03 outubro, 2010

Capítulo 2: 1911 a 1920 – Auspiciosas vitórias (Parte IV)

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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do F. C. do Porto

Capítulo 2: 1911 a 1920 – Auspiciosas vitórias (Parte IV)

1917
• Primeiro jogo e visita do Sporting

O Sporting recebeu um convite para jogar na Constituição. Aceitou e ganhou por 4-1, trazendo, uma vez mais, à evidência a superioridade das equipas de Lisboa... na altura. Estaria para breve o desvanecer da supremacia alfacinha…
• No Norte, FC Porto avassalador
A Norte, os portistas continuavam reis e senhores. Invictos e avassaladores. Ganharam a Taça de Honra da AFP, a Taça Salão Sporting, a Taça Imprensa “Sportiva” e o Campeonato do Porto. Vitórias categóricas, apesar da equipa já se encontrar fragilizada pelas mobilizações para a 1.ª Guerra Mundial.
• Campo de Ténis
Em 1 de Setembro foi inaugurado, na Constituição, o Campo de “Lawn-Ténis”, em substituição do rinque de patinagem.
• Já com muitos troféus…
A 16 de Setembro, a Direcção, presidida por Henrique Mesquita, expôs os numerosos troféus conquistadas pelo clube na Ourivesaria Bonneville, na Rua de Santo António. Foi um regalo para os olhos dos portistas.

24 Jul.1917 – Henrique Mesquita foi eleito Presidente do FC Porto sucedendo a António Martins Ribeiro. No decurso do mandato o FC Porto viveu momentos difíceis em consequência da 1.ª Guerra Mundial. Henrique Mesquita protagonizou, de forma estóica, a recuperação do Clube e preparou-o para as vitórias do futuro. Foi com ele na presidência que surgiu o primeiro número do jornal denominado "Porto Sportivo".

• Rebelião por almoço pago
O F. C. Porto não se podia dar a luxos. Por disponibilidades financeiras escassas era imperativo do clube a contenção de despesas. Eis um texto de "Glória e Vida de Três Gigantes", 1995:

    “Nas viagens a Lisboa ou a terras mais distantes eram os próprios futebolistas que suportavam as despesas de alimentação. Por isso, por vezes, quando as finanças dos atletas estavam em crise, pediam dispensa e não se deslocavam longe. Por falta de dinheiro para comer. A menos que... Por esse tempo, o FC Porto teve de controlar um movimento de insubordinação dos seus principais futebolistas, que deixaram, inclusivamente, a latejar a hipótese de greve. Tudo porque descobriram que um deles fora a Viana do Castelo (onde os portistas bateram o Racing de Viana, por 6-0) com tudo pago. Henrique Mesquita quedou-se absorto, de rosto atormentado, ao olhar para o documento subscrito por um grupo de jogadores, solicitando “o reembolso do dinheiro gasto em Viana do Castelo, visto que um colega, segundo era do seu conhecimento, fora indemnizado”. De emergência convocou os futebolistas para uma reunião no seu gabinete, asseverando-lhes que “apenas Joaquim Reis, um dos maiores jogadores da época, recebera as despesas, por se tratar de um elemento muito pobre. De resto”, acentuou, “antes da viagem a Viana do Castelo fora prometido a Joaquim Reis o reembolso, por estar provada a sua incapacidade financeira...”. Como tudo ficou, assim, devidamente esclarecido, os recalcitrantes deram o conflito por arrumado, sublinhando que apenas aceitavam a violação aos princípios sagrados do amadorismo por uma questão de “solidariedade social”.”
Nota: Joaquim Reis, de facto um excelente jogador, era conhecido por “Farrapa” e acabaria a sua carreira de futebolista no Salgueiros.

2 Jan.1918 – A I Grande Guerra, os homens que partiram, os soldados que não se esquecem
Todas as guerras reclamam “carne para canhão”. O FC Porto, embora castigado pela partida inevitável de muitos dos atletas, não se esqueceu dos seus soldados, dos seus oficiais. Nem dos que eram adversários. Nem dos desportistas aliados. Assim, na Assembleia-geral de 2 de Janeiro de 1918, em ambiente de sentida emoção, apresentou Ivo Lemos uma moção que os associados do FC Porto aprovaram por aclamação, propondo para além de “um voto de sentimento pela perda de todos os homens do desporto de qualquer nacionalidade que morreram nos campos de batalha”, que fosse “criado um quadro de honra que será colocado numa das dependências do clube e que deverá mencionar os nomes de todos os sócios e praticantes que morram nos campos da batalha ou regressem inutilizados para o desporto, demonstrando por essa forma que o F. C. Porto não os olvida”.Ninguém imaginaria, contudo, que Vidal Pinheiro, cujo carisma se fortificara junto dos adeptos portistas, pela sua postura de homem galhardo e desportista imaculado, cairia, algumas semanas depois, fulminado pela metralha alemã. Como tantos outros. Estupidamente. [Texto a itálico in "Glória e Vida de Três Gigantes", 1995 – Adaptação]

Tenente Vidal Pinheiro, portista herói na Flandres
1918 – O tenente Joaquim Vidal Pinheiro, que ajudara à conquista definitiva da Taça José Monteiro da Costa, era um grande futebolista e um dos melhores atletas do clube. Tombaria nas trincheiras da terrível batalha de 9 de Abril de 1918. É considerado um herói da Flandres. A notícia da sua morte foi conhecida em Portugal no mês de Maio. Verteram-se lágrimas de saudade e comoção por quem tinha contribuído para tantas vitórias portistas. Vidal Pinheiro "morreu ao serviço da Pátria", mas esse facto não calou os desabafos de revolta pelo destino que a guerra traçou a um valoroso filho do FC Porto.






As feridas da guerra, a perda de jogadores britânicos, a supremacia dos clubes de Lisboa
● A supremacia dos clubes de Lisboa devia-se, fundamentalmente, à falta de concorrência que o FC Porto tinha no Norte. Crónico Campeão Regional, vitorioso em toda a linha quando em compita com equipas nortenhas, por via disso era falho de competitividade quando em confronto com os emblemas do Sul. Mas não se pense que a cores azuis-e-brancas não disputavam a vitória aos rivais da capital! O FC Porto foi, desde sempre, o mui digno representante do Norte de Portugal, o único clube que, desde logo, se constituiu rival de Benfica, CIF, Império e Sporting e, mais tarde, Belenenses. Estes reinavam “lá em baixo” em acesa disputa, o que lhes conferia a competitividade contra a qual o FC Porto muito tinha de porfiar.
● O FC Porto dependia bastante de jogadores britânicos que perdera por causa da guerra: Wright, Harrison e Allwood, mobilizados para o exército inglês, foram lacunas difíceis de colmatar e que fragilizaram a equipa.
● Não bastasse a sangria de atletas ingleses, o recrutamento de jogadores portugueses para a guerra, que, caso curioso, não atingiu tão duramente outras equipas (nomeadamente as de Lisboa!), consubstanciou debilidades que outro clube não ultrapassaria, pela certa. A perda, para sempre, de alguns dos seus filhos dilectos, abalou com contundência a estrutura desportiva do FC Porto. As feridas da guerra não tiveram um efeito inócuo; foram difíceis de suturar e deixaram marcas indeléveis que só um grande clube como o FC Porto superaria.

1917/18 – Nesta época o FC Porto perdeu o título de Campeão do Norte. Tanto pela dificuldade de organizar equipas, já que alguns dos seus melhores futebolistas tinham sido mobilizados para os campos de batalha da I Grande Guerra, quanto por a Associação de Futebol do Porto ter suspendido de actividade o clube, em Março de 1918, depois da direcção portista ter considerado aquela associação “persona non grata”. O conflito apenas se sanaria em Novembro, após eleições para a AFP. Os novos dirigentes mereceram voto de confiança do FC Porto.
Quanto ao Campeonato do Porto, o título decidiu-se entre Salgueiros e Boavista (3-1).

13 Abr.1918 – "Porto Sportivo"
O FC Porto lançou o primeiro número do seu jornal, denominado "Porto Sportivo". Em destaque uma peça assinada por José Lello em que, referindo-se ao conflito com a AFP, escrevia que “o seu clube, o FC Porto, estava vitimado por um mundo semeado de rasteiras, reagindo e flagelando se preciso fosse como revolta do seu orgulho ferido”.

À conquista de Portugal, à conquista da Europa, MAIS E MELHOR!
Depois do período de sangue, suor e lágrimas, o FC Porto havia de levantar-se, heroicamente (como é timbre ao longo da sua gloriosa história), para feitos nunca antes cometidos.
Previamente à dobragem dos anos 20, o FC Porto entrou em processo de desenvolvimento. Em caminho sem retrocesso, dirigentes e atletas lançaram-se com denodo na transformação de um clube à conquista de Portugal, à conquista da Europa. Pedra sobre pedra, vitória após vitória, consolidou-se um projecto em que se acreditava para conquistar o futuro. A partir daqui, jamais esmoreceu o espírito vencedor de homens e mulheres que não soçobraram perante os escolhos que tiveram de enfrentar.
Intrépidos e determinados, os portistas combateram, sempre, em todas as frentes, para impor a força de um clube que não nasceu em berço quimérico, de vitórias enganosas, mas que trilhou o caminho seguro para bem cedo obter triunfos retumbantes. “Dois passos à frente, um atrás”, o FC Porto, ao contrário de outros, nunca regrediu ou se afastou de um propósito que é seu lema: MAIS E MELHOR! O FC Porto não dorme na esteira dos êxitos, enfrenta cada novo desafio como se fosse a primeira oportunidade para obter sucesso, reabilita-se a cada batalha perdida, não se verga ao infortúnio, luta sem tremor contra a mediocridade, contra quem o quer impedir de aspirar a MAIS E MELHOR. Com legitimidade, com orgulho, sem sobranceria (e sem choradinho…), sempre foi assim, é assim, sempre será assim. POORTO! POORTO! POORTO!
F. Moreira – Mar. 2010

31 Ago.1919 – António Cardoso Pinto de Faria, o último Presidente da década 1910/1920, comandou os destinos do FC Porto até 1922. No seu mandato, honrosas e auspiciosas vitórias projectaram o Clube na senda dos triunfos. Também teve a felicidade de ver alinhar pela Selecção Nacional o primeiro jogador internacional do FC Porto, Artur Augusto.

- No próximo post.: Capítulo 2 (Continuação) – Vitória ante o Sporting e na bilheteira; FC Porto, “um bloco formidável!”; nova vitória em Lisboa; primeira vitória sobre o Benfica e… em Lisboa; o silêncio dos jornais de Lisboa; a imprensa facciosa: o grito de revolta de Alexandre Cal.

15 comentários:

  1. AVISO ao Anónimo comentador ao post de 6 de Agosto de 2010:
    Caro amigo portista, tenho a honra e o prazer de lhe anunciar que a famosa carta de Alexandre Cal à facciosa imprensa lisboeta, que, com pertinência, tanto anseia conhecer, será publicada (excertos do mais relevante) no próximo post dos “Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do F. C. do Porto”.
    Um abraço e Bibó Porto!

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  2. Ena, isto dá mesmo gosto ler.
    Tenho de repetir anteriores apreciações, voltando a reafirmar tudo o que disse noutros comentários sobre este trabalho. E continuo sempre à espera do próximo...!
    Parabéns e
    Abraço

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  3. Mas que delicia ler umas coisa destas!

    Continue, caro Azul Forte!

    Abraço

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  4. Mais um post extraordinário que nos faz recuar nos tempos, tempos em que os futebolistas, por exemplo, tinham de pagar as refeições.

    Que diferença para agora, em que alguns, que ganham ou ganharam milhões, amuam, mandam bocas, sentem-se maltratados, só porque não lhes fazem certas vontadinhas.

    É por isso que eu digo e repito: símbolos, a bandeira, o emblema e os adeptos, que dão tanto e apenas querem alegrias.

    Um abraço

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  5. Conhecer o passado para perceber o presente e projectar o futuro.

    Belo trabalho amigo Fernando Moreira.

    Um abraço

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  6. E cá está mais um pedaço da nossa história.

    O primeiro "motim", as inaugurações e como não podia deixar de ser o impacto que o nosso clube para o Futebol e para o Norte do País.

    Estava a nascer um poder e um querer na cidade do Porto que anos mais tarde iria mandar no futebol nacional e mostrar ao Mundo daquilo que somos feitos.

    O impacto da guerra numa equipa de futebol foi devastador, embora só tenha feito mossa no nosso clube, vá-se lá saber porquê.

    Gostei também do nosso primeiro museu, boa iniciativa.

    Azul Forte mais uma vez em grande.

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  7. Dragão Azul Forte:

    Fui eu que deixei o comentário em Agosto, sobre a célebre carta de Alexandre Cal.
    É realmente um achado, e uma grande alegria saber que a vou poder ler, eu que a busco há mais de 4 anos, contactando até as redacções sucessivas do jornal, com silêncios por resposta, e também bibliotecas que retiraram da leitura o jornal, por mau estado de conservação.
    Assim, será peça rara e única, que diz muito da história do futebol, e que ajuda a compreender muito do que ele é cá pelos nossos lados.
    Mais uma manifestação da qualidade destes sítios portistas.

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  8. Continue. Isto sim é o nosso FC Porto. A nossa história.

    Obrigado.

    abraço

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  9. É sempre bom dar notícia de uma vitória do nosso FC Porto. Seja ela em que modalidade for, seja ela na Europa ou na China.
    O carro do FC Porto, na Superleague Fórmula, pilotado pelo neo-zelandês Earl Bamber, venceu a Super Final da prova disputada em Ordos, na China! Excelente promoção do nome do nosso clube em tão longínquas paragens.
    Reservo mais comentários para o previsível post do BlueBoy.

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  10. Belo post! Adorei o texto sob o título “À conquista de Portugal, à conquista da Europa, MAIS E MELHOR!” E com foto a condizer… Grande paizão!
    Estou ansiosa para ler a famosa carta de Alexandre Cal. Pelo que julgo saber essa missiva era, agora, tão significativa e pertinente como na altura em que foi escrita. Sinal que pouco mudou no reino da mouraria.
    Um beijo.

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  11. Viva !

    Gostei imenso deste excelente post.

    Não tenho tido tempo de comentar por razões laborais.

    Não tenho paixão pelo Porto, mas sim memória. O que é bem mais pujante.

    Mesmo muito bons os aspectos que foca quanto à dita primeira guerra mundial. ( Escrevo dita, porque acho que esta começará no século XIX com a guerra França-Prússia )

    Obrigado : O Saber não ocupa lugar !

    E Viva o Porto !

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  12. Obrigado a todos. Foi com prazer redobrado que elaborei este post. O tempo a que reporta é o ponto de partida para um FC Porto que nunca mais parou de crescer. Com períodos difíceis de quando em quando, mas sempre com um propósito: MAIS E MELHOR!
    Um abraço a todos.

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  13. já começa a tornar-se repetitivo as «boas» palavras em cada publicação que passa, mas nunca serão demais... bom, muito bom mesmo ter a oportunidade e o privílégio de ir conhecendo com mais pormenor e detalhe, cada pedacinho da vida do nosso clube.

    venha de lá esse próximo... com uma tal de carta que de tanto já ter ouvido falar nela, já estou com água na boca.

    estamos à espera... mas não sentados!

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  14. Não me importando, nem um pouco de me tornar repetitiva, cá vai o meu agradecimento por mais um pedacinho da nossa história, que é uma autêntica delicia!;)

    Como é bom saber, como nasceu e cresceu o nosso club de coração!

    E venha o próximo!


    BIBÓ PORTO

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  15. No meu post de 6 de Agosto de 2010 de “Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do F. C. do Porto”, escrevi:

    “3 Abr.1910 – A primeira vitória internacional registada
    No Campo da Rainha, em 3-4-1910, a equipa do FC Porto recebeu o Real Fortuna de Vigo e venceu o jogo por 2-1. Foi a primeira vitória internacional registada e contra um adversário muito forte.
    • Notas: É controversa a data e o resultado do jogo em que o FC Porto conquistou a sua primeira e registada vitória de âmbito internacional. Várias publicações aludem a uns 4-1 sobre o Real Vigo mas, quanto à data, acham-se hipóteses em profusão desmedida. Sopesando as conjecturas, dei como certo o dia 17 de Março de 1912 como aquele em que o FC Porto venceu os galegos por 4-1. Estaria, assim, resolvido o imbróglio… Contudo vim a descobrir informações de uma outra vitória do FC Porto, com o mesmo adversário, ocorrida quase 2 anos antes. As fontes, um opúsculo e dois sítios na internet, que listam os resultados de equipas portuguesas com congéneres estrangeiras, referem o dia 3 de Abril de 1910 e o triunfo por 2-1 em jogo realizado no Porto. As fontes são insuspeitas, como tal considerei o informe verídico.”

    Pois bem, hoje, pela primeira vez, vi um órgão da Comunicação Social portuguesa referir a data de 3 Abr.1910 como a da primeira vitória do FC Porto com uma equipa estrangeira. Presume-se, portanto, que o “MAIS FUTEBOL” (no artigo “Cem anos de República: F.C. Porto, a inocência no Campo da Rainha”) tenha colhido a informação no “Bibó Porto, carago!”.

    Parabéns ao blogue! É por estas e outras que tenho orgulho de pertencer a esta família de dedicados portistas. Parabéns!

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