FC PORTO-AROUCA, 3-0
Disse e defendi na última crónica que o FC Porto deve jogar em 4x3x3. E mantenho o que disse. A escola do FC Porto ao longo de mais de 3 décadas assentou neste sistema, salvo excepções. É uma cultura enraizada no clube. Qualquer mudança, seja ela qual for, terá de funcionar como alternativa e não como o modelo a seguir.
Para se mudar um sistema tático, terá de se passar por um processo longo e construído de uma forma sustentada. Quando não se tem uma equipa formada no sistema habitual e quer-se colocar em prática um sistema alternativo, variando de um para o outro persistentemente, torna mais difícil a consolidação de processos e as rotinas de jogo numa equipa em formação.
Não sou defensor do 4x3x3, nem de nenhum sistema. Sou defensor do bom senso. Nem estou sequer a criticar as opções de Nuno Espírito Santo. Nem sequer me atreveria a isso. Simplesmente estou a querer dizer que o FC Porto não pode jogar em 4x4x2 em jogos de dificuldade acrescida ou numa prova como a champions league, quando os processos da equipa ainda estão muito por trabalhar. A sensatez diz que se deve aproveitar o que a equipa já tem assimilado para se chegar à vitória.
A título de exemplo, vou falar em dois nomes: Tomislav Ivic e Co Adriaanse. Descaracterizaram por completo uma doutrina de um momento para o outro e tiveram os seus reveses.
Na sua primeira passagem, o croata tinha uma equipa quase perfeita, com anos de clube, que jogava de olhos fechados e acabada de ser campeã europeia. Fazendo as mudanças que fizesse, as coisas até lhe corriam bem, mas na segunda passagem pelo clube, tudo se complicou.
Apesar da passagem à fase de grupos da champions league, não lembra a ninguém apresentar o onze que Ivic apresentou em Roterdão. Lembram-se? Ainda hoje muita gente fala nesse episódio e ri-se mas se tivéssemos falhado o acesso à liga milionária, tinha caído o carmo e a trindade.
No caso de Co Adriaanse, verificou-se uma revolução. Grande parte dos adeptos chamavam-lhe doido e as suas opções deixaram os mesmos à beira de um ataque de nervos. Para consumo interno o 3x4x3 que, por norma, utilizava foi suficiente mas na Champions League revelou-se um desastre onde nem sequer foi capaz de derrotar um desconhecido e estreante Artmedia. Nos quatro jogos com os dois adversários directos a contar para o campeonato, ganhou apenas um.
Isto para dizer que se se quer implementar uma ideia nova de jogo para a equipa, o processo não pode passar pelo corte radical com todo um passado longínquo enraizado, quanto mais com uma equipa que está em formação e em construção. O Brugge é uma das equipas mais fracas na Champions League. É indesmentível! Mas não é o Nacional da Madeira. E uma coisa é jogar na Champions League, outra é jogar na Liga NOS com adversários menores.
Podemos até fazer um jogo brilhante em 4x4x2 com uma equipa de menor gabarito nas provas internas mas na Champions League não há que andar com experiências porque a margem de erro é curta e a exigência dos jogos é terrivelmente superior.
Por outro lado, podemos até jogar mal como foi o caso do jogo contra o Copenhaga mas o 4x3x3 é o nosso sistema de jogo. Não quero com isto dizer que o FC Porto irá jogar sempre bem com o 4x3x3 mas também não vai jogar sempre mal. Não é por termos feito um ou dois bons jogos em 4x4x2 e um ou dois jogos maus em 4x3x3 que se vai mudar tudo de um momento para o outro.
Abri esta excepção para responder a comentários que vi escritos em relação à minha última crónica. Leio sempre os comentários, mas desta vez vi insinuações de incoerência da minha parte. Não há incoerência nenhuma. Posso até não estar certo mas sei muito bem aquilo que defendo e aquilo que penso é o que escrevo. Agora cada um que pense e escreva o que entender.
Não escrevo aqui para debater com ninguém as crónicas que coloco e nem sequer voltarei a fazê-lo. Debato o clube, o futebol e os jogos mas aqui não. Aqui apenas estou para relatar o que se passa em cada jogo, visto pelos meus olhos. Mas respeito, claro, a opinião de cada um.
Passando ao que realmente interessa. Esta noite, no Dragão, vimos o FC Porto regressar ao 4x3x3 com Corona, Diogo Jota e André Silva na frente de ataque. A entrada no jogo foi de forma determinada, intensa e implacável. Não via o FC Porto com uma entrada no jogo tão forte como a de ontem há já algum tempo.
O resultado no marcador é justo mas peca por tardio. A avalanche do FC Porto justificava golos mais cedo do que surgiram e o resultado ao intervalo é bastante escasso. Mas o mais importante foi a vitória.
O Arouca, difícil adversário que venceu neste mesmo estádio há alguns meses, foi uma equipa muito curta para este FC Porto. Limitou-se a defender e as tentativas de chegar à baliza portista não existiram na primeira parte.
Nos primeiros minutos, o FC Porto poderia ter inaugurado o marcador mas Corona, numa jogada sensacional, não teve a melhor sorte. A bola bateu estrondosamente no poste. A avalanche ofensiva dos portistas era estonteante mas só em cima do intervalo é que o golo chegou e pelo quase inevitável André Silva.
Layún cruzou na direita, há um corte deficiente de Gégé, a bola sobrou para Diogo Jota que cruzou da esquerda para a entrada da pequena área onde André Silva recebeu e rematou de pé esquerdo para o fundo das malhas.
Na segunda parte, o Arouca soltou-se mais no ataque mas sem criar oportunidades de golo ou qualquer espécie de perigo para a baliza de Iker Casillas. O jogo continuou com a mesma toada. O FC Porto a atacar para chegar ao segundo golo e o Arouca preocupado mais em não sofrer novo golo do que em tentar o empate.
Apesar disso, os Dragões tiveram o cuidado de ser rigorosos defensivamente. Numa equipa claramente em construção, com muito caminho pela frente e com jogadores talentosos mas ainda com muito para crescer e amadurecer, ainda não é visível neste FC Porto uma equipa forte, que defina bem os momentos do jogo e que saiba sentenciar uma partida no momento certo.
Foi apenas aos 78 minutos de jogo que o FC Porto chegou ao segundo golo. Numa jogada que envolveu os mesmos protagonistas, os Dragões puderam finalmente dar a vitória como garantida. Diogo Jota recebeu na esquerda, cruzou para a entrada da pequena área e André Silva, desta vez de cabeça, colocou a bola dentro da baliza. André Silva a crescer de jogo para jogo, vai-se afirmando claramente como o ponta-de-lança de futuro e começa a criar rotinas de jogo muito interessante com Diogo Jota.
0 3-0 chegou em cima do apito final do árbitro. Em mais uma das muitas investidas individuais de Brahimi que entrara para o lugar de Corona, o argelino fez um grande golo. Brahimi teve, para mim, o destaque negativo da partida.
Por dois motivos!
Primeiro por insistir em jogar só para si persistentemente. E depois pelos insultos e impropérios enviados para as bancadas após o golo que marcou. Sou contra os assobiadores e os insultos dirigidos aos jogadores e equipa durante os jogos. É certo que Brahimi foi apupado não só ontem mas sempre que entra em jogo pela sua atitude e postura em campo e terá reagido a isso. Mas também condeno as atitudes deste jogador que se vê como a vedeta. Não aprecio de forma alguma jogadores com ares de vedeta.
Para mim pode Brahimi marcar golos como desta noite em todos os jogos, mas com estas atitudes e posturas, este jogador nunca será lembrado pelo que de bom poderá eventualmente fazer no clube. Se é que vai fazer algo de bom digno de registo na história do clube. E além disso, não é nem de longe, nem de perto o jogador que ele próprio pensa ser. Talento e habilidade não chegam para fazer um grande jogador.
Prefiro debruçar-me sobre as notas positivas do jogo. Destaco a dinâmica empregue pelo FC Porto durante todo o jogo, com maior incidência na primeira parte, as boas combinações entre Diogo Jota e André Silva, o bis do jovem ponta-de-lança e as boas actuações de toda a equipa em geral, com os focos em Danilo, Marcano e Alex Telles.
Com este resultado o FC Porto alcançou 3 pontos, distanciou-se do sporting que empatou em casa com o Tondela e alcançou provisoriamente o benfica no topo da tabela, aguardando pelo resultado destes em Belém.
Os Dragões partem agora para dois dias de folga, regressando ao trabalho na Terça-feira para preparar o jogo do próximo Sábado em Setúbal frente ao Vitória local, antes de dois compromissos importantes em casa: Club Brugge para a 4ª Jornada da Champions League e benfica para a 10ª Jornada da Liga NOS.
DECLARAÇÕES
Nuno: “O caminho é este”
Nuno Espírito Santo considerou que o FC Porto conseguiu uma “boa exibição” frente ao Arouca, acompanhada de um resultado gordo (3-0). O treinador elogiou o apoio das bancadas e, apesar de insistir que não gosta de “individualizar”, sublinhou o trabalho da dupla André Silva-Diogo Jota, o “grande golo” de Brahimi e o “equilíbrio” dado por Rúben Neves à equipa.
Jogo sem sobressaltos
“É fundamental ganhar no Dragão. Foi um bom jogo, o Dragão ajudou bastante e retribuímos com uma boa exibição e resultado. Foi um jogo dinâmico, sem passar sobressaltos, porque o Arouca não conseguiu chegar à nossa baliza com perigo. Hoje demos mais um passo no crescimento da equipa, que é jovem.”
Dinâmica de Jota e André Silva
“É importante que toda a equipa reconheça o trabalho deles e que estes dois jovens sintam que, dentro da dinâmica da equipa, podem pôr em campo a sua irreverência e versatilidade. Hoje fizeram um bom trabalho, mas não gosto de individualizar, porque a equipa esteve toda muito bem.”
A alegria de Brahimi no golo
“Temos 26 jogadores bastante empenhados. Foi mais um jogador que teve a sua oportunidade e fez um bom trabalho, futuramente serão outros. A equipa não são onze, é um plantel, e é bom ter opções e jogadores com esta alegria e empenho.”
A entrada de Rúben Neves
“Vimos de um ciclo muito complicado, de três jogos intensos em oito dias, daí que seja importante fazer a gestão. O Rúben é um belíssimo jogador, dá muito equilíbrio, posse e consegue empurrar a equipa. Foi uma opção para equilibrar a equipa e continuar a dinâmica ofensiva, o que se confirmou, porque chegámos ao golo.”
Quatro vitórias consecutivas
“Estamos com uma dinâmica boa, com quatro vitórias consecutivas em provas diferentes, o demonstra que estamos no caminho certo. O caminho é este.”
“Palestra” aos jornalistas
Já na sala de imprensa, Nuno recorreu a uma folha em branco num quadro para explicar um pouco melhor a sua filosofia para a equipa. Desenhou um jogador com três pilares, compromisso, cooperação e comunicação, o que se transforma em união. E com isso tem-se “o que é fundamental”, “a base”, o “primeiro passo”.
“Se à união acresce a determinação de fazer as coisas, temos a atitude. A partir do momento em que isto se constrói, podemos dar tudo o que pretendemos para o crescimento da equipa e dinâmicas de treino. Independentemente do sistema, esta é a base”, explicou. Os resultados “ajudam”, claro, a clarificar a visão de como a equipa quer jogar, tendo Nuno dado um cheirinho de uma perspetiva mais técnica: “Queremos reduzir o campo a 65 metros, porque estaremos mais perto da baliza contrária”. O plantel tem como grande objetivo “acabar com o ciclo de três anos sem ganhar”, reforçou Nuno, que deseja que na gala dos Dragões de Ouro de 2017 (a de 2016 é esta segunda-feira, às 21h30, no Coliseu do Porto) se festeje o título.
Na resposta final, o técnico revelou que Corona tem um “traumatismo na coxa” que o impediu de continuar em jogo e, a propósito de Brahimi, falou mais uma vez da sua filosofia: “O erro faz parte do que queremos, o jogador tem de arriscar. É importante sair erro e ser melhor, não ficar no lamento, mas sim voltar a tentar. O um contra um é fundamental para criar desequilíbrios”.
RESUMO DO JOGO
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