02 julho, 2010

Capítulo 1: 1893 a 1910 (continuação - parte II)

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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto


Capítulo 1: 1893 a 1910 (continuação - parte II)

A amável carta de desafio a Lisboa

Depois dos primeiros jogos, o entusiasmo cresceu. E a 25 de Outubro de 1893, António Nicolau de Almeida enviou ao presidente do Football Club Lisbonense, Guilherme Pinto Basto, uma carta que era um repto, solicitando a presença daquela equipa no Porto, e onde pedia desculpas antecipadas por não poder apresentar um "eleven" capaz. Eis parte da simpática carta:

    "Desejando solenizar a definitiva instalação do Football Club do Porto, resolvemos organizar um “match”… …Cumpro, pois, na qualidade de presidente do Football Club do Porto, o honroso dever de convidar por intermédio de V. Exa. os valentes e adestrados jogadores do Club Lisbonense a tomarem parte no referido "match". Na esperança de sermos honrados com a anuência ao n/pedido, aguardamos o favor de uma resposta rápida p.ª n/governo. Deus guarde V. Exa. Illmo. Sr. Presidente do Football Clube Lisbonense."
Anúncio dessa mesma carta seria estampado na página 3 do "Diário Illustrado", no dia 29 de Outubro de 1893. Foram linhas escritas por um primo de Guilherme Pinto Basto, que, de tão bem informado, acrescentaria que, para a data proposta, não seria possível "reunir, escolher o grupo e dispor a partida em tão curto espaço de tempo", mas garantido ficava que o convite fora aceite. [In "Glória e Vida de Três Gigantes" – Adaptação]

Jogo com “real” assistência
O primeiro evento competitivo do futebol português


Em Fevereiro de 1894, Guilherme Pinto Basto respondeu a António Nicolau d’Almeida e aceitou o desafio. Este e Pinto Basto, servindo-se do bom relacionamento com a Casa Real, quiseram dar ao acontecimento importância inusitada, convencendo o Rei D. Carlos a patrocinar o jogo entre as equipas do Football Club do Porto e do Club Lisbonense. De bom grado o rei ofereceu para disputa uma taça, em prata e ouro, com o seu próprio nome. E apenas exigiu que o encontro fosse incluído no programa oficial das comemorações do quinto centenário do nascimento do Infante D. Henrique, que decorriam no Porto.

A 2 de Março de 1894, o grande acontecimento, o jogo!

De Lisboa, com despedida calorosa, partiram os jogadores do Football Clube Lisbonense seleccionados e “capitaneados” por Guilherme Pinto Basto. A viagem de comboio, até ao Porto, fez-se em 14 horas!! A noite foi passada sobre carris. Em Campanhã uma recepção entusiástica e, três horas depois, o jogo, no recinto do Oporto Cricktet and Law-Tennis Club, no Campo Alegre, onde os ingleses radicados no Porto jogavam, amiúde, o seu “football”. Com a presença da família real (que chegou atrasada por causa das celebrações Henriquinas), o "match" iniciou-se às 15 horas e 15 minutos. Resultado final: vitória do Clube Lisbonense, por 1-0.

Rezam as crónicas que pelo Football Club do Porto alinharam: Mac Geoc, F. Guimarães, A. Nugent, Arthur Dagge, Mac Millan, Eduardo Kendall, F. H. Ponsonby, Adolfo Ramos, Mac Kechnie, R. Ray e Alfredo Kendall.

E pelo Football Clube Lisbonense: Guilherme Pinto Basto, Keating, Locke, Clyde, Barley, Valentim Machado, João Pereira, Artur Raposo, Afonso Vilar, Thompson e Carlos Vilar.

A "Cup D'El-Rey", em disputa no célebre jogo de 2 de Março de 1894, foi para a capital e, mais tarde, ficou na posse do CIF, clube sucessor do Lisbonense, aí permanecendo como uma das mais belas e importantes raridades da história remota do futebol português.

Para a história também fica uma realidade: pela mão do monarca (assassinado 14 anos depois), de Nicolau d’Almeida e de Pinto Basto, o futebol português havia ganho verdadeira dimensão nacional.

Clube a despontar e o interregno

Após o jogo, patrocinado pelo Rei, entre o Football Club do Porto e o Football Clube Lisbonense, a agremiação nortenha parecia lançada para a prática continuada do futebol. "O Sport" publicava a seguinte notícia: "Depois do "match" entre as equipas do Porto e de Lisboa, a 11 de Março (de 1894) alguns sócios do Football Club do Porto estiveram no campo do hipódromo de Matosinhos, treinando-se durante duas horas."

De facto, entre os atletas que, como jogadores e fundadores, representaram o Football Club do Porto no jogo contra o Lisbonense, estavam alguns dos que se treinaram em Matosinhos: A. Nugent, Alfredo Kendall, Eduardo Kendall, Mac Kechnie, F. Guimarães e F. H. Ponsonby. Ou seja, mais um sinal provatório de que o Football Club do Porto de António Nicolau d’Almeida existia e jogava. Contudo, algo iria interromper a existência de um clube que ainda despontava…

  • no próximo post: Futebol não, é perigoso; Ano de 1906, novo impulso por José Monteiro da Costa; A primeira equipa oficial do FC Porto; Catullo Gadda.

7 comentários:

  1. Obrigado Azul Forte, é uma delicia ler os seus posts, eu gosto muito de história, mas mais ainda a história do nosso PORTO! ;)

    Fico á espera do próximo!

    BIBÓ PORTO

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  2. Conforme esperavamos, cá está mais um bom naco da nossa História pioneira. Continuamos aqui com grande interesse, sempre, e à espera do post seguite.
    Um abraço
    http://longara.blogspot.com/

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  3. História fantástica que me trazes aqui sobre o primeiro desafio entre o FC Porto e a agremiação lisbonense.

    Nicolau D´Almeida era sem dúvida um gentelman que com palavras bem macias lá desafiou a agremiação lá de baixo, claro que já na altura contavam com propaganda nazi da comunicação social a inventar desculpas caso perdessem o jogo.

    Estou a ver que isto para continuar por isso fico à espera de mais.

    Um grande abraço e bom post.

    Claro que de fruteiras percebem os lisboetas, lá perdemos a primeira fruteira mas com a promessa que mais tarde ou mais cedo a coisa ia mudar.

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  4. É sempre um prazer acrescentar mais um pouco de cultura e conhecimento a tudo o que já "devorei" relativo à história do Football Club do Porto:)

    ABRAÇO ao nosso historiador Azul Forte!

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  5. E assim começou o melhor Clube do Mundo. Não foi logo a ganhar, mas a aprender e bem para se tornar no que hoje é: O orgulho de uma nação!

    Um abraço

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  6. Tenho a convicta certeza que daqui, desta rúbrica especifica, das memórias aqui trazidas pelo 'nosso' historiador FMoreira, o meu Portismo sairá enriquecido e ainda mais reforçado!!!

    Ao lado do 'nosso', mas qual José Hermano Saraiva, qual quê... o que tá a dar, é o 'nosso' Fernando Moreira ;)

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  7. “Puxa à vida”! Ser colocado ao lado de José Hermano Saraiva é um honroso sacrilégio… Maior honra (sem heresia) só o ser portista. …E que linda é a história do nosso querido Clube! Um abraço.

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