23 maio, 2018

A INCÓGNITA CONCEIÇÃO.


Ao contrário do que muitos estariam à espera inicialmente, o fecho das contas referentes à época futebolística de 2017/18, saldou-se com uma surpreendente distribuição de títulos. Slb e Sporting, curiosamente aqueles que assumidamente se posicionavam como os favoritos a limparem tudo por cá, arrecadaram os títulos menores da temporada, nomeadamente a Supertaça e Taça da Liga, cabendo às equipas do Norte os prémios mais desejados. O de Campeão Nacional para o FC Porto, e o de vencedor da Taça, para o Aves.

Nunca é demais esquecer que FC Porto e Aves, com as suas conquistas, marcam automaticamente presença na disputa do primeiro título da época 18/19, a Supertaça, o que, independentemente do vencedor - que obviamente desejamos que calhe às nossas cores - constitui desde já um rombo na recente, e eclesiástica, hegemonia benfiquista, ao arredá-los da possibilidade de disputar mais um título.

Estando ainda a procissão no adro, no que à temporada 2018/19 diz respeito, as movimentações até ao momento em nada comprometem aspirações futuras da equipa. São elas a renovação de Casillas, a venda de Ricardo Pereira, e num plano mais contabilístico do que desportivo, a igual venda de Bolly.

Iker Casillas é, logo no início, o principal reforço para a época que se avizinha. Numa posição tão específica como a de guarda-redes, a segurança e experiência, são factores determinantes para o sucesso, algo que José Sá, Vaná ou Fabiano ainda não estão em condições de dar à baliza portista. Com o espanhol, partimos com a garantia que não teremos sobressaltos de maior até junho de 2019.

Quanto à saída de Ricardo Pereira, de toda a nossa defesa titular, é a posição onde existem melhores alternativas internas. Obviamente refiro-me a Diogo Dalot, cuja juventude e margem de progressão têm tudo para, não só superar Ricardo, como inclusivamente torná-lo uma referência no futebol europeu e mundial. Não esquecer que, além de Dalot, ainda permanece nos nossos quadros um jogador com a experiência de Layun, falando-se inclusivé que o próprio Maxi estará disponível para renegociar a sua manutenção no plantel. Deste negócio, apenas os 20 milhões (com possibilidade de se extenderem a 25) me parecem algo àquem do valor do jogador em questão.

Sobre Boly, um jogador que misteriosamente nunca contou para NES no Porto, e tornou-se num esteio do Wolverhampton de NES, a venda por 13 milhões de euros, mais do dobro do valor por que foi adquirido, acaba por dar contornos de happy end a esta história, e uma ajuda interessante para os cofres azuis e brancos, num jogador visto como excedentário.

Uma questão relativa à nova época, que parece estar a ser menosprezada pelos adeptos, é o absoluto desconhecimento que temos em relação ao nosso treinador. Bem sei que, neste momento, alguns de vós estarão a procurar entre os internos do Magalhães Lemos o meu nome. Para vos poupar esse trabalho, passo a explicar o meu ponto de vista.

Sérgio Conceição foi o principal obreiro deste título. Ponto final.

E foi campeão como?

Em primeiro lugar, ao ser bem sucedido na hercúlea tarefa de limpar a cabeça dos jogadores, de várias épocas de insucesso desportivo, quer a nível colectivo, como em alguns casos, ao próprio nível individual.

Após esse passo, criou um espírito férreo de grupo, com o objectivo obsessivo do título(s) em pano de fundo.

Por fim, soube "inventar" dinâmicas novas para as contrariedades que foram surgindo, das quais a substituição de Soares por Marega na 1a jornada, ou a dupla Sérgio Oliveira/Herrera a fazerem de Danilo, foram verdadeiros coelhos da cartola, salpicados por alguma dose de fortuna.

Contudo, para o actual Campeão Nacional, estes alicerces estarão já ferrugentos para a época que se avizinha. Senão veja-se:

O título ganho, se bem que (muito) longe de enfartar, serviu para saciar a fome imediata de jogadores e adeptos. Fazer bandeira de igual objectivo para o ano, mesmo que juntando uma ou outra taça, não terá o impacto, nem motivará a mesma abnegação e sacrifício que se viu este ano nos jogadores. E como vimos, no último terço do campeonato houve uma queda abrupta da capacidade física e qualitativa da equipa, remendada com muito coração e empenho.

Quando se parte para algo com expectativas nulas ou muito baixas, não só o grau de cobrança ou exigência é menor por parte de quem apoia a equipa, como a superação é um patamar de mais fácil acesso. A péssima preparação da época, culminada pelos "reforços" da casa, levou a que os adeptos em massa se solidarizassem com a equipa. Ao ponto dos assobios, banda sonora habitual num passado recente, serem praticamente erradicados do Dragão. Em sentido contrário, não tenho memória de tão forte apoio longe de casa, fizesse frio, sol, chuva, ou a distância fosse longa.

Por fim, treinadores que fazem da emoção uma das suas principais valias, acabam por ter ciclos relativamente curtos nas equipas que orientam. Como treinador principal, fazer um segundo ano no mesmo clube será uma experiência inédita para Sérgio Conceição. Provavelmente terá bem mais para aprender, do que para ensinar.

Todas estas premissas mais obscuras, partem do receio da SAD voltar a dar o mesmo "beijo de Judas" ao treinador: Vendas de jogadores sem investimentos relevantes no plantel.

Obviamente que com reforços cirúrgicos, que tragam um acréscimo de qualidade ao plantel, Sérgio Conceição com a sua capacidade de se reinventar e ambição de ganhar, poderá tornar-se num treinador histórico do FC Porto. Óxala a SAD assim o permita.

Cumprimentos Portistas.

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