À PORTA FECHADA??

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Os últimos dias do quotidiano do nosso clube ficaram marcados por dois acontecimentos que me apetece dizer terem sido realizados autenticamente “à porta fechada”, se bem que por razões distintas. Falo da Assembleia Geral Ordinária do FC Porto realizada na passada 5ª feira e a Gala “Dragões de Ouro” realizada na passada 2ª feira.

Comecemos pela Assembleia Geral.

Faço em Fevereiro próximo, 28 anos de sócio do clube. Nos últimos 13 anos, falhei uma AG. Nunca nestes anos estive presente numa assembleia com tão poucos sócios (30, no máximo), com uma demonstração tão grande de desinteresse e distanciamento dos assuntos de interesse do clube. Às 20:30h, hora do suposto início da reunião magna, estavam presentes 6, repito, 6 associados.

Foi a primeira vez que nenhum associado interviu na meia-hora de discussão sobre assuntos do clube! Há demonstração de desinteresse maior? Mau demais! Dá mesmo vontade de perguntar se seria à porta fechada.

Responsabilidades?

Dos associados, pois fartam-se de na mesa dos cafés, no emprego, nos blogs, etc, dar palpites sobre o dia a dia do clube, criticar o que lhes apetece, dizerem as maiores asneiras, defenderem o indefensável, afirmarem coisas como se fossem verdades indesmentíveis, e chega-se ao dia de saberem a verdade sobre o clube, e não aparecem. É uma atitude tão respeitável como outra qualquer, mas faz-me lembrar aqueles que, quando os jogos são com o Paços de Ferreira ou o Moreirense, “tá frio”, “é tarde”, “é caro”, mas quando é com os menstruados, faça chuva ou faça sol, seja às 19h ou às 21:30h, são os primeiros a chegar e estão na primeira fila a vibrar.

Responsabilidade da direcção, porque insiste em fazer uma divulgação antiquada de um evento deveras importante. Cumprir estatutariamente o que está definido (anunciar com a devida antecipação a assembleia em 2 jornais de grande tiragem), não é razoável na era da comunicação e do desenvolvimento.

Anunciar no site, menos de 24h antes, é manifestamente pouco, ocorrendo isto na era digital, onde poucos lêem jornais em papel, e onde os sites das instituições são veículos essenciais para transmitir o quotidiano das referidas instituições.

Mais, no dia anterior, houve jogo da Liga dos Campeões em casa... porque não ter anunciado o acontecimento nos ecrãs do estádio? Fica a ideia (mesmo que errada) que o clube não mostra interesse na presença dos associados nestes locais, e não é a primeira vez que o digo.

Esta ideia sai reforçada pelo intervenção pouco segura, muito repetitiva “da defesa da honra”, protagonizada pelo Dr. Angelino Ferreira na exposição que fez do Relatório e Contas.

Não vou entrar em detalhe sobre números que não domino.

Ainda assim, os poucos presentes, perceberam que os resultados operacionais do clube foram positivos (só se fossemos surdos não o teríamos percebido, tal foi o número de vezes repetido), mas com as participações que temos nas outras sociedades do clube (SAD, por exemplo), o resultado passou para negativo em quase 10 milhões de euros. Cada um faz a leitura que quiser!

Curioso foi perceber a redução de custos com o pessoal... pudera, a não pagar salários, mal seria que esse custo não reduzisse! Curiosa também uma dívida do clube à SAD no valor de 12 milhões de euros... dívida à SAD?? Porque carga de água?? Se fosse ao contrário ainda se percebia, mas assim...

Termino dizendo que, numa altura em que o clube atravessa uma inegável crise financeira, em que ainda não pagou Agosto às modalidades, soma atrasos em cima de atrasos aos fornecedores, a AG terminou parecendo que tudo vai bem e que nada se passa! Maus sintomas...

Quanto à Gala “Dragões de Ouro”, são poucas as palavras para exprimir a crescente indignação que tenho perante este evento.

Para começar, acho que é preciso ter uma distinta lata para gastar “uma pipa de massa” num evento que retrata uma ostentação que nunca fez parte da nossa história e mística, estando ao mesmo tempo a dever dinheiro àqueles que dia após dia treinam, jogam, defendem e honram as nossas cores. Como se terá sentido um atleta que não recebe desde Agosto ao ver um gasto de dinheiro daqueles??? Cada um que pense como se sentiria se a sua empresa lhe devesse salários e fizesse uma gala daquelas.

Para além disso, acho inacreditável que o evento seja “à porta fechada” para qualquer associado comum. Os associados, não os clientes como muitas das vezes nos tratam, são a força do clube. A mole humana que o acompanha e engrandece! São aqueles que lutam e sofrem por ele. Não são os amigos, os engravatados ou os empresários mamões que o engrandecem. Num espaço daquele género, os sócios não poderem ter acesso, é vergonhoso! Se há 300, 400 ou 500 lugares para público no Coliseu, era colocado à venda o número de bilhetes correspondente, e os primeiros a comprar o respectivo bilhete, seriam os presentes. Não é isso que acontece sempre?? Se todos os associados se lembrassem de ir ao Estádio do Dragão ou ao Dragão Caixa ao mesmo tempo, também não haveria espaço para todos. Agora, só porque se é um indivíduo “IN” podesse ir à Gala e um associado normal não pode? Não se honra desta forma a nossa história e o nosso ADN.

Por fim, os galardoados!

Sem personalizar, porque senão tinha que dizer coisas pouco agradáveis, questiono se não seria muito mais natural, muito mais óbvio, muito mais portista, o clube identificar 3 candidatos a cada um dos galardões, e depois os associados (num sistema de validação como acontece no pagamento de quotas) votarem no site os vencedores? Assim temos galardoados que nada dizem aos sócios, nada dizem aos portistas, ficando a ideia de que é o prémio para os amigos ou para outros interesses que não se percebem.

Termino com um nome: Sardoeira Pinto! Um Senhor, um Portista com P enorme, um orgulho para qualquer portista que se preze. Nem sempre muito falado ou reconhecido, é um baluarte do que é ser Porto. O seu comportamento recorrente ao longo dos anos, a forma como respira e transpira Porto, é para mim um exemplo. Vê-lo liderar uma AG, ver o seu comportamento numa Gala perante o hino do clube (foi o único que se pôs de pé!), é não só uma inspiração para quem tem menos de metade da idade dele, como também uma emoção enorme por poder ter gente desta entre nós.

Um abraço.