingrato isto que aconteceu hoje, mas os culpados somos nós, a começar por mim. A ganhar por 2-0, a poder ficar 3-0 ou 4-0, acabámos por oferecer um golo. Aquele primeiro golo já não se usa no futebol. Depois o segundo foi um ressalto, uma sorte. É algo inexplicável da nossa parte, há que assumir as responsabilidades e eu sou o primeiro a assumi-las. Estamos frustrados. Não merecíamos isto até aos 75 minutos de jogo, mas depois merecemos o que nos aconteceu. Agora temos de assumir e pronto.”
Assumir a responsabilidade e nada mais
“Não há nada para dizer. Pedido de desculpas aos adeptos? Eles querem lá saber de desculpas, eles querem é ganhar, tal como eu e como a equipa. Temos de assumir as nossas responsabilidades e ponto final, não há mais nada a dizer.”
As opções no decorrer do encontro
“O Brahimi saiu porque estava com alguma fadiga, o Corona porque, como sabem, anda a jogar algo limitado já há algum tempo, e depois o Bruno Costa para o lugar do Otávio, que também já estava com alguma fadiga, nos minutos finais. Foram as substituições que achei necessárias para conservar a vitória mas também para irmos à procura do terceiro golo.”
Fazer as contas no fim
“Estamos à frente, a um ponto do Benfica. Queríamos estar a três, mas nesta altura não vale a pena estar a dizer mais do que já disse aqui.”
RESUMO DO JOGO