A táctica do Estebes?

“A Trincheira do Estilhaço”

Que me perdoem o meu tom nostálgico. É bem verdade que foi, amado por uns e odiado por outros. Aplaudiram-no, assobiaram-no, mostraram-lhe lenços brancos, ameaçaram-no e aplaudiram-no outra vez mas, desta vez no final, quando, na hora da vitória, deram o braço, os braços e até as pernas a torcer. Um pouco de história apenas para situar, cronológicamente, a chegada de um treinador que trouxe ao futebol Nacional algo nunca visto neste jardim à beira mar plantado.

Após uma passagem relâmpago de um italiano , um espanhol romântico da bola e um treinador Nacional, a aposta do FCP num técnico holandês foi uma das principais novidades, sendo o Co Adriaanse o primeiro holandês a integrar os quadros profissionais da equipa do Norte.

Personagem de convicções inabaláveis (terá frequentado a mesma escola que o nosso Comandante?), adepto do futebol espectáculo criou uma imagem de marca que uns apelidaram de '3 defesas', outros de 'táctica do Estebes' e outros ainda de 'tudo ao molho e fé em Deus'.

Poderá ser encarada como uma táctica aparentemente suicida que, contrariamente aos modernos losângulos invertidos (mas que raio é isto de um losângulo invertido?) ou mesmo aos hexágonos do Prof. Bitaites, nada tem de complicado e se baseia no princípio em que o ataque é a melhor defesa, que se nós temos a bola os outros não podem marcar golos, etc. É um futebol claro, limpo, sem merdas e onde se joga sempre ao ataque e para ganhar.

Pessoalmente, fiquei maravilhado com a coragem do seu futebol de risco, a grandiosidade e beleza que este proporcionava e a envolvente criada com o público do Dragão nos jogos.

Contestará esta visão o meu pai (Dragão de Prata) com a retórica de como é possível que, na Liga dos Campeões, o Porto fosse a equipa que mais ataques fez, mais remates fez, mais posse de bola teve e fosse a pior defesa. Como foi possível a uma equipa cheia de aspirações europeias se ter dado ao luxo de marcar quatro golos em dois jogos e perder ambos. Ou de sofrer oito remates à baliza e encaixar seis golos. Foi mau de mais...

Sim, riposto eu, a vitória é mais importante, mas de que adianta se não está ninguém na bancada prá ver ?

Sem querer entrar em discussões sobre temas que, nem de perto nem de longe domino (para mim o único saber em futebol é que a bola é redonda), poderei talvez apresentar a simples e única explicação de que se deveria ter dado, naquela altura, um pouco mais de tempo, um pouco mais de espaço, pois não seria possível transformar uma mentalidade de jogo de um momento para o outro.

E penso até poder provar a minha teoria com o resultado obtido no final da época: aquele sabor gastronómico tão saboroso em terras do Norte.

Estou a falar da dobradinha, carago.

Pena que, por uma ou outra razão, abandonou o barco, passou à disponibilidade, à peluda. Mas, raios me partam se aquele 3-3-4, 3-4-3, 3-5-2 ou 3-7 (???) não era uma máquina de ataque! Raios me partam se não adoraria ter escutado o relato de um, apenas um, destes desafios da boca do Grande Jorge Perestrelo! Raios me partam se não sinto saudades daquele rebuliço, daquele caudal ofensivo, daquela pressão constante, daquele espectáculo garantido!

Estou certo que não conseguiu um lugar no coração de todos os Portistas, mas conseguiu, de certeza absoluta, um lugar na nossa história.

Até breve Co Adriaanse.

Saudações,
Estilhaço