14 abril, 2016

“PARTING IS SUCH SWEET SORROW…”

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

Tantas ondas do mar revolto. Horrores de escarcéu. O alarido todo, a tamanha histeria. Tanta mensagem a cair no telemóvel no fim de cada jogo e notícias de jornal, telejornal e revista. Tantos directos, tanta capa, tanto especial e tempos de satélites assinados aos pinchinhos e palminhas pelos jornalistazóides deste país oh tão inclinado. Como que de uma autêntica novela mexicana ou argentina -- não sei verdadeiramente quais as melhores – se tratasse, repleta de salero ou daqueles big dramalhões de cortar os pulsos, com órfãos, floristas e hordas de desafortunados. E é vê-los, nas laterais, de bandeirinha na mão e fanfarra a tocar, a celebrar e a apontar o dedo a uma desculpa de equipa, física e psicologicamente de rastos, representante máxima de um clube sitiado, amorfo e quase (só quase, não se iludam…) destruído. Um regabofe. Um fartote de folias e foliões.

Ironia das ironias: temos finalmente a atenção que não raras vezes exigimos mas num momento em que a dispensávamos por completo. Aproveitam a nossa hora mais negra. Ávidos de pregar os derradeiros pregos na cruz Daquele que foi o homem mais odiado, perseguido e beliscado do país nas últimas três décadas, porque também o mais Invejado, Temido e Bem-Sucedido, Messias da sua tacanhez e real pequenez de espírito. O mesmo que encheu de frustração e de pesadelo os sonhos dos clubes sulistas-elitistas, lhes provocou unhas roídas, frio nas entranhas, medos nocturnos e sumarentos melões hiper-mega-gigantescos que iam lindamente com finas fatias de presunto. Pelo que agora é apenas normal ouvirmos à nossa passagem e em direcção ao calvário coros afinados de oincs!, roncos e zurros, os guinchos da classe dos primatas. Faz lembrar aquela música… “Parecem bandos de abutres à solta, os pulhas, os pulhas…”

Sempre temi estes tempos. Os da Guerra da Sucessão. Os do Grande Mas-Eles-Não-Sabem-Apenas-Transitório Ocaso da nossa Alma. Os do Fim dos Anos De Ouro. Os da Retirada do nosso Mais Que Tudo ou o Crepúsculo do nosso Deus. Os seus últimos suspiros à frente do Clube que tornou Imenso. Eu sabia que iriam ser assim: terríficos, dolorosos, angustiantes. Trágicos. Que são. Que estão a ser.

Let’s face it. Algum dia teria de ser. Mas não queríamos que acontecessem desta forma, tão dura, tão ingrata, inglória e… algo desumana. Certo. Certíssimo. Assim, pronto… sejamos pragmáticos: já está. Estando já a arcar com o horror todo, a tragédia toda, o imenso vazio e a terrível raiva regada a impotência, pelo meio e no processo adquirimos a tão desejada e necessária couraça de resistência, sobre a qual desabam e resvalam os céus todos. Ganhamos anticorpos. É uma teoria que insiste -- a magana -- em não me sair da cabeça: até na saída (demore 4 ou até menos anos…) o nosso Presidente soube fazer as coisas da melhor maneira para todos encararem com maior alívio e desprendimento o dia em que se retirar das luzes da ribalta, limpando e higienizando a sua SAD, arrancando pelo caminho e pela raiz os cancros, papoilas e quejandos que por lá brotam, verdadeiro hino à natureza. Deixando terreno fértil e viçoso para semear. Ver florir.

O FC Porto deu-me tudo ao longo destes anos: uma infância e adolescência mágicas, repletas da rutilante luz dourada da glória e das maravilhosas recordações tornadas ainda melhores e maiores por olhos ainda inocentes. Um mundo privilegiado de sonhos, heróis bonitos e de pernas à mostra, que tornavam lindos dias feios, que tinham a força e a generosidade da transcendência. E a transcender-se continuaram, tornando nossa a Europa e depois, como se não chegasse, o mundo.

Os heróis acabaram. Os deuses morreram. Já ninguém se transcende. Não sabemos se por incapacidade ou falta de vontade. O sentimento, esse, vai-se dispersando, perdendo, aparecendo apenas a fogachos. Num e noutro. Aqui e ali. E assomam as lágrimas gordas aos olhos já não tão inocentes. Este futebol não é para sentimentalões, nele não há lugar para românticos. O realismo e espírito prático assumiram as honras da casa e varreram tudo: trabalho é trabalho, conhaque é conhaque. Parece que é crime, pecado ou parvalheira jogar pelo amor à Camisola. Pelo mero e simples gostinho, apego. Simpatia, vá…

Já não sou criança, mas as minhas memórias de um clube e jogadores perfeitos continuam teimosamente mágicas e inalteradas. Ao menos isso. Prendo-me a elas, qual bóia de salvação e são elas, doces elas, que me mantêm à superfície neste pântano criado por tanta água que entretanto se foi metendo. Como eu, tantos, agarrados de olhar triste e desesperado aos destroços que por nós vão passando. Com eles construiremos um barco e depois uma nau. Das Camisolas que todos vestimos surgirá uma vela. Com o amor que teimamos em ter e em mostrar, que nada nem ninguém conseguirá emudecer ou calar ou tornar clandestino, a insuflaremos. Rumo a novos mundos. E conquistas. E futuros. A História não termina aqui e assim. O nosso Livro dos Dias terá novas páginas.

Voltaremos. Mais fortes. Românticos. Com heróis. Possivelmente novos deuses.
Escrevam isso.

Até lá, sem despedidas. Será apenas um interlúdio, um momento – breve -- para lambermos as feridas.
E armar a Vela.

P.S. Para ti, R.

--» O MEU ARQUIVO: todos os meus textos AQUI.

8 comentários:

  1. A fórmula que deu sucesso aos PORTISTAS baseou-se sempre na capacidade da sad, do seu treinador e do departamento de scouting do clube escolherem jogadores (baratos) de qualidade e a partir daí montar uma equipa competitiva.
    Hoje temos uma sad preocupada com comissões de jogadores que se revelam ruinosos "flops". E bem podem contratar o treinador que quiserem que não sairemos da cepa torta.
    O que importa agora é voltar à receita que deu inúmeras vitórias ao FCPORTO. Para além disso eu defendo que se devia vender a percentagem AZUL E BRANCA do poucocanal, fazendo no NOSSO estádio a DRAGÃOTV (canal de FORTE propaganda/marketing da marca FCPORTO e de "ataque" aos nossos inimigos). Depois de termos feito isto tudo, então sim, enfrentamos o "colinho".

    Luís (O do José Peseiro)

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  2. Miss Blue Bay:

    Crónica ao nível que nos habituaste, sublime.
    Não perdi uma única ao longo do tempo que aqui tens passado. Delicio-me com cada frase que escreves, com um sentimento de PORTO que é muito similar ao meu.
    Com uma vénia à forma como escreves e sentes o meu, teu, nosso Porto, fica um até já.

    Voltaremos sim, e juntos conseguiremos.

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  3. @ miss bluebay.

    obrigado, muito obrigado, imensamente obrigado.

    a amizade, o respeito e gratidão, manter-se-ão com toda a naturalidade... quanto a nós, como é óbvio, vamo-nos continuar a encontrar por aí, nos sítios do costume.

    "Quem Não Sabe Porque Ganha, Não Sabe Porque Perde"

    aMiga, aQuele bJinho!

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  4. Como em tudo na vida, tudo começa e tudo acaba e depois se renova, completando o ciclo. "Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe."
    Parabéns pelo magnífico trabalho exposto nas páginas deste fantástico espaço de Porto e Portismo.

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  5. Como o cemitério está cheio de insubstituíveis e a terra continuou a girar também o FCP continuará o seu caminho pois é imortal. E um dos erros dos portistas é pensar que depois de PC vem o dilúvio. Dilúvio está já acontecer com ele e neste momento precisávamos de um Noé que nos salvasse.

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  6. Cara amiga
    O seu Portismo é evidente. Já discordo do “até breve”. O discurso deve ser para fora, não para dentro. Não acredito que nos deixe nem que seja “um interlúdio”. É hora de nos juntarmos e nada de divisionismos. Porventura a culpa é nossa (Portistas)?
    Sei que está em curso um movimento de Portistas da velha guarda para tentar arranjar uma solução, digamos um plano B, para o caso da próxima época dar para o torto. Há dias tive a ideia junto de um destacado elemento dos Encontros da Bluegosfera de lhe sugerir que no próximo Encontro (habitualmente depois de terminar o campeonato) se promovesse uma grande reunião de Portistas (que eu costumo classificar como novos, velhos, ou assim-assim), no sentido de se estudarem estratégias que evitem a continuação da crise.
    Para tanto essa reunião alargada a todos os nossos conhecidos deverá ser fortemente publicitada para que possa aderir um grande número de portistas para pedirem a realização de uma Assembleia-Geral no Clube. Não acredito que não se consigam encontrar 300 sócios dispostos a isso.
    E ninguém fica de fora. A minha amiga fica desde já “convocada”, e mais alguns portistas que estão a abandonar (não percebo porquê) os blogues. Se já passamos por anos e anos que não ganhávamos nada, porque não havemos agora de continuar por dois ou 3 anos de derrotas?
    Ok? Vamos lá deixar de lamechices e andar para a frente!
    Bjinho

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  7. Costa Azul: disse
    A equipa está de rastos, não sei se o General falou às tropas, se calhar no próximo jogo vai ser o mais do mesmo, provavelmente mais uma casa vazia. Domingo mais uma triste votação como muitas outras que já se passaram, uma lista única para ser votada pelos mesmos apoiantes de sempre, chefiados por um barbas e um medalhas à procura da gratidão do sr presidente, já começa a ser ridículo.
    Fico aguardar o discurso do Presidente após a sua reeleição.

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  8. Meu amigo vá esperando sentado. O Presidente à muito perdeu a fala. Se nem fala para defender o clube perante tudo que tem acontecido ia agora dignar-se a falar aos sócios que acatam e aceitam tudo que ele faz mesmo que seja a sua demonstração de incompetência atual.Espere sentado!

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