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Há coisas que não deviam ser mudadas. Mas por vezes têm mesmo que ser. Foi assim com o nosso querido Estádio das Antas. Ninguém o queria ver demolido, ninguém queria que desaparecesse, mas a dada altura era notório que não havia nada a fazer. Era necessário construir de novo, de raiz, criar um novo covil para o Dragão. Custou-nos a todos, mas foi de facto a melhor decisão. O Dragão é hoje mais do que consensual, é um símbolo, é uma imagem, é o nosso palco de conquistas, um dos estádios mais bonitos do mundo.
Mas depois há mudanças que não se compreendem, que não fazem sentido, que não têm alcance ou objectivo, que são estranhas, que criam mal-estar e muitos pontos de interrogação. Mudanças que não necessitavam de ser consumadas. O troféu da Supertaça Cândido de Oliveira não merecia ser mudado. As competições, as taças, os jogos, o palmarés, tudo isso faz uma história e muitas estórias para contar. As taças encerram misticismo, guardam memórias, têm segredos para contar, gravam-nos imagens na nossa cabeça.
Nos últimos anos parece que tem havido alguém que está interessado em varrer essas memórias e essas estórias do futebol português. Nós percebemos porquê. Chamemos os bois pelos nomes. Primeiro foi o troféu do Campeonato Nacional a ser alterado. Chega agora a vez da Supertaça. Ambos platinados, brilhantes, grandes, a armar à novo-rico. O designer da nova Supertaça fez, com certeza, o que lhe pediram. E o que lhe pediram foi “arrojo”, de forma a dar uma nova imagem e impulso a esta competição, o tal “jogo dos jogos” entre o Campeão e o vencedor da Taça de Portugal. Repito: nós percebemos porquê. Existe muita gente que não dá valor à Supertaça, que a despreza, que a diminui. Mas essa gente não somos nós. Pelo contrário. Nós sempre demos muito valor. Basta olhar ao palmarés. Dizer que temos mais títulos do que todos os outros juntos julgo que chega para comprovar o nosso apreço e respeito pela competição. Claro que essas vitórias incomodam muita gente. Fartam muita gente. Enjoam. Vai daí que é necessário uma mudança, o tal “arrojo”, a mudança da imagem, do design, do impulso à competição.
Curiosamente ou não, uma coisa que não muda é a Taça de Portugal e o seu local de jogo. Mas aí dirão que é a tradição, que a mata do Jamor é muito bonita, que é muito boa para se fazer churrascos e sardinhadas, que fica num local muito bonito em Oeiras, que o Estádio tem muitas histórias para contar, que não se pode alterar isso, que faz todo o sentido duas equipas do Norte irem para Lisboa jogar a competição e obrigar os seus adeptos a gastar dinheiro e tempo numa deslocação, etc. Nós percebemos. De facto, a Taça de Portugal é ainda um troféu com que o FC Porto não se dá muito bem. O nosso domínio intenso e vibrante ainda não se acercou da Taça de Portugal, pese embora nos últimos dez anos termos estado quase sempre na final. Mas de facto, aquele não é o nosso palco. Nós não gostamos daquilo, daquela mata, daquele estádio, daquela falta de segurança, das sardinhadas antes dos jogos, das bandas filarmónicas do Exército, da saudação aos governantes da Capital do Império, de toda aquela pompa espalhafatosa e ridícula. O FC Porto não se dá naqueles ambientes.
Já muitos se esqueceram, certamente, da tristemente célebre subida de João Pinto, Baía, Jorge Costa, Rui Jorge e outros bravos e corajosos ao púlpito do Jamor para erguerem a Taça de Portugal em 1994. Por entre pedras e pedregulhos, por entre insultos e cuspidelas, os nossos jogadores lá conseguiram furar pela multidão e, perante a passividade dos agentes policiais, chegar ao topo para erguer a Taça. Nenhum portista se esquece de ver João Pinto a mostrar o troféu aos que o insultavam e desprezavam lá em baixo, defendendo-se com esse mesmo objecto de levar com um pedregulho que o podia ter morto. Mas aí reside a força do portismo, a alma, a mística das nossas gentes e fazem de João Pinto o eterno Capitão, o eterno símbolo e portador da chama do Dragão.
Mas claro que desde então pouco ou nada foi feito. O Jamor continua um barril de pólvora à espera de uma tragédia. A mata circundante continua sem a mínima preparação para churrascadas e para receber as várias camionetas. A banda filarmónica continua a tocar tão baixinho que quase não se ouve. O Presidente da República continua a ser assobiado quando o seu nome é anunciado. O sentimento de insegurança aumenta a cada ano. Já todos perceberam isso. O Presidente da Federação sabe. O Presidente da Liga sabe. Os clubes sabem. Basta ter olhos. Mas o Jamor e a Taça de Portugal, essa festa na Capital do Império, são intocáveis.
Nós, adeptos, só queremos uma coisa: mais uma vitória. Mais uma taça. Como sempre. Podem mudar os troféus, podem mudar o nome das competições, podem alterar o formato competitivo. Podem ter a certeza que lá estaremos para ganhar!
Rodrigo de Almada Martins
Compreendo a decisão de renovar a imagem da Supertaça...torná-la mais atractiva e reconhecida, talvez não concorde que tal seja feito através da alteração do troféu!
ResponderEliminarO Jamor é uma velha questão. Acho bem que a recorde agora, quando o dia está distante, para não nos acusarem de oportunismo! O jogo da final tem que ser marcado para um local que convenha aos finalistas. Ponto! Isso da tradição é muito bonito quando é para obrigar nortenhos a percorrer quilómetros e largar dinheiro em restauração e taxas para a administração fiscal mas, quando é para renovarmos património local ou para o promovermos, tal dinheiro não existe...os fundos europeus desaparecem..."não há projectos!".
Depois de uma breve imagem diabólica de Octávio Machado, provocada pela sua escrita, cheguei à conclusão que isso de 2 trincos não dá...(o Octávio jogava com 3), mas também não acho que seja isso o que está na mente de PF. O que ele quer é um homem de transição, que organize a coisa, mas que defenda e cubra a subida dos laterais...As posições de meio-campos serão decididas, a curto prazo, entre Lucho, Herrera e Quintero, sendo que Fernando, a manter-se, é intocável.
Cumprimentos
Parabéns por mais um belíssimo texto.....Análise bem feita .Cumprimentos..e rumo as vitorias.
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