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A semana foi negra para o FC Porto. Duas derrotas com o Benfica, nas principais modalidades nacionais (futebol e hóquei), não deixam margem para apelidar a semana de outra forma. Foi mesmo uma semana dura, daquelas que custa a passar.
No entanto, é bom recuar no tempo e analisar o que é o FC Porto na sua essência e o que ela significa. Não é por estas duas derrotas que deixamos de ser portistas nem é por estas duas derrotas que se atira a toalha ao chão. Não saber isso é desconhecer a mística deste clube, incomparável a qualquer outro.
Em 1986, na célebre e difícil vitória por 4x2 nas Antas sobre o Sporting da Covilhã, o FC Porto sagrava-se campeão nacional. Esse título era apenas o 9º a entrar nas vitrinas dos azuis e brancos. Repito para que se tenha noção: em 1986, há 28 anos, o FC Porto ganhava somente o seu 9º título de campeão nacional (ou até o 8º, se excluirmos o Campeonato da Liga ganho na longínqua temporada de 1934/1935). A título comparativo, para que se perceba o que está em causa, nesse ano da graça de 1986, o Benfica ostentava já 26 ceptros de campeão nacional, menos um do que o FC Porto nos dias de hoje. Já o Sporting tinha 16 títulos.
Como era possível, então, aquela alegria de meados de oitenta, com o estádio das Antas a abarrotar de gente, cheio de bandeiras, cachecóis, gorros nas cabeças, balões e bombas de fumo, com a arquibancada vibrante de emoção? Como foi possível aquele mítico festejo de Gomes, pela pista de tartan fora, festejando o golo da reviravolta como se fosse o momento mais importante da sua vida?
Como era possível tanta fé, tanto apoio, tanta alma num estádio cujo clube, em 1986, não tinha nem sequer uma Taça UEFA, muito menos Taças Intercontinentais ou Taças das Liga dos Campeões? Como era possível uma paixão daquelas por um clube que, a esse tempo, era clara e indiscutivelmente o terceiro emblema de Portugal?
É forçoso pois concluir que o FC Porto não nasceu nas vitórias nem das vitórias, nem é isso que define a matéria do clube. O FC Porto é antes a expressão máxima e o símbolo da união das gentes do Porto e, se quisermos ser mais gerais, de grande parte das gentes do Norte, com um património, cultura e ideais comuns, fundados na resistência ao poder centralista e à burocrática máquina estatal lisboeta. Não é por acaso que o Porto é considerado a cidade burguesa por excelência. Nem é por acaso que o Porto é considerado a cidade do trabalho. Muito menos é acaso que os grandes barões da indústria portuguesa estão sedeados a Norte. O Norte, esse Norte, tradicionalmente mais populoso, mais preenchido territorialmente, do minifúndio, marcadamente católico e ligado à família, sempre se diferenciou do resto do país. Não será por acaso que foi num Estádio das Antas a rebentar pelas costuras, em Outubro de 1975, que o CDS de Freitas do Amaral realizou um dos maiores comícios de resistência à instauração do comunismo em Portugal. Norte esse que tinha no general Pires Veloso, o chamado Vice-Rei do Norte, “o braço armado que até não tivera, mas também, pelas suas maneiras directas e desassombradas, como o símbolo da mítica franqueza popular nortenha perante uma Lisboa cortesã e florentina”, nas expressivas palavras do historiador Rui Ramos. Até a democracia nacional, quer na resistência ao PREC, quer na eleição do primeiro independente para Presidente de um município (Rui Moreira) tem o seu berço na cidade Invicta.
É também ao insuspeito Rui Ramos (nasceu em Torres Vedras) que recorro para concluir esta ideia:
- “foi esse norte que levantou o FCP como alternativa ao futebol “oficial” de Lisboa. Depois da década de 1980, a integração europeia nem sempre favoreceu a sociedade e a economia nortenhas, fê-las mais fracas e mais dependentes, enquanto os partidos políticos que tinham tido aí a sua base se instalaram no Estado lisboeta e na “Europa”. A democracia portuguesa perdeu com o fim do norte de Pires Veloso” (crónica AQUI).
- “(…) pela equipa do Benfica, jogou Álvaro Pina, que estava suspenso por seis meses. A suspensão foi levantada nessa mesma semana, sem que o prazo de seis meses estivesse concluído, e voltou a estar suspenso na semana seguinte. Jogou também Gaspar Pinto, jogador que o Benfica foi buscar ao Carcavelinhos nessa mesma semana. Já na semana seguinte, contra o Benfica, Gaspar Pinto não jogou, porque voltara ao Carcavelinhos para fazer o resto da época. Ou seja, jogou pelo Benfica apenas contra o Porto. Um acordo entre Benfica e Carcavelinhos com que a Associação de Futebol de Lisboa concordou (…)“ (excerto do blog Bitri AQUI).
No final do vitorioso encontro de 1986, nas Antas, o Presidente Pinto da Costa proferiu as seguintes palavras:
- “Nós denodadamente lutamos para continuar a pôr o FC Porto no 1º lugar, para tornar este clube cada vez maior porque ele é um símbolo de uma região, que é a grande região de onde realmente nasceu Portugal”.
PS 1 - Aqui deixo o link para esse mítico jogo entre o Porto e o Covilhã de 1986, fazendo a devida vénia ao Paulo Bizarro e ao seu Filhos do Dragão, AQUI. Deliciem-se com este banho de portismo!
PS 2 - Título de campeão entregue? Deixem-me rir. Não conhecem mesmo o FC Porto.
Rodrigo de Almada Martins
Nunca tinha visto este jogo e foi de facto um jogo épico! Que ritmo tinha este FCP, que garra e vontade! Que saudades de jogadores que sintam verdadeiramente a camisola como esses sentiam
ResponderEliminarBasta ver, por exemplo, a jogada do André no 3x2 do Gomes.
ResponderEliminarO André era de facto um atleta e jogador excepcional. O mítico CARREGADOR DE PIANO.
Favor não misturar politica com futebol.. quanto ao Diogo Freitas do Amaral que o autor do texto relembra numa das suas "cruzadas" no Porto, é bom lembrar que é o mesmo que apresentou um encomendado parecer relativo ao Conselho de Disciplina da Liga aquando de uma votação na ausência do seu presidente com o fito de prejudicar o FC Porto e o seu presidente. Quem não se recorda das cronicas contra o FCPorto do filho do Freitas do Amaral. Por isso não metam politica com o Futebol ou antes não se aproveitem de um blog com títulos sugestivos relativos ao FC Porto para apregoarem as suas simpatias politicas.
ResponderEliminarConcordo com todo o texto escrito, está de parabens, penso isto mesmo...e realmente o andré era um jogador fenomenal, era dos jogadores mais admirava naquelas equipas do porto dos anos 80, um verdade jogador à PORTO, gostava de ver o filho dele a jogar no porto tambem.
ResponderEliminarEu tive a felicidade de ter presenciado este jogo, e por isso da-me vontade de rir quando comparam o filho Andre Andre com o pai, ou falam de Fernando como o melhor trinco que passou no FCPORTO. E além disso marcava penaltis, coisa que hoje em dia é um problema.
ResponderEliminarSaudações Portistas
Paulo Almeida
Que maravilha de texto e que maravilha mostrar o que de facto era o Porto, ser Porto e acreditar sempre, agora só dá pipoca, basófia e camisolas dos super.
ResponderEliminarEstive nesse jogo, era miúdo mas lembro-me muito bem, que festa, que alegria, agora já nem nas vitórias as pessoas saem de casa, vêem na televisão que é mais confortável.
VIVO O F.C.PORTO!
Que pérola de texto.Parabéns.
ResponderEliminarQue texto mais falso! Misturar o futebol com a política nunca foi boa ideia e só o fazem quem não tem outros argumentos.
ResponderEliminarO norte tem muitas virtudes como qualquer outra parte do país mas também tem muitos vícios, entre os quais ser a parte do País mais atrasada e mais pobre fruto exactamente da pouca qualidade das suas elites e empresários ao longo dos anos. É onde se pagam os salários mais baixos no país fruto da pouca produtividade das suas gentes. Trabalhar muito não é sinónimo de trabalhar bem.
Ainda ontem saíram as estatísticas das médias salariais das regiões portuguesas e do norte apenas 3 concelhos têm valores acima da média portuguesa, Porto, Maia e uma terceira.
A grande maioria e com grande avanço estão no sul. Os primeiros são Alcochete, Benavente, Oeiras e Lisboa. Porque será? Não atirem areia para os olhos dos nortenhos por favor!
Nesse ano comícios também do PCP e PPD eu assisti aos três , atenção que foi um deputado do CDS Américo de Sá que teve na origem da saída de Sr Pedroto e Sr Pinto da Costa
ResponderEliminarFazer referencia a uma ida a Évora não quer dizer que se esteja a misturar política com futebol É só uma referencia..o que me parece é que esta pessoa só valorizou esse facto...daí achar este texto péssimo.Este texto está brilhante.Parabéns ao autor.
ResponderEliminarPor favor não aproveitar para fazer referencia às lutas Norte-Sul.Crónica muito boa.
ResponderEliminarAos anónimos de plantão,
ResponderEliminarNão há qualquer intuito político na crónica. Extrair algum significado político daqui é deveras difícil, parece-me.
Fiz uma descrição do Norte, do meu Norte, tal como o vejo, apoiado inclusivamente num dos grandes historiadores nacionais.
A referência a Évora vale o que vale. Prefiro o Presidente na cidade do Porto, concentrado no seu trabalho no FC Porto e não a actuar como "cidadão comum". Se vai visitar A ou B não é comigo, é com o Presidente.
O texto vai no sentido de explicar e conceber o FC Porto dentro da região, como símbolo máximo das suas gentes e de uma certa resistência ao poder centralista lisboeta, que existe e sempre existiu.
Cumprimentos portistas,