27 julho, 2017

JOGAR COM A PRATA DA CASA.


Conforme dito no regresso da pausa futebolística, a fruta acabou, Francisco J. Marques e companhia voltaram a nivelar o terreno do futebol português. O fim do Apito Dourado/Apito Final agora nos tribunais desportivos, depois de todas as implaváveis derrotas do Ministério Público nos tribunais civis, significou também a machadada final na fruta. Com a anulação pela justiça desportiva da retirada de 6 pontos ao FC Porto, passados muitos e longos anos, anos esses em que o Benfique aproveitou para tomar o controlo total e cabal de todas as estruturas e clubes do futebol português, o Porto e as suas gentes voltam a poder exigir que não brinquem com o seu nome, com o seu emblema, com a sua história e com os seus adeptos. Olhos nos olhos, de cabeça bem levantada e sem medo de ninguém. O Presidente Pinto da Costa afinal sempre tinha razão: largos dias têm cem anos. A justiça tarda, mas chega.

Depois da última e decisiva absolvição, depois do “que passou-se?”, do “sabes que sempre estive do vosso lado”, do “eu só quero ser o vosso menino querido”, do “aconteça o que acontecer, a classificação final tem que ser esta”, do “ponha a carne toda no assador, conforme eu ponho todos os dias”, do “temos os padres que queremos nas missas que celebramos”, do “só temos que rezar e cantar bem”, do “200 é a noite toda, a 3 é 400”, sabemos bem quem tem que meter a cabecinha entre as pernas e respirar baixinho para não ser notado.

Posto isto, penso que o nosso clube, fruto também das circunstâncias financeiras, está a tomar a atitude correcta neste defeso. Devo dizer, por exemplo, que me agradou o design da pré-temporada, com o torneio no México e com um estágio dentro de portas, com adversários nacionais, vários treinos ao longo das semanas, tudo numa lógica de poupança de custos e sem manias de novo-rico. Gostei, aplaudo, prefiro ver os jogadores no Algarve do que na Bélgica ou na Suiça. Chamem-me provinciano ou o que quiserem.

Não se pode pois usar dois pesos e duas medidas quando se julgam as acções do clube. Se quando se contrata demasiado, é costume dizer-se que estamos fartos de camionetas de jogadores e de estrangeiros sem cultura Porto, temos que estar moderadamente confiantes no que aí vem. Uma equipa rotinada e um balneário unido são a meu ver muito mais importantes que a chegada de 2 ou 3 reforços, que demoram sempre pelo menos 3 a 4 meses a adaptar-se ao futebol português, ao clube e à cidade. O tempo das vacas gordas já lá vai (Ismael Diaz que o diga!), as finanças da SAD, é sabido, não vão de vento em popa, pelo que, não havendo dinheiro para contratar um crackalhão do estilo de Lucho Gonzalez ou João Moutinho, que chegue e pegue de estaca como titular sem vacilos, mais vale estar quieto e ser prudente.

Com efeito, a meu ver, as quatro maiores contratações do FC Porto, ainda sujeitas a confirmação, são as permanências de Iker, Felipe, Marcano e Danilo, não necessariamente por esta ordem. Um eixo defensivo central rotinado e feito de homens de barba rija é meio caminho andado para o sucesso. Se além disso somarmos a manutenção dos laterais Maxi e Telles, temos aquilo que não víamos há muitos anos no FC Porto: uma defesa titular a manter-se de uma época para a outra.

A defesa é, até agora, o sector onde o FC Porto se reforçou melhor (e de graça): chegaram Ricardo Pereira, Diego Reyes e Martins Indi. Começando pelo fim, dizer que acredito que apenas um dos centrais regressados se manterá no plantel. Tenho a certeza que qualquer um deles está mais que pronto para lutar pela titularidade com Felipe ou Marcano, embora comecem claramente um passo atrás. Se me fosse pedida a opinião, diria que o mexicano tem mais potencial de crescimento e de se tornar um central à Porto do que o holandês. Mas reitero a confiança total nos dois.

Quanto a Ricardo Pereira, merece um parágrafo próprio. Quem me conhece sabe que sempre fui contra a sua dispensa. Ricardo nunca foi um jovem qualquer: mesmo quando ingressou no FC Porto já era internacional pelas camadas jovens e já havia marcado um golo vitorioso numa Final da Taça de Portugal, tendo rotação tanto a lateral, como a extremo-direito. Era claro que estaria ali um Bosingwa 2.0. No FC Porto foi vítima de forte concorrência e de alguns erros de Lopetegui na sua utilização. Ainda assim, os dois anos (!) em Nice trouxeram coisas positivas: rodagem tanto a lateral direito como esquerdo, minutos nas pernas e exposição internacional. A exposição foi tanta que ainda não é certo que Ricardo fique no FC Porto, pois há muitos e bons interessados nos seus serviços (Tottenham à cabeça). No entanto não posso negar que sonho com uma asa direita a fazer lembrar os tempos de João Pinto e Sérgio Conceição ou de Sérgio Conceição e Capucho. Se Maxi ficar, o agora treinador do FC Porto, pode não ter outra opção a não ser construir a banda direita com Maxi atrás a conferir segurança e a libertar o carrillero Ricardo para partir tudo ora pelo meio ora pela linha.

Se esta for a solução, até podemos poupar uns trocos e não ir ao mercado em busca do tal terceiro extremo: Ricardo juntar-se-ia a Brahimi e Corona com o objectivo de municiar os avançados. Já a Hernâni, atendendo às recentes prestações, só um golpe de sorte o tirará da lista de dispensados, o que me entristece particularmente, pois vejo nele virtudes indiscutíveis no 1x1 e na capacidade de esticar o jogo.

É certo que ainda há interrogações no lado esquerdo. Telles tem o lugar praticamente assegurado e o polivalente Layun terá o seu destino dependente do futuro de Maxi Pereira. Também por isso é prematuro tecer considerações sobre quais os papéis de Rafa e de Dalot no FC Porto 2017/18. A defesa do FC Porto é como um xadrez que, mexida uma peça, poderá levar a movimentações noutras posições.

No meio-campo, Danilo será rei e senhor e sou da opinião que Mikel não tem qualidade nem estaleca para se afirmar como jogador do nosso clube. Sobram Oliver – que terá um papel de relevo nas transições rápidas e condução de bola dos ataques da equipa – , André André (um jogador da classe média da equipa, que será bastante útil ao longo do ano), Herrera (eu sou daqueles poucos que ainda espera coisas boas do mexicano e penso que está vários passos à frente do português), João Carlos Teixeira (que, creio, devido à sua reduzida intensidade de jogo, não terá grandes oportunidades ao longo da época e pode estar em vias de ser dispensado), Sérgio Oliveira (o mesmo relativamente a JCT) e Otávio, com lugar cativo nos eleitos de Sérgio Conceição, que pretende usá-lo mais adiantado para aproveitar a qualidade do seu último passe. Daí que, no actual panorama, veja com muita dificuldade a contratação de Wendel, mesmo que me pareça um jogador de qualidade e com margem de progressão para dar e vender. Reforço: no actual panorama.

É na frente, confesso, que vejo mais necessidade de atacar o mercado. Se no ano passado, usando um esquema de 4x3x3 com apenas um homem fixo na área, tínhamos 4 avançados disponíveis (André Silva, Soares, Depoítre e Rui Pedro), esta temporada em que o 4x4x2 parece ter vindo para ficar, não podemos começar apenas com Soares, Aboubakar e Rui Pedro. É urgente procurar nos mercados um ponta-de-lança experiente, que garanta golos, mas que ao mesmo tempo não seja um Jackson ou um Jardel, isto é, que não seja um eucalipto que seque tudo à sua volta. Porque se se tratar de um eucalipto, voltaremos rapidamente à lógica do 4x3x3 que se tem mostrado algo esgotado e limitado face às defesas fechadas que o nosso clube enfrenta todas as jornadas.

Rui Pedro poderá ser uma arma secreta de alto quilate, desde que não seja lançado como no ano passado, sempre em desespero de causa. O rapaz tem faro de golo, tem alma felina na área e, ao contrário de André Silva, não se sente tão à vontade fora dela. É mais um rato de área e, por isso, poderá ser muito útil. Já Marega, creio, não terá lugar nestas contas e seria interessante aproveitar a sua valorização em Guimarães para conseguir um encaixe razoável com a venda definitiva.

Uma coisa parece certa: o FC Porto está a arrumar casa. E esperemos que assim continue. Abdoulaye, por exemplo, que já vai no enésimo empréstimo, é um daquelas casos que merecem reflexão: se todos sabemos que não serve nem nunca servirá para a nossa defesa, porque é que se mantém o vínculo com este jogador? Esperemos, por isso, ver mais vendas definitivas até ao início da temporada.

PS - O FC Porto passa a contar com uma Equipa de Apoio ao Sócio, conforme indicado pelo clube no seu site oficial. Saúda-se esta novidade. Já há largos anos que vimos chamando a atenção para o cada vez maior afastamento entre clube e sócios, entre jogadores e adeptos, entre a estrutura do FC Porto e o comum associado. No entanto, esta notícia, a juntar à realização do Dia do Clube - organizado por sócios - dentro da nossa casa, o Estádio do Dragão, assim como a apresentação dos equipamentos em plena Ribeira do Porto, local espiritual e emblemático para os portuenses, só nos pode deixar felizes e esperançados num futuro melhor. Sendo certo que o clube ainda tem que trilhar um longo caminho no sentido de se aproximar dos seus sócios de forma mais efectiva e calorosa, de forma a corrigir o comportamento que vinha tendo até muito recentemente. Saúdo e aplaudo estas recentes decisões, mas mantenho que é preciso mais acção por parte dos responsáveis azuis e brancos no sentido de unir todos os portistas.

Rodrigo de Almada Martins

4 comentários:

  1. Se ontem elogiei o artigo de Norte hoje não seria possível deixar de referir o de RAM.
    É mesmo isso. O nosso clube parece disposto a sair do adormecimento por que tem passado nas
    ultimas épocas. A única contrariedade foi o acidente com o nosso Presidente que se espera não deixe mazelas.
    Resta aguardar o comportamento dos associados no apoio à equipa. Sugere-se aos pipoqueiros que não gostem da prestação dos jogadores, deem meia volta a vão chatear o Camões!
    Saudações Portistas

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  2. registe-se para bom entendedor, a "lógica de poupança de custos e sem manias de novo-rico" e "O tempo das vacas gordas já lá vai"... preciso dizer algo mais?! sim, que agora, é sempre a subir, sempre a subir... o cavar fundo, acreditemos, faz parte do passado.

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  3. Muito bem,estou totalmente de acordo

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  4. Partindo do princípio que o FCP vai manter este ritmo de jogo durante o campeonato da 1ª Liga, só podemos chegar a uma conclusão: ovos tínhamos, o que nos faltava era quem soubesse fazer omoletes. E, de uma vez por todas, parem de assobiar no território sagrado do Dragão quando as coisas não estão no seu melhor, conversem no café, desabafem com o amigo mais próximo, mas não mostrem aos adversários o nosso desagrado, nós somos diferentes,nós somos Dragão.
    Saudações Portistas

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