27 abril, 2017

TESTE A UMA GERAÇÃO DE PORTISTAS.


Não há volta a dar - neste momento o objectivo reconquista está mal encaminhado, após uma sequência de empates que pode ter deitado tudo a perder.

No futebol tudo pode acontecer e até se esgotarem todas as opções cabe-nos aguardar e desejar que os nossos jogadores não atirem a toalha ao chão nas 2 difíceis deslocações que se aproximam. Quanto ao resto, está quase tudo dissecado. As forças e fraquezas de treinador e plantel são sobejamente conhecidas por todos nós. A dimensão do polvo é evidente e tem sido finalmente exposta pelo Clube, nomeadamente no excelente Universo Porto – da Bancada. As dificuldades são portanto óbvias e o caminho é tudo menos simples.

Mas mais do que focar nestas questões imediatas gostaria de tentar alargar o foco. É incontornável que não vivemos um momento fácil enquanto Portistas. Após (mais um) tricampeonato em 2013, ninguém imaginaria que a quebra seria tão rápida e acentuada mas foi isto que nos aconteceu.

Parece hoje claro que cometemos erros que facilitaram a vida aos nossos rivais. Dilacera-nos o coração recordar que tivemos a um passo de liquidar a era Vieira (provavelmente bastaria ter ganho em 2013/14) e lançar assim o clube vermelho em mais uma das suas derivas que fizeram escola nos anos 90 mas agora de pouco nos vale pensar no que poderia ter acontecido. Perdemos (para já) 3 campeonatos, e, mais do que isso, perdemos chama, crença, capacidade de luta e qualidade nas diferentes vertentes.

Mas nem tudo é mau, por mais paradoxal que possa parecer. A época 2015/16 fez-nos cair num fundo que parecia inimaginável, sendo que a presente temporada foi lançada em bases semelhantes, com a saída do Administrador para o Futebol, CEO e mais não sei quantos cargos a 1 de Setembro de 2016.

Os dados pareciam (mal) lançados mas o que é um facto é que estamos na luta até ao fim, envolvidos numa aura de apoio e espírito de missão que há muito que não se sentia no Universo FC Porto, com a honrosa excepção de 2010/11 (um ano atípico para fazer comparações, pela perfeição que representou essa temporada).

Durante 30 anos foi relativamente fácil ser Portista. Sendo já um número de anos apreciável, poderemos concluir que boa parte da massa associativa não está habituada a outra coisa que não às alegrias com o desporto. Os anos de derrotas foram poucos, espaçados entre vitórias, e mesmo durante os 3 anos de jejum no virar do século tivemos Taças de Portugal para nos salvar temporadas, aliadas ao gostinho especial de mesmo assim continuarmos a ver o grande rival pelo retrovisor. Infelizmente o tempo agora é outro e penso que estamos perante o primeiro grande teste que muitos de nós temos enquanto Portistas.

Este cenário menos feliz não simboliza contudo que o Clube tenha deixado de ser grande ou que nos devamos envergonhar com a situação actual, baixando a cabeça perante os rivais. O desporto é assim, feito de ciclos, e o que nos está a acontecer neste momento era já altamente provável há muito tempo, por mais que quiséssemos adiar este cenário.

Benfica e Sporting passaram por isto, em muito pior escala. Todos estamos recordados que de 1995 a 2013 o Benfica ganhou 2 campeonatos e que o Sporting ganhou 3 desde 1981 até aos dias de hoje. Deixaram de ter adeptos dedicados? Deixaram de ter dimensão e peso a nível nacional? Não. Diria até melhor – infelizmente não!

Pela Europa fora o mesmo cenário. Real Madrid, Barcelona, Manchester United ou mesmo o hegemónico Bayern Munique têm ou tiveram as suas quebras, sendo que até dominadores de países periféricos como o Anderlecht ou Celtic Glasgow têm os seus momentos de menor fulgor.

O importante é pois olhar para o futuro e não perder o foco e a paixão pelo FC Porto. Com toda a sinceridade sinto que neste momento estamos mais conscientes do que precisamos de fazer e mais capazes de nos reerguer do que me pareceu no final das temporadas transatas. Com uma ressalva: para que isto se confirme teremos de ser capazes de sair de cabeça erguida do campeonato, deixando uma boa imagem final que sirva de rampa de lançamento para 2017/18.

Estamos portanto num momento de teste a todos nós Portistas, quer sejamos mais ou menos velhos. Os mais velhos poderão pensar que relançar um clube com o número de troféus e de adeptos que temos hoje será muito mais fácil do que no início desta caminhada em 1976. Mesmo que tal possa ser verdade é bom que todos estejam cientes que, tal como outrora, ninguém nos dará nada e que o sonho de boa parte do país é que nos tornemos numa espécie de Liverpool: uma casa assombrada, eternamente à espera do dia em que tudo volte a ser como dantes, como que por milagre.

Pede-se ambição, exigência e inconformismo, mas também racionalidade e inteligência. O teste está aí. Vamos agarrá-lo?

5 comentários:

  1. Um texto bastante pertinente MM.

    Um pequenino GRANDE ponto ficou no entanto esquecido. No futebol actual, salvo muito raras excepções, as equipas ganhadoras são aquelas que têm os melhores jogadores, os melhores técnicos, as melhores condições de treino.

    E se no último ponto estamos bem servidos, já quanto aos 2 primeiros uma negra nuvem paira sobre a nossa cabeça. Para ter os melhores jogadores é preciso Guito. Para aguentar os melhores jogadores, é preciso Guito. E Guito é algo que não abunda pelo Dragão nos tempos que correm.

    Vamos acreditar que a SAD neste defeso que se aproxima, tenha aprendido com erros passados, e tire verdadeiros coelhos da cartola. Dela, muito depende a nossa capacidade de nos regenerarmos e renascermos....

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  2. Eu sou desses, com 35 anos só vi o FCPorto ganhar. Mas sou FCPorto até morrer, não vai ser por causa de umas nuvens negras que o verdadeiro Portista esmorece. Acredito eu. @Hugo Mota: Guito?! lembro que fomos campeões europeus com Paulo Ferreira, Derlei, Nuno Valente, Maniche...precisamos é de raça e amor à camisola!

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  3. O que me surpreende, é que como é que um Senhor como Pinto da Costa, impôs no Clube uma cultura de valores que levaram muitas equipas para muitos sucessos, e agora parece que se "perdeu" alguns desses valores.
    Muito se deveu ao passar de testemunho de geração em geração que se permitiu ter esta cultura de valores, mas quando enches o plantel com demasiado estrangeiros essa cultura morre aos poucos. Ainda que tenham triunfado.

    Espero que se volte a ter essa cultura, pois os custos estão muitos altos e não há flexibilidade nenhuma para fazer contratações e assim olhar mais para o que se tem aqui dentro e até os emprestados.

    Mas sim, nós adeptos temos de ter paciência. Mas acima de tudo o Amor pelo FC Porto irá falar mais alto do que nunca.

    Abraços.

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  4. Caro Hugo Mota,

    A questão do Guito é de facto pertinente mas é visível, basta uma rápida análise do R&C dos 3 candidatos ao título, que é o FC Porto que mais gasta com a sua estrutura de futebol. Nos últimos 3 anos arrisco a dizer que se gastou muito dinheiro, quer ao nível de salários, quer ao nível de contratações.

    Claro que todas as contratações são sempre feitas com a melhor das intenções e só depois de abrir o melão é que se vê a sua qualidade. Mas existe um departamento de scouting, existe uma estrutura do futebol altamente profissionalizada e muito bem paga. Não podemos deixar de refletir como foi possível gastar 6M€ em Depoitre, um jogador que nem era o melhor marcador da “forte” Liga Belga…. E depois gastou-se 3,5/4M€ em Soares, um jogador que efetivamente tem cumprido e superado em MUITO as expetativas que tinham sido criadas aquando da sua contratação. Resumidamente, o FC Porto gastou 9/10M€ em dois avançados no espaço de meses… Por exemplo, um dos nossos rivais gastou 10M€ num ponta-de-lança que já marcava imensos golos na Holanda e na Alemanha, internacional holandês… O outro rival pagou o ano passado 6 ou 7M€ por um internacional grego que era o melhor marcador na Grécia…

    Na minha humilde opinião, um dos grandes problemas tem sido gastar mal o dinheiro… Agora é evidente que as vacas neste momento estão bem mais magras do que há uns tempos, mas isso para todos os clubes, não só o nosso.

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  5. Daniel, fomos campeões europeus com Paulo Ferreira, Derlei, Nuno Valente, Maniche... e ainda V. Baia, Deco, Alenitchev, Ricardo Carvalho, MacCarthy... mais José Mourinho no banco. Não vejo grandes diferenças de qualidade para a actualidade :-)

    RCBC, essa é a questão. A incompetência de gastos que tem vindo a ser feita. Compreende-se dar 6, 7 ou 10 milhões por um jogador que dê garantias. Agora gastar 20 milhões com Imbulas, mais de uma dúzia com Adrians, e pior ainda, meia dúzia de milhões com jogadores superinflacionados com são Depoitre ou mesmo Boly, isso é que está mal. Sabendo que entre André Silva, Danilo, Brahimi vamos ter que abrir mãos de algum (ou muito previsivelmente de todos) é imperativo ter extremo acerto nas compras que vamos fazer, se não queremos hipotecar mais uma época desportiva. Com extremo acerto estou a referir-me obviamente a poucos jogadores, de qualidade comprovada e sem loucuras no custo. Além das compras, será obrigatório também valorizar os activos de qualidade que temos, como são exemplo Ricardo Pereira, Rafa ou Rui Pedro, entre outros.

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