25 abril, 2007

Campeão só mesmo no fim

'Nortada' do Miguel Sousa Tavares...

Se o factor sorte vier a ter um papel importante neste desfecho de campeonato, as hipóteses do Sporting parecem-me bem maiores do que as do Porto.

1 - Não creio que Jesualdo Ferreira exagere nas cautelas a falar do título, que agora está só a três vitórias de distância. Pelo contrário, acho que ele tem razão, porque nada ainda está decidido a favor do FC Porto - por razões próprias e por razões da concorrência.

Entre as razões próprias, avulta aquela estranha e crónica ambivalência da equipa: é uma coisa nas primeiras partes dos jogos, quase sempre boas, e outra radicalmente diferente nas segundas partes, em que a equipa morre sistematicamente. Que há ali um evidente problema ao nível da preparação física, parece-me indesmentível. Mas que também há um problema psicológico, de atitude, começa-me a parecer também evidente. Aconteceu assim nos últimos dois jogos, contra a Académica e o Belenenses, que um massacre inicial acabou, inexplicavelmente, por se transformar em vitórias quase sofridas, nas segundas partes. Há ali uma incapacidade de dar o Xeque-mate, ou ao menos de gerir tranquilamente os resultados, o que é preocupante. É verdade que tem havido demasiadas bolas na trave, demasiados golos fáceis desperdiçados e demasiadas ocasiões em que o adversário consegue marcar na primeira oportunidade para tal. Mas um pouco mais de fé e de convicção talvez conseguisse inverter a sorte, por arrasto. Paralelamente, eu que, regra geral tenho apreciado o trabalho feito por Jesualdo Ferreira desde o início da época (e apreciado muitíssimo, se o comparar ao do louco do Co Adriaanse…), devo dizer, contudo, que às vezes tenho a sensação que Jesualdo Ferreira é um pé frio, quando se trata de mexer na equipe durante os jogos: ou não mexe quando devia e antes de as coisas se complicarem, ou, quando mexe, resulta quase sempre pior. Não me parece que a arte de ler o jogo em andamento e de influir sobre ele esteja entre os seus principais atributos.

Sábado, no Bessa, o FC Porto tem um jogo terrível: como todos os portistas sabem, o Boavista pode não estar a jogar nada, como é o caso, pode, como quase sempre, facilitar a vida aos grandes de Lisboa, mas bater-se contra o FC Porto como se se tratasse de uma questão de vida ou morte, isso eles não falham. Espero que Jesualdo Ferreira tenha uma estratégia pensada e lógica para ganhar o jogo - o que, entre outras coisas, passa, por exemplo, por não pôr o Jorginho em vez do Anderson ou em não insistir com o Marek Cech como médio. E espero, sobretudo, que a equipa se aguente 90 minutos a jogar para vencer.

Nos factores externos que podem ainda impedir o FC Porto de ser campeão, o principal é, obviamente, o Sporting - a uma vitória e um empate de distância. Quando digo que o Sporting, pé ante pé, chegou aqui a lutar pelo título, fico espantado por constatar o pouco ou nada que sobre ele escrevi ao longo do campeonato. E a razão é simples: não sei muito bem o que pensar do futebol do Sporting. Reconheço que tem um treinador que tem feito um trabalho notável com o que tem ao seu dispor; que tem alguns grandes jogadores, embora nem sempre de produção regular, como o são um Quaresma ou um Simão; e reconheço que a equipa tem muitas vezes uma atitude e estratégia pensada para a vitória, na forma linear e eficaz como procura o golo quando precisa e como aguenta quando tem de aguentar. Mas a verdade também é que não me lembro de um jogo em que o futebol do Sporting me tenha enchido o olho.

Ao invés do FC Porto, acho que o Sporting tem sabido procurar a sorte, mas caramba, ela não lhe tem faltado! Recordo os últimos jogos que vi:

- venceu no Dragão, no jogo que relançou a equipa na luta pelo título, depois de um jogo em que foi superior ao FC Porto, mas sem criar grandes oportunidades, acabando por marcar o único golo através de um livre frontal que, em minha opinião, não existiu, e beneficiando, no último sopro, de um penalty perdoado graças ao síndrome Apito Dourado;

- venceu em Braga, depois de uma primeira parte muito boa, seguida de outros 45 minutos em que só defendeu e que, com um pouco menos de sorte, teria consentido o empate;

- venceu o Marítimo em dez segundos, como um golo incrivelmente oferecido por uma defesa e um treinador suicidas;

- venceu o Beira-Mar, para a Taça, com duas ofertas do guarda-redes nos primeiros oito minutos, e o resto do tempo dormiu;

- e venceu a Naval da mesmíssima forma.

Ou seja: torna-se difícil perceber o que vale verdadeiramente uma equipa e como é que ela é capaz de ultrapassar as dificuldades, se os adversários entram em campo dispostos a entregar-lhe o jogo, quanto mais depressa melhor.

Eis a razão maior das minhas dúvidas: se o factor sorte vier a ter um papel importante neste desfecho de campeonato, as hipóteses do Sporting parecem-me bem maiores do que as do Porto.

2 - A forma como o Belenenses, e sobretudo o Sporting, chegaram à final da Taça (e como antes chegou o Benfica e mesmo no ano passado o FC Porto), tem pouco de mérito e menos ainda de justiça. Se a memória me não falha, em todas as eliminatórias, o Sporting só teve de jogar fora de casa uma vez - contra o Pinhalnovense e, mesmo assim, em campo neutro. No resto, limitou-se a ficar por Alvalade, recebendo e afastando, como mais ou menos dificuldades, equipas menores. Não se percebe como é que em países onde os clubes têm muito mais jogos e bem mais difíceis ao longo da época, a regra da Taça é diferente - como em Espanha, onde é tudo jogado a duas mãos, ou em Inglaterra, onde é a duas mãos ou a uma em campo neutro.

Há muitos anos que defendo um sistema em que, com a eliminatória a uma mão, os jogos fossem sempre em casa do clube de divisão inferior ou, sendo da mesma divisão, daquele que, no momento do jogo, estivesse pior classificado no campeonato. E que, no final, os quartos-finais, ou pelos menos as meias-finais, fossem jogados a duas mãos. Até porque, com a disputa da Supertaça apenas num jogo, não há actualmente nenhuma ocasião de um confronto a duas mãos entre nós, seja em que competição for. E eu pessoalmente, tenho saudades disso. Julgo que desta forma se acrescentaria competitividade, equilíbrio e justiça à Taça, e muito mais mérito ao seu vencedor.

3 - O país inteiro viu a desastrada exibição de Lucílio Baptista no Beira-Mar-Benfica. Por uma vez, houve unanimidade da crítica em classificar a sua arbitragem como péssima - o que, aliás, é habitual nele. Há muitos anos que o país inteiro sabe que Lucílio Baptista é, consistentemente, um mau árbitro, além do mais com uma tendência fatal para proteger os grandes de Lisboa. Mas, ao que parece, a carreira de árbitro é como a dos funcionários públicos: são inamovíveis e progridem sempre na carreira, façam o que fizerem, sejam bons, maus ou péssimos. Tudo isso já sabíamos. Mas escusava o observador do jogo de vir classificar essa sua arbitragem como excelente, dando-lhe um 8,5 em 10. É que há uma diferença entre tomar os outros por distraídos ou tomá-los por parvos.

4 - Li os dois capítulos finais do contra-livro de Carolina Salgado: Pinto da Costa, luz e sombras de um dragão, da autoria de Felícia Cabrita e Ana Sofia Fonseca. Presumo que, a esta hora, o Procurador-Geral da República, Dr. Pinto Monteiro, e a Drª Maria José Morgado, já andem a ler o livro para poderem investigar a credibilidade da sua testemunha Carolina. Por mim, limito-me a um comentário, seja qual for a verdade daquilo que se conta num e noutro livro: que gente esta com que o presidente do FC Porto andou metido!

# in Jornal “A BOLA”, 2007.04.24

PS - texto simpaticamente raptado do blog “Sou Portista Com Orgulho”

10 comentários:

  1. Hello!
    Very good posting.
    Thank you - Have a good day!!!

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  2. sem querer ensinar a missa ao padre esta na hora de um post sobre a vergonha que sao os preços dos bilhtes para os adeptos do fcp... pensam que nos andamos a roubar carteiras ? por 90 euros comprei lugar anual no dragao e ainda tive direito a 3 jogos da liga dos campeoes... so pa ir ao bessa querem que eu deixe la 25 euros... ha limites...

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  3. É um mau hábito mas comum.
    Preferem ter poucos a 25 Euros que muitos a meia dúzia de Euros.
    Ignoram facturação de bares, etc. e
    disfarçam, ou tentam disfarçar, com os próprios sócios gratuitamente.

    Sinceramente nunca entendi bem estas políticas mas, a 25 Eurios, dificilmente ponho lá os pés.
    Junto o pessoal lá em casa e com menos gozamos mais.

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  4. convido todos os portistas a irem ao meu blog e deixarem uma palavra de apreço à nossa equipa de hóquei que tão brilhantemente silenciou a Luz. Fiz um post sobre o jogo de ontem.

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  5. Estou INDIGNADO com a atitude inaceitável da Polícia para com os adeptos e a claque SD, que já tenho criticado, mas que foi impedida de exercer um dos direitos mais elementares do Estado de Direito e Democrático. A Livre Circulação de Pessoas no nosso País, no caso para se deslocarem ao pavilhão dos 'benfas' para apoiar o FCPORTO no segundo jogo dos play-off de Hóquei Patins, que acabámos por ganhar por 3-2.
    Acho que ainda vivemos num Estado de Direito, mas que às vezes parece não ser...
    E por falar em «às vezes», às vezes ainda há textos, mesmo no Record, que apesar de serem mais do que naturais, nos surpreendem pela positiva, como o que aqui transcrevo da edição online daquele jornal, assinado por Luís Avelãs.

    «Sou, sempre fui e tenho a certeza que jamais deixarei de ser defensor dos valores que estiveram na origem do 25 de Abril de 1974. Mandar às malvas uma ditadura que castrava a evolução, a todos os níveis, da sociedade foi essencial para o País andar para a frente. Ainda assim, admito, dava jeito que, mais de três décadas depois da Revolução, Portugal estivesse melhor. Tentar perceber o que tem impedido um salto mais significativo na qualidade de vida de todos nós é assunto que merece dicusssão mais aprofundada. Adiante...

    Vem tudo isto a propósito da inacreditável proibição de que foram alvo cerca de 100 adeptos do FC Porto que, imagine-se, tiveram a "ousada" ideia de se deslocar a Lisboa para apoiar o clube do seu coração numa importante partida referente à final do "playoff" do Nacional de hóquei em patins.

    Quando ouvi a notícia nem queria acreditar. O autocarro alugado pelos "Super Dragões" foi barrado pelas autoridades em Alverca. Explicaram os polícias que a segurança dos portistas não podia ser garantida no Pavilhão da Luz.

    Sempre pensei que qualquer português, independentemente de ser do Porto ou de Lisboa, adepto dos dragões ou das águias, podia deslocar-se livremente pelo País e assistir, desde que munido do respectivo ingresso, a todos os espectáculos desportivos ou de outra índole. Pelos vistos, estava enganado!

    Sei que os duelos entre Benfica e FC Porto, nos últimos tempos, têm sido marcados por algumas cenas de violência, mas daí a proibir que um cidadão em plena posse dos seus direitos se desloque a onde quer que seja é impensável num País que se diz de direito.

    Mas, para além da questão essencial, existem outras que não entendo:

    - Se a Polícia tinha intenções de impedir a viagem dos "Super Dragões", não devia ter acabado com a deslocação logo no Porto? Porquê a barragem só em Alverca? Se calhar podiam tê-los deixado chegar à Segunda Circular...

    - Se houve disponibilidade para colocar tantos agentes da autoridade em Alverca, de forma a assegurar o "bloqueio", não era possível utilizar essa mesma força policial para garantir a segurança dos adeptos portistas na Luz? Que se saiba, por muita rivalidade que exista, o recinto dos encarnados não é propriamente num bairro de Bagdad...

    - Quem vai pagar o aluguer do autocarro e os bilhetes que os adeptos "barrados" garantiram ter em sua posse?

    - Segundo os adeptos portistas, a Polícia explicou-lhes que fora o Benfica a comunicar a proibição. A ser assim, pode concluir-se que os clubes têm mais poder que as autoridades?

    Enfim, um "filme" verdadeiramente ridículo, cujas "cenas" decorreram precisamente a 25 de Abril. Há com cada ironia...».

    Só espero que se investigue esta atitude. Quem é que "MANDOU" atrasar o relógio da História??? Eu reafirmo a minha INDIGNAÇÃO!!!
    Ah, e espero que a CSocial, os políticos, o MP, a Justiça, se pronunciem. Tratou-se de um episódio muito grave!!!

    FORÇA FCPORTO!!!

    'jdm.dragão.lisboeta'

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  6. O 25 de Abril verdadeiro nunca se instalou em Lisboa que mantém os tiques de capital do império.
    Mas dá mais gozo ganhar com estas contrariedades e agora no sábado, duas coisas:
    1 - Encher o Pavilhão, Ganhar em Hóquei e estabelecer mais um record para as nossas cores.
    2 - Encher o Bessa ( apesar dos bilhetes caros - grande tolice )e ganhar de novo rumo ao Bi.
    Força Porto contra tudo e todos, especialmente a corja que tudo quer dominar no nosso triste País.

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  7. Pagar vinte e cinco euros para ver os jogadores do Porto a levar pancada e o Sousa a contemporisar?Foda-se,quem for burro que ponha a albarda!

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  8. É de registar a atitude dos SD perante a criminosa prepotência da PSP a mando de Luis Filipe Vieira.
    Miguel Sousa Tavares e Rui Moreira, terão de engolir em sêco e destilar o seu ódio nas contratações da SAD, já que os SD não reagiram, não atiraram bolas de golf, nem assaltaram áreas de serviço, deixando-os sem assunto para brilharem.

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  9. O MST refere e bem a questão da sorte do Sporting em alguns jogos...mas mais do que a sorte o que me tem espantado é a forma "leve e suave" como os adversários do clube de Alvalade enfrentam os jogos com o clube verde e branco!
    Aliás relembro-vos que no jogo Beira Mar-FCP em que o FCP venceu por 5 a 0, imensas retretes imundas barafustaram imenso com o frango do guarda-redes do Beira-Mar num dos 5 golos sofridos...acusando mesmo o guarda-redes aveirense de estar a fazer um frete qualquer...
    Enfim são os 2 pesos e 2 medidas...

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  10. Só espero que a sorte do sporting não dure sempre, para já o que interessa é ganhar ao Boavista e esperar pelo resultado do jogo da luta pelo 2º lugar entre marroquinos.

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